segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016 69 comentários

DEFUMADORES NA UMBANDA.






 Defumadores na Umbanda.


Ê Pai Oxossi,
dai-me licença pra defumar,
eu defumo, eu defumo,
nossa casa e o Gongá.

Defuma com as ervas da Jurema,
defuma com arruda e guiné,
benjoim, alecrim e alfazema,
defumando filhos de fé.

    Uma das grandes tradições dentro dos ritos umbandistas é a
defumação. Ela vem sendo mencionada desde que a Umbanda nasceu no
final do ano de 1908 pelo amado Caboclo das Sete Encruzilhadas. E
abaixo vamos falar um pouco sobre esse ritual divino que nos deixa
preparados, descarregados, sem obsessão, para seguirmos com nossa vida
terrena e nosso trabalho de caridade na vida espiritual.

    A defumação tem como finalidade principal limpar e energizar
ambientes e pessoas para mantê-los equilibrados dentro da necessidade
equivalentes aos trabalhos, e o bem andar do dia a dia de nossas
vidas.

    As defumações não são só feitas nos ritos da religião de Umbanda,
podemos verificar feitos em diversas religiões, sendo essa feitas de
diversas formas.

    O exemplo disso pode ser relembrado no fato em que os três Reis
Magos presentearam o divino Menino Jesus com Líbano e Mirra quando
nosso Senhor nasceu, demonstrando assim que o incenso era extremamente
sagrado e importante, e ainda vemos nas igrejas Católicas o ritual de
defumação, seguindo as tradições dos Santos Reis Magos.

    Tanto na Umbanda quanto em outras religiões adeptas aos
defumadores, a função principal desse ritual é, com a queima de ervas
e outros materiais usados, modificar as energias, tanto do ambiente
quanto das pessoas para equilibrar os mesmos mediante as necessidades
buscadas.

    Especificamente na Umbanda, a defumação é de extrema importância,
pois além de purificar o ambiente, a defumação faz toda a limpeza
necessária para os médiuns, participantes de uma Gira, assim como
toda a assistência (visitantes e consulentes que frequentam um
terreiro de Umbanda), tudo isso para purificar e depurar as más
energias existentes para que todo o trabalho espiritual seja muito bem
feito, além de harmonizar todo o local.

    Na Umbanda também e muito solicitado que sejam feitas certas
defumações em nossas residências, isso porque somos como um imã,
captamos muitas cargas de pessoas e ambientes com cargas negativas, e
alguns de nossos sentimentos podem facilitar essa captação,
sentimentos como de arrogância, ódio, ira, inveja, maledicência, e
tantos outros maus sentimentos que todo ser humano tem. Portanto,
mesmo sem desejarmos, poderemos exalar um desses sentimentos, e com
isso abrindo portais que farão a nossa aura captar certos tipos de
sentimentos de outras pessoas, fazendo de nós uma presa fácil para
obsessores e espíritos sem luz (não estamos falando de médiuns de
absorção, esses são outros casos).

    Com a captação dessas cargas negativas, e com a rotina do dia a
dia, espalhamos essas cargas em nossa moradia, e com o passar do
tempo, e de mais cargas captadas, nossa vida começa a sofrer sintomas.
Dentre esses sintomas estão a insônia, dores sem motivos, cansaço
extremo, pernas e costas pesadas, irritabilidade constante, falta de
ar, cefaleia, entre outras coisas. Em casos mais graves podemos também
ter perdas de bens, de saúde, emprego e até de relacionamentos.
Entretanto a defumação é um ponto forte a ser utilizado contra todas
essas mazelas, eliminando e expulsando de sua casa, de seu corpo
físico, de sua aura, todos esses espíritos sem luz, obsessores e
cargas negativas.

    A defumação a princípio é feita com carvão em brasas, dentro de um
turíbulo (pequeno local incensário, podendo ser de barro ou metal) no
qual colocamos sobre o carvão em brasas as ervas escolhidas, porém
poderemos fazer também com defumadores pré fabricados, do tipo
prensados, que são naturalmente comercializados em ervanários,
normalmente esses são de formas triangulares, podendo ser de uma única
erva, ou uma junção de várias ervas, dependendo do gosto e necessidade
de cada um. E na queima dessas ervas, em alguns minutos libertamos e
liberamos na defumação grandioso poder energético acumulado por meses
ou anos de absorção do solo da terra, da energia dos esplendorosos
raios do Sol, da Lua, dos ventos, e claro dos próprios elementos
constitutivos das ervas. Assim sendo é construída uma força divina e
magnânima que protegem ambientes e pessoas das forças dos grupos de
obsessores e espíritos sem luz. Grupos esses que dominam a maioria dos
ambientes humanos,produto da baixa qualidade de pensamentos e desejos,
tipos como, raiva, inveja, vingança, orgulho, mágoa, mesquinharia,
ira, entre outros.

    As escolhas das ervas para fazer uma defumação deve ser dirigida
por uma Entidade de Luz, ou um Mentor espiritual, ou um Pai ou Mãe de
Santo, pois existem diferentes tipos de ervas para cada objetivo a ser
alcançado, e diversas junções de ervas para fazer uma defumação, que
associadas, permitem energizar e harmonizar todo o ambiente e
principalmente as pessoas, pois ao queimá-las produzem reações
diversas no ar, fazendo assim uma limpeza completa.

    Não devemos fazer uma junção de ervas sem um aconselhamento, ou
pelo simples bel prazer em fazer a defumação, pois temos ervas que se
queimadas em conjunto, ou em dias impróprios, podem ao invés de fazer
uma limpeza espiritual, abrir portais para a entrada de obsessores, ou
seja, ao invés de mandá-los partir do ambiente, podemos estar chamando
e fortificando certos espíritos sem luz. Por isso é tão importante
seguir o que é dito por uma Entidade de Luz, um Mentor, ou um Pai ou
Mãe de Santo sobre as defumações.

    Dentre tantas opções de junções entre ervas, não é tão fácil saber
e entender de cada uma, pois, para entendimento vamos dar um exemplo
básico sobre uma defumação em uma residência cujo foi constatado a
presença de um obsessor. Suponhamos que um consulente foi a um
terreiro de Umbanda, conversou com uma Entidade de Luz, e essa
Entidade verificou o tipo de obsessor que se apresentava na residência
do tal consulente. Ao constatar o tipo e grau da carga deixada por
esse obsessor, foi passado um tipo de defumação, com ervas do tipo
escolhido e indicado pela Entidade de Luz. O consulente fez a
defumação, as cargas diminuíram, o obsessor foi expulso do ambiente, e
as coisas entraram nos eixos.

    Tempos depois, suponhamos que novamente temos um outro obsessor na
mesma residência do mesmo consulente, só que dessa vez nosso amigo
consulente não foi se informar com a Entidade de Luz, e por vontade
própria usou o mesmo tipo de ervas para a defumação, contudo esse
obsessor não era do mesmo grau ou tipo, portanto essa defumação nada
serviu para afugentá-lo da companhia do consulente. Podendo até abrir
outros portais para novos obsessores do tipo e grau desse segundo,
fazendo assim a vida desse consulente se transformar em algo
extremamente desagradável.

    A muitas ervas que são agressivas e repulsivas e que afastam
alguns desencarnados de vibração inferior, servindo de barreiras
fluídico magnéticas. Outras ervas ajudam os médiuns e consulentes a
captarem com mais fluidez e qualidade as energias superiores, mantendo
a mente de cada um mais propícia a essa percepção, harmonizando os
ambientes.

    Por fazer parte da tradição da liturgia da Umbanda, e ser uma das
partes mais importantes de uma Gira, pois a defumação é o processo
ativo do exercício da mediunidade de cada um dos participantes dos
trabalhos espirituais de caridade, deve ser feita com muito cuidado e
rigor.

    Após serem orientados por um dos preparados a indicar uma
defumação, o consulente que desejar defumar sua moradia pode seguir
esses passos:

    Pegar um turíbulo com carvão em brasa, jogue as ervas secas
dentro, ou coloque-as por cima (dependendo do turíbulo que tiver), vá
defumando toda a casa. Se for para limpeza de aura, ambiente ou
espiritual, defume de fora para dentro (normalmente da porta da
cozinha para a porta da sala), agora se for para atrair paz, dinheiro
ou bons fluídos, defumar de fora para dentro (da porta da sala para
porta da cozinha), isso claro em casas residenciais.

    Para quem for usar os defumadores prensados, fazer a mesma coisa
(dentro para fora e vice versa) sendo que é indicado sempre vir
cruzando cada cômodo da casa, canto a canto.

    Todos os resíduos que sobrarem das defumações devem ser
descartadas fora de casa (jardins, rios, matas, etc.), mas isso pode
variar dependendo da recomendação do responsável por indicar a
defumação (Entidades de Luz, Mentores, Pais ou Mães de Santo).

    Alguns desses responsáveis pela indicação de uma defumação, podem
também solicitar que as mesmas sejam feitas pelas fases da Lua, mas
isso vai de caso a caso e de responsável para responsável.

    Normalmente um responsável por uma indicação a uma defumação, seja
em teor de ambiente ou pessoal, vai indicar também a quantidade de
vezes que deverá ser feita essa defumação, podendo apenas ser pedido
uma única vez, ou diversas vezes. Se for da necessidade de caso a
caso, poderá ser indicado também que essa defumação seja feita por um
pequeno período, e ao passar de certa quantidade de tempo seja
refeita, pois a maioria dos defumadores tem o poder fluídico de
afastar espíritos inferiores, sem luz, zombeteiros e obsessores por
determinado tempo, porém com as condições e maus sentimentos que
vivemos por todos os momentos, podem esses espíritos retornarem
demonstrando o mesmo tipo e grau vistos pelos responsáveis pela
indicação da defumação, e dessa forma ao passar do tempo deve ser
feito um novo uso dos defumadores indicados, sendo para o mesmo
intuito, pois como explicado anteriormente uma vez que nossos
pensamentos e ações poucos elevados, em pouco tempo, espíritos
atrasados, novamente poderão ser atraídos pelo ambiente de baixa luz
espiritual e vibratório inferior que poderemos voltar a criar com
nossos maus sentimentos. Portanto uma grande dica é se utilizar do
máximo o ensinamento do nosso Mestre Jesus, nosso Pai Oxalá, que para
evitar esses acontecimentos devemos: "Orai e vigiai", acabando ou
tentando exterminar esses maus fluídos que nos contaminam dia a dia,
agregando em nossa mente um extenso trabalho de pensamentos positivos.

    Com a defumação bem feita podemos evitar na maioria das vezes
alguns acontecimentos extremamente desagradáveis provocados por
energias negativas que são produzidas por nossos próprios pensamentos
ou por espíritos que possamos ter atraídos por nossas ações
impensadas, então sempre devemos buscar indicações de defumações para
nossa residência, principalmente por pessoas que desenvolvem um
trabalho espiritual mediúnico e de caridade, como por exemplo os
umbandistas, que mantém suas firmezas e instrumentos de liturgia de
culto a sua crença.

    Em nossa religião de Umbanda, a defumação deve ser feita no início
dos trabalhos, para que assim seja feita a limpeza do ambiente, dos
médiuns, dos assistentes ou consulentes.

    Dependendo do trabalho a ser realizado, devemos fazer a defumação
mais de uma vez durante o dia, isso para atrair e facilitar os
trabalhos de caridade feitos pelas Entidades de Luz.


    Abaixo vamos descrever algumas ervas e seus benefícios que podem
ser usadas ao fazer a defumação.

    Frisando que essas colocações são apenas para ilustrar o texto,
pois sempre se deve buscar orientações com uma Entidade de Luz, ou um
Mentor, ou um Pai ou Mãe de Santo para melhor indicação de caso a
caso.

    Alecrim do Campo: Retirada de olho grande, afastamento de inveja,
defesa de males, protegendo de magias negras ou feitiçarias.

Arruda: Proteção contra obsessores, espíritos sem luz, espíritos
zombeteiros, descarregos e desobsessões, proteção contra os males,
proteção e afastamento de magias negras e feitiços.

Beladona: Limpeza e descarrego de ambientes.

Benjoim: Limpeza e descarregos de ambientes, expulsando forças astrais
do mal.

Canela: Descarrega e limpa ambientes, levando para longe espíritos sem
luz e forças astrais do mal.

Cardo Santo: Defende ambiente e pessoas da obsessão e cargas
negativas, quebra olho gordo.

Cipó Caboclo: Elimina todos os males, espíritos sem luz e forças do
mal que possam estar nos ambientes.

Folhas de Bambu: Afasta todos os tipos de vampiros astrais e seus
males de cargas negativas sobre nós, sendo esses vampiros encarnados e
desencarnados.

Guiné: Atua grandiosamente como um poderoso escudo contra a inveja,
maledicência, cargas negativas e obsessão.

Incenso: Independente de ser a erva ou a resina (bastão ou pedra) são
ótimos para a limpeza geral.

Mirra: Para fazer um descarrego forte, afasta espíritos sem luz,
zombeteiros, Kiumbas e obsessores.

Palha de alho: Afasta desencarnados sem luz, más vibrações e
ajuda muito em descarregos.

    Também podemos usar os defumadores prensados, ou chamados tabletes
para defumação, dentre vários existentes podemos destacar os que levam
a nomenclatura de: Vence Demanda, Abre Caminho, Olho Grande, Arruda,
Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Obaluaiê, Omulú, Oxum, Iansã, Iemanjá,
Nanã Buruquê, Ibeijada, Preto Velho, Afasta espírito mau, Anjo da
Guarda, Caboclo da Mata, Chama boa Sorte, Chama Dinheiro, Chama
Felicidade, Comigo Ninguém Pode, Cosme e Damião, Paz na Família, Pombo
Gira, Exú, Quebra Demanda, Quebra Feitiço, Quebra Inveja, Quebra
Mandinga, Santo Antônio, São Jorge, Sete Encruzilhadas, Sete ervas,
Sete Linhas, Sete Poderes, Só Deus Pode Comigo, Tira Teima, Vence o
Olho Gordo, Vence Batalha, Vence Tudo, Zé Pilintra, entre outros.

    Independente se a sua defumação for com as ervas em si, ou com os
tabletes pré fabricados, deverá se manter em oração, com energia
elevada, se não estiver se sentindo preparado para fazer a defumação,
acenda uma vela para aumentar sua vibração com seu Anjo da Guarda,
defumando de preferência de canto a canto do ambiente a ser defumado,
cruzando todo o cômodo.

    E sempre lembrando, faça dentro das recomendações dos responsáveis
que indicaram a fazer a defumação.

    Fecharemos esse texto assim como o abrimos, demonstrando alguns
pontos para a defumação.
*********************************************************************
Jurema deu as ervas,
e Ogum deu benjoim.
Pai Oxalá mandou
Defumar você, eu vim.
Esta fumaça santa,
Ela vai lhe proteger,
De tudo que for mal,
Que alguém possa lhe fazer.
*********************************************************************
Deu um vento lá nas matas,
e jogou as folhas no chão,
os Caboclos estão apanhando,
pra fazer defumação.
Como cheira a Umbanda,
a Umbanda cheira,
cheira arruda e guiné,
alfazema e alecrim,
defumando filhos de fé.
*********************************************************************
Nossa Senhora incensou seus bentos filhos,
para o mal do seus filhos retirar,
mas eu incenso essa aldeia de Caboclo,
pro mal sair e o bem entrar.
*********************************************************************
Corre Gira Pai Ogum,
filhos quer se defumar,
Umbanda tem fundamento,
é preciso preparar,
com arruda e guiné,
alecrim e alfazema,
defumar filhos de fé,
com as ervas da Jurema.
*********************************************************************

    Finalizando, vamos todos buscar os bons sentimentos dentro de nós,
buscando também a fé, a esperança e as indicações de uma Entidade de
Luz, um Mentor ou um Pai ou Mãe de Santo para podermos fazer uma
defumação de limpeza, de descarrego, de desobsessão, de abertura de
caminhos, de paz, de amor, de uma forma mais iluminada e eficaz
possível.

    Paz a todos!

    Salve a defumação, seja nos terreiros de Umbanda, seja em nosso
lar.

Amém!

Carlos de Ogum.



sábado, 20 de fevereiro de 2016 72 comentários

HISTÓRIA DO PRETO VELHO PAI ANTÔNIO



 No Reino de meu Pai Oxalá,
em Aruanda e no Jacutá,
vi Pai Antônio chegar
para iluminar o nosso Gongá.

    Preto Velho de paz e luz,
no reino da Umbanda saravou,
trazendo o nome de Menino Jesus,
em nosso Terreiro Pai Antônio chegou.

    Sua luz intensa veio brilhar,
para salvar filhos de fé,
com seu tercinho começou a rezar,
deixando os filhos de Umbanda sempre de pé.

**********************************************************************

    Pai Antônio é um bondoso e amável Preto Velho, que trabalha nos
Terreiros de Umbanda, distribuindo a caridade, a luz, o amor e a paz
com seu tercinho abençoado por Oxalá e todos os Orixás.

    Ele de um modo tranquilo e sereno, sempre pitando seu cachimbo,
bebendo seu café com mel em seu cuité e protegendo as pessoas que nele
tem fé.

    Sua última passagem como encarnado nessa terra se passou pelos
meados do século XVIII e o século XIX, primeiramente em uma fazenda
cafeeira na região Sudeste do Brasil, onde era escravizado e obrigado
a trabalhar nas roças tanto de café quanto de cana de açúcar, sobre o
Sol forte, a chuva intensa, os maus tratos de feitores sobre o comando
do coronel que acreditava que os negros não passavam de animais, e
mereciam sofrer sobre as chibatas covardes, e os maus tratos no tronco
de torturas.

    Mesmo assim Pai Antônio não perdia a fé, acreditava em uma força
maior, acreditava que Zambi (Deus) estava ali para lhe proteger de
suas possíveis desesperanças, seu instante de pouca fé, suas
angústias. E assim clamava, rezava e orava a esse tão amável protetor
de todos os filhos, passando essa mesma fé e esperança a seus filhos e
irmãos de raça, para que assim esses também pudessem crer de verdade,
com amor e convicção, sem se deixarem ser tomados pela tristeza que
teimava em nascer dia após dia.

    Ele pregava a todos para não desanimarem, pois o desânimo os
entregariam para os braços da morte, e se entregando assim para a tão
temida morte sem lutar, estariam sendo infiéis a Zambi.

    E com essas palavras Pai Antônio conduzia a todos os negros que
muitas vezes se sentiam sem esperanças a caminhar para um novo dia e
uma nova luta.

    Pela manhã ou pela noite, dentro da senzala fétida, o amado Pai
Antônio tinha seu encontro com Zambi, e ali ele se entregava com todo
seu carinho e fé. Pedia forças não só para ele, mas para todos seus
irmãos de raça e seus filhos escravizados, que naquela época já tinha
algumas dezenas, sendo ele de boa saúde, forte e de extremo bom senso,
foi logo escolhido para ser procriador da fazenda.

    Ele amava cada um dos seus filhos e filhas, tinha no coração a
alegria de vê-los crescer saudáveis e robustos. Mas da mesma maneira
as lágrimas nasciam em seus olhos assim como no seu coração quando por
algum motivo tinha que se separar de sua prole. E isso era constante,
seus filhos iam de senzala a senzala, e logo eram também
comercializados para outros coronéis em outras fazendas da região e
fora dela. E isso fazia Pai Antônio chorar, saber que um dos seus
filhos estaria distante, sendo açoitado, torturado, sofrendo nas roças
escaldantes.

    Pai Antônio foi o primeiro negro da Fazenda a ter filhos gêmeos,
esse fato aconteceu com o entrelace de Pai Antônio com a negra
Joaquina, que era apenas uma menina na época, mas como era saudável e
bem jovem, o coronel a escolheu para ser reprodutora juntamente com
Pai Antônio.

    Com ela Pai Antônio teve, além dos gêmeos, mais seis filhos, sendo
a última que fora chamada de Antônia em homenagem ao pai.

    Com os fatos acontecidos em relação a Joaquina, no qual podem ser
esclarecidos nesse link:

Vovó Joaquina e sua história.

Http://umbandayorima.blogspot.com.br/2014/09/vovo-joaquina-e-sua-historia.html

    Pai Antônio fica com uma grande revolta contra os feitores, e faz
disso sua força de continuar a lutar em prol da liberdade dos negros.
E começa a pregar pela liberdade de todos, sendo de uma forma
refletida, mas como não teria nenhuma chance de diálogo com os
coronéis, resolveu ele partir para a fuga, sem deixar para trás seus
irmãos e filhos.

    Começou a pregar essa ideia por entre as senzalas da fazenda, ia
em cada uma delas para aplicar seu plano de fuga, e com o idealismo de
chegar ao primeiro quilombo que conseguisse encontrar, para se
refugiar, proteger seus semelhantes e retornar com mais força e assim
continuar buscando os negros de outras fazendas da região.

    Mas infelizmente Pai Antônio não contava que um dos negros de uma
senzala que ficava dentro da área da fazenda, senzala essa que
abrigava os negros que trabalhavam nas roças de algodão, bem distante
da senzala que Pai Antônio habitava, iria revelar seus planos a um
feitor com fama de torturador de negros.

    Mas assim foi feito pelo escravo.

    Pai Antônio continuava suas andanças por toda a fazenda e por
todas as senzalas, tentando mostrar que todos deviam fugir dali, que
ele estava na busca de uma saída, na busca do Quilombo mais próximo. E
os escravos sonhavam com essa liberdade, dezenas deles apoiaram Pai
Antônio, estavam preparados para a fuga, estavam imaginando com
alegria o dia que chegariam ao Quilombo, sonhavam com o frescor e a
tranquilidade da liberdade.

    Após todo o relato ser feito ao feitor sanguinário pelo escravo
delator, esse ficou observando juntamente com seus jagunços cada passo
de Pai Antonio. E um certo dia, com a ajuda do negro delator, o feitor
junto com os jagunços chegam até o nosso amado Antônio no exato
momento que ele passava novas instruções aos outros negros.

    Ele foi amarrado e açoitado na frente de todos, foi arrastado até
o tronco de torturas, e la ficou por vários dias e noites sendo
castigado pelo feitor.

    A jovem Joaquina soube dessa tortura, ficou desesperada em busca
de ajuda, chegando até o coronel da fazenda, que ainda não sabia do
ocorrido, e a ele pediu clemência, pediu pela vida de Antônio. O
coronel foi buscar respostas com seu feitor, e ao saber do ocorrido
disse que não teria como perdoar o negro, pois ele incentivou a fuga
de dezenas de negros de sua fazenda, portanto deveria ser castigado
até a morte.

    Joaquina se lança aos pés do coronel pedindo perdão, e ao ver ele
irredutível, diz com um grande ódio no olhar:

    "Com essa maldade, senhor coronel, meus filhos foram mortos,
outros foram jogados a senzalas podres para morrer. Com essa maldade,
senhor coronel, meu ventre morreu junto com meus filhos, sobrando
apenas minha filha amada. Se agora senhor coronel, matar o pai dela,
ela morrerá também, e com essa maldita maldade que exala de seu
coração, se isso acontecer, sua própria maldade vai acabar com sua
família assim como está acabando com a minha."

    O coronel imaginando saber que muitos negros eram feiticeiros,
temeu as palavras da negra. Olhou para o feitor e mandou soltar o
negro Antônio. Ele ficaria livre do castigo mas não poderia mais viver
na fazenda.

    A negra Joaquina ajudando o negro torturado a se levantar, o levou
para a senzala, cuidando de seus ferimentos.

    Dias após o acontecido chega a fazenda um negociador de escravos,
e estava ali para levar Pai Antônio para outra fazenda, isso dito pelo
coronel, que na verdade tinha outras intenções. Antônio ia sim para
outra fazenda, mas esse negociador de escravos não só negociava a
compra e venda de negros, negociava também a morte de negros que
ousavam a desobedecer seus senhores, como o coronel não queria que
Antônio morresse dentro de sua fazenda, ele fez com que todos os
negros acreditassem que ele seria vendido para uma fazenda próxima,
sem que eles soubessem que nessa fazenda teria um cárcere que sempre
era usado para torturar e assassinar os negros que por qualquer motivo
fossem vistos como problemas aos coronéis da região.

    Pai Antônio fora levado para essa fazenda, ao chegar lá foi logo
colocado no tronco, açoitado, torturado, humilhado pelos jagunços e
feitores.

    Após muitas e muitas horas de torturas, o negro Antônio perde os
sentidos, seu corpo inerte pendurado pelas correntes do tronco,
parecendo que já estaria sem vida, quando alguns negros tentando levar
um cuité de água para buscar a reanimação do pobre sofredor também são
açoitados pelos feitores e jagunços, ele forçando as pálpebras
reabrindo os olhos, e com a voz fraca e quase incompreensível, começa
a rezar e a clamar pela ajuda de Zambi.

    Suas orações parecendo que foram levadas aos céus pelos Anjos do
Senhor traz ao negro uma força quase indescritível, que por mais
machucado, tanto fisicamente quanto moralmente, ele se ergue, sua voz
começa a ter um tom mais alto e forte. Sempre clamando a Deus, ele
olha ao céu e agradece ao Pai Maior a força concedida. E isso faz com
que os feitores ficassem um tanto  apreensivos, pois como que um negro
que após tanto tempo de tortura, que todos já jugavam estar
desencarnado poderia de uma hora para outra ter tanta força de viver?

    Alguns se afastaram do negro, imaginando ser algum tipo de
feitiçaria, outros não saíram do lugar, mas se calaram, aguardando as
ordens do chefe dos feitores. E esse chefe foi o primeiro a se
manifestar. Com ódio nos olhos, disse que o negro deveria apanhar
mais, e ele mesmo foi até o tronco com açoite na mão. Quando ia
deferir a primeira chibatada, suas mãos tremeram, no mesmo instante um
enorme facho de luz desceu do céu indo direto a seus olhos. A luz era
tão forte e intensa que seus olhos secaram, e ele sem nada enxergar,
caiu de joelhos ao chão, com as mãos tampando os olhos em gritos de
desespero.

    Um dos jagunços correu até a casa grande em busca do coronel, e
esse veio até o local do acontecido. Esbravejando, o coronel mandou
seus jagunços exterminarem o negro, mas todos se afastavam, com um
grande receio de algo parecido com que aconteceu com o feitor
acontecessem com eles.

    O coronel esbravejou mais, o ódio estava estampado em seu rosto.
Os negros que estavam em volta se ajoelharam, e junto com Pai Antônio
rezavam e clamavam a Zambi, o coronel mandava todos se calarem, mas as
orações se prolongavam. Ele enfurecido, de sua cintura pegou uma arma
de fogo, apontou para o negro que estava acorrentado no tronco, e
disparou. O zumbido oco do estampido tomou conta de todo espaço, e
logo veio o segundo som da morte, o cheiro de pólvora se espalhou no
ar, e quando todos esperavam ver o sangue do negro jorrando pela
terra, ele estava lá, firme, de olhar intenso, sereno.

    O coronel não acreditou no acontecido, sua fúria se tornou mais
intensa, seus olhos irradiavam ódio, ele no ímpeto vendo o açoite no
chão, foi até ele com intenção de açoitar o negro preso até a morte.
Ao levar a mão no açoite, uma serpente rastejante e extremamente
nociva o ataca dando um bote certeiro em sua jugular, fazendo-o cair
aos gritos de dor e desespero.

    Pai Antônio ao ver o acontecido pede aos feitores para soltá-lo,
pois ele iria salvar a vida do coronel. Atendido prontamente, ele
rapidamente corre até a entrada da mata, sem muita escolha junta um
emaranhado de ervas, raízes e casca de algumas árvores. Desse
emaranhado ele faz uma junção com um pouco de terra e água. Leva tudo
ao encontro do coronel envenenado, faz uma espécie de emplasto
colocando sobre a jugular dele. Nesse momento o coronel, já febril e
sem sentidos, não tem nenhuma reação. Pai Antônio se coloca de
joelhos, e como em transe, fala várias palavras e frases que não são
compreendidas pelos observadores.

    A sinhá, esposa do coronel, avisada por um dos jagunços sobre o
acontecido, chega rapidamente no local, em desespero, olhos tomados
pelas lágrimas, implora ao negro que ele salve o coronel.

    Antônio continua como em transe, e com as mãos sobre o emplasto
colocado, ele continua suas frases, quando de repente suas mãos tremem
numa intensidade muito maior, seus braços já não tendo como suportar
tanta energia, seu corpo tomado por aquela força invisível, ele tomba
como se perdesse os sentidos, e no mesmo instante o coronel abre os
olhos, a dor se acalma, o estado febril já não existe mais. Sente seu
corpo fraco, olha em volta, vê o negro caído, observa as pessoas de
olhares assustados, vê sua esposa com um sorriso de felicidade e
tranquilidade.

    A sinhá ordena aos que estão em volta para levarem o coronel para
a casa grande, e também deveriam levar o negro Antônio juntamente para
o mesmo local. E assim foi feito. Após algumas horas de reabilitação
Pai Antônio já estava de ´pé, sua fé e força o restabeleceu, tanto da
tortura sofrida quanto do fatídico gasto de energia utilizada para
salvar a vida do coronel.

    O coronel ficou eternamente agradecido, e deste dia em diante
mandou retirar o tronco de sua fazenda, a senzala da morte foi
queimada, Pai Antônio ficou sendo um dos braços direito do coronel nos
trabalhos na lida, muito respeitado por todos.

    Ele viveu na fazenda mesmo depois do desencarne do coronel,
muitos e muitos anos depois, e mesmo tendo um tratamento diferenciado
onde residia, sentia saudades de sua antiga fazenda, de seus irmãos de
raça, de seus filhos, em especial de sua filha, a menina Antônia,
conhecida como "Tonha", a filha da negra Joaquina.

    Com muito carinho temos a benção de ter como trabalhador na
Umbanda, em prol da caridade esse Preto Velho de luz e fé. O grande
buscador da paz e distribuidor das bençãos de Zambi, nosso Pai Maior.

    Saravá e sua benção meu amado Pai Antonio das Almas.

Carlos de Ogum.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016 30 comentários

OS FALANGEIROS DE IEMANJÁ



    Novamente vamos falar de Falangeiros, sendo que dessa vez será a
sobre os Falangeiros da Orixá Iemanjá, a nossa amada rainha do mar, a
senhora dos peixes, a deusa das águas salgadas, mãe ou madrinha de
todas as coroas.

    E não podemos esquecer que os Falangeiros são Entidades que estão
somente abaixo do Orixá. Eles comandam as legiões de Entidades e
Espíritos que se afinizam na vibração do Orixá que os governa.


    Os Falangeiros dessa Orixá linda, nossa mãe Iemanjá, vem
relacionados da seguinte maneira:

Acurá, Assessu, Ataramogba, Awoió, Aynu, Conlá, Iamassê, Iemowo, Iewa,
Inaiê, Iyaku, Kayala, Maialeuó, Marabô, Masemale, Ogunté assabá,
Olossa, Sobá, Susure, Tuman.


    Esses Falangeiros vem em irradiação com Iemanjá, e vibração e
fundamento com os seguintes Orixás:


Iyá Acurá: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento da
Orixá Nanã Buruquê.

Iyá Assessu: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento dos
Orixás Ogum, Oxum e Iansã.

Iyá Ataramogba: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento
dos Orixás Omulú, Oxumaré e a linha dos Exús.

Iyá Awoió: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento dos
Orixás Oxalá, Oxumaré e Xangô.

Iyá Aynu: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento dos
Orixás Omulú e Nanã Buruquê.

Iyá Conlá: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento dos
Orixás Iansã, Xangô e Oxalá.

Iyá Iamassê: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento do
Orixá Xangô.

Iyá Iemowo: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento do
Orixá Oxalá na forma idosa (Oxalufã).

Iyá Iewa: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento dos
Orixás Oxum, Iansã ee Ewa.

Iyá Inaiê: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento dos
Orixás Ibeiji, Ossãe e Oxalá na forma jovem (Oxaguiã).

Iyá Iyaku: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento da
Orixá Nanã Buruquê.

Iyá Kayala: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento da
Orixá Iansã (Oiá).

Iyá Maialeuó: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento
dos Orixás Oxossi (Odé) e Oxalá.

Iyá Marabô: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento com
toda linha de Exú.

Iyá Masemale: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento
dos Orixás Xangô e Iansã (Oiá).

Iyá Ogunté assabá: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e
fundamento dos Orixás Ogum e Oxalá na forma jovem (Oxaguiã).

Iyá Olossa: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento dos
Orixás Oxum e Nanã Buruquê.

Iyá Sobá: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento dos
Orixás Xangô (Airá), Obaluaiê e Oxalá.

Iyá Susure: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento dos
Orixás Obaluaiê e Ogum.

Iyá Tuman: Vem na irradiação de Iemanjá com ligação e fundamento dos
Orixás Logum Edé, Oxumaré, Obá e Irôko.



    Falaremos resumidamente sobre as características e formas de cada
um desses Falangeiros de Iemanjá, para entendermos como se apresentam
no trabalho em prol da caridade em terreiros e roças.

    Mas antes de falarmos dos Falangeiros de Iemanjá, frisarei alguns
apetrechos que alguns desses Falangeiros usam para facilitar o
entendimento na leitura.

Abebé: Leque metálico circular, que contém guizos, que é utilizado
tanto por Iemanjá quanto por Oxum como instrumento musical e ao mesmo
tempo como insígnia.

alfanje: sabre curvo, um tanto curto e de lâmina larga.


Iyá Acurá: Também chamada de Iyá Akura. Falangeira de forma e
característica idosa. Deusa das espumas do mar que são feitas com o
bater das ondas. Dizem que ela aparece coberta de lodo e de algas
marinhas, que cobrem todo seu corpo.

    Tem como finalidade levar ensinamentos aos filhos rebeldes. Tem em
cada gesto e palavra a colocação de uma protetora, mas radical
demonstrando que não gosta de ser contrariada, uma verdadeira avó
orientando seus netos.

    Sem vaidade aparente, ela vem com uma roupagem na cor branco
aperolado com detalhes em lilás. Traz nas mãos o Abebé, na qual faz
questão de demonstrar em sua dança pesada, lenta, mas encantadora.

    Quem desejar fazer seus pedidos de proteção a Iyá Akurá, pode ser
feito a beira mar, pois as respostas serão dadas a cada onda que vem
de uma forma branda revelando sua espuma. Portanto se caso desejar ter
essa proteção, e não tem em um terreiro ou roça a vibração dessa
Falangeira, o mar será seu encontro com ela.

Iyá Assessu: De característica e forma jovial e guerreira, essa
Falangeira tem uma expressão de grande seriedade, pouco sorriso e
demonstração de que está sempre preparada para vencer uma mazela.

    Sua dança vem composta de passos rápidos, fortes como de um
guerreiro em batalha. Traz nas mãos uma espada longa em algumas vezes,
e em outras traz um alfanje, que usa como se atacasse os espíritos do
mal, defendendo seus filhos e protegidos.

    Como uma Falangeira soberana, tem um modo de atendimento
diferenciado, seu olhar profundo e fixo, muitas vezes dando a
sensação de que está olhando diretamente dentro de nossa Alma.

    Sua roupagem vem nas cores branco, vermelho, amarelo muitas vezes
raiados de azul anil.

Iyá Ataramogba: Falangeira de característica e forma idosa, tem uma
grande ligação com a linha da esquerda de cada um de nós. Tem como
fundamento principal a proteção de seus filhos e consulentes nos
caminhos tortuosos da vida.

    Sua chegada a terreiros e roças vem de uma forma muito lenta,
pesada, praticamente curvada de fronte ao chão. Normalmente chega de
olhos fechados, e a lenda diz que seria assim pois Iyá Ataramogba não
deseja fixar seu olhar na falsidade e hipocrisia humana.

    Sua roupagem vem na cor preto, podendo ter faixas ou babados em
verde e amarelo, e em algumas vezes vermelho. Traz nas mãos dois
alfanjes, e com eles faz a limpeza de seu caminho.

Iyá Awoió: Dizem que é a mais velha Falangeira de Iemanjá. Suas
características e formas muito idosa já demonstram isso. Seu olhar
fadigado, corpo curvado, passos lentos, fala pesada logo demonstram
que essa Falangeira tem muita experiência no que se diz tempo.

    É chamada de deusa das marés, e é ela que controla essa parte do
oceano. Ela que determina a subida e a descida das marés.

    Também pode ser conhecida como Iyemoyo, Yá Ori, Iemowo ou Yemuo,
mas independente da nomenclatura é a mesma Falangeira.

    Dizem que seu maior trabalho de caridade é curar problemas de
cabeça. Quando o filho assume esse problema, essa Falangeira o cura
como se nunca estivesse esse Ori tomado por males.

    Sua roupagem vem nas cores branco e cristal, em muitos casos vem
raiados de marrom, verde e amarelo. Traz sempre nas mãos o abebé, no
qual dança lindamente.

Iyá Aynu: Falangeira de característica idosa, muito severa e radical.
Tem como determinação de trabalho afastar os espíritos sem luz dos
terreiros e roças.

    Seu lema é o trabalho ético, portanto nunca deverá ser comentado
intenções de prejudicar um semelhante com essa Falangeira, pois
trazendo nessa descrição um jargão antigo para demonstrar a
importância do que foi dito acima, poderá assim "o feitiço virar
contra o feiticeiro". Portanto não se deve arriscar uma má intenção.

    Suas forças vem da junção da Calunga Grande (mar) com a Calunga
Pequena (cemitério), sendo assim, essa Falangeira tem um poder
extraordinário.

    Sua chegada em terreiros e roças se dá em uma dança lenta, serena,
na qual por muitas vezes abre os braços balançando o seu abebé, que
traz na mão, para afugentar os maus espíritos.

    Sua roupagem vem nas cores branco e preto, tendo em alguns
detalhes o lilás e o azul claro.

Iyá Conlá: Essa Falangeira tem características de jovem a adulta, tem
a forças do céu, dos ventos, das pedreiras e do mar. Com essa junção
é uma das mais fortes e poderosas Falangeiras que lutam pelos
trabalhos de caridade em terreiros e roças.

    Seus consulentes e filhos são analisados minuciosamente, a cada
palavra e gesto durante uma consulta e verificado por essa
Falangeira. Isso para não deixar escapar nenhuma intenção escondida.

    O buscar do raciocino e da inteligência também é muito cobrado por
essa Falangeira a seus filhos, não admitindo que esses filhos sigam
fora de uma reta imaginária traçada pela força maior, ou seja, a Orixá
Iemanjá traça um caminho a seu filho, e a Falangeira Iyá Conlá faz com
que esse filho ande nesse caminho.

    Sua chegada em terreiros e roças é muito chamativa, sua dança
deslumbrante, seus gestos e passos leves, parecendo andar sobre o ar,
sua força no rodopiar, como os fortes ventos, fazem dessa Falangeira
uma das grandes sensações em começos e findar de Giras.

    Sua roupagem vem nas cores branco e azul marinho, traz nas mãos um
abebé, que sempre o agita em suas danças de chegada, e um alfanje,
que demonstra estar sempre pronta para as batalhas.

    Muitas lendas dizem que é essa Falangeira a moradora dos mais
profundos mares, e é ela que reina, domina e ordena todos os
acontecimentos das profundezas.

Iyá Iamassê: De formas e características adulta. Tem o dom da
inteligência e da justiça. Nunca julga um fato se não tiver toda a
certeza do universo.

    Sua chegada em terreiros e roças vem de uma forma serena, séria e
observadora, fazendo assim com que seus consulentes busquem o
refletir antes da consulta.

    Conhecida também com os nomes Yá Loxá ou Iyá Masemale, essa
Falangeira tem seu domínio nas águas do mar que se quebram nas pedras.
Dizem que a cada quebrada do mar nas pedras é um espírito sem luz que
é afastado dos filhos dessa Falangeira.

    Sua roupagem vem nas cores branco aperolado e marrom. Traz nas
mãos o alfanje e o abebé. Em alguns casos já foi relatado que essa
Falangeira chegou no terreiro com um machado e um chocalho de Xangô
nas mãos, contudo é determinado que esse tipo de comportamento vem de
médiuns não preparados, e devida a essa colocação isso é apenas
mistificação, pois essa Falangeira vem apenas com o alfanje e o abebé.

Iyá Iemowo: Também conhecida como Iyemoy, é uma Falangeira de
característica e forma idosa, tem como finalidade trazer e manter a
paz entre as pessoas e a casa de trabalho.

    Tem uma ligação extrema com Oxalufã, que é Oxalá na forma idosa, e
dizem que Iyá Iemowo segue sempre os passos desse Orixá, a cada
pegada deixada por Oxalufã, ali estaria também uma pegada dessa
Falangeira.

    Sua roupagem vem nas cores branco e rosa, com alguns possíveis
bordados em azul. Traz nas mãos o abebé, e com ele faz sua dança na
chegada a terreiros e roças. Sendo uma dança lenta ao extremo,
demonstrando a sua condição idosa.

    A lenda diz que essa Falangeira mora nas profundezas do mar, não
aprecia a luz, suportando somente a luz de velas. Portanto,
normalmente quando chega a uma casa, são apagadas todas as luzes,
ficando apenas as luzes das chamas das velas.

Iyá Iewa: Falangeira de característica jovial, lutadora, guerreira.
Tem o dom da sedução, do encantamento, e que usa esses dons para
trazer para a luz espíritos perdidos na escuridão.

    Essa Falangeira não admite que um filho, principalmente as
filhas, sofram por qualquer motivo.

    Seus trabalhos em terreiros e roças tem como finalidade levar a
vitória a todos que a procuram em busca de ajuda.

    Gosta de saber que seus consulentes tem laços familiares fortes, e
dentre essas famílias não deverá ter mazelas de espécie alguma.

    Ao chegar em terreiros e roças, vem com passos leves como o vento,
num bailar como o da cachoeira que joga suas águas nos rios, mostrando
toda a sua sedução.

    Protetora das virgens, mas por outro lado e a deusa da
fecundidade. Muitas vezes é reverenciada como a rainha dos horizontes
ou a senhora de tudo que não foi explorado.

    Sua roupagem vem do vermelho vivo com algumas bordas em azul anil,
raiados de amarelo ouro. Traz nas mãos o abebé e o alfanje, e em
alguns casos raros pode trazer também um arpão.

Iyá Inaiê: Essa Falangeira é considerada a mais jovens de todas, suas
formas e características são infantilizadas para jovial, fazendo assim
que seja vista, ou muitas vezes apenas como uma criança, em outras
vezes uma pequena jovem.

    Protetora da infância, senhora das águas rasas, dona das estrelas
do mar, conchas e cavalos marinhos. Essa Falangeira vem sempre com seu
ar infantil trazendo paz e felicidade a todos seus consulentes.

    Seu trabalho consiste na proteção das crianças e jovens, atuando
na área da saúde de cada um desses pequenos.

    Sua chegada em terreiros e roças é sempre muito divertido, sua
dança descompassada, giros, pulos, sorrisos fazem muito bem ao
espírito de seus consulentes. Traz no olhar a esperança de dias
melhores, espalhando a alegria em torno de todos.

    Sua roupagem vem nas cores branco, azul, rosa e verde bem clarinho,
pode ter alguns detalhes de prateado nas bordas. Traz nas mãos o
abebé, mas diferente dos outros Falangeiros, brinca mais com o
artefato que o usa como apetrecho.

Iyá Iyaku: Mesma descrição de Iyá Acurá, sendo tão idênticas que por
muitas vezes são confundidas entre si. Tanto suas formas e
características, sua forma de trabalho, suas roupagens, enfim,
praticamente a mesma colocação, podendo ser apenas diferenciadas por
um ou outro passo na dança de chegada em terreiros e roças.

Iyá Kayala: Também chamado de Iyá Mikaiá ou Kaiá, é uma Falangeira de
característica e formas jovem e guerreira. Sua presença se faz muito
mais constante nos ritos de Angola, fazendo assim que raramente se
apresente em outros tipos de dogmas.

    Dentro dos ritos de Angola, tem como finalidade a proteção acima
de tudo a seus filhos. Sua luta é constante contra os espíritos sem
luz, e seus aconselhamentos se fazem jus a guerreira que é.

    Dizem que sua dança é forte e rápida,, seus ataques ao invisível

    Sua roupagem vem nas cores branco aperolado e amarelo ouro. Traz
nas mãos ou uma espada ou um alfanje, no que usa para atacar e
proteger seus consulentes dos espíritos desgarrados e sem entendimento
do bem e caridade.

Iyá Maialeuó: Conhecida também como Iyá Maléléo ou Maylewo,, é uma
Falangeira de característica e forma jovem/adulta, tem um modo
extremamente tímido, demonstrando isso nas chegadas em terreiros ou
roças, que ao se apresentar está de cabeça baixa, não fixando o olhar
nos olhos de seus consulentes. Sua dança também é tímida, se apresenta
como se chegasse apenas andando, em passos curtos, sem muitas
demonstrações para não chamar atenção.

    Dizem que jamais poderá ser tocado o rosto do médium que se
encontra incorporado com a Falangeira Maialeuó, talvez pelo excesso de
timidez.

    É a deusa dos grandes lagos, e lá faz sua morada. Domina tudo que
nele existe.

    Sua roupagem vem nas cores verde claro e branco prateado, traz nas
mãos o abebé.

Iyá Marabô: Conhecido também como Malelewo é uma Falangeira de forma e
característica jovem e astuta. Dizem que é muito sagaz e que nunca e
de forma nenhuma essa Falangeira se esquiva de uma boa quizila.

    A lenda diz que seria a voz dos grandes mares que atraem os
pescadores, e está ligada as grandes correntezas marítimas.

    Seu trabalho consiste em quebrar magias negras, retirar obsessores
de todos os tipos, abrir caminhos derrubando obstáculos.

    Sua dança em chegada em terreiros e roças é extremamente
chamativa, dizem que não há uma só pessoa que não fique atraído e com
vontade de dançar junto com Iyá Marabô em sua apresentação.

    Seus passos deslumbrantes, seu girar nas pontas dos pés, sua
posição de ataque e de defesa, encantam a tudo e a todos.

    Sua roupagem vem nas cores preto e vermelho, trazendo em algumas
partes raiados na cor branco, fazendo assim que ao refletir da lua
esses raios parecem sair de suas vestes indo de encontro aos
consulentes como se fosse uma limpeza de aura. Traz nas mãos dois
alfanjes, nos quais passam sobre seus protegidos para retiradas de
obsessores.

Iyá Masemale: De característica e forma iguais a da Falangeira Iyá
Iamassê, podem ser até consideradas a mesma Falangeira. Os pequenos
detalhes que as diferenciam é um ou outro passo nas danças de chegada
em terreiros e roças.

Iyá Ogunté assabá: De característica e forma jovem/adulta, essa
Falangeira é determinada, forte e guerreira.

    Deusa e mãe do rio Ógun, e senhora dos encontros rio e mar, essa
Falangeira tem como finalidade de trabalho fazer os grandes encontros
de paz. Em consultas em terreiros e roças, dá prioridade sempre ao
que se refere a paz, mesmo que para isso tenha que usar a força da
guerra.

    Sua chegada em terreiros e roças se faz acontecer através de uma
dança ritmada, de passos acertados, como se estivesse em um confronto
militar.

    Sua roupagem vem nas cores azul claro e branco aperolado, podendo
ter bordas em vermelho claro. Traz em uma das mãos uma espada, e na
outra o abebé.

Iyá Olossa: Conhecida também pelo nome de Iyá Olossá ou Iyá Oloxá, tem
como característica a forma bem idosa. Dizem que é a Falangeira mais
velha das terras de Egbado, e também dizem que não há médiuns que
incorporem essa Falangeira no Brasil.

    Como não há médiuns que a incorporem em nosso país, só vamos
relatar o que foi colocado nas incorporações em médiuns de algumas
regiões da África

    Não temos relatos sobre seus tipos de consultas ou proteções.
Dizem que em sua dança ela vem com passos curtos e lentos, sempre com
o tronco curvado, pelo peso das cargas de seus filhos e de sua idade
avançada.

    Sua roupagem vem nas cores verde claro, raiadas em roxo e azul,
trazendo presos as vestes algumas contas brancas em cristal.

    Dizem que nunca deixa seu abebé, e mesmo fora das danças tem ele
nas mãos.

Iyá Sobá: Também conhecida como Iyá Asagba ou Sabá, é uma Falangeira
de forma e característica adulta.

    Deusa das espumas brancas dos mares e rios, de onde capta suas
energias, senhora das fiadeiras de algodão, tarefa que tem orgulho em
fazer.

    Em sua chegada aos terreiros e roças, vem de uma forma calma,
senhora dançante, sorridente e de passos controlados como um maestro
regendo sua orquestra.

    Seus trabalhos de caridade vem nos aconselhamentos, no entender de
cada passo, tempo e coisa da vida, nas soluções de problemas que
podemos achar que são insolúveis. Ela com sua maturidade, com seu
poder de reflexão, com seu senso de justiça e paz nos mostra que tudo
na vida pode ter uma solução, e essa solução só vai depender da
quantidade de fé que estamos dispostos a entregar ao Pai Maior.

    Sua roupagem vem nas cores branco, azul claro e prata, traz nas
mãos o abebé, e tem um detalhe que chama atenção, ela gosta de
utilizar uma corrente de prata no tornozelo.

Iyá Susure: Também conhecida como Iyá Sessu, ou Iyá Sesu, ou Iyá
Yasessu, tem característica e forma adulta, é ligada a gestação, a
tratamento de mazelas no corpo físico e curas do espírito.

    Dizem que também é muito guerreira, e que está sempre pronta para
vencer batalhas contra os espíritos sem luz. Muito respeitada por
todas as outras Falangeiras, pois ela é a única mensageira do rei do
mar.

    Ela vive nas águas sujas do oceano, e por isso a obscuridade
dessas águas a fazem ser muito esquecida, e quem a auxilia nesse
contraste e Oxum Apará, que sempre a acompanha para estar relembrando
os afazeres.

    Sua dança de chegada em terreiros e roças vem de uma forma bem
normal, um tanto lenta em comparação com as outras Falangeiras, mas
não tão lenta quanto a das mais velhas.

    Sua roupagem vem nas cores branco e verde água, tem contas
espalhadas na cor branco cristal por entre os babados de suas vestes.
Traz nas mãos uma espada ou um alfanje, juntamente com o abebé.

Iyá Tuman: De forma e característica adulta, essa Falangeira é a
senhora do tempo em que as águas do mar demoram para chegar a seu
destino.

    Tem como finalidade de trabalho a demonstração do tempo a seus
consulentes e filhos, para que a ansiedade não tome conta de suas
almas, e assim não deixar que errem por não refletir sobre qualquer
assunto ou fato.

    Sua chegada em terreiros e roças se faz em algumas vezes rápida
como o vento e em outras lentas como o mudar de imagem de uma
montanha, isso sempre voltada a demonstração do tempo.

    Assim como demonstração excessiva de tempo, Iyá Tuman, pelo
contrário também se demonstra não se importar com o gênero, pois em
alguns dias pode vir como representação feminina e em outras
masculina,

    É conhecida como a senhora da paciência e da calma, e assim tenta
fazer seus filhos entenderem a importância do tempo.

    Sua roupagem vem nas cores azul celeste, amarelo e branco
aperolado. Traz nas mãos o abebé e em algumas vezes o alfanje, que
apenas é usado como apetrecho de dança, nunca como uma arma, pois a
sua maior arma é a paciência e a tranquilidade, a mesma que passa a
seus consulentes nos trabalhos de caridade.


    Esses são os Falangeiros da rainha do mar, a nossa mãe Iemanjá,
que nesse texto resumido descrevemos apenas o mais objetivo, pois a
grandeza desses Falangeiros não seria possível podermos expressar
todos os detalhes de forma concreta pelo pouco espaço e tempo que
dispomos, e se fôssemos detalhar tantas e tantas grandezas, na certa
teríamos que dispor de dezenas de páginas desse humilde blog para
descrevermos o tanto de força tem esses trabalhadores da caridade.


    Saravá a falange e Falangeiros de Mãe Iemanjá.


    Odoiá minha rainha !


Carlos de Ogum.


 
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