sábado, 30 de setembro de 2017 43 comentários

A Mistificação de Médiuns na Umbanda

               

    Muito se prega dentro dos terreiros, centros e tendas, para termos cuidado máximo em não nos entregarmos a mistificação.

    Sabemos que a mistificação é danosa ao médium mistificante, ao andamento dos trabalhos, a casa, aos consulentes, enfim, a todos os envolvidos.

    Médiuns que dão abertura as essas mistificações, automaticamente estão dando aberturas a espíritos sem luz, como Eguns, Kiumbas e Zombeteiros, que se utilizam desses médiuns mal preparados, vaidosos, mentirosos para se apossar da vida tanto dos consulentes que vão buscar auxílio em momentos de desesperança e desespero, quanto do próprio médium mistificador, além de entrarem com facilidade nos terreiros que por algum motivo a firmeza não esteja 100%. Alias o próprio médium mentiroso e mistificador já faz essas firmezas ficarem sobrecarregadas, pois ele deveria estar ali para auxiliar a caridade e não elevar a sua própria vaidade.

    Sabemos que a incorporação tem como objetivo principal o trabalho espiritual, realizado com a Entidade de Luz em conjunto com o médium. Tem como foco principal promover limpezas, quebrar demandas, restabelecer o equilíbrio, curar, abençoar e comunicar o que é necessário no momento.

    Nenhuma Entidade de luz vai se ater a assuntos peculiares, como por exemplo, perguntas sem ligação com o fato principal, ficar perguntando por pessoas, dando detalhes como nome de fulano ou beltrano, passando receituários grandiosos, sem ligação de nada com nada, cobrar adoração, mandar o consulente ir a lugares dificultosos como cemitérios, matas fechadas a noite, enfim, tudo que possa dificultar o andamento dos trabalhos, somente para dizer que sabe mais coisas que seu semelhante igualmente médium.

    Infelizmente vemos muitos médiuns mal preparados tentarem entrar no caminho das adivinhações, e assim poderá se perder na mensagem, e ao invés de comunicar o que realmente importa a pessoa, e que irá ajudar a melhorar sua vida e sua caminhada rumo à evolução, inicia um show de adivinhação, que certamente nunca acerta e também não soma em nada. Basta percebermos, toda vez que um médium mistificante quer adivinhar coisas, ele busca falar fatos que não pertencem a ele ou a espiritualidade, inventam cargas e obsessores, receitam diversas coisas que nada tem de concreto com o caso do consulente, tenta demonstrar que o problema é mais sério e complicado do que realmente é, manda o consulente fazer oferendas com elementos e em lugares mais improváveis possíveis, só para dificultar e assim mostrar que o fato é grave, e logicamente demonstrando a velha vaidade de querer ser o melhor médium para solucionar tudo, e quando nada acontece de bom, ele diz que foi a falta de fé do consulente.

    E assim chegamos ao ponto critico da questão, e entender que a mistificação deve ser combatida nos terreiros, no qual os Zeladores de Santo devem tomar extremo cuidado com seus médiuns vaidosos, orgulhosos, inseguros, mal desenvolvidos.

    Devemos também frisar que muitos médiuns mistificam não por sentimentos obscuros, mas pela ânsia em auxiliar o consulente, e assim desenvolvem emoções de caridade pessoal, não deixando a Entidade de Luz falar o que realmente deveria ser dito.

    Normalmente em casos assim, esse médium fala pelo seu subconsciente, e não pelas más intenções de espíritos sem luz como Kiumbas, Eguns e principalmente Zombeteiros. Dessa forma ele fala também o que é importante avaliar: o que tem efetividade e traz benefícios.

    Portanto mistificação intencional de forma vaidosa em si, já é outro precedente, mais profundo e complexo, pois é a intenção de mentir, coisa que acontece com o zombeteiro, tem espírito que finge ser e tem pessoas que fingem ser. Se a intenção é de mentir, enganar, falsear... isso sim é mistificação intencional e vaidosa. Podemos dar um exemplo básico de quando uma pessoa diz estar incorporado com um Preto Velho, se faz parecer com o linguajar e manifestando como tal, mas na verdade não é essa Entidade que está presente, normalmente é um espírito Zombeteiro, que certamente vai dificultar ainda mais a caminhada do consulente. E assim o erro já está instaurado, e essa inspiração de mentir, é algo nocivo e tende a uma falta de caráter espiritual completa do médium, pois somente ele é o responsável por esse acontecimento, pelas aberturas dadas, estando esse médium em trabalho humilde e bem feito, essas aberturas não são dadas e é impossível a chegada de um Zombeteiro na coroa dele.

    Muito se vê esses erros e entregas a espíritos Zombeteiros em Giras de Exú e Pombo Giras, pois são nesses trabalhos que mais chamam a atenção de consulentes, que muitos médiuns desejam ser o centro das atenções, e assim soltam por completo a vaidade, o descontrole, e o mal caratismo, fazendo com que dezenas de Kiumbas, Eguns e Zombeteiros se acheguem em sua coroa, dando diversas aberturas, e isso é extremamente prejudicial a todos.

    Por esse motivo que vemos tantos erros dentro de terreiros nessa Gira, que deveria ser tão iluminada, erros como médiuns pregando amarrações, oferendas sem nexo, acendimento de velas em locais obscuros, sacrifícios de animais, enfim, tudo invenção do médium, ou indução de espíritos sem luz, pois como sabemos nenhuma Entidade de Luz da Umbanda prega essas coisas.

    O que esses médiuns não entendem é que eles são responsáveis naquele momento da consulta pela vida de seus consulentes e que qualquer coisa que aquele médium disser, interferindo no trabalho da Entidade, ou usando o nome da Entidade para dizer o que quer, esse médium está comprometendo toda a corrente espiritual, está se comprometendo com a Entidade e com toda a hierarquia dela, e que por esse momento de vaidade e descuido, esse médium está abalando anos e anos de trabalho do dirigente espiritual, de todo o corpo mediúnico e espiritual daquele terreiro, causando muitas vezes a falência daquela casa de luz.

    É inimaginável crer que um médium acredite que está servindo a caridade utilizando-se de artifícios que serão, mais cedo ou mais tarde, descobertos. Senão pela corrente mediúnica encarnada, mas pela corrente espiritual.

    Sabemos que a caridade exige de nós três coisas:

Amor a Deus.
Amor ao próximo.
Amor próprio.

    Se não tivermos essas três formas de amor, certamente não faremos um trabalho digno dentro da Umbanda.

    Finalizando, devemos observar muito bem o trabalho dos médiuns, verificar suas falas, suas ações, seus gestos. E quando observar um médium se dizendo incorporado de um "guia de luz", que se manifesta para tudo, menos para praticar a caridade, e até mesmo, afirmando que veio em terra (pois afirma estar incorporado) pra beber, fumar e fazer o que bem entende, desconfie, pois: ou o médium está utilizando de uma suposta incorporação para satisfazer seus vícios (mistificação), ou, se tem um espírito incorporado, é um espírito que pode pertencer a qualquer universo, menos ao universo umbandista, pois a Umbanda tem Lei e Ordem, tem Preceitos que não podem ser lançados fora, e de fato não são lançados pelos espíritos genuinamente trabalhadores de Umbanda.

    Desconfie quando ver o contrário. Infelizmente isso acontece dentro dos "terreiros de umbanda" o tempo todo. Espíritos do baixo astral tomam a forma de guias de Umbanda, se identificam com se fossem os guias de Umbanda, enganam o médium (ou o médium se deixa enganar) e fazem barbaridades no ambiente e com os consulentes que estão presentes. Mas também é comum a mistificação onde pessoas que não são médiuns fingem estar incorporadas de espíritos de luz nos dias de gira de Umbanda, e isso para chamar atenção, vaidade, entre outras coisas.

    Então consulentes vamos ficar atentos; senhores médiuns trabalhem pela caridade com honestidade; senhores dirigentes e Zeladores atenção redobrada dentro de suas casas de Umbanda, para que possamos levar uma verdadeira Umbanda a quem precisa, com amor, paz, humildade, honestidade, sem vícios, maus sentimentos, vaidade e mentiras.


Salve a nossa amada Umbanda!


Carlos de Ogum
quarta-feira, 20 de setembro de 2017 53 comentários

AS VESTES NA UMBANDA.

             


  *******************************************************************      

    Um dos grandes debates entre médiuns, Zeladores e dirigentes de
terreiros é as vestes que se deve ser usada no culto de Umbanda.

    Muitos pregam que as vestes devem ser  caracterizada a cada
Entidade de Luz, fazendo assim que a Gira se torne um grande desfile
de modas.

    Devemos entender que a Umbanda é uma religião simples, humilde, de
entrega de coração a caridade, ao amor e a paz. Portanto ficar
buscando a vaidade entre os filhos de uma casa é totalmente errado.

    Então devemos refletir muito bem, prestar muita atenção onde
estamos buscando fazer a caridade, pois nas casas que dirigentes e
Zeladores pregam que o médium deve usar roupas coloridas, capas
diversas, ternos, cartolas, longos vestidos de pura renda, camisas
coloridas e sendo trocadas a cada nova incorporação de uma nova
Entidade de luz é pura vaidade e demonstração teatral para chamar
atenção indevida.

    Na Umbanda, em seu princípio, um dos grandes elementos e
significados e fundamentos é o uso da vestimenta na cor branca. Como
sabemos, em 16 de novembro de 1908, quando foi anunciada a Umbanda no
plano físico, e também quando foi fundado o primeiro templo de
Umbanda, que foi a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, a Entidade
de Luz, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que anunciou a nova
religião, ao fixar as diretrizes e bases do segmento religioso, expôs,
dentre outras coisas, que todos os Sacerdotes, Zeladores e médiuns
usariam as roupas brancas, e isso certamente não é por acaso,
notoriamente essa colocação foi dada por ter o Caboclo das Sete
Encruzilhadas um profundo conhecimento místico, científico e
religioso da cor branca.

    Sabemos que no decorrer de toda a história da humanidade a cor
branca aparece como um dos maiores símbolos de fraternidade já
utilizados. Vários são os povos que abraçaram essa cor para demonstrar
a caridade, o amor e a paz. O próprio Cristo ao tempo de sua missão
terrena utilizava túnicas de tecido branco nas peregrinações e
pregações que fazia.

    Portanto devemos dentro de nossas Giras estarmos de roupas
brancas, sem deixar que a vaidade tome conta, fazendo com que levarmos
a crer que o terreiro de Umbanda seja um palco para desfiles e peças
teatrais.

    É extremamente incoerente pregar que uma Entidade de Luz, que
é abençoada por Deus, e entregue a ela a missão da caridade, do amor,
da humildade e da paz, só trabalhe com roupas a caráter. Sim, sabemos
que as Entidades de Luz foram seres Encarnados em algum momento, porém
evoluíram, e evoluíram tanto que foram escolhidas para fazer o bem em
nome de Deus junto aos seres que ainda estão encarnados e cheios de
defeitos. Portanto não existe isso, as Entidades trabalham pela
caridade e não pela vaidade.


    Essa visão de que devemos usar vestes que supostamente uma
Entidade de Luz exige, é pura mistificação, desorientação e vaidade
de médiuns mal preparados, sem a mínima noção de que seja uma
Entidade de Luz, sem a mínima noção de que seja Umbanda, ou sem a
mínima noção de que seja trabalhar pela caridade.

    É muito fácil encontrar em alguns terreiros, armários cheios de
capas, ternos, camisas coloridas, lenços, etc. No qual o próprio
Zelador da casa se coloca como usuário dessas vestes, e a cada troca
de incorporação, uma troca de roupa. Isso na verdade além de ser uma
grande vaidade, se torna ridículo, pois a perda de tempo é extrema, e
esse tempo gasto com essas trocas de roupas, poderiam ser gastos com
orações, preces, auxílios, caridade a quem necessita.

    Infelizmente o que vemos hoje em dia são médiuns mal
desenvolvidos mediunicamente, tentando aparecer mais que seu
semelhante dentro do terreiro, e um modo mais simples de enganar a
assistência e se vestir de uma forma chamativa, com artefatos que nada
tem a ver com a realidade da Entidade de Luz que esses médiuns estão
tentando passar aos consulentes.

    Podem ter certeza que em médiuns vaidosos, sem noção de
vestuário, as Entidades de Luz estão distantes. O que esses médiuns
trazem na coroa é sua visão errônea do que seja Umbanda, e assim dão
aberturas a espíritos sem luz, obsessores como Kiumbas, Eguns e
Zombeteiros.

    Devemos ficar atentos como consulentes ou visitantes de algum
terreiro esse ponto de vaidade. Desfile de modas não faz parte da
Umbanda. Podemos estar buscando mais problemas a nossa caminhada, ao
invés de sermos ajudados.

    Os médiuns de Umbanda devem utilizar as vestes na cor branca, pois
e essa cor neutra que transmite a sensação de assepsia, calma, paz
espiritual, serenidade e outros valores de elevada estirpe.

    Portanto, a cor branca tem sua razão de ser na Umbanda, pois temos que
lembrar que a religião que abraçamos é capitaneada por Orixás, sendo que
Oxalá, que tem a cor branca como representação, supervisiona os Orixás
restantes. Assim como a cor branca contém dentro de si todas as demais
cores, a Irradiação de Oxalá contém dentro de sua estrutura
cósmico astral todas as demais irradiações, como: Ogum, Xangô, Oxossi,
Obaluaiê/Omulú, Oxum, Iansã, Iemanjá e Nanã Buruquê.

    A implantação desta cor em nossa religião, não foi fruto de opção
aleatória, mas sim pautada em seguro e inequívoco conhecimento de quem
teve a missão de anunciar a Umbanda. Portanto devemos respeitar essa
posição e parar de colocar a vaidade e a falta de informação acima
da realidade umbandista.

    Salve o caboclo das Sete Encruzilhadas!

    Salve a Umbanda sem vaidade!

Carlos de Ogum.
**********************************************************************


domingo, 10 de setembro de 2017 61 comentários

A História da Pombo Gira Rosa das Sete Saias

          

**********************************************************************
No clarão da noite de Lua cheia,
ela veio reinar na terra sagrada,
pelos montes lindos ela passeia,
mostrando ser uma moça iluminada.

Sua força vem da beleza de Mãe Iansã,
e assim todas as filhas ela conduz,
quando chega na Umbanda ilumina nosso amanhã,
essa é a Pombo Gira Rosa das Sete Saias, a enviada de Jesus.
**********************************************************************

   A Pombo Gira Rosa das Sete Saias tem uma história muito interessante, pois ela viveu em prol da caridade as jovens abandonadas pelas famílias, que normalmente eram expulsas ou por um desvio de conduta, ou por ideias acima do tempo vivido, ou por mostrarem que não aceitavam ser dominadas por tradições da época.

    Ela viveu nos meados do século XIX, e por ser extremamente lutadora por igualdades, foi expulsa de sua região pelos grandes coronéis da época. Coronéis esses que não respeitavam as mulheres, os negros e as pessoas que pregavam ideias diferenciadas desses poderosos.

    Nessa época a Pombo Gira Rosa das Sete Saias era conhecida apenas por Rosa, seu nome de batismo e vivia com seus pais e irmãos na região Norte do Brasil.

    Ela sempre foi diferenciada por estar sempre em desacordo com os grandes poderosos coronéis do tabaco, arroz, cana de açúcar, e assim conseguiu muitos desafetos, sendo perseguida até ser expulsa de sua região, sem que antes sofresse a enorme perda de sua vida, toda sua família fora massacrada por esses sanguinários senhores fazendeiros.

    Ela astutamente conseguiu se desvencilhar das agressões dos jagunços comandados pelos coronéis, fugindo de sua pequena cidade e se escondendo pelas florestas, rios e pântanos, até chegar a um monte no qual ela fez morada.

    Os dias iam passando lentamente, e Rosa cada dia era tomada por uma tristeza sem fim. Com a perda de seus pais e irmãos, ela não tinha mais vontade de caminhar, suas esperanças já não existia mais, seu amor pela vida e sua vontade de lutar estava quase se extinguindo, quando em uma noite clara no qual o cume do monte era tomado pela luz de um luar lindo e estrelas brilhantes, Rosa sentada na relva com os olhos fixos para o horizonte tomado pela escuridão da noite, escuta chamarem por seu nome.

    Ela assustada da um sobressalto, e se depara com uma linda mulher vestida de guerreira, de olhos amendoados, cabelos brilhantes como o Sol, em sua mão direita segurava uma espada de cor de ouro, e com uma voz forte, porém meiga, ela disse a jovem Rosa:

    "Filha amada, não se deixe vencer, você é forte, é lutadora, é guerreira, é minha protegida. Sua missão apenas começou.
    Deve erguer a cabeça, iluminar sua fé, buscar os caminhos da caridade, pois muitas pessoas dependerão de sua vontade de lutar.
    Esse monte será seu ponto de força, cada vez que fraquejar venha até ele, busque a força do Sol, a clareza da Lua, a união das estrelas. Sinta o vento acariciando seu rosto e cabelos, esse vento é a energia que vai precisar caso fraquejar.
    Sua missão e retirar das garras da morte as jovens jogadas a seu próprio destino. Traga-as para se purificarem no monte, as conduza para o bem, a luta contra o mal, auxilia-as a vencer os seus medos, seus dissabores, seus ódios.
    Você será a luz na caminhada de muitas jovens reprimidas pela ignorância de uma humanidade sanguinária e sem entendimento.
    Nessa caminhada terá de escolher sete companheiras para serem suas forças de conjunto, saberá quem são elas, e essas estarão com você eternamente.
    Lute pela liberdade e faça a caridade sem receio, pois no momento certo você irá a uma nova caminhada rumo ao bem, rumo à paz, rumo a Deus. Eu estarei com você e no momento certo, você estará comigo."

    Falando isso a linda mulher guerreira se foi como por encanto, deixando apenas uma leve brisa no ar, uma brisa perfumada como as flores.

    Rosa ergueu a cabeça, e tomou uma decisão, voltaria à cidade para resgatar as jovens, que como ela eram mantidas escravas pelos coronéis sanguinários. E assim ela o fez.

    No arraial jovens de diversas idades, raças e ideologias, eram mantidas como escravas pelos senhores poderosos. Eram torturadas, abusadas, humilhadas, assassinadas.

    E assim Rosa pôs em prática o plano de alcançar seu objetivo, ou seja, resgatar essas jovens, e as levarem ao monte da purificação, e após a um lugar seguro.

    Começando sua missão, todo o cair da noite entrava pela cidade em surdina, ia até os pontos onde se encontravam aprisionadas diversas jovens, e com uma força de vontade enorme assim como sua fé, as levavam para um local seguro.

    E assim ela expandiu sua missão além da cidade, passou a resgatar jovens escravizadas dentro de fazendas, em senzalas, jovens essas que sofriam extremamente nas mãos de seus senhores, de feitores e jagunços.

    Com extrema habilidade e sagacidade, Rosa conseguia entrar e sair das fazendas nas noites escuras e até um pouco sombrias. E ao sair nunca deixava de levar alguma jovem sofrida, e assim foi aumentando dia após dia o número de resgates feitos pela salvadora protegida de Iansã guerreira.

    Os poderosos começaram a se preocupar com o sumiço das jovens, tanto nas fazendas quanto na cidade, e assim se juntaram para tentar dar um fim nesse acontecimento, mesmo não sabendo quem estava por trás dos resgates.

    Começaram uma vigília implacável, fazendo assim dificultar muito a missão da jovem Rosa, que se arriscava intensamente para tentar trazer mais jovens para a liberdade.

    Com a dificuldade aumentada, Rosa teve a lembrança dos dizeres da Orixá Guerreira, ela deveria escolher sete jovens para lhe auxiliar, e assim tentar manter sua missão ativa.

    Enquanto isso os poderosos e fazendeiros da região, para tentar fazer o misterioso lutador pela liberdade aparecer, começaram mais intensamente torturarem mais e mais jovens. Com isso Rosa não teve outra maneira de agir, deveria, junto com suas sete auxiliares, já devidamente escolhidas, ir à busca de novos resgates.

    E assim ela o fez, por mais uma seqüência de dias ela passou a libertar mais e mais jovens, deixando os poderosos e coronéis extremamente irritados.

    Um desses coronéis teve a ideia de separar algumas jovens negras em uma senzala, e nessa senzala grandes horrores aconteciam com elas. Rosa ao saber disso pediu forças a Iansã, juntou-se com suas sete guerreiras e partiu para a tal fazenda. Mas tudo não passava de um plano sanguinário desse coronel para eliminar o libertador de jovens. Em tocaia, ele, alguns jagunços e feitores, juntamente com um grande número de coronéis e poderosos da região, aguardavam com ansiedade a chegada do libertador.

    E assim chegou a senzala a jovem rosa com suas sete guerreiras, e foi um espanto a todos que ali estavam aguardando. Ficaram em silêncio, observando o que ia acontecer, e viram com grande espanto as jovens entrando pela porta da senzala assim que conseguiram quebrar a velha tranca de ferro.

    Sem dó ou piedade, o coronel sanguinário manda seu jagunço trancafiar as jovens na senzala juntamente com as outras que ali já estavam e logo após manda incendiar a fim de queimar todas vivas.

    O fogo pegou rapidamente, as jovens escravizadas gritavam de pavor, enquanto Rosa e suas auxiliares tentavam sem sucesso encontrar uma saída.

    Do lado de fora gargalhadas estridentes tomavam conta do local, os coronéis, jagunços, feitores e poderosos se deleitavam com o desespero dentro da senzala.

    Rosa se joga de joelhos ao chão, clama por piedade a sua protetora Iansã, pedindo-lhe que salvasse as jovens que ali estavam, em um extremo de fé e caridade, ela deixa uma lágrima rolar em seu rosto. Essa lágrima ao cair é tomada por um brilho intenso, fazendo-a se transformar em centenas de gotículas que plainavam pelo ar subindo ao céu azul, que nesse instante começa a se fechar com pesadas nuvens negras.

    Raios saíam das nuvens, e uma intensa tempestade no mesmo instante desabou sobre as terras da fazenda, conseqüentemente encharcando toda a senzala e por fim apagando o violento incêndio. Ventos tortuosos sopraram violentamente sobre a fazenda, fazendo com que a correria entre coronéis, poderosos, feitores e jagunços começasse. Todos assustadíssimos gritavam de pavor. Ventos arrastavam a todos, raios desciam sobre eles demonstrando a força da natureza e de Mãe Iansã, a chuva poderosa cobria os olhos de todos os deixando como cegos.

    Nesse momento uma luz brilhante desce sobre a senzala, e como se com sua força invisível, juntava as jovens ao centro da senzala, e a luz brilhante as rodeou fazendo assim um campo de energia protetora. Nesse momento um forte trovão estrondou pelo céu, trazendo um raio poderoso que caiu próximo a senzala, unido com os fortes ventos fez com que ela fosse destruída, porém as jovens se mantinham protegidas pela luz brilhante.

    A senzala foi ao chão, raios e trovões tomavam o céu, ventos de enormes proporções levavam tudo a sua frente. Já não haviam mais nenhum jagunço ou feitor, todos corriam tentando se proteger. Os coronéis e poderosos em seus desesperos particulares tentavam achar algum lugar para se segurarem, porém era inútil, nada estava livre da força dos ventos, a não ser as jovens protegidas sobre a luz brilhante de Iansã.

    Nesse momento as nuvens partiram, o céu se tornou novamente azulado, o Sol brilhava com intensidade, raios e trovões se acalmaram.

    Pouco a pouco se reuniam os poderosos homens irônicos, só que agora extremamente assustados com todo acontecido.

    Ao verem as jovens reunidas em um ponto da fazenda, ainda protegidas pela luz brilhante, eles ficaram atônitos, não sabiam o que dizer ou o que pensar.

    Nesse instante sobre as jovens, plainava a imagem da bela Iansã, devidamente trajada de guerreira, olhos brilhantes, espada em punho. Com um gesto ela fez com que a luz brilhante desaparecesse, e com um tom de voz forte e seguro disse:

    "A todos que escravizavam, torturavam e mantinham essas jovens sobre seu julgo, digo-lhes, essa foi apenas uma pequena demonstração a vocês. A partir desse momento desejo essas jovens livres, pois para aqueles que não aceitarem minha vontade, sofrerão a ira da natureza muito mais forte do que essa que presenciaram nesse momento.

    Desejo que deixem todas as jovens partir, que não sejam mais escravizadas, torturadas e mortas."

    Dizendo isso ela ergueu sua espada, pediu que Rosa se afastasse com suas sete auxiliares, e lançou uma luz em volta dela e das sete, fazendo com que todas se erguessem sobre o ar.

    E assim ela disse:

    "A sua missão foi cumprida nesse lugar, a partir de agora você e as sete serão enviadas de Oxalá e dos Orixás, para que possam libertar mais e mais jovens aprisionadas e abandonadas a sua própria sorte."

    E assim Rosa se transformou na Pombo Gira Rosa das Sete Saias, sendo as sete saias suas sete auxiliares.

    Hoje a Pombo Gira Rosa das Sete Saias trabalha em prol da caridade nos terreiros de Umbanda, e tem como sua principal finalidade proteger jovens abandonadas, torturadas e escravizadas pela ignorância dos seres humanos que não buscam entender o porquê de algo, e preferem julgar.

    É dito que quando a Pombo Gira Rosa das Sete Saias chega a um terreiro, em volta dela se pode notar a energia das sete guerreiras de Iansã, fazendo assim que seja quebrado todo tipo de magia, com a força das sete linhas.

    Salve a Pombo Gira Rosa das Sete Saias!

Pombo Gira Rosa das Sete Saias é Mojubá!


Carlos de Ogum
 
;