segunda-feira, 28 de julho de 2014

Seu Zé Pilintra e Sua História



    Senhor Zé Pilintra, é uma das mais conhecidas Entidades dentro da
Umbanda. Muitas pessoas tem um grande afeto a ele, pelo seu jeito
"malandro" de ser e de seu imenso carisma, fazendo com que os
consulentes dessa Entidade se tornem amigos fiéis.

    Guia espiritual de personalidade controvertida, personifica a
malandragem e a astúcia adquirida das adversidades da sobrevivência
nas ruas, mas suas práticas estão voltadas para a caridade, a
assistência espiritual e material.

    Das manifestações de Zé Pilintra percebe-se a enorme adaptação
cultural a cada região, rompendo todas as barreiras para disseminar a
sua força espiritual em ajudar os necessitados com sua experiência
através de seus sábios conselhos.

    Contam as lendas que Zé Pilintra era José Amadeu da Silva,
Pernambucano, mulato quase negro e pobre, mulherengo e festeiro,
mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se tornou um famoso boêmio no
meio da malandragem do bairro da Lapa.

    Mas para entendimento vamos descrever a história de Senhor José
Pilintra da estrada da Lapa., que é a Entidade da mesma linha dos
"Malandros", vamos mostrar de onde ele veio, como virou essa Entidade
tão maravilhosa, como trabalhou tanto pela caridade em vida e porque
temos diversas Entidades que levam o nome de "Zé Pilintra", assim como
o personagem de nossa história.

    A história de Zé Pilintra da Estrada da Lapa, tem diversas
passagens na Cidade do Rio de Janeiro, no início do século XX, na
época em que os negros que por décadas haviam sendo escravizados, e
agora em liberdade, na verdade uma falsa liberdade, tentavam
sobreviver ao julgo, a falta de trabalho, a má alimentação e as
doenças que tanto afligiram os ex escravos.

    Mas vamos voltar um pouco ao tempo para vermos como Senhor Zé
Pilintra chegou ao Rio de Janeiro.

    Seu Zé era natural do Estado de Pernambuco. Filho de uma Ex
escrava negra e um feitor de cor branca, portanto ele tinha a pele não
negra como a mãe, mas também não branca como o pai, fazendo assim dele
um mulato escuro que por vezes e vezes sofria o ódio da enorme classe
de brancos.

    Batizado de José Amadeu da Silva em sua vida terrena, esse foi o
nome que usou até meados do ano de 1902, quando fez parte dos grupos
que auxiliavam a grande massa de negros nos tratamentos contra as
doenças que se lastrava intensamente dentro dos morros que foram
ocupados por eles.

    Esses negros foram obrigados a se bandear para o alto desses
morros, pois com o fim do período escravocrata, no século XIX, sem
posses de terras e sem opção de trabalho nos campos, esses grupos se
deslocaram para o Rio de Janeiro em busca de uma tentativa de
sobrevivência, fazendo assim um aumento desproporcional de pessoas na
então Capital Federal. A elite e administradores da cidade desejando
apagar de suas lembranças aquele povoado de negros e aquela cidade com
vestígios da era colonial, mandaram demolir todos os cortiços fazendo
assim os negros saírem e irem morar nos morros, longe da grande elite
de brancos.

    Sendo esses lugares sem a menor condição de se viver, as doenças
se alastraram, e sem auxilio da elite os negros morriam sem a chance
de cura.

    Voltando agora ao nosso foco que é Senhor Zé Pilintra, um pouco
antes desses acontecimentos, ele já tomado da decisão de partir de
Pernambuco, seguiu em viagem sem destino pelo país.

    E a cada parada, a cada região, ele buscava novos conhecimentos,
sendo em áreas comuns como a agricultura até em áreas específicas como
cuidar de uma pessoa com alguma moléstia.

    E foi assim que aprendeu o oficio de cura em moléstias, por volta
do final do século XIX, José Amadeu, com sua conversa amigável, com
seu carisma e com sua vontade de aprender, ficou em companhia de um
velho sacristão, que tinha como missão sanar as dores das pessoas que
buscava ajuda em sua paróquia, e nesse período em companhia ao
sacristão, José Amadeu aprendeu que ele precisava ajudar a quem
necessitava, mas precisava fazer muito mais do que já fazia.

    E assim ele decidiu partir.

    Após dezenas de dias em viagem, ele chega ao Rio de Janeiro.

    Observando a situação dos negros, que morriam sem auxilio, decidiu
que era ali que teria que ficar para cumprir sua missão.

    Começou acompanhar o dia a dia dos médicos da elite, observava
tudo, onde conseguiria medicamentos, com quem conseguiria, como esses
médicos se vestiam e como falavam.

    Assim ele permaneceu junto com os negros, tentando sanar as dores
de cada um, tentando salvar a vida de crianças que sofriam
intensamente com várias pestes.

    Começou a perambular pela cidade, conheceu pessoas e chegou na
Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, e lá que conseguiu seu grande
feito, juntar pessoas brancas e mulatas que abraçaram as causas na
qual ele lutava.

    E assim começou um grande grupo de homens e mulheres, que faziam
da luta de manter o povo do morro saudável, mesmo contra a vontade dos
poderosos da elite e dos administradores da cidade.

    E foi esses poderosos que começaram a fechar as entradas para esse
morro, colocando a força policial de guarda para que ninguém pudesse
subir ou descer, fazendo assim com que os negros não tivessem o
direito de se misturarem com a tal classe de elite.

    Foi também proibida a busca na parte baixa da cidade por
medicamentos e alimentos, fazendo que os negros se revoltassem, e
tentassem descer em busca dessas coisas para o povo. E ao descerem,
revoltosos, eram presos e assassinados.

    Foi por esse motivo que Zé Pilintra e todo seu grupo de amigos e
amigas da boemia, se encontravam as noites nas imediações do bairro da
Lapa, com intuito de planejarem medidas de ajudarem ao povo dos
morros.

    Ficando acertado que não usariam a força, mas sim a conversa e
jogos de palavras juntamente com a malícia da malandragem que
aprenderam nas ruas e o sorriso sempre aberto e cativante.

    E assim era feito, no meio de conversas e sorrisos, demonstração
de amizade por parte dos rapazes com os policiais responsáveis por
tomarem conta das entradas dos morros, assim como das moças que com
grandes atuações, se fingiam de encantadas pela força e farda desses
policiais, iludindo-os com olhares e sorrisos, enquanto Zé Pilintra e
outros Malandros passavam a surdina levando todos os tipos de
materiais e alimentos para os negros no alto dos morros escuros.

    Eles passaram a andar com a tradicional vestimenta branca, terno,
gravata encarnada para que assim não fossem confundidos com os
policiais, que durante as noites subiam os morros, ora para eliminar
algum negro, ora para tentarem levar as grades os "Malandros" que
tanto lutavam, sobre o comando de Zé Pilintra, para tentar auxiliar o
povo tão sofrido dos morros.

    Senhor Zé Pilintra, com essa ginga de malandro boêmio, com o
carisma de amigo de todos, com a sabedoria que adquiriu pelas andanças
que fazia, com a infinita bondade de tentar ajudar a quem necessitava,
ao fazer sua passagem foi feito como Entidade pelo Pai Maior, para que
assim pudesse continuar seu lindo e maravilhoso trabalho de caridade
dentro dos terreiros e centros Umbandistas, como continua a fazer até
os dias de hoje.

    Poderemos observar que dentro de vários terreiros encontraremos
médiuns incorporados com a Entidade Zé Pilintra, as vezes até mais de
um no mesmo terreiro e na mesma hora.

    A explicação disso é que, sendo Zé Amadeu da Silva um grande líder
dentre todo os grupos de amigos da boemia, ele foi adorado por muitos,
que seguiram o seus passos, e como ele, José Amadeu, o Zé Pilintra,
era extremamente respeitado e até temido por muitas regiões, esses que
seguiam seus passos, se apresentavam como Zé Pilintra, para assim
conquistarem o respeito, e fazer disso a porta de entrada para a luta
em prol da caridade.

    E tudo isso começou com José Amadeu da Silva, Pernambucano
arretado, boêmio sorridente, amigo dos amigos, mulato/negro que tinha
orgulho de sua cor, amava suas raízes, lutava pelos irmãos menos
favorecidos.


Hoje Na Lei De Umbanda Acredito No Senhor Pois Sou Seu Filho De Fé
Pois Tem Fama De Doutor.

Lá No Morro Era Rei, E Na Lapa Respeitado. Hoje Numa Linha De
Umbanda, Zé Pilintra É Louvado.

Salve Meu Camarada, Compadre, Amigo, Pai, Baiano, Malandro, Zé
Pilintra Da Estrada da Lapa!

Proteção meu compadre Zé.

Saravá!!!!





Carlos de Ogum

terça-feira, 15 de julho de 2014

CONHECENDO A LINHA DO ORIENTE.

Conhecendo a Linha do Oriente.

    Por muitas vezes já ouvimos falar na Linha do Oriente, em outras
ocasiões já até acompanhamos e participamos de Giras dessa linha.

    Mas o que seria a Linha do Oriente?

    Quais as Entidades trabalhadoras dessa Linha?

    Quais os povos que trazem essa tradição junto a Umbanda?

    Qual é a finalidade desses trabalhos?


    Vamos tentar sanar um pouco dessas dúvidas que temos em relação a
essa força espiritual, e buscar entender um pouco a importância dessa
Linha dentro da Religião de Umbanda.

    Em diversas casas de Umbanda tem uma Gira específica para o povo
dessa Linha, e na maioria nas quais eu acompanhei, eram chamados de
"Gira de Saúde".

    As Giras eram bem silenciosas, iniciadas com uma oração feitas por
um orador escolhido pelo responsável pelos trabalhos (na Umbanda esse
responsável seria um Pai ou uma Mãe de Terreiro).

    Diferentemente de outras Giras de Umbanda, não era tocado os
Atabaques, e uma maioria dos Médiuns deveriam ficar em oração
silenciosa, para a manifestação da Entidade que seria responsável
pelos trabalhos de cura do corpo físico dos filhos que necessitavam e
vinham em busca de ajuda.

    Atuando com a arte da cura, as entidades da Linha do Oriente
buscam fazer o encarnado compreender bem as causas de suas
enfermidades e a necessidade de mudança nessas causas, bem como a
necessidade de seguirem à risca os tratamentos indicados. São
entidades que vêm com a missão de humanizar corações endurecidos e
fecundar a fé, os valores espirituais, morais e éticos no mental
humano.

    Essa Linha se divide em 7 falanges e composta em sua maioria por
entidades de origem oriental. Nela podemos encontrar as falanges dos
hindus, árabes, japoneses, chineses, mongóis, egípcios romanos, entre
outras dessa categoria.

    Essas Falanges são compostas de espíritos que tiveram encarnação
nesses povos e que através do ensino das ciências ocultas, praticam a
caridade pregada na Umbanda..

    Podemos observar nessas Entidades que representam essa linha uma
característica bem comum entre elas, são Entidades discretas, que
falam pouco, se utilizam de um linguajar perfeito, não apreciam dar
consultas, e se precisam passar algum ensinamento ao consulente, o
fazem através de frases curtas e cheias de significados.

    A Linha do Oriente é regida por Oxalá, e por Pai Xangô, fogo e
calor divino, sendo que as entidades dessa Linha atuam nas irradiações
dos diversos orixás, conforme as demais falanges da Umbanda.

    É chefiada por São João Batista, que tem o comando dos povos do
oriente, onde se manifestam espíritos de profetas, apóstolos,
iniciados, cabalistas, anacoretas, ascetas, pastores, santos,
instrutores e peregrinos.

    A Linha do Oriente é constituída pelas seguintes legiões:
  
1. Legião dos Hindus - Chefiada por Zartú.                    


2. Legião de Médicos e Cientistas - Chefiada por José de Arimatéia.

3. Legião de Árabes e Marroquinos - Chefiada por Jimbaruê.

4. Legião de Japoneses, Chineses - Chefiada por Ori do Oriente.

5. Legião dos Egipcianos, Astecas, Mongóis e Esquimós, Incas e outras
raças antigas - Chefiadas por Inhoarairi, Imperador Inca antes de
Cristo.

6. Legião dos Índios Caraíbas - Chefiadas por Itaraiaci.

7. Legião dos Gauleses, Romanos e outras raças européias - Chefiada
                        por Marcus I - Imperador Romano.

    Dentro da Umbanda essas Giras que elevam o Povo do Oriente  por
muitas vezes não são muito frequentadas, pela cultura de implantação
dentre as Entidades da Religião serem maciçamente voltadas aos Índios
(Caboclos), Negros escravizados (Pretos Velhos ou Homens e Mulheres
que lutaram pelo bem estar de um grupo, que ora excluídos pelo poder
capitalista e racial de uma região (Exús, Pombo Giras e Baianos), mas
mesmo assim essa Linha está na Umbanda, atuando divinamente para
auxiliar a quem necessita.

A saudação para a Linha do Oriente é “Salve o Povo do Oriente!”.

    Alguns usam a saudação Kaô! (João Batista, ou dando o nome do
Orixá, Xangô) e também “Salve o Povo da Cura!”.

    Mas independente da saudação dada, o que nos vale é a fé que
estamos dispostos a demonstrar, não somente a essa Linha, mas em todas
as outras que buscamos em um Terreiro de Umbanda.

Salve o Povo do Oriente!

Salve nossa Umbanda Sagrada!

Carlos de Ogum.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Bebidas e Fumo Nas Giras de Umbanda

 

    Em todas as Giras de Umbanda, poderemos facilmente observar o uso
de bebidas e fumo pelas Entidades de Luz.

    Entidades como os Pretos Velhos, que se utilizam do fumo em seus
cachimbos, do vinho tinto, ou dos Caboclos com seus charutos, ou mesmo
dos Exús e Pombo Giras com seus aguardentes, champanhes, cigarros ou
cigarrilhas.

    E ai nos perguntamos o porque que uma Entidade de Luz utiliza algo
assim. Qual seria a necessidade delas, as Entidades, de ter em seus
trabalhos algo que não é assim tão bem visto pela sociedade.

    Essa sempre foi, e sempre será uma questão que gera inúmeras
controvérsias na Umbanda, esse fato dos guias e entidades que se
manifestam através de seus médiuns utilizarem-se do fumo e de bebidas,
o que leva alguns críticos da religião a classificarem-na como “baixo
espiritismo” e estarem os espíritos que nela atuam em grau evolutivo
inferior. Tal assertiva não passa do mais errôneo entendimento do que
acontece na liturgia da Umbanda.

    Se fizer uma busca histórica, pode-se verificar que diversas são
as religiões que se utilizam da bebida em seus fundamentos. Na
mitologia Grega, o Deus Zeus juntamente com uma mortal de nome Semele,
deu origem a Dionísio, o Deus do vinho e, os romanos com a expansão de
seus costumes pela Europa inteira, deram fama a Baco, o equivalente
romano ao Deus do vinho grego.

    Com o Cristianismo, o vinho também mostra sua importância, desde o
momento em que Jesus brindava o amor do Pai Celestial repartindo o
vinho com seus apóstolos e seguidores. Até os dias de hoje a Igreja
Católica compartilha o pão e o vinho entre seus fiéis, representativos
ambos na eucaristia do corpo e do sangue do Cristo.

    Na África, o vinho de palma é usado em diversos cultos, sendo
considerado néctar divino. O mesmo se verifica nos cultos ameríndios e
xamânicos, onde os pajés se utilizam de bebidas para realizarem seus
rituais, como o caso da cerimônia da Ayahuasca.

    Seguindo a tradição difundida culturalmente entre os povos, a
Umbanda não é diferente. O fato de utilizar o álcool em seus rituais
nada tem de inferioridade ou primitivismo, visto que essa substância
tem um significado claro e repleto de fundamentos. O mesmo ocorre com
o uso do fumo.

    As entidades e guias da Umbanda utilizam-se dos elementos que
compõem o álcool e o fumo para realizarem seus trabalhos de limpeza e
purificação, tanto do consulente, como de ambientes.

De que forma fazem isso?

Com o ÁLCOOL:

    O álcool, em sua essência, é líquido proveniente da
cana-de-açúcar, extremamente volátil, assemelhando-se ao éter,
representando elemento que facilmente transcende do plano material
para o etéreo, sendo excelente auxiliar para desfazimento de energias
negativas impregnadas no períspirito. Além do mais, é fogo em estado
líquido, pela sua facilidade de combustão.

    Cada linha de trabalho possui seu próprio “curiador”, ou seja, a
bebida correta para cada uma delas, conforme descrito abaixo:

- Caboclos bebem cerveja, vinho ou água de coco;

- Preto Velho bebe café vinho, marafo (aguardente);

- Crianças bebem guaraná e suco de frutas, e refrigerantes;

- Baianos bebem água de coco, batida de coco ou marafo;

- Boiadeiros bebem cerveja escura, vinho doce ou batida de coco;

- Exú bebe marafo (aguardente). Alguns bebem whisky ou vinho, cerveja
ou outras bebidas destiladas;

- Pombo Gira bebe champanhe ou sidra.


    O álcool ainda possui a propriedade de ser usado como “contraste”,
quando a entidade age magnetizando a bebida e faz o consulente
ingeri-la em pequena quantidade, permitindo-lhes visualizar o seu
organismo, mostrando algum problema que deve ser cuidado. Funciona
também, como elemento antisséptico para limpar e desinfetar regiões
que estejam sendo tratadas pelas entidades em seus atendimentos.

    Não se pode deixar de citar que o álcool ainda propicia no
organismo do médium um entorpecimento de suas faculdades, facilitando
com isso o trabalho das entidades, proporcionando-lhes mais liberdade
de ação durante o processo de incorporação, já que libera no corpo do
médium substâncias ativadoras do cérebro que atuam nos plexos
nervosos, aproveitadas pelas entidades em seu trabalho no plano
material.

    Muitas pessoas condenam o uso do “marafo” (álcool, aguardente,
whisky, destilados) pela falange de Exús e Pombo Giras. Dizem que
essas entidades estão extremamente atrasadas evolutivamente e ainda
ligadas ao plano terreno, necessitando desse elemento para
satisfazerem seus vícios. Nada mais errado, também. A energia, como já
se explicou é usada e manipulada como pelas demais linhas de trabalho
da Umbanda em sua magística.

    Exús e Pombo Giras por estarem em faixas vibratórias mais próximas
do ambiente terreno utilizam-se da energia retirada desses elementos
para realizarem seus trabalhos magísticos. Usam o álcool contido nas
bebidas para descarregos, retirando energias negativas dos médiuns, do
ambiente ou dos consulentes.

    A bebida é usada no ponto riscado, na tronqueira, nas ferramentas
de Exú, etc. verifica-se nos terreiros, também, a bebida sendo usada
antes de uma gira de Exú, sendo passada nas mãos e braços dos médiuns
para baixar a vibração e facilitar a conexão entre o espírito
incorporante e a matéria do médium.

    Na verdade, essas linhas vêm manifestando-se assim pela vibração
que carregam quando da incorporação, nada tendo de embriagadas.

    A título de conclusão, deve-se ainda dizer que o álcool ingerido
pelo médium também é dissipado no trabalho, ficando em quantidade
reduzida no organismo após haver a incorporação.


Com o Fumo:

    O fumo é vegetal que traz o elemento terra e água, em sua
composição e, os elementos ar e fogo quando utilizado na defumação.
Conjuga, portanto, quando usado pelas entidades de Umbanda, os quatro
elementos básicos – terra, fogo, ar, água -, além do elemento vegetal
nos trabalhos de magia. O fumo é utilizado como meio de descarrego,
agindo sobre os chacras dos consulentes.

    O fumo é utilizado como componente para defumação, onde conjuga o
fogo e a fumaça para a destruição dos campos magnéticos negativos,
vinculados tanto à obsessões quanto à feitiços realizados contra o
consulente.

    Assim, o que as entidades da Umbanda fazem é utilizarem ervas,
juntamente com os elementos água, fogo e ar para realizarem suas
magias e defumações, desestruturando larvas astrais, miasmas e
desagregando energias negativas e danosas à aura do consulente.

    O fumo tem suas características vegetais, tendo através do seu
processo de desenvolvimento na natureza arregimentando as mais
diversas energias e substâncias - sais minerais, hidrogênio, oxigênio,
fósforo, potássio, nitrogênio, vitaminais - do solo onde foi cultivado
e do meio ambiente, além da absorção da energia solar e lunar, razão
pela qual condensa forte carga energética de impregnações etéreas que
libera durante a sua queima.

    Se prestarmos atenção na atitude das entidades incorporadas,
veremos que enquanto estas fumam, estão constantemente jogando
baforadas da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro sobre aquele
que com eles se consulta. Não tragam a fumaça, apenas enchem a boca
com a fumaça e a expelem sobre o consulente ou para o ar. Para quem
não sabe, nessa hora está sendo realizado verdadeiro passe, onde a
defumação se conjuga com o sopro para realizar a limpeza energética da
aura ou perispírito da pessoa.

    A título de curiosidade, devemos ressaltar que os Guias de Umbanda
dependendo da linha em que realizam seu trabalho, não se utilizam
dessas ferramentas, sendo que podemos encontrar a mesma linha de
entidade realizando o mesmo trabalho, mas em outra linha vibratória,
sem se valer desses elementos em situações específicas, mas não
deixando de ser a mesma linha de entidade. De uma forma ou de outra,
vai realizar seu trabalho e não vai ser mais ou menos evoluída por
isso.

    O que deve ficar entendido é que a entidade incorporada quando
realiza o sopro da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro, dando
suas baforadas nos consulentes, cria com isso as condições, tanto no
plano físico quanto espiritual, para a realização da magia da Umbanda,
tudo sob o aval dos espíritos de luz e dos Orixás. Só o sopro em si
carrega efeitos terapêuticos e espirituais poderosos, mas quando
aliados à erva tem seu efeito potencializado, gerando resultados
positivos como se observam nos terreiros de Umbanda.

    A dinâmica, portanto, deve ser entendida como um todo. Alia-se, no
trabalho de Umbanda, o álcool, o fumo, a energia proveniente das
entidades e espíritos superiores que orientam os trabalhos, a energia
presente na própria natureza através do trabalho dos elementais, bem
como o ectoplasma retirado dos médiuns durante os trabalhos
mediúnicos, possibilitando a cura do consulente necessitado de ajuda.
Entender essa prática como apego dos espíritos incorporantes à matéria
passa a ser, dessa forma, desconhecimento pueril acerca dos trabalhos
magísticos realizados dentro da ritualística da Umbanda. No contato
permanente com as entidades que incorporam na Umbanda, passamos a
perceber, inclusive, sua preocupação com o uso indiscriminado de fumo
ou de cigarros que são comercializados, e seus conselhos para evitarem
que seus médiuns tenham seu corpo prejudicado pelo uso de tais
ferramentas.

    É comum pedirem cachimbos com filtro para diminuírem ainda mais a
assimilação pelo corpo do médium da nicotina presente em cigarros ou
fumo comercializados. Encontramos entidades que pedem a seus “cavalos”
que fabriquem seu fumo com ervas naturais, como alecrim, alfazema e
outras aliadas ao fumo in natura . Até porque a combinação de tais
ervas potencializa os efeitos energéticos, catalisadores,
descarregadores e requilibrantes do perispírito do consulente.

    Algumas entidades chegam a cuspir em recipientes adequados, a
famosa "caixinha", que fica ao seu lado para neste ato evitar ao
máximo a ingestão da nicotina e de outros elementos que não interessam
para o trabalho e muito do que vêm pela química industrial.

    Com todo o exposto, pode-se perceber que tanto o álcool quanto o
fumo são verdadeiras, úteis e necessárias ferramentas de trabalho das
entidades que trabalham na Umbanda. Tal fato deve ser estudado e haver
orientação precisa durante a doutrinação dos médiuns e assistentes das
giras de Umbanda para entenderem com seriedade a real necessidade de
haver um trabalho sério e efetivo de esclarecimento para evitar
entendimentos errados que levem a denegrir a verdadeira caridade
prestada pelas entidades e guias de Umbanda que utilizando das
ferramentas que a natureza lhes oferece, levam aos filhos de fé um
lenitivo para suas mazelas e dores, na fé e amor caridoso de Oxalá,
dos Orixás e de todas as Entidades de Luz.

    Portanto, só para frisar a importância de tudo descrito acima,
Entidades de Luz se utilizam tanto da bebida quanto do fumo para
limpeza, descarrego, desobsessão, melhoria de sintomas de males
físicos, entre várias outras coisas nas quais um consulente possa
demonstrar dentro de uma consulta.

    Frisando que todo uso dessas ferramentas que demonstramos, são
eficazes na utilização por médiuns realmente incorporados, preparados
e desenvolvidos mediunicamente, pois por diversas ocasiões
encontramos, principalmente em giras de esquerda (Exús e Pombo Giras),
médiuns não preparados, mistificadores, vaidosos, que se utilizam
dessas ferramentas para demonstração de estarem incorporados, mas de
fato são apenas pessoas más intencionadas querendo fazer o que não
podem ou serem quem não são.

    Portanto, aos consulentes, atenção redobrada com médiuns que
 ainda não conhecemos seu caráter, que não estamos acostumados, e que
ainda não nos deu provas de sua verdadeira condição mediúnica.


Carlos de Ogum.


Colaboração: Genuína Umbanda e Pai Jayme de Xangô.