terça-feira, 30 de setembro de 2014

Vovó Anita, A Preta Velha Doceira




    Na Umbanda temos muitas Entidades de Luz que nos fazem pensar
muito sobre a vida, sobre a caridade, sobre o amor a nossos
semelhantes, sobre a fé em nosso Pai Maior, e entre essas Entidades
divinas está uma Preta Velha que demonstra muito tudo isso para nós
Umbandistas ou não.

    O nome dessa Preta Velha é Anita, ou melhor dizendo, Vovó Anita a
Preta Velha Doceira.

    Portanto hoje falaremos um pouco dessa Entidade de Luz, mostrando
o seu carinho e amor com a natureza, com seus irmãos negros
escravizados como ela, mostrando suas magias, benzimentos e a sua
grande fé em Deus, nos Orixás e nas forças que esses Orixás
representam diante da natureza.


    Anita nasceu no Brasil, em uma fazenda cafeeira,  décima segunda filha
de uma negra escrava e procriadora, seu pai era escravo, também
procriador, sendo ele de outra fazenda vizinha.

    Ela não sabia ao certo o números de irmãos que tinha, pois a
maioria foram vendidos as fazendas da região ainda na fase infantil.

    Seu pai ela só viu duas vezes quando ele voltou a fazenda na qual
Anita cresceu, para que fosse conduzido a uma nova procriação, e entre
essas duas únicas vezes ela não sabia como se portar, o que dizer, o
que pensar sobre tudo aquilo, então se passou despercebido esses
encontros e para ela é como se nunca tivesse existido em sua vida
aquele contato entre pai e filha.

    Anita era uma menina muito dedicada a seus afazeres, tudo que era
Ensinado e demonstrado a ela aprendia facilmente, guardava todos os
detalhes, e criava coisas novas adicionando mais outros detalhes.

    Com isso Anita cresceu na fazenda com a responsabilidade de usar
seus dons para fazer os deliciosos doces com frutas, na qual ela
misturava um a um com paciência e dedicação, até se formar algo
inexplicável, extremamente saboroso e insubstituível.

    Com essa dedicação, ela com o passar dos anos e com mais
experiência, certa noite acorda um tanto assustada com uma voz que
chamava por seu nome.

    Ela subitamente se levanta de sua tarimba, tentando buscar de onde
veio a voz, olhando para os lados e vendo todos seus irmãos negros
dormindo, fica um pouco assustada ao voltar a ouvir a voz a chamando.

    Nesse instante ela tem uma visão de um fecho de luz vindo em sua
direção, e dentro dessa luz uma linda imagem de uma velha senhora
sorridente.

    A senhora a olha com carinho e lhe entrega um pequeno galho de
arruda juntamente com um ramo de guiné, dizendo-lhe:

    "A partir de hoje você usará esse galho de arruda e esse ramo de
guiné amarrado em seu braço direito, fazendo-se assim uma porta para
que as divindades da natureza possam utilizar de teus talentos como
a senhora da frutificação e a mãe de suculentos doces, não só para
agradar o paladar de pessoas famintas pelo sabor inigualável provindo
dessas iguarias, mas sim, que a partir de hoje terás o dom de cura se
utilizando desse poder natural.

    E usará esse dom, além de benzeduras, para curar pestes de seus irmãos negros e de seus senhores brancos, sem recuar ou fraquejar por mais que tu aches difícil a peste que possa ser espalhada dentre teu povo e senhores."

    Ao dizer isso a imagem desaparece diante dos olhos de Anita,
que segura firmemente as ervas dadas a ela.

    A partir desse dia Anita passou a usar os ramos em seu braço
direito amarrado com uma fina palha de milho.

    Ela decidiu então contar toda a história a Joaquina, uma velha
escrava que por mais de uma centena de anos vivia na fazenda, e por
ser uma negra muito respeitada por todos e por ter conhecimentos
diversos, inclusive de feitiçaria, Anita acreditou que seria o melhor
caminho para que tivesse entendimento sobre tudo aquilo.

    A Velha Joaquina, olhando ao ramo no braço de Anita, diz:

    "Minha filha, está para chegar tempos difíceis nessa região,
teremos uma grande nuvem negra sobre nossas cabeças, uma peste vai
aparecer e poderá tomar conta de nossos corpos. Você tem a luz para
salvar muitos de nossos irmãos e nossos senhores. Vá até seu pomar, e
dele traga as frutas que você desejar, pois essas frutas misturadas
com algumas ervas vai ser o remédio de cura de nosso povo e senhores.
Antes disso, se firme em Oxalá e em todos os Orixás trazendo as forças
da natureza junto ao que você ira fazer."

    Anita foi ao pomar recolheu várias frutas, foi recolhendo também
muitos tipos de ervas. Foi para a senzala e ficou em oração junto ao
pai maior. E 3 dias se passaram, quando os primeiros negros desabaram
com a força da peste, foi uma doença que se espalhava pelos pulmões,
levando aos mais fortes dos negros caírem sem condição de respiração.

    Anita como em transe, fez todas as misturas possíveis, e dessas
misturas saiu um chá de frutas e ervas, e uma pasta da mesma mistura.

    E a peste chegou a casa do Coronel fazendeiro e senhor dos
escravos.

    Ele foi o primeiro a se acamar, levando logo em seguida a sinhá
sua esposa.

    Vários doutores médicos vieram a fazenda, mas nenhum deles tinham
a solução, e alguns deles saiam dali com a peste.

    Nas senzalas vários negros se amontoavam sem nenhuma condição de
uma cura. E foi ai que a negra Joaquina foi ao encontro do coronel
fazendeiro, e falou sobre a possível cura, que se encontrava nas mãos
da negra Anita.

    O Coronel manda buscar Anita, que já era famosa pelas suas
deliciosas iguarias, e agora seria ainda mais conhecida por usar
dessas iguarias um modo de trazer a cura para todos que sofriam da tal
peste.

    Ela chega a casa grande da fazenda, indo ao encontro do Coronel,
que foi o primeiro a utilizar a magia provinda das frutas e ervas,
todas passadas pelas mãos da eficiente e tão cuidadosa Anita.

    Ela faz com que o Coronel bebesse do chá, sendo em pequenos goles,
enquanto ela passava a pasta com frutas e ervas espalhando sobre a
altura dos pulmões dele. Nesse momento Anita novamente entra em uma
espécie de transe, fazendo uma oração na qual lhe parecia um linguajar
familiar, mas que na verdade só ela mesma entendia.

    E assim a respiração do senhor Coronel, que até esse momento era
pesada e muito difícil, foi ficando mais calma, leve entrando em ritmo
de uma normalidade extrema.

    Ele olhando nos olhos de Anita, sente uma paz imensa, as dores
cessaram, e o corpo não mais estava febril.

    Agradecido pela melhora imediata, ele com lágrimas nos olhos
suplica a negra Anita que curasse a sua esposa também, que ele seria
eternamente agradecido.

    E assim foi feito, Anita da mesma forma feita ao Coronel, fez a
tão querida sinhá, que em pouco tempo já estava recuperada. E ela por
sinal, estava por demais preocupada com os negros que adoentaram
juntamente com seus senhores, pedindo carinhosamente a Anita que fosse
as senzalas levar aquela tão milagrosa cura a todos os enfermos.

    E ela foi, pacientemente, caridosamente a cada um dos seus irmãos
de raça, e entre um transe e outro, Anita findou com a peste dentro da
fazenda, sem uma só morte entre todos que adoeceram, diferentemente de
outras fazendas que tiveram muitas perdas de vida, tanto de negros
quanto de senhores de escravos.

    As falas sobre as curas feitas por Anita se espalharam por toda
região, e assim todos os Coronéis fazendeiros foram em busca da ajuda
dessa divina senhora doceira. E ela cuidou e curou centenas de
pessoas, sendo escravos e senhores de escravos.

    O Coronel da fazenda na qual vivia Anita, ficou extremamente
agradecido por tanta dedicação e caridade da negra Anita, dando-lhe de
presente dentro da fazenda uma choupana e a chance dela sair das
senzalas abarrotadas.

    E assim ela viveu até seus 90 anos, dentro da fazenda cafeeira, em
sua choupana e em volta todo seu pomar de frutas e ervas mágicas que
utilizava para curar diversos tipos de males do corpo e do espírito,
pois a Velha Anita também se tornou uma das mais conhecidas negras
curandeiras de toda a região.

    Ela desencarnou duas décadas antes da libertação de seu povo
escravizado. E no dia de seu desencarne, ao saber do fato, todos os
negros da região colocaram em seus braços direito um galho de arruda e
um ramo de guiné, para que assim a Preta Velha Anita os protegessem de
todos os males físicos e espirituais.

    Hoje a vovó Anita trabalha nos terreiros de Umbanda, auxiliando os
filhos que tenham males do corpo e da alma, trazendo paz, abrindo
caminhos a todos os filhos necessitados. Nunca deixa um filho sem uma
luz no caminhar, nunca deixa de mostrar a força da fé no Pai Maior e
nunca deixa de mostrar que a natureza é a força contra muitas coisas
que viram obstáculos em nossa vida.

    Saravá a divina e caridosa Preta Velha Vovó Anita!

Adorei as Almas!

Carlos de Ogum.

(Agradecemos a nossa querida Médium Aninha de Iemanjá por nos dar a
satisfação de conhecer essa bela Entidade na linha dos Pretos Velhos,
através do trabalho de caridade e desenvolvimento mediúnico em nosso
terreiro.)


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Salve Ibeijada, Doces Crianças da Umbanda







Ô Erê, ô Erê onde está o Erê?
Ô Erê, ô Erê onde está o Erê?

Onde está a Rosinha?
Está na cachoeira.
Onde está a Aninha?
Na nuvem a brincar.
Onde está Mariazinha?
No mar com a Sereia.
Onde está a Julinha,
que não veio trabalhar?

Ô Erê, ô Erê onde está o Erê?
Ô Erê, ô Erê onde está o Erê?

Onde está o Zezinho?
Na prainha a nadar.
Onde está o Joãozinho?
Saiu para caçar.
Onde está o Pedrinho?
Foi no mar para pescar.
Onde está Cosmezinho,
que não para de pular?

Ô Erê, ô Erê onde está o Erê?
Ô Erê, ô Erê onde está o Erê?


    Doces crianças de Umbanda, nossas Ibeijadas ou Erês amados, estão
sempre por perto para nos ajudar a abrir caminhos, nos mostrar que
tudo tem um sentido, nos dar esperanças para não desanimarmos por mais
difícil que seja a situação na qual estamos.

    As Ibeijadas, são aquelas pequenas Entidades de Luz, que são
festejadas normalmente no mês de setembro no dia 27, mesmo dia de São
Cosme e São Damião, os santos irmãos. E na Umbanda eles são os
Ibeijis, os Orixás gêmeos.

    Estas entidades representam a alegria, a sinceridade, a inocência,
tudo que é puro. Representam as crianças, são alegres, travessos,
manhosos, cheios de dengo e manias infantis. São a síntese da pureza.
Geralmente são muito ligados a linha das almas, Pretos e Pretas
Velhas, sempre pedindo suas bênçãos e se referindo à eles como vô e
vó.

    Quando estão em terra sempre esperam muitos agrados, adoram doces,
guloseimas, balas, pirulitos e adoram um grande bolo todo confeitado e
um "Parabéns à você" para eles cantarem e apagarem as velinhas.

    São muito sensíveis, então, por esse motivo nunca devemos
deixá-los vir sem uma festinha, um agrado, uma guloseima, um
brinquedo, um afago. Eles adoram e sempre esperam por isso.

    Essas entidade são de grande sabedoria, que entre brincadeiras
soltam as "verdades" que muitas vezes precisamos ouvir.

    Para agradá-los sirva uma boa porção de doces regados a bastante
mel, num parque ou num jardim bem florido. Com certeza eles virão para
ouvir seus pedidos.

    O trabalho dessas Entidades se consiste em fazer abertura de
caminhos, saúde, limpeza espiritual, proteção, entre outras várias
coisas.

    Nas festas de Ibeijada, na qual as crianças espirituais incorporam
em seus médiuns, não falta alegria, sorrisos, brincadeiras, e a
felicidade que contagia os terreiros de Umbanda, a singeleza entre
essas Entidades tão divertidas é enorme.

    São Entidades que de forma nenhuma vão fazer mal a alguém, eles,
caso algum consulente tente pedir para atrapalhar a caminhada de
algum semelhante, logo tentam mostrar que não se deve agir com
maldade, não se deve buscar escuridão a nenhum filho de Deus, e assim
eles demonstram através de suas brincadeiras e sorrisos, que devemos
agir com amor independente de qualquer contratempo.

     São espíritos que já estiveram encarnados na terra e que optaram
por continuar sua evolução espiritual através da prática de caridade,
incorporando em médiuns nos terreiros de Umbanda. Em sua maioria,
foram espíritos que desencarnaram com pouca idade terrena, por isso
trazem muitas características de sua última encarnação, como os
trejeitos e a fala de criança, o gosto por brinquedos e doces.

     Assim como todos os servidores dos Orixás, elas também tem
funções bem específicas, e a principal delas é a de mensageiro dos
Orixás, sendo extremamente respeitados pelos Caboclos e pelos
Pretos Velhos.

     É uma falange de espíritos que assumem em forma e modos, a
mentalidade infantil. Como no plano material, também no plano
espiritual, a criança não se governa, tem sempre que ser tutelada. É a
única linha em que a comida de santo (Amalás), leva tempero especial
que é o açúcar.

    É conhecido nos terreiros de Nação e Candomblé, como ERÊS
ou IBEiJI.

    Na representação nos pontos riscados, Ibeiji é livre para utilizar
o que melhor lhe aprouver, em muitas das vezes seus pontos riscados
apresentam bonequinhas, carrinhos, folhinhas, frutas, chupetas,
cruzinhas, ondinhas, florzinhas, , entre outros vários símbolos. A
linha de Ibeiji é tão independente quanto à linha de Exú.

    Na Umbanda essas Entidades são espíritos que desencarnaram, na
maioria das vezes, na fase infanto-juvenil, elas são meigas, mas
extremamente barulhentas assim como os Erês, também ´podendo ser
muitas delas comportadíssimas e bastante tranquilas.


    As Ibeijadas normalmente tem nomes relacionados com os nomes
comuns brasileiros, como Cosmezinho, Rosinha, Mariazinha, Zezinho,
Joãozinho, Aninha, Julinha, Ritinha, Pedrinho entre vários outros.

    Seu colar de contas tem as cores rosa e azul, sendo determinado
por cada Ibeijada a forma de ser feito, podendo ser metade rosa e
metade azul, uma conta azul e uma rosa até fechar a guia, três rosas e
três azuis ou sete rosas ou sete azuis, tudo isso determinado pela
Criança ou pela Entidade responsável, podendo ser um Preto Velho ou
um Caboclo, incorporado por um médium preparado.

     Quando incorporadas em um médium, gostam de brincar, correr e
fazer brincadeiras muita arte como qualquer criança. É necessária
muita concentração do médium que seja consciente, para não deixar que
estas brincadeiras atrapalhem na mensagem a ser transmitida.

     Os "meninos" são em sua maioria mais bagunceiros, enquanto que as
"meninas" são mais quietas e calminhas. Alguns deles incorporam
pulando e gritando, outros descem chorando, outros estão sempre com
fome, etc... Estas características, que às vezes nos passam
desapercebido, são sempre formas que eles têm de exercer uma função
específica, como a de descarregar o médium, o terreiro ou alguém da
assistência.


    Independente de Ibeijada ser quieta ou bagunceira, ser menino ou
menina, ser de qual for a linha e irradiação de Orixá, todos tem o
encanto no olhar, a meiguice como instrumento de trabalho, a verdade
como lema e o amor por Deus, um amor grandioso que se espalha nas
giras e festas do Dia de Ibeijada.

Oni Crianças divinas de Umbanda.

"Seja No Mar Ou Nos Jardins, Na Mata, Cachoeira Ou Afins, De Olho Seu
Erê Vai Estar, Cuidando Protegendo A Brincar. Oni Ibeijada."

Um salve especial as crianças de nosso terreiro:

Cosmezinho de Oxum.
Joãozinho das Matas.
Rosinha de Omulú.
Joãozinho de Xangô.
Zezinho da Beira da Praia.
Mariazinha da Beira da Praia.
Aninha Estrelinha do Mar.

    Peço a proteção para minha família e para todos irmãos
Umbandistas.

Saravá Ibeijada!

Carlos de Ogum.




quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Uma Carta e Uma Lição de Senhor Tranca Ruas

.


    Muitas pessoas já buscaram ajuda com uma Entidade de Luz, que gira
na linha da esquerda e que chefia a linha dos Exús. Essa Entidade de
grande força espiritual é respeitada extremamente por todos
Umbandistas e dentro de todos os Terreiros.

    Muitas pessoas menos instruídas, sem um conhecimento básico sobre
a religião de Umbanda, sem a mínima noção de que seja uma Entidade de
Luz e por muitas vezes sem a menor moral para dizer algo,
principalmente pessoas fanáticas religiosas, determinam que a Entidade
de Luz em questão seja a figura demoníaca criada em suas próprias
mentes doentias.

    A Entidade divina, de grande força espiritual, com grande ligação
a caridade na qual estou me referindo é o nosso grande lutador contra
o mal, o Senhor Tranca Ruas.

    E hoje estou fazendo esse texto apenas como uma pequena
demonstração da grandiosidade dessa Entidade maravilhosa, para mostrar
a todos interessados uma carta ditada pelo nosso amigo, Senhor Tranca
Ruas, para, não defender a ele das maledicências que saem das bocas
incrédulas e dominadas pelo ´poder de ditos líderes religiosos, que
usam de palavras insanas contra a nossa Umbanda e nossas Entidades de
Luz apenas para induzir a fiéis a patrocinar o bem estar desses tais
"líderes", através de dízimos, doações ou qualquer forma de retirar
dinheiro desse povo que crê em muitas falácias, mas apenas para
demonstrar a verdadeira grandiosidade de uma Entidade na qual é
descriminada apenas por fazer a caridade sem cobrar nada a ninguém.

    Para isso basta escrever as palavras de Senhor Tranca Ruas, e
dizer que para o bom entendedor palavras reais valem muito mais que
simples ataques a religião alheia.

Carta de Senhor Tranca Ruas.

    "Cá estou hoje, diante de um grupo de pessoas que veem a mim para
buscar algum tipo de ajuda.

    Dentre essas pessoas temos algumas realmente necessitadas por uma
ajuda espiritual, pessoas que estão obsediadas, algumas doentes
espiritualmente, algumas em busca de aberturas de caminhos para
conseguirem uma ocupação trabalhista e muitas em busca apenas de uma
palavra amiga, um abraço ou uma conversa com a Entidade que tem
apreço.

    Todos esses serão bem recebidos, todos esses terão seu momento de
falar, pedir, desabafar, chorar ou lamentar.

    Temos também nesse grupo outras pessoas. Pessoas essas que vieram
com a mesma intenção, de uma busca de ajuda em algo.

    Mas essas não serão atendidas.

    Pelo simples fato que eu, Exú Tranca Ruas, não sou uma Entidade
das Trevas, não sou um torturador do tempo medieval, não sou um ser
que vende aberturas de caminhos, não sou um ditador que condena uma
pessoa a obrigação de amar a outra pelo simples fato que a outra
determina assim.

    Não quero seu marafo, não quero seu charuto, não quero sua vela,
não quero sua tuia.

    Você não pode comprar a minha ajuda, pois ela só será dada através
da caridade, e apenas para fazer a caridade.

    Não adianta me pedir para trancar os caminhos de seu semelhante,
pois não venho a terra para isso.

    Não adianta me pedir para torturar alguém, pois meu caráter não se
iguala com o seu.

    Não adianta me pedir para amarrar seu "amor", pois se precisa
fazer isso é porque não tem amor próprio, e se não tem amor próprio
não tem o merecimento de ter um amor verdadeiro.

    Não adianta me pedir para fazer algum mal a um irmão, pois não sou
um escravo das trevas que deve obedecer suas sandices.

    Não tente me enganar com seus falsos sorrisos, tentando induzir-me
como faz com seus semelhantes, pois eu nesse momento ao olhar em seus
olhos estou na verdade observando sua alma negra cheia de rancor.

    Não tente me oferecer seus ebós  com o sangue de um ser vivo,
pois eu não necessito de nada orgânico para poder me fortalecer.

    Não tente me enganar com palavras que julgam seu semelhante,
tentando demonstrar a mim que você é uma vítima de alguma
maledicência, pois quando ao pisar em minha casa já observei a maldade
em seus olhos e corri gira em sua mente buscando suas reais intenções.

    Portanto a todos que couberam essas palavras, já sabem o rumo a
tomar. Se vieram para o bem, fiquem a vontade dentro de nossa casa, e se
estão aqui para fazer o mal, deem as costas a esse Exú, pois não
cederei por mais que implorem.

    Sou o Exú Tranca Ruas, o senhor da luz, o que luta contra
espíritos das trevas, o encaminhador de Kiumbas, o chefe das
tronqueiras.

    Não desejo que me comparem com um demônio, não desejo que me
ofereçam uma vida em troca de algo, não desejo ser escravo do mal, não
desejo ser visto como o terror da escuridão, não desejo que tenham
pavor de mim.

    Não me façam parecer um ser monstruoso que espalha ódio e terror,
assim como criaram lendas em mentes doentias e imperfeitas,
espalhando-se pelos quatro cantos de nosso planeta.

    Sou apenas uma Entidade de Luz, que busca evolução como todos
buscam, a cada dia, a cada trabalho, a cada gesto.

    Meu nome é Tranca Ruas, o ser que obedece a Deus, que trabalha
para Deus, que ama a Deus, e que infelizmente muitos seres humanos
fazem questão de tentar levar meu nome de encontro ao ser demoníaco
apenas para satisfazer seus desejos sem moral e sem caráter envoltos
na maldade extrema.


    Trabalho pela caridade, em nome de Deus, vou até as profundezas
sim, mas com ordens de Deus, e apenas para tentar salvar mais uma
alma perdida, perdida assim como poderá ficar a alma de quem tenta
fazer o mal usando o meu nome, o nome de Senhor Tranca Ruas.

    Não ache que não estou vendo sua alma, seja ela branca como um dia
de sol, ou negra como as profundezas donde ficam as almas perdidas.
Independente de tudo. Eu estou vendo dentro de seu ser.

Que Zambi e Pai Oxalá possam iluminar o caminho de todos.

Senhor Tranca Ruas."



    Com essa excelente lição, termino esse texto, e digo com muito
orgulho que tenho o prazer de trabalhar com Senhor Tranca Ruas a mais
de 20 anos, e em todo esse tempo, nunca foi aceito por ele que algum
consulente tentasse levar um pedido que pudesse fazer mal a alguém,
nunca foi aceito fazer amarrações, nunca foi pedido matança de nenhum
ser e nunca foi cobrado nada pelas suas ajudas e orientações.

    E ainda tem pessoas que o chamam de "demônio".

    Saravá Senhor Tranca Ruas!

    Senhor Tranca Ruas é Mojubá!

    Carlos de Ogum

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

VOVÓ JOAQUINA E SUA HISTÓRIA.





 Vovó Joaquina e Sua História.


    "Saravá Vovó Joaquina,
Saravá o seu Gongá,
ela vem de Aruanda,
ela vem pra trabalhar.

    Com suas mirongas,
com seu Patuá,
Saravá Vovó Joaquina,
na fé de Oxalá."


    Vovó Joaquina é uma Preta Velha que trabalha na Umbanda fazendo
sua caridade, auxiliando a quem necessita, ensinando caminhos,,
mostrando aos filhos de fé que não basta dizer ser caridoso, tem que
realmente ser.

    Ela foi uma negra escravizada, que veio trazida de sua terra natal
juntamente com seus pais pelos traficantes de escravos em navios
negreiros pelos meados do século XVIII, quando tinha apenas entre 4 e
5 anos de idade na vida terrena.

    Ela foi levada juntamente com os pais a uma fazenda de
cafeicultores em alguma localidade na região Sudeste do Brasil, e lá
viveu até seu desencarne.

    Quando ainda criança, Joaquina era uma menina atenta a tudo e a
todos, gostava de aprender tudo que poderia com seus irmãos negros, e
essa vontade de aprender lhe deu grandes ensinamentos, tais como
algumas magias vindas por ensinamento de alguns negros mais velhos, o
dom de reconhecimento e uso das ervas, o poder de rezas e benzimentos,
o poder de encaminhar espíritos perdidos e obsessores, a magia de
leitura de destinos em borras de água misturada com mel e fumo, rezas
e benzeduras em partos dificultosos, entre tantos outros dons.

    Ela aos 12 anos teve a sua primeira gravidez, pois era uma menina
sadia, forte e que foi determinada pelo seu senhor escravocrata que
deveria ser genitora de muitos filhos para que assim seu número de
escravos aumentassem a cada ano.

    E nessa gravidez precoce nascera os primeiros negros gêmeos da
região, que seria algo de motivo de visitações intensas de coronéis a
senzala na qual vivia  então a negra Joaquina.

    Para ela aquilo tudo era muito novo, não entendia muito bem toda
aquelas pessoas que vinham na intenção já de compra de seus filhos e
dela própria, pois eram épocas que quem reinava mais, que tinha mais
poder era os escravocratas que tinham mais negros, mais terras para
plantação e mais negras reproduzindo, portanto dois recém-nascidos
gêmeos e meninos, era um feito e uma ótima oportunidade de no futuro
serem reprodutores com possibilidades de gerarem outros gêmeos.

    Além disso, a própria Joaquina era alvo dos olhares de ganância
desses escravocratas, uma pequena negra com possibilidade de gerar
duas vidas de uma vez só em seu ventre era algo muito lucrativo para
os coronéis sedentos de poder.

    Mas com a rejeição de venda, tanto dos gêmeos quanto da menina
Joaquina pelo seu senhor, ela ficou na senzala com seus filhos, sendo
já preparada para ser reprodutora de escravos para a fazenda.

    E assim foi feito, cada ano ela tinha um filho, não mais gerando
gêmeos, levando a baixar as expectativas do coronel.

    E isso foi até ela completar seus 20 anos, quando teve uma grande
tristeza. O coronel cafeicultor, sem que ela menos esperasse, vendeu
a um negociador de escravos, quatro de seus oito filhos, que foram
levados amarrados e chicoteados pelo feitor desse negociador.

    Ela chorava em desespero, ao ver suas crianças serem arrastadas
sem destino pelas mãos do feitor, e entre eles estavam os seus gêmeos,
que na época tinham apenas 8 anos de idade.

    Ela joga-se ao chão clamando ao coronel que não vendesse seus
filhos, que os deixassem na fazenda, que eles pudessem crescer junto a
ela, mas sem sucesso.

    Na saída da porteira da fazenda o pior acontece, um dos gêmeos se
solta das amarras do famigerado feitor e corre sem rumo tentando fugir
daquela situação.

    O feitor sem piedade aponta sua velha arma de fogo contra o menino
indefeso e atira, que cai já sem vida sobre o chão empoeirado da
entrada da fazenda.

    Seu irmão, chorando e dominado pelo ódio, corre mesmo atado pelas
cordas e correntes para atacar o feitor assassino, que sem pensar age
da mesma forma cruel, atirando no outro menino, vendo-o cair sem
chances de defesa.

    O menino gêmeo, com os olhos cheio de lágrimas, observa o corpo
inerte de seu irmão, e mesmo dando seus últimos suspiros grita pela
sua mãe, que desesperada se arrasta na terra seca, tentando chegar
até seus gêmeos, que pela crueldade de um feitor desumano, a faz perder
de uma só vez dois filhos para a fria e sombria morte.

    Joaquina foi tirada dali de uma forma brutal, sem piedade e sem
remorso pelo feitor assassino. Ao ser levada para a senzala, ela
desesperada pela morte de seus gêmeos e pela dor de saber que mais 3
dos seus filhos seriam levados para o comércio de escravos, ela
desmaia aos pés de seus irmãos negros, que com lágrima nos olhos não
sabiam o que fazer e nem como acalentar a imensa perda de nossa
fragilizada negra Joaquina.

    As horas passaram e ela acorda de seu desmaio, com a cabeça
confusa achando que tudo passara de um terrível pesadelo, mas ao
relembrar de tudo, chora desesperadamente, e corre até as grades da
porta da senzala implorando pelos seus filhos.

    Nesse momento as portas se abrem, e é jogado a seus pés dois
corpos inertes, os corpos inertes de seus filhos amados.

    Olhando para o céu, Joaquina com os olhos lacrimejados, toma uma
decisão e faz uma promessa: Nunca mais em quanto viver, iria gerar um
filho para ser escravizado."

    E assim ela, com os ensinamentos adquiridos e o poder das ervas
fez com que seu ventre não gerasse mais filhos.

    Ela viveu nessa fazenda por mais de uma centena de anos, e em todo
esse período se tornou guardiã de todas as crianças negras, na qual
protegia desde a saída do ventre das mães até a maior idade.

    Ela se tornou uma respeitada negra por entre seus irmãos de cor e
por todos daquela região. Era conhecida como a melhor parteira que
existiu por todas as fazendas, tinha o respeito de coronéis e de suas
famílias pelas lendas de "feitiçaria" que ela saberia fazer. Isso se
espalhou por toda a região, levando a muitas pessoas temerem a agora
velha Joaquina.

    Foi responsável por ensinar benzeduras e magias africanas a vários
negros da fazenda e da região, entre esses negros o alegre Benedito,
que ela o tinha como filho, após a morte de seus pais, e o sisudo
Antero, que era seu afilhado e confidente.

    A velha Joaquina após pegar o respeito e a admiração da família do
coronel cafeicultor, saiu da roça e da senzala para trabalhar e viver
na casa grande, sendo ela a responsável por fazer o parto da sinhá,
esposa do coronel, e também a responsável por salvar a vida da própria
sinhá e sua pequena filha nesse parto, após a sinhá ter tido problemas
gravíssimos nessa gestação.

    Com o passar do tempo a velha Joaquina, que nesse período, também
já era conhecida por "Vó Chica", nome dado por seu filho de coração o
negro Benedito, já quase nada fazia, pois o peso da idade não mais a
permitia, ficava perambulando pela fazenda fazendo suas benzeduras, e
com isso cada dia mais era conhecida como a velha feiticeira.

    Seu desencarne foi dado numa tarde de primavera, onde ela chama
sua última filha de sangue, a negra Antônia, conhecida por todos da
fazenda como "Tonha", seu filho de coração o negro Benedito, seu
afilhado Antero e a sinhazinha, filha do coronel, para andarem por
entre as flores de um grandioso jardim da fazenda.

    Ao chegar nesse jardim, ela mansamente senta-se ao chão, e ao
redor dela os negros e a sinhazinha. E com um sorriso tímido ela olha
para os 4 personagens, pegando a seu lado um galho de arruda e outro
de guiné, fazendo o sinal da cruz a cada um.

    Ela já com bastante dificuldade diz:

    "Que a luz de meu Pai Oxalá ilumine a vida e o caminhar de vocês.

Desejo aqui dividir com vocês todo meu amor, minha fé, minha
esperança.

A minha querida filha Tonha, que aqui representa todos meus filhos de
sangue, peço que tenha sempre muita fé no Pai Maior.

A meu filho de coração Benedito, e meu afilhado Antero, que aqui
representam a cumplicidade e o amor de meus filhos gêmeos, peço que
espalhem a caridade pela eternidade.

E a sinhazinha, que aqui representa a esperança de nosso povo não mais
sofrer, não mais chorar, não mais perder seus filhos amados, não mais
morrer nos troncos das fazendas, peço que olhe pela nossa gente, pelos
negros que são açoitados, castigados e mortos pelos seus senhores.

    Eu imploro a Zambi que ele possa ouvir a voz dessa velha negra
castigada pelo destino de ter vivido como escrava, que foi retirada de
sua terra natal, que foi açoitada como animal, que viu seus filhos
serem arrebatados de seu convívio e assassinados sem a menor piedade,
pedir humildemente que o Pai Maior possa levar esperanças a todos que
sofrem as amarguras e dores de ser escravizados, e que sua luz ilumine
a esperança daqueles que aguentarem chegar o dia de vossa libertação."


    E assim ela abre os braços a cada um deles, num abraço carinhoso
de mãe, uma mãe protetora, cuidadora, devota, guerreira.

    Tonha é a primeira a ser abraçada, após ela abraça a Antero, seu
afilhado amado, em sequencia um abraço quase sem forças a sinhazinha,
que chora copiosamente.

    Em seguida ela olha profundamente aos olhos de Benedito, sorri.
Recorda-se de tantos momentos agradáveis junto a seu "moleque", tantas
alegrias, tantos ensinamentos. Ela abre seus braços, Benedito a abraça
fortemente, ambos choram em demasia.

    O abraço dela vai ficando menos apertado, seus olhos cerram, seu
sorriso se vai. E assim desencarna a velha Joaquina, a senhora
Feiticeira, a vó Chica, partindo de sua vida terrena, deixando seu
corpo inerte nos braços de seu filho de coração, que sem entender o
acontecido por alguns instantes, ainda a abraça firmemente junto a
lindas rosas e margaridas, flores preferidas de Joaquina, do jardim da
fazenda.

    Vovó Joaquina desencarnou no século XIX com idade incerta, mas
sabendo-se que com mais de 100 anos, sem ver seu povo libertado, sem
saber porque seus filhos tiveram que sofrer tanto, sem entender o
porque que a diferença de raça e cor fazia alguém melhor ou pior do
que o outro.

    Hoje Vovó Joaquina trabalha nos terreiros de Umbanda, trazendo
suas magias, seus dons, suas benzeduras, distribuindo sua caridade com
todas as pessoas que buscam sua ajuda espiritual, sendo essas pessoas
brancas, negras, de qualquer etnia, de qualquer crença, de qualquer
classe social.

    Ela distribui o seu amor, assim como distribuiu com centenas de
crianças que trouxe a vida sendo parteira, distribui seus ensinamentos
espirituais como distribuiu com todos seus irmãos negros e distribui
sua piedade a todos os consulentes que a procuram, assim como
distribuiu a piedade com o feitor que assassinou seus gêmeos sem a
mesma piedade que ela nos concede hoje.

Uma Benção De Vovó Joaquina: "Que Oxalá Esteja Sempre Com Você, Mas
Que Acima De Tudo Você Esteja Sempre Com Oxalá."

Frase De Vó Joaquina: "Quem Possui O Coração Cheio De Amor, Nada
Teme!"

    Adorei as Almas!

    Saravá a Linda Vovó Joaquina das Almas!

    Agradeço a oportunidade de poder participar das Giras com essa
Preta Velha divina em nosso terreiro, que é incorporada pela nossa
querida Priscila de Omulú.

Carlos de Ogum.