quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A UMBANDA E O SINCRETISMO COM O CATOLICISMO.





  A Umbanda e o Sincretismo com o Catolicismo.


    Todos os Umbandistas, sejam eles filhos de algum Terreiro ou sejam
apenas consulentes ou da assistência, com toda certeza já ouviram falar
a palavra "sincretismo".

    Mas o que seria "sincretismo"?

    No dicionário  de língua portuguesa essa palavra é representada e
explicada da seguinte forma:

SINCRETISMO: fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com
reinterpretação de seus elementos; - fusão de elementos culturais
diversos, ou de culturas distintas ou de diferentes sistemas sociais.
( Dicionário Houaiss)

Palavra originada do grego significa sistema que consiste em conciliar
os princípios de várias doutrinas ou filosofias; é a associação
                                                       
de valores espirituais de uma determinada religião com os valores
espirituais de outra determinada religião.

    No dicionário de Umbanda, sincretismo se define simplesmente
assim:

SINCRETISMO: - Fenômeno de identificação dos orixás com os Santos
Católicos.

    E dessa forma mais simples podemos notar que ao cultuar as imagens
de santos católicos, os Umbandistas cultuam na verdade seus Orixás.

    Mas porque teve que ser trazido essas imagens para os rituais de
Umbanda ?

    Vamos voltar um pouco no tempo para entendermos.

    Tudo se originou no tempo em que os negros eram traficados da sua
terra mãe África, trazidos para o Brasil em navios negreiros, onde
esses negros eram negociados e escravizados pelos senhores
escravocratas e fazendeiros cafeicultores de várias regiões.

    Como nessas regiões a religião predominante era a católica, esses
negros eram proibidos de exaltar a fé que tinham em seus Orixás, sendo
surrados e até mortos quando tentavam demonstrar sua fé nessa força da
natureza.

    Então esses negros se utilizavam da imagem de santos cultuados
pela Igreja Católica por um fato histórico cultural, na medida em que
os negros que chegavam ao Brasil como escravos, oriundos das diversas
tribos africanas, traziam em seu interior a crença nos Orixás, porém
não podiam manifestá-la pelo preconceito de seus senhores, que
consideravam tal culto heresia e feitiçaria.

    Na África, seu culto fazia-se com o contato direto com a Natureza,
cada Orixá sendo cultuado em seu elemento. O negro africano cultuava
sua crença através de seus Otás (pedra). Cada Orixá tem a sua pedra, e
a forma encontrada pelos negros escravos foi associar a imagem do
santo católico mais representativa da força desses Orixás, colocar
seus otás dentro destas imagens e reverenciar sua crença sem tê-la
reprimida por seus senhores. A partir desse momento, dava-se início ao
sincretismo dessas duas religiões, já que a correspondência de Santos
Católicos com os Orixás africanos era a única maneira dos negros
escravos escaparem dos castigos e perseguições dos seus senhores e de
religiosos que tentavam difundir o catolicismo, impondo a crença com
as suas representações católicas.

    Os Senhores achavam graça no sincretismo e, considerando os
africanos ignorantes, consentiam na prática bem disfarçada de seus
cultos. E assim, graças à inteligência dos sacerdotes africanos, as
suas antiquíssimas e sábias ideias religiosas puderam sobreviver até
hoje, apesar da intolerância de uma ou outra autoridade da lei
atrasada.

    Portanto encontramos até hoje, as casas de culto de Umbanda
utilizando-se dessa representação sincrética, não pela necessidade do
culto à imagem, mas sendo admitida pelos zeladores de santo para que
os filhos de santo e frequentadores da casa tenham uma imagem para
direcionar suas súplicas e pedidos já que para alguns, dirigir seus
pedidos a energias da natureza, forças oriundas do ar, da água, da
terra ou do fogo, é de difícil compreensão por seu componente abstrato
e impalpável.

    Enfim, não existe imagem representativa dos Orixás na Umbanda,
razão pela qual se permite a utilização dos Santos católicos nos
Gongás, havendo o respeito tanto ao Orixá representado pela imagem,
como respeito ao santo cultuado pela mesma.

    A Umbanda é um celeiro de fé e nela cabem todas as espécies de
crenças que possam nos levar ao objetivo maior de amor e caridade
pregado pelas nossas entidades.

    O africano não abandonou as suas crenças religiosas. Simplesmente,
procurou acomodar-se a situação e o processo mais inteligente foi
exatamente o de comparar as qualidades dos seus Orixás com as dos
Santos católicos. Tomaram como base o Santo mais adorado do lugar:
daí, algumas alterações verificadas no sincretismo, especialmente na
Bahia e no Rio de Janeiro, conforme descrevemos abaixo:

Na Bahia:

OXALÁ: Senhor do Bonfim.
OGUM: Santo Antônio.
XANGÔ: São Jerônimo.
OXOSSI: = São Jorge.
OMULÚ ou OBALUAIÊ: São Lázaro e São Roque.
LOGUM EDÉ: Santo Expedito.
OXUMARÊ: São Bartolomeu
OXUM: Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora Aparecida.
IEMANJÁ: Nossa Senhora da Conceição.
IANSÃ ou OIÁ: Santa Bárbara.
NANÃ BURUQUÊ: Nossa Senhora Sant'Ana.

No Rio de Janeiro:

OXALÁ: Jesus Cristo.
OGUM: São Jorge.
XANGÔ: São Pedro ou São Gerônimo.
OXOSSI: São Sebastião.
OMULÚ Ou OBALUAIÊ:São Lázaro e São Roque.
OXUM: Nossa Senhora da Conceição.
IEMANJÁ: Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Glória ou Nossa
Senhora dos Navegantes.
IANSÃ: Santa Bárbara.
NANÃ BURUQUÊ: Nossa Senhora Sant'ana.
IBEIJI: São Cosme e São Damião.
EXÚ: Santo Antônio de Pemba.

    O sincretismo se faz entre Divindades, assim, não há sincretismo
entre as Entidades, tais como Caboclos, Pretos Velhos ou Crianças,
ainda que seja comum vermos Pais Franciscos, Antonios, Ciprianos e
tantos outros, mas que nada têm de sincrético com os santos de mesmo
nome.

    A Umbanda apresenta sincretismo também com o Candomblé, não se
confundindo com esse, no entanto. Ambas são religiões com base em um
culto ancestral africano, com crença em Orixás africanos, mas cada um
encontra seu diferencial na forma de manifestação de sua crença.

    As datas de festejos aos Orixás dentro da Umbanda também são
representadas ´pelas datas que se homenageiam os Santos Católicos,
conforme descrevemos abaixo, frisando que estamos falando das datas
que seguimos no Rio de Janeiro:

Oxalá: 25 de dezembro. (Dia do nascimento de Jesus Cristo).
Ogum: 23 de abril. (Dia de São Jorge).
Xangô: 29 de Junho (Dia de São Pedro), e 30 de Setembro. (Dia de São
Gerônimo).
Oxossi: 20 de Janeiro. (Dia de São Sebastião).
Obaluaiê: 16 de Agosto (Dia de São Roque).
Omulú: 17 de Dezembro. (Dia de São Lázaro).
Oxum: 08 de Dezembro. (Dia de Nossa Senhora da Conceição).
Iemanjá: 02 de Fevereiro (Dia de Nossa Senhora das Candeias).
15 de Agosto. (Dia de Nossa Senhora da Glória).
Iansã: 04 de Dezembro. (Dia de Santa Bárbara).
Nanã Buruquê: 26 de Julho. (Dia de Nossa Senhora Sant'ana).
Ibeiji: 27 de Setembro. (Dia de São Cosme e São Damião).
Exú: 13 de Junho. (Dia de Santo Antônio de Pemba).

    E assim é dado o sincretismo entre a religião Umbandista e a
religião Católica. E para terminarmos esse texto, abaixo descreveremos
a definição de sincretismo feito pelo Caboclo 7 Espadas:

    "Fenômeno místico religioso que visa tornar inteligível um Culto
que possa ser praticado por vários povos ou grupos étnicos, que até o
momento tinham rituais e concepções diferentes. É um mal necessário,
pois se formos analisar profundamente o Sincretismo vamos ver que ele
faz com que vários Cultos se identifiquem em um só Culto (…)”."

    E com essa bela colocação e definição do Caboclo 7 Espadas,
terminamos pedindo a todos Umbandistas ou não para que respeitem
profundamente as imagens Católicas, fazendo delas o teor da fé nos
Orixás representadas por elas.

    Salve Pai Oxalá, salve todos os Orixás!

Salve Jesus Cristo, salve todos os Santos Católicos que emprestam suas
imagens para que possamos através delas cultuar  nossos sagrados Orixás.

Carlos de Ogum.


Obs.: Esse tema foi sugerido pelo nosso querido Cristyann de Oxossi.
Ogã e encaminhador do TUPOM.

Colaboração: Mariana de Oxum.






quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A História de Pai Cipriano

                   

    "Cipriano Quimbandeiro, chorou no cativeiro. Hoje chora de alegria o Rosário de Maria. Chora, chora, saravando Angola..."


    Lá pelos meados do século XVIII, existiu um negro que foi
escravizado pelos senhores brancos, que era conhecido pelo nome de
Cipriano, o bruxo da senzala do sul.

    E por que levava esse nome?

    Cipriano foi escravizado na tenra idade, trabalhou nas roças de
café, cana de açúcar e trigo de sol a sol por longos e longos anos.
Contudo, a noite na senzala, ele se empenhava com os mais velhos em
aprender as magias, benzeduras e todas as coisas místicas  com todos
os negros mais velhos, que eram, cada um especialista em determinada
coisa desse gênero.

    E Cipriano, por ser extremamente dedicado ao que fazia, se apegou
em todas as formas de magia e benzeduras, aprendia um pouco com cada
um dos seus mestres negros.

    E foi assim que se tornou um grande benzedor e entendedor de
magias africanas, fazendo delas um ponto positivo para auxiliar a
todos que delas necessitavam, e que ele procurava ajudar com toda a
dedicação e carinho.

    Por esse motivo Cipriano ficou conhecido por toda região, como o
negro que retirava espíritos sem luz, que curava com suas magias, que
acalmava as dores com suas benzeduras, além de ser um dos mais
entendidos sobre ervas e suas benevolências.

    Nos dias de hoje Cipriano se apresenta como Entidade de Luz nos
terreiros de Umbanda, onde trabalha na linha das Almas, sendo um Preto
Velho muito solicitado pela sua atuação dentro do encaminhamento de
obsessores e quebra de magia negra.

    Ele quando chega ao terreiro, muitas pessoas parecem temer por
saber quem ele é, e o que ele representa na Umbanda. Muitos assemelham
esse Preto Velho com um bruxo, ou o senhor da cruz de caravaca, cruz
essa que se é utilizada pelos senhores da alta magia.

    Mas Pai Cipriano é apenas uma bela Entidade de Luz, que foi
abençoada por Deus, Pai Oxalá e todos os Orixás, para poder retornar
como Entidade para auxiliar os necessitados, e isso ele faz
extremamente bem.

    Uma característica desse Preto Velho e chegar nos terreiros de
Umbanda de joelhos, ou arrastando uma das pernas ou mesmo as duas, e
isso tem um motivo que faz parte de sua história na vida terrena,
ainda como escravo.

    Como foi dito nos meados do século XVIII , Cipriano era um negro
escravizado, mas extremamente respeitado pela fama que corria a
região, na qual dizia que ele era o bruxo das senzalas.

    Essa fama não só trazia respeito para Cipriano, mas também trazia
o carinho de seus irmãos negros, pois todos sabiam que além da fama de
bruxo, ele tinha outra fama, de sempre fazer o possível e o impossível
para auxiliar alguém que necessitava de sua ajuda, sendo nas magias e
benzeduras simples, como a mais alta magia que por mais complicada e
difícil de ser realizada, se fosse para curar, sanar mazelas,
retirar obsessores, ou qualquer coisa que necessitasse da sua ajuda
ele o faria, sem temer obstáculos.

    Dentro desse pensamento, certa vez ele foi solicitado pelos pais
de uma criança negra, que se esvairia em sangue, numa hemorragia sem
motivo físico. Os seus pais desesperados sem condição de procurar
ajuda como sanar aquela hemorragia de seu pequeno filho, pois ao
pedirem desesperadamente ajuda aos feitores, foram ameaçados de serem
levados ao tronco.

    Diante do fato gravíssimo, um dos negros se lembrou das bruxarias
e benzeduras que Cipriano fazia, e ao falar aos pais da criança,
foram imediatamente pedir ajuda ao negro.

    Cipriano foi até a criança, que nesse momento já estava com a
respiração pesada, olhos cerrados e perdendo sangue por entre
orifícios.

    Cipriano, com galhos de arruda, guiné e benjoim, fez uma
benzedura, fazendo com que a respiração da criança se acalmasse, e
assim ele colocou as mãos abertas no peito do menino, fechou os olhos,
como se examinasse a criança espiritualmente.

    Após alguns minutos em um transe profundo, Cipriano é jogado ao
chão por uma força descomunal, que vinha do corpo da criança. Essa
força invisível, faz com que Cipriano acordasse do transe, não
deixando com que ele terminasse o tratamento espiritual sobre o
menino.

    Novamente ele tenta, e novamente acontece a mesma coisa. E nessa
segunda tentativa ele pressente que ali existe muito mais que uma força
que não aceita que ele tentasse curar a criança, mas algo demoníaco
que obsediava o menino, tentando tomar conta de seu espírito ao ponto
de induzi-lo a que sua alma o seguisse a escuridão eterna.

    Ao sentir que a mazela do menino negro não era apenas um mal
físico, Cipriano se fechou em oração junto a Pai Oxalá e aos Orixás,
nos quais ele tinha extrema fé. Dali ele tem uma visão das ervas que
deveria utilizar para um banho que levaria aquela força do mal para
longe do menino, e assim poderia, com sua benzedura e magia fazer com
que ele tivesse êxito na cura do corpo físico, já tão debilitado.

    Cipriano diz aos presentes que ficassem em oração, pois ele teria
que ir as matas fechadas, em um local único, para apanhar as ervas e
assim dar continuidade a cura do menino. E assim foi feito.

    Cipriano se embrenhou pela mata, seguindo o caminho que lhe foi
indicado por meio de visão espiritual. Cada vez mais distante da
fazenda na qual estava a criança, Cipriano via a mata se fechando cada
vez mais, chegando ao ponto de certos lugares ele ter que passar
totalmente abaixado.

    Enfim ele encontra o local indicado pela suas visões e no local
todas as ervas necessárias para fazer o banho, o chá e as benzeduras
para salvar a vida da criança.

    Após recolher todas as ervas que necessitava, Cipriano tenta se
apressar para chegar em tempo de salvar a pequena criança. E ao se
embrenhar na mata novamente, ele sente que estava sendo observado, e
logo em seguida consegue ver por quem. Um enorme vulto negro, rodeado
de menores vultos da mesma negritude, começam a ficar ao seu redor
tentando fazer com que Cipriano perdesse o rumo do caminho de retorno.
Como ele se fixou no caminho, sem se deixar a ser induzido pelos
maléficos vultos, continuou a caminhar, deixando assim o grande vulto
negro com mais ódio ainda.

    O grande vulto negro passa novamente por Cipriano, fazendo menção
de ataque. E como novamente Cipriano não se deixou abalar, o vulto
maior e negro reúne os demais comandados do mal tentando novamente
atormentá-lo. E enquanto os menores vultos vinham de todos os lados
para cima de Cipriano, o vulto maior segue até um covil de cobras,
fazendo com que a mais venenosa das serpentes ficasse em posição de
bote para atacar o negro quando passasse por ali.

    E assim aconteceu, Cipriano foi atacado pela venenosa serpente, um
ataque rápido e certeiro em sua perna esquerda, fazendo com que ele
caísse já delirando de tanta dor pelo veneno que se espalhava.

    Nesse instante Cipriano se lembra do pequeno menino, que era
tomado pelos espíritos do mal, e ele se fechou em oração pedindo aos
Orixás força para conseguir chegar a seu objetivo e assim curar a
criança.

    Com sua fé grandiosa, juntamente com uma vontade descomunal,
Cipriano busca forças, e olhando ao redor, nota que já não está mais
sendo ameaçado pelos vultos negros. Desse momento em diante ele se
arrasta por meio da mata fechada, junto ao chão e as folhas e raízes
que se sobressaiam por todas as fendas da terra.

    Cada vez mais cansado, com dores terríveis, já não sentindo suas
pernas, uma pelo veneno da serpente e a outra pelo esforço extremo de
levar seu corpo adiante, Cipriano desaba mais uma vez ao chão.

    Ele olha para o céu, clama por misericórdia, com olhos
lacrimejados tentando buscar na sua fé a força que necessitava para
seguir o caminho de volta.

    E nesse momento uma luz muito forte aparece diante de seus olhos,
e dessa luz vem uma voz forte, mas serena, que lhe disse:

    "Cipriano, você tem nas mãos as ervas necessárias para acalentar sua dor física. Essas ervas podem curar sua perna ferida e envenenada pela serpente do mal. Basta pegar todas, e numa sequência esfregar uma a uma no local da picada, porém terá que usar todas as ervas que tens
em mãos nesse momento.
Sabendo disso, você não terá como salvar o corpo físico da criança da morte, e consequentemente também não terá como salvar o espírito desse menino da escuridão na qual ele está sendo levado pelos espíritos sem luz, que estão nessa constante busca por esse menino por ele ser um espírito puro e iluminado, que virá no futuro ser um grande aliado do bem contra obsessores e kiumbas.

    Você tem que usar seu livre arbítrio nesse momento, poderá usar as ervas para se curar, ou poderá arriscar sua vida e seguir em frente para salvar a vida e a alma do menino.

    Você poderia se curar e retornar em busca de mais ervas no localindicado, mas contudo não  teria tempo hábil para retornar a tempo de salvar a vida da criança."

    Ao fim dessas palavras a luz desapareceu da mesma maneira que
apareceu. Cipriano cerra os olhos, e os abre lentamente, olhando seu
embornal com as ervas. Olha também para suas pernas, a esquerda já com
um grande edema, e a direita com feridas abertas por estar sendo
arrastada pelo terreno tão danificado.

    Cipriano fecha novamente os olhos, faz uma oração e segue seu
caminho, rastejando por entre as folhas caídas, indo ao encontro do
menino na senzala da fazenda.

    Durante longo tempo ele se rastejou, até que se deparou com a
pequena trilha que ligava a mata a fazenda. Que para ele foi um alívio
e uma vitória.

    Conseguiu chegar até a fazenda, e lá foi auxiliado pelos seus
irmãos negros a ir até a senzala onde estava a criança.

    Chegando diante do menino, Cipriano rapidamente se pôs a fazer
suas orações, suas benzeduras e suas mágicas curas por intermédio das
ervas que tinha em mãos. Delas também fez chás, e logo que se iniciou
o trabalho de cura física e espiritual do menino, já pôde se observar
uma melhora grandiosa.

    Quando Cipriano se aproximou do menino colocando suas mãos em seu
peito para dar continuidade a limpeza dos obsessores, o grande vulto
negro, visto na mata, apareceu diante dele, mas já sem forças, e foi
conduzido para longe dali e do menino para sempre.

    A criança se recuperou rápido, deixando os seus pais eternamente
agradecidos a Cipriano. Ele porém, após controlar o veneno que agia
maleficamente em seu corpo, ficou com as pernas sem movimento, a
esquerda pela picada da serpente, e a direita pelo esforço extremo que
foi obrigado a fazer para chegar até a fazenda.

    Pai Cipriano desencarnou com mais de 80 anos. E no dia de seu
desencarne, ele, sabendo que estava chegando seu momento de partir da
vida terrena, pediu aos negros que se reunissem em sua volta, e
juntos fizessem orações aos Orixás, para que o recebesse de braços
abertos, no local que Pai Cipriano chamava de "Paraíso dos Bruxos".

    Ao fazerem o que ele desejava, Pai Cipriano desencarnou nos braços
do menino negro, que nessa época já era um homem feito, que ele salvou
da morte e das garras de obsessores da escuridão.

    Esse menino cresceu com um respeito grandioso por Pai Cipriano,
tanto que ele seguiu os passos de seu mestre, e com ele aprendeu todas
as benzeduras, mandingas e o domínio das ervas, sendo para curas
físicas ou espirituais, e que mais tarde também, como seu mestre
viraria uma Entidade de Luz trabalhadora da Umbanda, e levaria o nome
de Pai José.

    E essa é a história de nosso Preto Velho Pai Cipriano, como ele
ficou conhecido, como ele salvou da morte Pai José, ainda na tenra
idade.

    Saravá Pai Cipriano, o grande mestre em retirar eguns, kiumbas e espíritos zombeteiros de pessoas obsediadas por esses espíritos malignos.

Adorei as Almas!

Adorei Pai Cipriano!


Carlos de Ogum

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

AS GUIAS DE CONTAS DA UMBANDA.

 


 
As Guias de Contas da Umbanda.

    Uma das coisas que mais chamam atenção nos médiuns trabalhadores
da Umbanda, são as guias ou colares de contas por eles utilizados.

    Mas qual a finalidade desses colares?

    O que eles representam?

    Abaixo vamos falar um pouco dessas guias, suas cores, formas, o
que se faz representar, como devemos utilizar, como devem ser feitas,
quem as pede, as diferenças de cada uma.


    As guias ou colares de contas, representam a força vibracional de
um Orixá ou de uma Entidade de Luz, também demonstram o grau de
mediunidade de cada filho da casa , de cada linha que se trabalha,
assim como também podem ser utilizadas para proteção do médium fora do
terreiro.

    Guias de trabalho e guias de proteção.

    As guias poder servir para o trabalho de um médium dentro de um
terreiro e também para proteção do mesmo fora do terreiro ou casa
espírita.


                          Guias de Trabalho.

    As guias de trabalho, são de uso exclusivo para dentro do
terreiro, nos dias de gira, nos dias de festas, nos dias de batismo,
entre as outras coisas feitas dentro da casa umbandista.

    Elas devem ser feitas de acordo com os Orixás do ori do médium,
de acordo com o pedido de alguma Entidade da coroa do médium, nas
cores determinadas de cada Orixá ou Entidade, de contas leitosas para
a Umbanda, e cristal para o Candomblé. Como vamos nos frisar em
Umbanda, nossas colocações serão de acordo com as regras Umbandistas.

    As guias de trabalho devem ser firmadas, ou seja, elas terão no
ponto mais alto (parte inferior da cabeça, sendo encostado a nuca) uma
firma, que é uma peça feita com o mesmo material das contas
leitosas, sendo essa comprida e cilíndrica, onde deve ser terminado o
fechamento da guia, que ficará encostada a nuca do médium, quando for
utilizada a guia de trabalho.

    Essa guia de contas leitosas devem ter as cores indicadas de cada
Orixá da coroa do médium, sendo algumas de uma só cor, outras
bicolores ou na quantidade de cores conforme a necessidade de cada
Entidade de Luz.

    Essas guias também podem ser feitas com outros tipos de materiais,
dentro dos pedidos das Entidades trabalhadoras, sendo esses materiais
como contas de sementes (lágrimas de Nossa Senhora), cruzes e figas de
madeira, couro, palha. Tudo isso dentro da necessidade de cada
Entidade de Luz.

                         Guias de proteção.

    As guias de proteção são feitas a pedido de uma Entidade de Luz ou
pelo próprio médium ou consulente, para que possa ser usada dia a dia
para proteção nas ruas, contra assaltos, acidentes, inveja entre
outras coisas.

    Essas guias também são feitas da mesma forma das guias de
trabalho, porém não se é utilizado as firmas, e normalmente é feita
nas cores da quais a Entidade que foi solicitada a fazer se utiliza.
Podendo também ser feita nas cores dos Orixás da coroa do médium ou
consulente, assim como também com sementes (lágrimas de Nossa Senhora)
ou mesmo em couro.

                      Cores e Formas de Guias.

    As cores, como já foi dito vai de acordo com o Orixá da coroa do
Médium ou a Entidade que pediu. Abaixo vamos descrever algumas guias
da Umbanda.

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS BRANCAS:

    Essa guia vibra a força de Pai Oxalá, normalmente todos os filhos
ao entrar para trabalhar em uma casa de Umbanda, já devem estar com a
guia de Oxalá. Mesmo sem saber quais são os Orixás de Ori, mesmo sem
ter desenvolvimento mediúnico, o médium já deverá estar usando a guia
branca. É a primeira guia da vida de um médium pela regra da Umbanda.

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS VERMELHAS:

    É a Guia para vibração do Orixá Ogum, sendo ele o pai da coroa de
um médium. Ela normalmente é toda vermelha com firma da mesma cor,
podendo ser utilizada pequenas espadas de aço, para a simbologia desse
Orixá. Contudo isso não vai de acordo com a vontade do médium, e sim
pela determinação da Entidade que solicitou esses símbolos.

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS MARRONS:

    São guias para os filhos de Xangô, elas normalmente são todas
marrons com firma da mesma cor, podendo também, em alguns casos ser
divididas em 3 marrons e uma branca. Também pode ser inserida o
símbolo de Xangô, que é o machado pequeno em aço, isso quando
determinado pela Entidade solicitante.

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS VERDES:

    Essas guias são utilizadas normalmente pelos filhos de Oxossi,
sendo toda em contas verdes e firma também da mesma cor. Como nos
casos acima, também pode ser inseridos o símbolos desse Orixá, que
nesse caso pode ser um arco e flecha ou uma pequena flecha de aço.

    Essas guias verdes também podem ser utilizadas por Caboclos, sendo
da mesma forma as contas e a firma, porém em alguns casos podem
incluir outras cores nas contas, e também ´podem ser pedido dentes de
animais, penas, sementes, etc.
Da mesma forma também aos Boiadeiros, sendo que podem ser inclusos
pedaços de couro, olho de boi (semente), etc.

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS BRANCAS E PRETAS:

    É utilizada nas guias dos filhos de Obaluaiê, sendo divididas
conforme a solicitação da Entidade, podendo ser uma branca e uma
preta, ou três brancas e três pretas ou mesmo sete brancas e sete
pretas, fechando com a firma branca raiada de preto. Pode ser
solicitado o uso de pequenas cruzes em aço, como simbologia desse
Orixá.

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS AMARELAS E PRETAS:

    As guias bicolores em amarelo e preto em suas contas, são
utilizadas para médiuns filhos de Omulú, sendo também conforme
Obaluaiê, divididas de uma a uma, ou de três em três, ou também de
sete em sete contas intercaladas, com a firma preta raiada de amarelo.
E como o símbolo de Omulú é o mesmo de Obaluaiê, também pode ser
solicitado pequenas cruzes em aço, para ser colocado na guia, conforme
instrução da Entidade solicitante.

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS AZUIS ANIL OU AZUIS CLARO:

    Essas guias são utilizadas para filhos de Oxum, sendo toda em azul
anil ou mesmo em azul claro, com firma da mesma cor das contas. A
diferença do azul claro ou do azul anil, vai depender da sequencia dos
outros Orixás da coroa do médium, e é determinado pela Entidade
solicitante. Poderá ser pedido pequenos corações de aço para a guia do
filho de Oxum, sendo essa a simbologia dessa Orixá.

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS AZUIS CLARO:

    Essa guia é para os filhos de Iemanjá, ela deve ser feita toda em
azul claro, com a firma da mesma cor. Em alguns casos pode ser contas
azuis e brancas, com quantidade e separação determinada pela Entidade
solicitante. Nesse caso também se usa a firma azul claro. Como Iemanjá
e a Rainha do mar, mãe dos peixes, muitas vezes podem ser pedidas para
acrescentar na guia pequenos peixes em aço ou mesmo cavalos-marinhos,
também do mesmo material.

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS AMARELAS:

    As guias com contas amarelas e firmas da mesma cor, são utilizadas
pelos filhos da Orixá Iansã. Elas devem ser  amarelas de um tom mais
claro, e podem ter, dentro da determinação da Entidade solicitante, o
símbolo dessa Orixá, que é o Raio (Eruexim, cabo de ferro ou cobre com
um rabo de cavalo).

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS ROXAS:

    Para os filhos de Nanã Buruquê se utiliza a guia com contas roxas,
sendo a firma da mesma cor. Em alguns raros casos pode ser solicitado
pela Entidade que instruiu a confecção da guia a ser utilizado uma
cópia miniatura de um Ibíri (um feixe de ramos de folhas de palmeira ,
com a ponta curvada enfeitada com pequeninos búzios).

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS ROSAS, OU ROSAS E AZUIS, OU AZUIS:

    Essa guia é bem particular, pois ela é a guia vibracional de
Entidades de Luz na fase infantil. São utilizadas na maioria dos
terreiros por todos os médiuns, principalmente nas festas de Ibeijada,
Erês, na comemoração do dia de Ibeijis.

    Elas podem ser toda de contas rosas com firma da mesma cor
(normalmente solicitada por uma criança do sexo feminino), ou
podem ser toda com contas em azul claro, sendo a firma na mesma
cor (normalmente quando solicitado por uma criança do sexo masculino).
Mas como tanto médiuns femininos quanto masculinos podem receber na
coroa meninos e meninas, é mais comum ser utilizada a guia bicolor nas
cores rosa e azul, sendo a firma rosa raiada de azul ou azul raiada de
rosa.

    Em alguns casos pode ser solicitado pela criança trabalhadora da
Umbanda uma diferenciação em sua guia, podendo ser com contas maiores
do que as normais, algumas utilizam bonequinhos, algum brinquedinho,
podem ser fechadas ao invés de firmas com contas acima do tamanho das
contas da guia, podem fazer várias diferenciações, tudo vai da vontade
e da precisão da Ibeijada.

GUIA COM FIRMA E CONTAS LEITOSAS PRETAS OU VERMELHAS E PRETAS:

    Essas guias são utilizadas para nossos compadres Exús e nossas
comadres Pombo Giras.

    Elas são formadas e confeccionadas conforme a solicitação dessas
Entidades de Luz, sendo feitas da seguinte maneira:

Exú: O Exú pode utilizar a guia preta quanto a vermelha e preta, tudo
dentro da linha e irradiação que ele trabalha.

    Sendo de contas pretas, a firma deve ser da mesma cor., e pode ser
utilizado, dentro da determinação da Entidade, pequenos tridentes de
aço, sendo esses tridentes retos, chamados de tridente masculino.
Pode também ser pedido pelo o Exú, pequenos punhais de aço.

    Eles podem ser divididos em três, sete ou até 21 tridentes ou
punhais na confecção da guia, tudo isso dentro da irradiação e
trabalho do Exú solicitante.

    Sendo de contas vermelhas e pretas, a firma pode ser preta, preta
raiada de vermelho, vermelha ou vermelha raiada de preto. Também se
pode ser utilizada pequenos tridentes ou punhais de aço, conforme
vimos acima.


Pombo Gira: Na linha das Pombo Giras, também podemos ver guias da
mesma forma dos Exús, sendo tanto Vermelha e preta quanto apenas
vermelha, e com firmas também da mesma forma dos Exús, podendo ter
como firmamento os punhais e tridentes em aço, só detalhando que os
tridentes no caso da Pombo Gira são tridentes curvos, os chamados
tridentes femininos.

    Essas colocações para as guias de Exús e Pombo Giras foram feitas
para um modo geral, podendo tranquilamente ser diferenciada por um ou
outro detalhe, como por exemplo a quantidade de contas de cada cor, ou
outro símbolo mais particular de cada Entidade (pois são milhares e
milhares de Exús e Pombos Giras diferentes).

GUIAS COM FIRMA E CONTAS VERMELHAS E BRANCAS.

    Essa guia é utilizada para nossos companheiros Malandros e
Malandras.

    Elas são bicolores em contas vermelhas e brancas, com
firma vermelha ou branca, podendo ser raiada ou não.

    As contas podem ser divididas em uma a uma, três em três, sete em
sete, vinte e uma a vinte uma, ou até mesmo uma quantidade maior de
uma cor e menor de outra, tudo dentro da determinação da Entidade de
Luz que determinou a fazer a guia para o médium.

    Raramente se vê uma guia dos Malandros com algum símbolo,
normalmente são apenas as contas vermelhas e brancas e a firma, mas em
pouquíssimos casos pode ser pedido para ser adicionado uma ou três
piriguaia (variedade de búzio) na guia.

GUIAS DE SEMENTES (LÁGRIMAS DE NOSSA SENHORA):

    Essas guias são muito utilizadas pela linha de Preto Velho, elas
são confeccionadas de acordo com a vontade e determinação da Entidade,
muitas vezes tem a aparência de um terço para orações. Podendo ela ter
figas de guiné ou de arruda nas divisões das sementes, normalmente não
tem firma, mas pode ter uma cruz em madeira na parte central inferior
da guia.

    Alguns Pretos Velhos podem fazer uns patuás para serem colocados
em determinadas guias de sementes, em pontos demonstrados por eles, e
esses patuás podem ter uma variedade de coisas, como figas, cruzes,
medalhas de anjos, orações, sementes, entre centenas de outras coisas
que a Entidade julgue ser necessário para auxiliar o médium na hora da
incorporação.

    Essas guias também podem ser pedidas por algum Caboclo, podendo
ela ser toda de semente e com uma firma da cor normalmente verde, ou
podem ter flechas, arcos ou lanças em aço, da mesma forma das guias em
contas verdes.

GUIAS DE COURO:

    Não muito vista nos terreiros de Umbanda, pois essa guia é
utilizada por médiuns trabalhadores que incorporam Boiadeiros, e por
muitas vezes o próprio Boiadeiro, se caso pedir uma guia, a pede de
contas verdes com apetrechos, conforme já foi dito antes.


    Todas as guias devem ser confeccionadas sempre por determinação da
Entidade trabalhadora da coroa do médium, ou por uma Entidade
incorporada ao responsável pelo terreiro no qual o médium faz parte.

    As guias podem ser utilizadas de uma forma tradicional, ou seja,
pendurada ao pescoço, com as firmas voltadas a nuca do médium, mas em
alguns casos podem ser determinado pelas Entidades a serem utilizadas
cruzada ao corpo, como por exemplo se iniciando do ombro esquerdo com
o término na parte lateral inferior direita do corpo (linha da
cintura), ou vice e versa.

    É importante dizer que em algumas casas tem como regra para cada
guia de Orixá ou Entidade de Luz um determinado número de contas ou
sementes, porém essa regra traz um problema aos médiuns, pois sendo
assim elas nunca ficam de acordo com o tamanho desejado, na maioria
das vezes ficam extremamente pequenas, e com isso atrapalha, pelo
incômodo que ela causa, a concentração do médium antes da
incorporação. Por isso o mais correto a fazer e manter uma regra
simples, todas as guias devem, ao serem colocadas devem ficar na
altura do umbigo do médium, pois assim não tem como ficar algo
incômodo independente da altura de cada um.

    As guias são o ponto de vibração entre a Entidade e o médium, elas
não são adornos ou enfeites. Use-as sempre por determinação da
Entidade e sempre dentro da linha de trabalho, nunca esquecendo que
guias de Umbanda são de Umbanda e de Candomblé são de Candomblé, não é
porque achou uma guia mais bonita que ela serve para sua coroa ou sua
vibração junto a Entidade.

    Respeite as guias, respeite sua coroa, respeite suas Entidades.

Carregar Guias No Pescoço É Muito Bonito, Difícil É Saber Respeitar O
Que Elas Representam. (Vô Tião)

Carlos de Ogum.