terça-feira, 30 de junho de 2015

Conhecendo Os Falangeiros De Oxum

             



    A um tempo atrás falamos dos Falangeiros de Ogum, meu Pai de
Cabeça. Hoje voltamos nesse tema sobre Falangeiros, no entanto vamos
falar dos Falangeiros de Oxum, que é minha Mãe de Coroa, e que tenho
muito orgulho por isso.

    Só para relembrar, Falangeiro é aquela Entidade que está somente
abaixo do Orixá, ele comanda as legiões de Entidades e Espíritos que
se afinizam na vibração do Orixá que os governa.
Em algumas casas podem também ser chamados de "qualidade do
Orixá".

    Os Falangeiros de Oxum são divididos da seguinte maneira:

Oxum Apará, Oxum Ijimum, Oxum Iápondá, Oxum Ifé, Oxum Abalu, Oxum Oxogbo, Oxum Ajagura, Oxum Yeye Oga, Oxum Yeye Petu, Oxum Yeye Karê, Oxum Yeye Oke, Oxum Yeye Olokô, Oxum Yeye Merin, Oxum Yeye Ayálá, Oxum Yeye Lokun e Oxum Yeye Odo.

Esses Falangeiros vem na seguinte vibração de Oxum com outro Orixá:

Oxum Apará: Trabalha em vibração com Ogum.

Oxum Ijimum: Trabalha em vibração com Iemanjá.

Oxum Iápondá: Trabalha em vibração com Oxaguiã (Oxalá Jovem).

Oxum Ifé: Trabalha em vibração com Xangô.

Oxum Abalu: Trabalha em Vibração com Omulú, Iansã, Ogum e Oxossi.

Oxum Oxogbo: Trabalha na vibração de Iemanjá e Oxalá.

Oxum Ajagura: Trabalha em vibração com Iemanjá e Xangô.

Oxum Yeye Oga: Trabalha em vibração com Nanã Buruquê.

Oxum Yeye Petu,: Trabalha em vibração com Ossãe.

Oxum Yeye Karê: Trabalha em vibração com Logum Edé.

Oxum Yeye Oke: Trabalha em vibração com Oxossi.

Oxum Yeye Olokô: Trabalha em vibração com Nanã Buruquê, Obaluaiê e
Oxossi.

Oxum Yeye Merin: Trabalha em vibração com Ibeiji.

Oxum Yeye Ayálá: Trabalha em vibração com Ogum.

Oxum Yeye Lokun: Trabalha em vibração com Iemanjá.

Oxum Yeye Odo: Trabalha em vibração com Omulú/Obaluaiê.


    Abaixo falaremos um pouco sobre as características de cada
qualidade ou Falangeiro.

    Antes de falarmos das qualidades de Oxum, frisarei alguns
apetrechos que muitas qualidades de Oxum usam. Vou explicar o que são,
para facilitar o entendimento.

Abebé: Leque metálico circular, que contém guizos, que é utilizado por
Oxum como instrumento musical e ao mesmo tempo como insígnia.

alfanje: sabre curvo, um tanto curto e de lâmina larga.

Ofá: Arco e flecha utilizada por Oxóssi como ferramenta e, com o qual
ele caça.

Erukerê: Cauda de animal.


Oxum Apará: Essa é considerada a mais jovem Falangeira de Oxum. Sempre
ligada a Ogum, ela é vista como a Guerreira. Em algumas regiões também
é conhecida com o nome de Oxum Opará. Ela leva uma espada na mão, e em
algumas vezes pode estar vestida da cor marrom avermelhada, mas
também se utiliza de vestes azul claro ou rosa claro. Muitos a
chamam de "Senhora da Espada". Ela por vezes é confundida com Iansã,
pelo jeito guerreiro. Essa Oxum é a dona dos objetos cortantes, sendo
dona da navalha. É Oxum Apará que dá visão ao Jogo de Búzios, pois
ela tem uma relação com o próprio Exú.

Saravá Oxum Apará.


Oxum Ijimum: Considerada uma velha Oxum, também conhecida por Ijimú,
Ijumú, Jumu,jumum Ou Ygemum. Ela normalmente se veste nas cores azul
claro ou cor de rosa. Leva nas mãos o Abebé e o Alfanje. Ela Também é
considerada como a rainha entre todas as Oxuns e senhora responsável
pelos Otás (pedras) e por tudo que vive no fundo dos rios. É dito que
essa Oxum tem o poder de segurar uma gravidez conturbada. Ela também é
a senhora da fecundidade
    Ela tem uma ligação fortíssima com Iemanjá, por essa ligação ela é
vista e considerada como a mãe das Oxuns.

Saravá Oxum Ijimum.


Oxum Iápondá: Característica principal de ser guerreira, essa Oxum
leva no seu nome a homenagem a sua cidade, Iápondá, na qual ela era
rainha. Ela tem uma espada na mão, e as cores de suas vestes são
amarelo ouro e branco. Ela também pode ser conhecida pelo nome de
Agokusi. Governa a criação infantil, sendo ela a senhora da
inocência, e por esse motivo costuma ter na barra da sua saia uma
faixa na cor azul. Ela também é relacionada ao fogo e a calunga
pequena.

Saravá Oxum Iápondá.


Oxum Ifé: Tem a força da cachoeira que cai da pedreira. Sua
demonstração de poder vem com a demonstração das quedas d'água e a
durabilidade da pedra. Com sua ligação com Xangô, se junta a
jovialidade com a experiência, fazendo assim uma força extrema. Suas
vestes tem tons amarronzados por entre o azul. É sabia e justiceira.

Saravá Oxum Ifé.


Oxum Abalu: Trabalha em Vibração com Omulú, Iansã, Ogum e Oxossi. Essa
é considerada uma velha Oxum, a que tem um dos mais antigos cultos
conhecidos. Ela normalmente se veste de cores claras, e está sempre
com seu Abebé e seu alfanje, em alguns rituais também pode estar com
um Erukerê nas mãos. É dito que ela é muito severa e autoritária, mas
sempre se acalma ao receber um ramo de hortênsias. É dito também que
ela anda junto com Omulú pelos quatro cantos do mundo em andanças de
curas a quem precisa.

Saravá Oxum Abalu.


Oxum Oxogbo: É o aspecto maduro da Orixá feminina. Muito vaidosa de
beleza extrema, também conhecida como Abotô, Yaboto, Botô ou Ogbo. Ela
está relacionada ao parto e ao nascimento, ajuda as mulheres a terem
seus filhos sem traumas. É a Oxum das nascentes dos rios e do encontro
das águas doces e salgadas. Tem o poder de centralizar o líquido
amniótico na gestação em grávidas para que não haja problemas com o
feto. Ela é protetora das futuras mães no período de gestação e também
ela que acompanha as mulheres no momento do parto. Ela se veste
predominantemente com a cor branca e alguns detalhes na cor amarelo ou
amarelo ouro e azul claro.

Saravá Oxum Oxogbo.


Oxum Ajagura: Também é considerada jovem. Tem muita força e beleza.
Trabalha sempre em busca da justiça. Também é conhecida como Ajajira.
Ela é a senhora de todas as aves de penas coloridas e também das aves
aquáticas e terrestres. Tem uma ligação muito forte com Xangô que
busca a vibração no fogo. Ela pertence a nação Nagô.

Saravá Oxum Ajagura.


Oxum Yeye Oga: Vista também como uma velha Oxum, tem muita ligação com
Nanã Buruquê. Ela sempre traz nas mãos um Abebé e um alfanje. Uma
característica comum é a proteção a seus filhos. Como uma boa
guerreira, a Oxum Yeye Oga nunca deixa uma luta para trás. É dito que
ela é um tanto ranzinza, implicante e cheia de manias. Representa a
mulher envelhecida e também a existência absoluta da humanidade, sendo
responsável por todo filho a partir dos 60 anos. Ela é protetora dos
idosos. Senhora das mandingas, vive nas florestas tomando conta de
mananciais.

Saravá Oxum Yeye Oga.


Oxum Yeye Petu: De culto muito antigo, sempre observada nas nascentes
dos rios e no interior das florestas fechadas. Tem a força das ervas,
protetora da fauna e flora. Muito ligada a Ossãe e a Obaluaiê. É dito
que ela é ingênua e sensual, suas vestes tem tecidos muito estampados
que predomina o amarelo. No seu trabalho com Obaluaiê é dito que ela
entra com ele nos rituais na Calunga Pequena.
A Oxum Yeye Petu é a guardiã dos segredos insondáveis, sobre ela pouco
se sabe e nada se diz. O simples pronunciar seu nome é revestido de
muito respeito e por muitas vezes considerado um grande tabu.

Saravá Oxum Yeye Petu.


Oxum Yeye Karê: Oxum guerreira jovem, lutadora, protetora e sempre
atenta. Ligação grandiosa com Odé Karé, ou Logun Edé como é mais
conhecido. É aquela que auxilia e comanda todo e qualquer movimento
ligado a abundância e também a fertilidade.
Ela tem o poder da mutiplicação do útero nos casos de gêmeos,
trigêmeos, etc.
Ela é a dona da bolsa de água e tem o direito de aumentar o espaço da
gestação.
Ela também é a rainha da caça e deusa da pesca, e aquela que mora
dentro das águas da cachoeira e ao mesmo tempo nas entradas das matas.
E a protetora dos caçadores noturnos, mas apenas os que caçam para se
alimentar, ou alimentar familiares.

Saravá Oxum Yeye Karê.


Oxum Yeye Oke: Uma jovem guerreira, com ligação ao povo das matas e a
Oxossi, carrega sempre um Ofá e um Erukerê. Tem como característica
principal a força e a vontade de lutar. Também conhecida como Loke,
Lê Iê Oke ou Eoqu Êh. Muito semelhante a Oxum Yeye Karê fazendo assim
que muitos confundam uma com a outra achando que são a mesma Oxum.
Ela se apresenta como guerreira, mas também é uma caçadora. Vive no
interior das matas e florestas. Se veste de amarelo ouro e por muitas
vezes pode trazer uma espada também nas mãos.

Saravá Oxum Yeye Oke.


Oxum Yeye Olokô: Suprema guerreira que vive nas florestas nos grandes
poços de água, considerada a padroeira do poço. Também conhecida como
Oxum Dôco.
É a Oxum envelhecida, um tanto ranzinza e cheias de manias, assim como
a Oxum Yeye Oga. Ela tem uma vibração grandiosa com Nanã Buruquê.

Saravá Oxum Yeye Olokô.


Oxum Yeye Merin: A Oxum Menina, tem como característica seu jeito
jovial, infantil. Tem toda concentração de vaidade, beleza e elegância
de uma Oxum, numa característica infantilizada. Sorriso meigo e olhos
brilhantes também chamam muito atenção nessa Oxum. Pode ser conhecida
também como Oxum Iperí, Oxum Ibeiji, Oxum Menina, Oxum Merimeri ou
Oxum Nova. É essa Oxum que protege os filhos nos possíveis períodos
de pragas. Muito justiceira, dando o poder de fazer justiça por contra
própria a seus escolhidos. É dito que essa Oxum era a que vibrava na
coroa de Mãe Menininha do Gantois.

Saravá Oxum Yeye Merin.


Oxum Yeye Ayálá: Oxum de forma envelhecida, aliás uma das mais velhas,
retém o poder com a bolsa lacrimal, manifestando através das lágrimas
tanto de alegrias quanto de tristezas, dando forças a quem passa
dificuldade na vida por qualquer motivo. Ela representa o sofrimento
e a dor através da lágrima, assim como representa a felicidade intensa
da mesma forma. Tem as cores azul claro e amarelo em suas vestes, é
adepta ao uso de ouro, metal que lhe pertence por direito na qual está
ligada de todas as formas.

Saravá Oxum Yeye Ayálá.


Oxum Yeye Lokun: Tem uma ligação muito grande com Iemanjá. A junção do
Rio com o Mar trazendo as forças das águas para vencer obstáculos. Ela
se veste com cores claras, traz nas mãos o Abebé e o alfanje. Ela
herdou o conhecimento do futuro que era só mostrado por Ifá. Tem o
poder da intuição, e por esse motivo muitos filhos a chamam de
"Senhora da Intuição.
Oxum Yeye Lokun, que também é conhecida como Popolokun, é revestida
por uma enorme aura de mistérios, tem a morada em lagoas profundas, e
a lenda diz que ela aprisiona em seu reino aqueles que se aventuram a
mergulhar em suas águas.

Saravá Oxum Yeye Lokun


Oxum Yeye Odo: Também conhecida como OXUN OKPAXE ODO e também como Totokusi. Tem ligação com o reino de Omulú. É dito que ela surgiu plainando nas águas do rio após ser morta. Tem vestes nas cores mais escuras que as outras Oxuns e auxilia os espíritos das pessoas que desencarnam por afogamento. Reinando nas nascentes dos rios, tem uma aparência semelhante a de Iemanjá. É dito que ela é a "Senhora dos Perdões".

Saravá Oxum Yeye Odo.

    Essas são as Qualidades ou Falangeiros dessa amada e poderosa
Orixá, que resumidamente mencionamos. Pois precisaria muito mais que
um texto para descrever tamanho poder dessa linha de falangeiros.

    Saravá a Falange de Oxum, Aieieu Mãe Sagrada!



Carlos de Ogum

sábado, 20 de junho de 2015

A Intolerância Religiosa no Brasil

             



    Hoje vamos falar um pouco sobre a intolerância religiosa em nosso
país.

    Escolhi esse tema por um motivo bem especial e muito triste para
todos nós que amamos a Deus, e temos nele nossa base de vida.

    O intenso aumento da intolerância religiosa, que vem acontecendo
em nosso país por alguns fanáticos, fundamentalistas, não esclarecidos
e induzidos por falsos líderes religiosos que se utilizam dessa falta
de esclarecimento para bem próprio.

    O que é religião?

    Respondendo essa pergunta com os dizeres do dicionário Aurélio
temos essa definição:

"Religião s. f. 1. Serviço ou culto a Deus, ou a uma divindade
qualquer, expresso por meio de ritos, preces e observância do que se
considera mandamento divino. 2. Sentimento consciente de dependência
ou submissão que liga a criatura humana ao Criador. 3. Crença ou
doutrina religiosa; sistema dogmático e moral. 4. Veneração às coisas
sagradas; crença, devoção, fé, piedade. 5. Tudo que é considerado
obrigação moral ou dever sagrado e indeclinável. 6. Ordem ou
congregação religiosa. 7. Filos. Reconhecimento prático de nossa
dependência de Deus."

    Com esses dizeres podemos notar que não há nenhuma colocação de
que essa ou aquela crença seja ou não seja uma religião.

    Religião para quem realmente tem uma é o puro e simples fato de se
religar ao Pai Maior, de arrumar uma maneira de se encontrar com Deus,
de doar e receber amor, de crer que podemos ter esperanças, de sermos
caridosos com nossos semelhantes, assim como Deus é conosco.

    A religião, independente do dogma que segue, é exclusivamente para
nos fazer bem, nos dar paz, nos trazer um pouco de felicidade em meio
de tantas coisas ruins.

    Essa é a verdadeira religião, seja você Umbandista,
Candomblecista, Kardecista, Católico, Budista, Evangélico. Pois a
denominação não importa, o que importa é você se entregar a Deus, crer
numa força superior, entender que há apenas um Deus, e é nesse Deus
que desejamos abraçar através de nossa religião.

    No entanto temos alguns líderes de algumas religiões que não
pensam assim. E infelizmente esses líderes usam o poder da indução
para fazer com que seus fiéis menos esclarecidos se tornem verdadeiras
"bestas humanas". Fazendo verdadeiras lavagens cerebrais, essas
pessoas sem esclarecimento, induzidas por verdadeiros charlatões,
travestidos de ´líderes religiosos, não se utilizam da religião com o
intuito de se religar a Deus, de crer no Pai Maior, de buscar força e
esperança através da fé. Simplesmente usam o nome da religião na qual
fazem parte para descriminar, ter preconceito, hostilizar, atacar,
ferir e matar um semelhante.

    Sinto muito ter que dizer, mas isso não é ter uma religião, isso é
apenas ser um fantoche nas mãos de falsos líderes, que além da
falsidade com seus fiéis, fazendo deles um ponto de arrecadação de
bens econômicos. É uma grande falsidade e falta de respeito com o nome
de Deus e de Jesus Cristo, seu único filho.

    Podemos observar a falta de religiosidade sendo passada dos pais
para os filhos, numa decadência extrema, fazendo assim o aumento dessa
intolerância religiosa, preconceituosa e racista.

    Um dos casos mais recentes é da menina Kailane de apenas 11 anos
de idade que foi apedrejada simplesmente porque ama a sua religião,
conforme descrito abaixo:

"Com apenas 11 anos de idade, Kailane Campos conheceu a intolerância
religiosa na noite de domingo de forma dolorosa. A menina, iniciada no
Candomblé há quatro meses, seguia com parentes e irmãos de santo para
um centro espiritualista na Vila da Penha, quando foi atingida na
cabeça por uma pedra, atirada, segundo testemunhas, por um grupo de
evangélicos.
Ainda segundo os relatos, momentos antes, eles xingaram os adeptos da
religião de matriz africana.

"Eles gritaram: "Sai Satanás, queima! Vocês vão para o inferno."

Mas nós não demos importância. Logo depois, o pedregulho atingiu minha
neta e, enquanto fomos socorrê-la, eles fugiram em um ônibus", contou
a avó da menina, Kathia Coelho Maria Eduardo, de 53 anos, conhecida na
religião como Vó Kathi."


    Infelizmente esse não é um caso isolado, são vários casos de
preconceito religioso que acontece em nosso Brasil. Dentre tantos
outros temos também o radicalismo de fanáticos, também induzidos por
falsos líderes religiosos que levou a morte no dia 1º de junho, de uma
ialorixá, de 90 anos de idade, em Camaçari, na Bahia.

    Segundo seus parentes e filhos de santo, a religiosa enfartou
depois da instalação de um igreja evangélica em frente ao seu
terreiro.

    Conhecida como Mãe Dede de Iansã, Mildreles Dias Ferreira teria
morrido após seguidores da igreja, terem passado uma madrugada inteira
em vigília proferindo ofensas em direção à casa de santo.


    E isso meus amigos de fé seria o que Jesus pregaria?

    Essa intolerância sem limites, esse desamor sem fundamento, esse
ódio a nossos semelhantes?

    Devemos sempre lembrar que, mesmo tendo bancadas religiosas no
Congresso Nacional, ele, o Congresso, tem o dever legal de zelar pela
plenitude da liberdade religiosa e de pensamento, e nunca esquecer que
somos um estado laico.

    Os aquecidos discursos fundamentalistas e de extremistas de certos
segmentos religiosos, que imaginam serem os donos absolutos das
verdades sagradas e que, por vezes, perseguem as religiões
afro-brasileiras, devem ser denunciados de forma intransigente.

    A liberdade religiosa é algo precioso e tem proteção jurídica na
Constituição, na legislação e nos tratados internacionais.

    Corremos cérios riscos de chegarmos ao ponto em nosso país de
termos religiões extremistas, que a princípio estaria vitimando as
religiões Afro-Brasileiras e seus adeptos, assim como aconteceu com a
menina Kailane, e com a Ialorixá Mãe Dede de Iansã, e que logo logo
estaria vitimando outras religiões, como o catolicismo por exemplo.

    O respeito à liberdade religiosa é um Dever e acima de tudo um
Direito.

    O dia nacional de combate a intolerância Religiosa é comemorado no
dia 21 de janeiro, e foi criado pelo desencarne de uma Mãe de Santo
que infartou nesse dia, após ter lido uma matéria falsa no jornal
"Folha Universal", de propriedade da Igreja Universal, a acusando de
ser uma charlatã. Com sua foto estampada na manchete principal, e os
dizeres: "Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos
clientes.". Com essa falta de responsabilidade, de esclarecimento e
num preconceito extremoso, muitos seguidores de alguns dogmas não
entendem que a crença religiosa dispensa lógica e razão. Quem crê, crê
e pronto. É algo que, teoricamente, não se discute. Um direito
fundamental reconhecido pela Constituição de 1988.

    Abaixo descrevemos uma pequena parte do tratado internacional
firmado desde o 1969, que frisa "religião" em seu conteúdo, conhecido
como Pacto de San José da Costa Rica (que o Brasil é signatário).

Artigo 12 - Liberdade de consciência e de religião.

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião.
Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou suas
crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a liberdade
de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, individual ou
coletivamente, tanto em público como em privado.

2. Ninguém pode ser submetido a medidas restritivas que possam limitar
sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar
de religião ou de crenças.

3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças
está sujeita apenas às limitações previstas em lei e que se façam
necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral
públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.

4. Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que seus
filhos e pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja de
acordo com suas próprias convicções.

Constituição Federal do Brasil.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa
ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa, fixada em lei; (...)

A Lei nº 9459/1997 prevê no seu art. 1º, que alterou o art. 20 do
Código Penal:

Art. 1º Os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989,
passam a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional."

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito
de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) Pena: reclusão de um a três anos e
multa.

    Esperamos que a lei seja cumprida, esperamos que casos como o que
aconteceu com a menina Kailane não se repita, esperamos que nossas
autoridades não sejam coniventes com essa intolerância, pelo bem de
nossa fé, pelo bem de nossas religiões, pelo bem de nosso país.

    A intolerância religiosa pode ser algo sem muitas gravidades, como
um simples xingamento dentro dos comentários de um blog, assim como
acontece quase diariamente conosco, até as agressões físicas e mesmo
assassinatos de pessoas que não tem a vergonha ou medo de expressar o
amor por sua religião, como acontece frequentemente, sendo as
principais vítimas os adeptos as religiões Afro-brasileiras. E tudo
isso pelo simples fato das religiões neopentecostais necessitarem de
criar um suposto inimigo a ser combatido para arrebanhar adeptos e
patrocinadores as suas ditas crenças, conforme pesquisa feita pela
professora aposentada da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Denise Fonseca, que coordenou pesquisa sobre templos de
religiões de matriz africana.

    Ela diz acreditar que por trás das agressões aos praticantes de
candomblé e umbanda está a necessidade de religiões neopentecostais
criarem um inimigo a ser combatido, para depois cooptar fiéis.

"Há um projeto de aliciamento de pessoas em estado de vulnerabilidade
emocional ou material, por neopentecostais, ao satanizar a trazer para
dentro de suas igrejas oferecendo o que chamam de "libertação". Nada
mais estão fazendo do que roubando adeptos."

    Deus nos pede mais respeito uns com os outros, mais coerência,  e
mais amor.

    Não seja um fundamentalista, não se entregue ao ódio religioso, não
se deixe levar por falsos líderes religiosos que ficaram bilionários
usando o nome de Deus para espalhar a intolerância, o preconceito e o
desamor.

    Deus é apenas um, está em todas as religiões, em todos os seres, em todos os corações, basta deixar ele agir e demonstrar o imenso amor que tem a seus filhos. Mas para isso devemos agir como o amor de Deus, e não é atacando a pedradas uma criança de 11 anos, simplesmente porque ela ama outra religião, que conseguiremos espalhar esse amor divino.

A casa do Pai tem muitas moradas, não queira dizer que a sua religião é a certa, e as outras são erradas. Todas tem seus caminhos para chegar até Deus.

A melhor religião é aquela que te aproxima das pessoas através do amor, e não a que te afasta delas através do preconceito.

Ame sua religião sim, estude sua religião sim, mas jamais pense que ela é a melhor dentre todas, para todos, e sim para sua evolução.

Deus não tem religião, é universal, não pode ser limitado e nem receber rótulos humanos.

Não existe religião ruim, existem pessoas ruins dentro das religiões.
Dito por: Preto Velho Pai Joaquim.

    Que Deus possa abençoar a todas as religiões que levam o amor, a caridade, a humildade, a tolerância e a fé como caminhos para um mundo melhor.




Carlos de Ogum

Link para o vídeo do Deputado Átila Nunes, que é um lutador contra a
intolerância religiosa.

https://www.youtube.com/watch?v=xCLtHITFrUk

quarta-feira, 10 de junho de 2015

A História De Vovó Cambinda

                   




Arriou Na Linha Das Almas,
Cambinda De Fé Oi Babá,
Velha Feiticeira Lá Da Guiné,
Vem De Muito Longe Pra Curar Filhos De Fé.

Vovó Cambinda Tem Sua Guia,
Trabalha De Noite E Reza De Dia.
Vovó Cambinda Quer Encruzá,
Ponto De Pemba No Meu Gongá.

Agô Pro Povo D'Angola,
Agô Pro Povo De Mina,
Saravá As Santas Almas,
Agô Pra Vovó Cambinda.


    Vovó Cambinda é uma Preta Velha Amada por todos que amam a
Umbanda. Todos tem nela um exemplo de amor e caridade, pois ela
própria é assim.

    Com seu jeito humilde e dócil, ela conquista a confiança de
todos, fazendo assim que seus consulentes abram o coração de uma forma
extrema, sem receios, sem vergonha de se expressar, sem medo, apenas
com o dar e receber um carinho grandioso, como se fosse um neto ao
lado de sua avó preferida.

    Essa vovó sempre atenta a todas as palavras, escuta tudo
calmamente, fazendo com que todos os "grandiosos problemas" se pareçam
apenas minusculos fatos aos olhos de otimismo de nossa amada Preta
Velha, e passando assim aos seus amados "netos e netas", para que eles
reajam com mais força e mais fé a qualquer obstáculo na caminhada que
as vezes pode parecer tão difícil.

    A senhora Cambinda é uma das Pretas Velhas mais conhecidas na
história da Umbanda. Em diversos Terreiros podemos encontrar uma velha
com o mesmo nome, pois como a nossa Velha Cambinda fora reconhecida e
respeitada por várias gerações de negros pelos seus atos de caridade,
muitos desses negros colocavam o nome de Cambinda em seus filhos para
homenagear a nossa amada Vovó Cambinda.

    Vamos falar um pouco dessa Preta Velha, e saber como foi que ela
alcançou tamanho respeito.

    Cambinda era uma menina ainda quando fora tirada da Guiné, sua
terra natal. Foi trazida para o Brasil nos meados do século XVI
em navios negreiros, que eram conhecidos como "Tumbeiros", e tinha
esse nome pois praticamente a metade dos negros que nele vinham,
morriam antes do findar da viagem.

    Cambinda e seus pais vieram em um desses navios, e por meses
viveram amontoados nos porões imundos, repleto de cadáveres e negros
adoentados, sem comida e água suficiente a todos.

    A Mãe da menina Cambinda, com seu jeito carinhoso, doce e
caridoso, abraçava a menina e lhe falava baixinho:

"Não tenha medo, logo logo tudo isso vai terminar. E eu prometo estar
sempre a seu lado quando precisar."

    E com essas palavras a mãe da menina a ensinava clamar a Zambi
(Deus) a Oxalá e a todos os Orixás, pedindo sempre força e fé para que
assim pudesse ajudar os irmãos negros adoentados na dura jornada de
luta pela sobrevivência.

    E assim a menina Cambinda rezava, clamava e pedia forças a Zambi,
não só para os irmãos negros, mas por ela própria, pois mesmo sendo
uma criança, e sem entender muito os acontecimentos, sentia que as
coisas eram ruins naquele momento, mas tinha a dor e sentimento que
ainda o pior estaria por vir.

    Havia muitas crianças no porão do navio que estava a doce
Cambinda, e foi determinado pelos traficantes de negros que seria
preservados os meninos e homens adultos não adoentados, pois esses
sim valeriam muito dinheiro aos serem vendidos na chegada ao Brasil.

    Mulheres e meninas não adoentadas seriam alimentadas, mas apenas
uma vez ao dia e o mínimo possível, e o restante que se encontravam
adoentados, seriam avaliados e se os males fossem de uma forma mais
intensa, esses seriam lançados ao mar, ainda vivos.

    Os cadáveres já em decomposição foram retirados dos porões e
lançados ao mar.

    A menina Cambinda rezava aos Orixás clamando que os
espíritos de seus irmãos fossem levados ao encontro de Zambi. A cada
corpo retirado ela se ajoelhava rezando com seus olhos lacrimejados,
e olhando a sua mãe que desesperadamente tentava esconder a angústia
por poder ser elas as próximas vítimas das maldades dos traficantes de
negros. A menina a acalentava e dizia baixinho para que ela tivesse
muita fé, pois Zambi não ia deixá-las morrer na viagem, pois elas
teriam muitas caridades a fazer ao seu povo quando chegassem ao seu
destino.

    E ela dizia isso convicta, pois por muitas noites em que dormia no
amontoar dos porões fétidos, a menina sonhava com uma linda negra que
lhe abraçava carinhosamente, lhe dizia que ela estaria sempre
protegida pela força das águas do mar, e que a cada onda que passasse
levaria todas as dores, tristezas e angústias do seu corpo e de seu
coração, bastaria que ela tivesse fé nos Orixás e nas forças da
natureza.

    E Cambinda assim o fez, acreditando fielmente em seus sonhos, e
aprendendo dezenas de rezas e benzeduras, assim como fazer a cura em
adoentados do corpo e espírito através dos preparos com ervas,
peixes, água, algas, entre tantas outras coisas que lhe fora ensinada
através de seus sonhos de luz vindos por intermédio da linda negra que
se fazia brilhar como os raios do Sol.

    A menina Cambinda, escondida da tripulação do navio negreiro,
fazia suas benzeduras nos negros doentes, se utilizava de tudo que
podia para acalentar as dores de seus irmãos, e com isso foi obtendo
grandes resultados.

    Sua mãe bastante impressionada com os atos da filha, decidiu então
auxiliar em tudo que poderia. E assim as duas trabalhavam
incansavelmente por dias e noites a fio para que os seus irmãos negros
tivessem mais uma chance de sobreviver sem as ameaças dos traficantes
de escravos.

    Chegando em terra firme, Cambinda foi levada a uma fazenda de cana
de açúcar e café no interior do Nordeste do Brasil juntamente com seus
pais e centenas de outros negros.

    Nessa fazenda ela viveu toda sua vida, e também nessa fazenda que
ela conheceu uma negra velha que por gostar muito da menina prometeu
que a ensinaria tudo sobre rezas, benzeduras, ervas, chás, esfregaços
e limpezas do corpo e da alma de espíritos sem luz, que aprendera em
seus 90 anos de idade.

    E assim foi feito, os anos passavam, e Cambinda, que já estava uma
mulher feita, aprendera tudo que lhe foi ensinado pela negra já
centenária.

    Com os ensinamentos da negra, e com todas as lições que Cambinda
aprendeu em sonhos, ela se transformou em uma das maiores benzedeiras
da região, além de encaminhadora, de parteira, de curandeira de
diversos males, tanto do corpo físico quanto do espírito.

    Certa vez, Cambinda já uma senhora madura, foi chamada para fazer
o parto da esposa do coronel fazendeiro, da mesma fazenda na qual ela
era escravizada. Ao chegar aos aposentos da sinhá ela observou que
tinha algo de errado naquela gestação. Se ajoelhou diante da cama na
qual se encontrava a mulher grávida, e rezou profundamente, pedindo a
Mãe Iemanjá que lhe mostrasse qual era o mal que estava ocorrendo no
ventre da sua sinhá.

    E assim de olhos fechados, compenetrada em seus pensamentos,
Cambinda se depara com a imagem da linda Negra que ela tanto
conhecia. E a bela negra diz a Cambinda que estaria na hora de
realizar o parto, mas das duas vidas que estavam no ventre da sinhá,
apenas uma sobreviveria, e que a partir do dia do nascimento da
criança que ficaria encarnada, deveria ser contados 7 dias, e nesse
sétimo dia deveria ser feito uma limpeza de retirada de espíritos
malignos e sem luz, pois eles viriam buscar a alma do recém nascido,
assim como fizeram com a criança que já ia sair do ventre da mãe sem
vida.

    Cambinda chorou, todos olharam para ela sem entender o motivo das
lágrimas.

    O coronel a puxa pelo braço com violência. Grita, quer saber o que
está acontecendo.

    A negra abaixa a cabeça e num sussurro diz ao coronel que no
ventre da sinhá há duas crianças, uma vai sobreviver, a outra já está
desencarnada.

    O coronel desesperado manda ela fazer o parto, e diz que se algo
de ruim acontecer com as crianças ou com a sinhá, a negra irá pagar
com a própria vida.

    A negra Cambinda faz o parto, primeiro nasce uma menina, e logo em
seguida sai o corpo inerte de um menino. Ela o retira e entrega ao
coronel, dizendo que o menino já estava sem vida.

    O coronel a olha com um grande ódio, e enquanto as mucamas fazem a
limpeza do ambiente e da menina recém nascida, a sinhá chora a morte
de seu menino, que se encontra nos braços do coronel.

    Ele pega a negra Cambinda pelo braço e a arrasta para fora dos
aposentos da sinhá, a leva até as mãos de um feitor e ordena que a
leve ao tronco e a deixe lá até morrer, mas antes a açoite sem dó nem
piedade.

    Cambinda apenas olha o coronel, como se entendesse o seu ódio. E
antes de ser levada diz ao coronel:

    "Espíritos da escuridão levaram a alma de seu menino. Esses
espíritos são frutos de seu ódio contra os negros que o senhor
escraviza como animais. Minha Mãe Iemanjá, na sua proteção materna, já
tinha me mostrado que uma das crianças estaria desencarnada no ventre
da sinhá, e que deveria ser contado sete dias após o nascimento, pois
no sétimo dia esses espíritos da escuridão voltariam para levar a alma
da outra criança. Peço que não deixe seu ódio fortalecer esses
espíritos, pois assim sua filha poderá ser salva das garras malignas
da morte e desses obsessores da escuridão."

    O coronel sem dar atenção a negra, manda a levarem ao tronco e
obedecerem as ordens dadas.

    E assim foi feito.

    Já no tronco, a negra foi açoitada, seu corpo ardia, feridas
abriam e ela chorava baixinho.

    Sua mãe, que agora já estava uma velha negra quase sem forças,
clamava aos feitores ajoelhada a seus pés, por clemência a sua filha.
O feitor manda retirar a velha negra dali, que fora arrastada e jogada
na senzala.

    Cambinda de olhos fechados, rezava pedindo forças aos Orixás. E em
resposta a voz da negra que por tantas vezes apareceu em seus sonhos
lhe dizendo para que ela não fraquejasse sua fé. Teria que aguentar a
dor, o sofrimento e a humilhação, mas não por ela própria, não por sua
vida, mas para que pudesse no sétimo dia estar com forças para salvar
o espírito de uma criança inocente.

    E assim foram se passando os dias, Cambinda resistia fortemente o
tronco, as chibatadas, as noites frias, a falta de comida e bebida.

    E enfim chegou o sétimo dia.

    Nos aposentos do coronel com a sinhá, se encontrava a menina recém
nascida. Tinha sete dias de vida. E inocentemente dormia sem saber que
estava sendo observada por espíritos da escuridão.

    O coronel se preparava para mais um dia de comando de sua fazenda,
quando a sinhá se levanta da cama, e sem dizer nada anda até ele. O
olha no fundo dos olhos, abre um pequeno sorriso, e o ataca numa
ferocidade devastadora.

    Com uma voz rouca diz que chegou a hora dele perder mais um pedaço
de sua alma. Que já tinha levado seu filho e agora veio para buscar a
menina. E com isso deu um salto indo para junto da criança.

    O coronel assustado avança para junto da esposa na intenção de a
deter, e assim salvar a sua filha. Num segundo de reflexão ele se
lembra das palavras da negra Cambinda, lembrando-se também que estava
fazendo exatamente sete dias do nascimento de sua filha.

    Ele tentando controlar a esposa, que estava obsediada, tomada por
uma força descomunal, um espírito negro que o olhava com ódio,
grunhindo e tentando a todo custo atacar a pequena recém nascida.

    O coronel agarra com todas as suas forças o corpo da mulher, mas
ela com uma força grandiosa o joga contra a parede. Ele mesmo
atordoado volta em sua tentativa de conter a sinhá. Grita por socorro,
pede ajuda aos negros que trabalhavam dentro da casa grande.

    Ao ouvir seus gritos desesperados, os negros correm em direção
dos aposentos do casal. Uma velha negra adentra ao cômodo vendo aquela
cena demoníaca, enquanto o coronel agarrado ao corpo da sinhá, pede
desesperadamente que fossem buscar a negra Cambinda, que ainda se
encontrava presa ao tronco.

    E assim foi feito.

    Ao chegarem com a negra, que se encontrava com suas vestes
rasgadas, seu corpo surrado, feridas abertas, o sangue manchando seu
corpo e os trapos que vestia, Cambinda se pôs de joelhos em oração,
clamando a sua Mãe Iemanjá que lhe mostrasse o caminho para vencer tal
força daquele espírito da escuridão.

    De olhos cerrados, ela vê a imagem da negra Mãe, sua voz serena,
seu jeito amável e sua luz entram na mente da velha Cambinda, lhe
dizendo:

"Filha amada, chegou a hora de mostrar tudo que aprendera em todos
esses anos. Vá até fora dessa casa, lá você vai pegar 7 ervas que sua
intuição vai lhe mostrar, dessas 7 ervas traga apenas 3, e dessas 3
apenas uma vai ser a que poderá salvar a vida dessa criança das garras
desse espírito sem luz. Ao retornar aqui, passe essa erva no corpo da
pequena. Se for a correta a criança estará salva, caso sua fé for
menor que a força desse obsessor, a alma da criança irá para os
domínios do reino da escuridão."

    E assim ela sai em disparada, enquanto a sinhá era segura pelo
coronel e mais 3 negros escravos.

    Ela faz o que lhe foi dito, e retorna para os aposentos do
coronel. E com uma só erva escolhida na mão, ela se aproxima da menina
recém nascida, esfrega a erva nas mãos, e passa por todo corpo da
criança. Nesse momento a sinhá se desvincula dos fortes braços dos
negros e do coronel e corre em direção a filha. Ela empurra Cambinda a
jogando longe e ao chão, e quando se aproxima da criança, seus olhos
estão vermelhos de ódio, um ódio maligno, incomum, ela olha para o
coronel e num grunhido diz apenas a frase:

"Eu levarei mais essa alma comigo, e graças a sua crueldade que me da
forças ninguém poderá vencer-me."

    E voltando para a menina novamente da uma terrível gargalhada que
estremece a todos no local.

    Mas quando ela ia atacar a menina, foi jogada para trás como se
uma força invisível a dominasse. Entre gritos e grunhidos, a mulher
desaba ao chão, ficando inerte. No mesmo instante um dos negros que
ali se encontrava, absorve toda aquela força maligna, e por entre
gritos de ódio parte para cima da criança, mas não consegue chegar
perto dela. A erva escolhida pela querida Cambinda a protegia de todos
os males da escuridão.

    Cambinda, numa ação rápida, pega o restante da erva e passa na
cabeça do negro obsediado, que no mesmo momento cai ao chão, da mesma
maneira que a sinhá.

    A negra abrindo os braços, e com uma quantidade de erva em cada
uma das mãos, clama a Oxalá, sua Mãe Iemanjá, todos os Orixás e
Entidades de Luz para que lutem junto a ela, dando-lhe forças e fé
para vencer aquele mal.

    As forças vieram. Um barulho ecoou dentro do quarto, como um grito
de dor e desespero. Cadeiras e mesas viraram dentro de toda a casa
grande, livros caíam das prateleiras da biblioteca do coronel, taças e
garrafas de vinho foram despedaçadas junto as paredes e ao chão.

    E a calmaria voltou. Todos se entreolharam um tanto assustados.
Cambinda se ajoelha e reza. Agradece a força recebida, agradece a
vitória conquistada, agradece pela vida da pequena recém nascida,
filha do coronel.

    Por entre lágrimas e dores, a sinhá desperta, sem entender o
acontecido, da mesma maneira o escravo que também fora obsediado.

    O coronel se ajoelha junto a Velha Cambinda, lhe da um abraço,
chora e lhe agradece, pedindo perdão por tudo, por toda a dor e
desespero que ele a fez passar por 7 dias de amargura.

    Ela com olhar cansado, apenas diz a seu senhor:

    "As forças do mal buscam ódio, maledicência, rancor, nos corações
de quem distribui a dor. Mas essa dor distribuída um dia fará com que
dores maiores possam voltar a quem está fortalecendo o mal. Senhor
coronel, demonstre seu respeito e agradecimento por nosso povo negro,
assim como os Orixás demonstraram um grande amor pelo senhor,
ajudando a salvar sua filha. Lembre-se, não foi apenas um espírito
maligno da escuridão que levou seu filho, o senhor próprio o deu
forças para isso. O mal só vence se não tivermos o bem no coração."

    E assim ela se levantou e caminhou para junto do feitor,
dizendo-lhe:

"Cá estou eu, com a força de minha Mãe Iemanjá, pronta para retornar
ao meu castigo."

    O coronel, mais uma vez, corre para a negra Cambinda pedindo-lhe
perdão e dizendo que ela não iria nunca mais ao tronco.

    Ela de olhos baixos, voz fraca, diz baixinho ao coronel:

"Sou uma negra, meu povo é negro. Enquanto meu povo tiver que sofrer
nos açoites, no tronco, na falta de respeito, de comida e de cuidados,
eu ficarei no tronco, e ficarei lá até meu corpo não aguentar mais,
pois nunca seria livre enquanto ver meus irmãos sendo açoitados até a
morte enquanto eu, que não sou nada nem melhor que eles fico sem o
castigo merecido aos olhos dos senhores e senhoras de pele branca.
O castigo que deveria receber por ser negra."

    O coronel de imediato mandou que fossem tirados todos os negros do
tronco, que todos os troncos fossem destruídos, que todos os negros
fossem cuidados e alimentados descentemente.

    A Velha Cambinda viveu na fazenda até seus 90 anos, ela foi a
cuidadora de muitos males entre negros e brancos. Foi mucama da
pequena sinhá, filha do coronel, que após a primeira filha ainda foi
pai de 5 outras crianças entre meninos e meninas, e nunca mais fora
atormentado pelo espírito obsessor.

    A Vovó Cambinda hoje trabalha caridosamente na Umbanda, auxiliando
seus filhos amados, ajudando a curar males, retirar Kiumbas, Eguns e
Espíritos Zombeteiros da vida de consulentes que buscam ajuda dessa
amada Preta Velha.

    Com seu modo amável e sereno ela está sempre pronta a ajudar no
que for necessário, dentro do merecimento de cada um.

    Saravá Vovó Cambinda!

Adorei as Almas!



Carlos de Ogum