segunda-feira, 30 de maio de 2016

História da Erê Mariazinha da Praia

             


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Mariazinha da beira da praia,
como é que balança a saia?

É assim, é assim, é assim,
é assim que balança a saia.
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Mariazinha nasceu na beira do rio,
na beira do rio lá no Juremá.
Mariazinha nasceu na beira do rio,
na beira do rio lá no Juremá.
Aonde a lua brilha, clareia cambina.
Clareia mata pra Ibeijada brincar.
Aonde a lua brilha, clareia cambina.
Clareia mata pra Ibeijada brincar.
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    Mariazinha da Praia é uma Entidade da linha das crianças que traz
sua meiguice e sua alegria para os Terreiros de Umbanda, e neles faz a
caridade a quem necessita de ajuda espiritual.

    Como toda linha de Ibeijada ela adora brincar, balançar seu
vestidinho, sorrir, e claro comer seus docinhos e balas enquanto faz
seus trabalhinhos para a caridade.

    Muitas são as Entidades de luz que usam o nome de Mariazinha da
Praia, mas hoje esse texto vai demonstrar a história de uma
específica, a história de Mariazinha da Praia, a pequena menininha
que curava os males das pessoas necessitadas com a água do mar, areia
e conchinhas. Essa linda menininha de olhar carinhoso, de sorriso
tímido, de ar um tanto envergonhado, e a nossa amada Entidade de Luz,
que busca fazer a caridade no Terreiro Pai Ogum Megê (TUPOM),  e que
vamos contar um pedacinho de sua história, que nos foi revelado pelos
nossos amados Pretos Velhos da casa, além da própria Mariazinha.


    Mariazinha nasceu em uma região praieira do Sudeste do Brasil, no
início do século XX. De uma família sem muitos recursos, seus pais
eram pescadores e trabalhavam sobre o domínio de grandes negociadores
de peixes e frutos do mar, com esse fato a linda menina de olhar
tímido passava a maioria do tempo de seu dia admirando a beleza
encantadora do mar, e relembrando o que sua avó, que já tinha partido
para os braços de Oxalá, dizia sobre as magias e as bençãos daquela
imensidão de águas cristalinas, e também sobre a linda rainha dos
mares, na qual a velha senhora a chamava de "princesa Janaína".

    Mariazinha, ainda uma pequenina criança, ficava encantada com
tudo aquilo, seus olhos negros brilhavam de emoção ao se aproximar da
areia fina e das águas dançantes pelo poder das ondas, seu coração
palpitava quando ouvia o som das ondas e sentia o cheiro
inconfundível da maresia.

    Certa tarde em que o Sol já estava se pondo, a maré baixa, os
pescadores se encaminhando a suas choupanas para uma noite de
descanso, Mariazinha sentada a beira do mar, brincando na areia, com
seus pensamentos voltados a aquele momento de paz, se surpreende ao
escutar uma voz feminina, doce, meiga e amável chamando por seu nome,
por um instante ela imaginou ser a sua mãe, mas ao levantar seus olhos
fintou uma linda imagem de mulher, de lindos cabelos longos, sorriso
encantador, vindo em sua direção, parecendo plainar sobre as águas do
mar.

    A menina nem por um instante teve medo, apenas se levantou, sorriu
de volta a bela mulher, sentiu seu coração acelerar em uma emoção
indescritível.

    A mulher levando as mãos até as mãos da menina, as pegou com
carinho, acariciou-as e disse com uma voz amável quase sussurrando:

    "Menina Maria, sei que é uma criança especial e iluminada, sei que
apesar de sua pouca idade vai compreender muito bem o que vou lhe
dizer nesse momento. Você é uma escolhida de Deus, uma criança de
grau espiritual elevado, tem a proteção de todos os Orixás,
principalmente a minha, sua Mãe Iemanjá, ou como dizia sua amada avó,
a "princesa Janaína".

    Você minha doce criança, tem uma missão em sua caminhada, com seu
gesto de amor, carinho e fé, vai auxiliar a compreensão dos seres
desse vilarejo. Com sua fé e seu amor, vai salvar centenas de vidas de
crianças inocentes, mulheres sem proteção e homens que buscam viver em
paz. Isso não vai demorar acontecer, logo deverá demonstrar seu poder
de amar e de curar. A cura deverá vir através da magia das águas dos
Oceanos, através dos alimentos que os mares oferecem, das algas que
brotam nos fundos desses mares. Com essas coisas você vai auxiliar o
combate a uma grande peste que cairá sobre todos desse vilarejo, sendo
bem afortunados ou não. Essa peste além de trazer muitas mortes em
todo povo, vai trazer discórdias entre os homens, fazendo assim que
aqueles que sobreviverem a peste, morrerão por intermédio do ódio
espalhado pelos próprios homens.

    Você deverá curar a maioria dos adoentados, sejam eles do lado dos
trabalhadores ou dos negociantes, não deve se deixar enganar por
falsos profetas, ou pessoas que não veem o desespero de seus
semelhantes. E após isso, vai ter uma grande decisão a tomar, se tomar
a acertada acabará com a peste e com o ódio, fazendo assim os homens
trabalharem em conjunto para a salvação de seus semelhantes. Mas
lembre-se, ao tomar essa decisão, mesmo sendo uma criança em tenra
idade, não deverá ser tomada pelo medo, estarei sempre a seu lado, e
no momento certo você virará um Anjo iluminado a serviço da caridade
em nome de Deus, e eu estarei aqui para lhe ajudar a entender esse
caminho.

    Também será concedida a alegria, de enquanto você auxilia seus
semelhantes, a presença espiritual de sua caridosa avó, senhora que
tanto lhe ama e deseja lhe dar proteção nessa caminhada. Portanto
nunca estarás só.

    Aqui lhe dou a benção e a proteção, ao se sentir receosa, basta
apenas rezar com sua fé infantil."

    E assim a linda Mãe Iemanjá partiu plainando sobre as águas
azuladas do grande mar, indo em direção ao horizonte até desaparecer
dos olhos da menina que estava extasiada.

    Ela com lágrimas nos olhos, ainda sem saber o que viria realmente
pela frente, por um instante sentiu medo, suas lágrimas rolaram como
gotas de cristal, entrelaçou seus dedinhos das mãos uns com os outros
demonstrando a verdadeira idade infantilizada daquela menina tão
pequenina, mas que deveria ser uma grande guerreira a partir desse
momento.

    Ela se vira para a direção do vilarejo e caminha, se sente um
tanto fragilizada e temerosa, acreditaria que não seria capaz de uma
missão tão grande, sendo ela apenas uma criancinha. Suspirou
profundamente, secou as lágrimas que teimavam em cair, e se sentou
novamente nas areias finas da linda praia cercada de palmeiras
verdejantes. Teve medo de retornar ao vilarejo, teve medo de estar em
delírio, teve medo de falhar.

    Sentada ao chão arenoso, de pernas entrelaçadas uma a outra,
levou as mãos ao rosto meigo e angelical, como se tentasse se esconder
do mundo. Sentiu um afago em seus cabelos longos e negros, assustada
deu um sobressalto e viu a seu lado a sua doce avó que tanto amava,
que lhe disse com carinho:

    "Venha meu Anjo, vamos retornar a choupana de seus pais, deverá
dormir e descansar bastante. Esses dias serão de reflexão, e dentro de
alguns dias o trabalho árduo se iniciará, você deverá ter forças para
essa jornada, até chegar o dia que estará junto a mim."

    E juntas se foram para o vilarejo. Ao chegar na choupana em que
residia, olhou aos lados, viu várias crianças de todas as idades
brincando, homens e mulheres refazendo suas redes de pescas
danificadas por algum motivo durante a lida no mar, seus pais na porta
do pequeno casebre em conversas sobre a rotina do dia a dia. E nisso a
menina entendeu que era uma missão grandiosa, mas que ela deveria
fazer com a força e o amor de Deus e dos Orixás.

    Ela correu ao encontro dos pais e os abraçaram, como o inicio de
uma despedida. E ali entendeu que seu destino já estaria traçado.

    Os dias se passaram, e conforme esperado a peste começava a tomar
o corpo físico de várias pessoas do vilarejo, se espalhando
rapidamente entre todos, inclusive pelos senhores de grandes posses
que ali vinham negociar os pescados.

    A primeira morte foi anunciada com temor entre os moradores do
vilarejo, todos buscavam soluções mas sem nenhum êxito. Os males se
espalhavam como fogo em pólvora. Homens, mulheres, crianças, idosos,
ricos, pobres, de todas as crenças e de todas as raças, ninguém
escapava da veracidade da peste maligna.

    Com o domínio da peste sobre todos, os grandes negociadores, com
suas prepotências, seus desamores e suas ganâncias, determinaram que
deveriam encontrar culpados pela grandiosa desgraça que estava
acontecendo. Com isso abriram uma guerra contra os enfraquecidos
pescadores, dizendo que eles teriam trago a peste a região, e deveriam
ser expulsos dali, e os que teimassem em ficar deveriam ser mortos e
terem os corpos queimados para evitar a disseminação da doença.

    Os pescadores não tendo para onde ir, e como trabalharem para
sustentarem suas famílias, decidiram ficar e guerrear contra os
grandes senhores de poder aquisitivo elevado, e assim começara uma
guerra maior que a guerra contra a peste maligna.

    Com esses fatos a menina Mariazinha foi em busca das forças dos
mares para poder tentar paralisar a peste, assim como teria dito a sua
amada Mãe Iemanjá.

    E assim ela o fez, no meio de mortes pela doença ingrata e pelo
ódio entre os homens, ela se ajoelhou diante do mar, pediu
ensinamentos, e o que deveria levar e fazer para auxiliar os doentes.

    Do mar saíram várias Sereias, filhas de Iemanjá, e em suas mãos se
encontravam peixes, crustáceos, algas, e várias outras coisas do fundo
do mar, entre essas Sereias uma trazia um grande jarro com água, e
outra trazia nas mãos os raios do Sol e o brilho da Lua.

    Chegaram bem próximas a orla, Mariazinha adentrou nas águas do
mar, recolheu os peixes e algas, por um instante não sabia muito bem o
que fazer com eles, mas ao seu lado estava a sua amada avó, que foi
lhe dando instruções de como proceder.

    Com a ajuda de sua querida avó, Mariazinha ia pegando das mãos de
cada Sereia um elemento e colocando no jarro, já com as águas sagradas
do mar.

    Macerou algas de diversos tipos, colocou vários peixinhos e
pequenos crustáceos no jarro, que quando eram colocados em seu
interior se transformavam em minúsculos fachos de luzes brilhantes e
coloridas, fazendo com que a linda menina sorri-se se distraindo
deixando aquele momento de ajuda ao próximo ainda mais gratificante.

    Ao acabar a mistura da água, peixes, crustáceos e algas, foi
pedido a menina que ela fizesse uma oração com toda fé de seu coração
e com todo amor de sua alma, e assim ela o fez. Nesse instante as duas
Sereias que traziam nas mãos os raios do Sol e o brilho da Lua,
imantaram a doce menina com eles, e das pequenas mãozinhas da criança
saiu pequenos raios indo de encontro com o jarro sagrado. Após alguns
minutos assim, as Sereias retornaram para o fundo do mar, deixando a
menina apenas com o espírito de sua avó.

    A doce senhora, em luz espiritual, instrui a neta a colocar a água
do jarro em pequenas moringas de barro e levar para o vilarejo o mais
rápido possível, afim de mostrar a todos o poder de cura existente
naquela água, e tentar buscar a paz entre os homens que guerreavam
buscando um culpado pela disseminação da peste.

    A menina foi de volta ao vilarejo, distribuindo a água da moringa,
e ao beberem as pessoas adoentadas logo demonstravam melhoras, abrindo
os olhos, se levantando de seus leitos, controlando a respiração que
antes se apresentava pesada e muito difícil.

    Os moradores do vilarejo entenderam que era uma água sagrada que
vinha curar a todos, e por intermédio das mãos daquela menina
abençoada pelas forças do mar, chegaram até eles para disseminar a
cura e a paz.

    Muitos que já se sentiam fortalecidos, correram para junto da
menina, demonstrando a vontade em ajudá-la, com moringas nas mãos, a
seguiram até o local onde se encontrava o jarro sagrado, enchiam com a
água preparada, e corriam de volta ao vilarejo, e em toda a região em
torno dele, onde também se encontravam várias pessoas sofredoras pelos
males da peste. Pessoas essas que antes desejavam aniquilar todo o
vilarejo, alegando que era dali que se espalhava todo o mal.

    Os ânimos, que antes exaltados, ficaram mais tranquilos com a
notícia de que estava acontecendo um "milagre".

    A menina Mariazinha, juntamente com o espírito de sua avó, ia até
a linda praia, refazia com amor e fé toda a mistura de água, peixes e
ervas, trazidas pelas Sereias, além de imantar com os raios do Sol e
o brilho da Lua, como da primeira vez.

    O trabalho foi intenso e árduo, mas o resultado foi uma vitória a
todos. As pessoas, nitidamente estavam fortalecidas, agradecidas,
felizes e com a fé e as esperanças elevadas.

    Dentre todos os adoentados se encontravam a família de um grande
negociador, de muitas posses, de estrema intolerância e
prepotência. Esse negociador, com seu poder de indução, e poder maior
econômico, foi que levou o aumento do ódio das pessoas que rodeavam a
região do vilarejo, contra os seus moradores, fazendo assim com que a
guerra da intolerância e ódio crescessem. Mas tão debilitado quanto
todos, agora se arrastava em sua residência, sofrendo os males da
peste.

    Ao saber das curas que estavam ocorrendo pela região, pelo
intermédio da água sagrada e pela pequena criança, ordenou a um de
seus serviçais que fosse com urgência até o vilarejo e trouxesse a
cura a ele e a sua família.

    Dentre as pessoas da família desse famigerado negociador, tinha
sua filha, menina doce e meiga, com apenas 5 anos de idade, na qual a
peste atacou com toda a força e sem piedade.

    A menina inerte em seu leito, demonstrava que sua vida se findaria
em poucas horas, despejando assim um grandioso desespero ao negociador
e sua esposa. Vendo o sofrimento da sua pequena filha, o homem
determina que seja trago, o mais rápido possível, o santo remédio para
aliviar suas dores.

    Assim foi feito, o serviçal saindo como um relâmpago em seu baio,
foi até o vilarejo e retornou com uma moringa com a água da cura.

    Todas as pessoas da família do negociador e mais alguns serviçais,
tomaram a água, e logo após sentiam a melhora de uma forma
inexplicável. Porém a menina, filha do poderoso homem, não obteve
nenhuma reação. De olhos fechados, muito debilitada, febril,
continuava inerte, para desespero do homem e sua esposa, que já se
encontravam extremamente mais fortes.

    A febre da menina não cessava, e a cada instante parecia aumentar,
já causando convulsões, sua pele ressecada, pálida, trazia uma imagem
terrível aos olhos de seus pais, que choravam de desespero.

    O homem negociador então sai em disparada com a menina em seus
braços, e a galopes vai em direção do vilarejo, chegando lá aos
gritos de desespero pedindo ajuda a quem pudesse salvar sua filha.

    Mariazinha corre em direção ao homem, que ao vê-la se atira de
joelhos a seus pés, pedindo perdão pela intolerância com o povo do
vilarejo, pedindo que todos o perdoassem por ser ele o culpado de
iniciar uma guerra entre os ricos, contra o povo menos afortunado.
Pedia perdão a Deus, pedia a salvação da sua inocente filha, clamava
intensamente com lágrimas nos olhos pela cura da menina.

    Pegou nas mãos de Mariazinha com carinho, seu jeito arrogante
agora se transformava em plena humildade, beijou as mãos da menina,
sussurrando que já tinha dado a água sagrada a sua filha, mas não teve
efeito sobre ela. E com um choro verdadeiro e de dor, perguntava a
menina, como ela poderia o ajudar.

    Mariazinha se afasta do homem, se vira em direção ao mar, se
ajoelha e começa a fazer sua oração mentalmente a Mãe Iemanjá, que
logo aparece com sua face serena, bondosa, com um sorriso meigo no
rosto, dizendo a menina:

    "Minha doce Mariazinha, para salvar essa menina da garras cruéis
da morte, deverá acrescentar uma nova alga, que deverá ser pega no
interior de uma caverna que fica submersa. Essa caverna vai estar a
vista com a maré baixa, mas terá pouco tempo para entrar lá, apanhar a
alga correta, que você vai reconhecer logo que a vir, e sair antes da
maré subir novamente. Nesse local só poderá ser você, com seu coração
puro e amoroso, deverá entrar. Nesse local vai entender sobre a
maldade e a injustiça dos homens sem coração. Mas não temas, estarei
aqui para te levar a um caminho no qual, sua luz e sua caridade
amorosa vai lhe entregar nas mãos de nosso amado Deus."

Com isso Mariazinha explica as pessoas presentes o que ela deverá
fazer para trazer a menina adoentada a se restabelecer. Explicando
também sobre a nova alga, a caverna, e que deveria ir só.

    O negociador se levanta deixando toda aquela humildade passageira
no chão, esbravejando diz que ele próprio iria buscar a tal alga, que
não deixaria a vida de sua filha nas mãos daquela criança.

    Algumas pessoas contiveram o negociador que parecia esbanjar ódio
em seu coração, mas Mariazinha, sabendo que o tempo era curto, tanto
para salvar a menina, quanto para a baixa e a subida da maré, saiu
correndo, sem dar atenção ao que o homem esbravejava.

    Chegando nas pedras que levavam a caverna, ela aguardou alguns
minutos, e diante de seus olhos via as águas se abaixarem mostrando a
entrada da caverna um pouco mais abaixo de onde ela estava. Ela desceu
até lá, e entrou, começando a busca pela alga.

    Enquanto isso, por um descuido dos pescadores, o negociador saindo
as escondidas, vai em direção da caverna, para que assim conseguisse,
no pensamento dele, trazer a tal alga rapidamente para salvar sua
filha.

    Parecendo outra pessoa de quando de joelhos estava a pedir perdão
pelas suas atrocidades, o negociador se lembrava dos momentos de dor
que passou pela disseminação da peste, na qual ele julgava os
pescadores culpados.

    Sua mente trabalhava uma vingança tão logo assim sua filha se
restabelecesse. Deveria ele expulsar toda aquela "gente suja" dali
antes que trouxessem mais males e pestes a todos da região.

    Chegando nas pedras acima da entrada da caverna, ele já ia descer
quando notou que as águas começavam a subir, avistou a menina
Mariazinha, que nesse momento já estava com as algas nas mãos, na
entrada da caverna.

    Ele ao vê-la gritou, para que ela se apressasse, pois estava
ansioso para levar a cura a sua filha, e claro, na mente dele, iniciar
uma nova guerra contra os pescadores.

    Mariazinha ao prestar atenção no esbravejamento do homem se
distrai, pisando em uma pequena loca nas pedras da entrada da caverna,
na qual seu pé fica preso.

    Tentando de todas as maneiras se soltar, ela pede ajuda ao cruel
negociador, que diz a ela para lhe entregar as algas, pois ela poderia
deixá-las cair nas águas dançantes do mar. E logo que pegasse as algas
ele iria puxá-la para cima, fazendo assim que seu pé se desprendesse
da loca.

    Ela esticou os bracinhos em direção do homem, a maré já estava
alta, as águas que teimavam em encobrir a entrada da caverna já
estava perto da linha da cintura da pequena criança. Ele esticou os
braços a ela, e com uma ação rápida e covarde pegou de suas mãos as
algas, deixando a menina presa.

    Ele olhou para ela com um olhar de desprezo, as águas da maré já
estava chegando ao rosto angelical da menina, ele deu as costas, e
saiu em passos largos, levando nas mãos as algas e deixando Mariazinha
entregue as forças descomunais das águas do mar, que nesse momento já
tinha encoberto toda a caverna.

    O homem andando sobre as pedras, por um instante se descuida,
escorrega e deixa as algas caírem. Desesperado verifica que ficou
algumas algas presas em algumas pedras logo abaixo de si. Com um
esforço descomunal tenta pegá-las, e ao deitar sobre as pedras e
levar a mão em direção as algas, não nota uma enorme onda de tamanho
desproporcional que vem em direção das pedras, arrastando tudo e todos
a sua frente. Com isso o homem e puxado para dentro do mar, e sem a
menor chance de se salvar, tem seu desencarne de um modo trágico e
dolorido.

    Com o sumiço do negociador do vilarejo, alguns pescadores foram
também em direção a caverna, quando avistaram todo o acontecido.
Retornaram desolados por acreditarem que Mariazinha tinha sido
engolida pela enorme onda também, sem saberem da crueldade feita pelo
negociador.

    Ao chegarem ao vilarejo, relataram os fatos a todo povo, não
sabiam o que fazer com a menina adoentada, que nessa altura sua
respiração estava intensamente fraca. A mãe da menina, esposa do
negociador, sentada ao chão, chorava intensamente, clamava a Deus pela
sua menina, e nesse momento o céu abriu um lindo facho de luz azulada,
e desse facho apareceu a linda imagem de Mãe Iemanjá de mãos dadas com
a linda e sorridente Mariazinha, que trazia em uma das mãos algumas
algas, que foram entregues a sua mãe. E essa adicionou no grande
jarro,que brilhou como que se soltasse raios do Sol.

    Deram a água sagrada a menina, que como em um passe de mágica abre
os olhos, olha para sua mãe e sorri. Seu estado febril chega ao fim,
suas dores se acalmam, ela se levanta e abraça a mãe. Como fosse por
encanto a menina se fortaleceu imediatamente, fica de pé, corre até a
luz que envolvia Mariazinha e Iemanjá, e se ajoelha em agradecimento,
fazendo uma linda oração.

    De mãos dadas a Iemanjá, a menina, que agora era chamada de
Mariazinha da Praia, segue para o mar, recanto que agora seria seu
novo lar.

    Todos ficam encantados com aquela imagem, até mesmo os pais de
Mariazinha, que mesmo com a tristeza de saber do desencarne da menina
na vida terrena, entenderam que ela estaria nos braços e na proteção
da Rainha do Mar, e assim teria a caminhada iluminada para o lado de
Deus, sendo ela mais um anjinho que trabalharia em prol da caridade
divina.

    E realmente foi assim, hoje a doce Mariazinha da Praia tem sua
presença em terreiros de Umbanda, trazendo carinho, amor, paz,
ensinamentos, fé e caridade a seus consulentes.




    Salve a Erê Mariazinha da Praia.

    Oni Ibeijada.



Carlos de Ogum

sexta-feira, 20 de maio de 2016

OS FALANGEIROS DE PAI OXALÁ.

   Os Falangeiros de Pai Oxalá.

    Novamente voltamos a falar de Falangeiros, hoje vamos mostrar os
Falangeiros de Pai Oxalá, o senhor de todos os Orixás.

    Frisando sempre, Falangeiro é aquela Entidade que está somente
abaixo do Orixá, ele comanda as legiões de Entidades e Espíritos que
se afinizam na vibração do Orixá que os governa.


    Os Falangeiros de Pai Oxalá vem dividido da seguinte forma:

Babá Obatalá, Babá Oduduá, Babá Okê, Babá Olofin, Babá Olorun,
Babá Oxaguiã, Babá Oxalufã.

    Para esclarecimento, alguns desses Falangeiros tem o mesmo nome de
alguns Orixás ligados a Oxalá em algumas regiões do continente
africano, mas mesmo obtendo a mesma nomenclatura, são totalmente
distintos.


    Esses Falangeiros tem ligação e fundamento de Oxalá com os
seguintes Orixás:

Babá Obatalá: Tem ligação e fundamento de Oxalá com os Orixás Obaluaiê
e Iemanjá

Babá Oduduá: Tem ligação e fundamento de Oxalá com as Orixás Iemanjá,
Oxum, Iansã e Nanã Buruquê.

Babá Okê: Tem ligação e fundamento de Oxalá com os Orixás Oxossi e
Ossãe.

Babá Olofin: Tem ligação e fundamento de Oxalá com os Orixás Xangô e
Iansã.

Babá Olorun: Tem ligação e fundamento de Oxalá com o Orixá Ogum e o
próprio Oxalá.

Babá Oxaguiã: Tem ligação e fundamento de Oxalá com os Orixás Oxossi,
Oxum, Iansã e Obaluaiê.

Babá Oxalufã: Tem ligação e fundamento de Oxalá com os Orixás Xangô,
Ogum, Omulú e Nanã Buruquê.


    Abaixo falaremos um pouco sobre as características e fundamentos
de cada Falangeiro de Oxalá, mas antes frisaremos alguns detalhes que
se apresentam igualmente entre todos os Falangeiros desse Orixá, isso
para não ficar repetitivo dentro das colocações individuais.

    Todos os Falangeiros de Oxalá usam a roupagem branca, tendo
detalhes de outras cores dependendo da ligação e do fundamento do
Orixá que ele esteja vibrando, portanto os detalhes de cores serão
colocadas em cada Falangeiros, mas todos usam a cor branco como a cor
suprema das vestes.


    Em chegada a terreiros e roças, todos tem o mesmo modo de chegada,
independente do acompanhamento que tenham, ou seja, chegam de forma
leve, sem muitos balanços no médium, sua dança é demonstrando atenção
e proteção a todos a sua volta. Na maioria das vezes essa chegada se
faz com os braços abertos, se fechando em um abraço no próprio peito,
como se estivesse abraçando seus filhos.

    Todos esses Falangeiros tem a ligação com o Sol, demonstrando
assim que por mais complicada que possa estar a situação, em uma noite
longa e tempestuosa, o Sol sempre voltará a brilhar. Mostrando assim a
seus consulentes que nunca devem perder a esperança e a fé.

    Agora seguiremos com mais algumas informações, especificando a
cada um dos Falangeiros individualmente.

Babá Obatalá: De forma e característica jovem/madura, esse Falangeiro
tem o dom da cura de doenças, é protetor das mulheres grávidas, e
conselheiro em prol da união familiar.

    Traz nas mãos o poder de levar males físicos para longe, e sempre
trabalha para a paz, elevando a esperança dos caídos.

    Na sua roupagem tradicional traz também as cores azul claro nas
bordas, ou raiadas na parte da frente.

Babá Oduduá: De característica e forma jovem, esse Falangeiro tem um
fato que é bem diferente de todos os Falangeiros de todos os Orixás,
só incorpora em médiuns mulheres, e dentre todos os Falangeiros de
Oxalá, é o único que é visto como uma Falangeira feminina.

    Suas consultas são feitas com poucas palavras, mas muita atenção
no que o consulente está dizendo. E no finalizar de cada consulta ela
mostra o caminho, sendo bem colocado os acertos e erros da pessoa que
está se consultando.

    Também busca dentro de cada um uma possível obsessão. E caso
encontre, no mesmo momento inicia o trabalho de limpeza desse
obsediado.

    Dizem que essa Falangeira é muito polêmica, a senhora do universo,
útero da terra, mãe dos Falangeiros dessa linha.

    Em  suas roupagens, além do tradicional, podem suas vestes vir
raiadas de azul claro, azul anil, amarelo e lilás.

Babá Okê: De característica e forma jovem, esse Falangeiro tem o dom
de trabalho com as ervas, folhas, raízes e flores. Muito astuto e
sagaz, vem em trabalhos para aliviar as dores de seus consulentes
através das ervas.

    Suas consultas se abrange nesses fatos, caso um consulente chegue
com males de saúde física, mental ou espiritual, esse Falangeiro
observa cada ação e gesto para indicar as ervas ou raízes a serem
utilizadas.

    Sendo ele o senhor dos montes, normalmente leva para lá todas as
mazelas que possam perturbar seus filhos e protegidos.

    Também é nos montes, colinas e montanhas que esse Falangeiro faz
sua morada.

    Aquele que esse Falangeiro tem como protegido, recebe dele força,
poder, paz e segurança.

    Sua roupagem vem com bordas raiadas nas cores verde claro e
amarelo, claro além das vestes tradicionais.

Babá Olofin: Falangeiro de característica e forma jovem/madura, tem
como principal colocação em seus trabalhos a justiça e a vitória de
seus consulentes.

    De extremo bom senso, nunca deixa algo fora da lei espiritual
crescer dentro de seus consulentes. Tem a missão de demonstrar erros e
acertos de cada um. E assim não deixa as mazelas do egoísmo e da falta
de justiça crescerem e tomarem conta de seus protegidos.

    Em sua roupagem, além do tradicional, encontramos as cores marrom
e amarelo raiados na parte da frente, de trás e nas bordas.

Babá Olorun: De característica e forma madura, esse Falangeiro vem com
a missão de vencer todas as demandas e trazer a paz a todos seus
filhos.

    Reina a noite e no dia, sabe de tudo e sobre todos, tem uma
grandeza de justiça infinita, e é o rei de todos os Falangeiros de Pai
Oxalá.

    Sua roupagem vem com a cor vermelho e prata nas bordas,
demonstrando assim que esse Falangeiro tem uma grande ligação com o
próprio Oxalá em seus fundamentos.

Babá Oxaguiã: Falangeiro de característica e forma jovial, tem como
modo de trabalho vencer todas as mazelas, curar o corpo físico,
mental e espiritual de seus filhos, proteger os fetos em
desenvolvimento no ventre das mães e ajudar na proteção de seus
consulentes através de folhas, raízes e ervas das matas sagradas.

    Sua roupagem vem, além do tradicional, com bordas verdes claro,
azul claro e amarelo ouro.

Babá Oxalufã: Falangeiro de característica e formas bem idosa, dizem
que é o mais velho entre todos os Falangeiros de Oxalá.

    Tem como missão auxiliar na hora do desencarne de um filho,
mostrando que esse filho deverá ter o entendimento para seguir a seu
encaminhamento, sem se prender a vida terrena e, i não se deixar
envolver com possíveis cargas de obsessores que possam tentar levar
esse espírito recém desencarnado as profundezas da escuridão.

    São raras as consultas dadas por esse Falangeiro, mas sua presença
dentro de Terreiros e Roças é de tremenda importância, pois é ele que
fica com toda a responsabilidade de observar e mostrar algum
consulente mal intencionado, com cargas de obsessores, com pensamentos
de vingança, entre outras coisas.

    Seu poder maior está na junção dos raios solares com a terra e a
água, fazendo assim com que todos os males captados por ele, sejam
destruídos pelo calor intenso do Sol e enterrado sobre a terra, para
que nunca mais volte a perturbar seus protegidos, filhos e
consulentes.

    Sua roupagem, além da cor tradicional, vem composta de bordas
raiadas em marrom, vermelho, lilás ou roxo e amarelo. Traz nas mãos
uma cruz em madeira, cravejadas com búzios. Isso para fazer com que os
ataques de espíritos obsessores, como Kiumbas, Eguns e Zombeteiros,
sejam neutralizados antes mesmo de chegar ao médium incorporado.


    E aqui terminamos esse pequeno resumo que fala dos Falangeiros do
maravilhoso Pai Oxalá, o grande Pai de todos os Orixás, o senhor da
paz e da bondade. Frisando sempre que é apenas um pequeno resumo, pois
como sempre falamos, se formos falar por completo dessas Entidades tão
divinas, não teríamos espaço e tempo hábil para descrever tamanha
força e poder dessas maravilhas enviadas por Deus para nos socorrer
nas horas de aflição.


Salve Pai Oxalá!

Saravá a Falange e os Falangeiros de Oxalá!

Exê Uepe Babá.


Carlos de Ogum.


terça-feira, 10 de maio de 2016

HISTÓRIA DA CABOCLA JANAÍNA.




    História da Cabocla Janaína.

    Eu vi um peixe,
na beira d'água,
solte os cabelos Janaína,
e caia na água.

    Ela é princesa,
ela é feminina,
vamos saravar,
a Cabocla Janaína.

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    Nos primórdios tempos em que o homem branco colocou a ganância
acima de seu bom senso e partiu em massacre contra os índios, para
lhes roubarem as terras e suas riquezas, nascia uma pequena índia no
meio da floresta, e entre guerras desordenadas entre o homem branco e
índios e a beleza do reino de Pai Oxossi, vinha a esse mundo sem lei a
pequena índia Janaína.

    Seu pai, o cacique daquela tribo de índios e índias valentes, em
um grande ataque dos brancos, lutou pela sua gente até que fora
assassinado covardemente, entregando seu espírito ao Rei das
florestas, Pai Oxossi, Orixá no qual o guerreiro cacique tinha tanta
adoração.

    Sua mãe, uma guerreira de uma tribo valente, que tinha uma vida de
luta, para junto com suas amazonas guerreiras, defenderem suas terras
e sua gente custasse o que custasse, mesmo estando sobre a grande
pressão de um ataque dos homens brancos e grávida, ainda lutava. Mas
ao ver o corpo inerte de seu amado cacique, pai de sua filha, a jovem
índia guerreira desabou. E com a sua gestação já chegando ao dia
limite, ela teve que naquele momento fazer algo que dentro de si
achava impossível, fugir, deixar para trás seu povo, suas terras
sagradas, sua vida.

    Mas deveria preservar a vida de sua filha, deveria partir dali,
buscar um lugar tranquilo para quando chegar o momento do parto, ela
ficasse segura, para assim dar segurança a sua pequena menina.

    E assim foi feito, a jovem índia, com as dores do parto, com as
dores de uma perda, com as dores em seu coração dilacerado pela
maldade dos homens brancos sobre seu povo, ela partiu se embreando
pela floresta que no mesmo momento que era encantadora era
assustadora.

    Ao chegar em um certo ponto da floresta fechada, onde se ouvia
apenas o som dos ventos nas folhagens das árvores e os ruídos de
vários animais que habitavam aquele espaço, a índia, fraquejada, se
deita ao chão, pedindo aos espíritos da floresta que a ajudassem a ter
sua criança, e que conseguisse sobreviver para ver essa criança
crescer e ser uma guerreira, que lutaria em prol de seu povo.

    O parto aconteceu, após algum tempo de dores intensas, a criança
veio ao mundo. Era uma linda menina, uma indiazinha de rosto meigo e
belo. E após tantos acontecimentos, após a grande pressão de um ataque
dos homens brancos, e estando sozinha no meio da floresta, fica
encantada ao ver pela primeira vez o rosto angelical da pequena
indiazinha

    Raios de sol atravessavam as densas folhagens das árvores,
gigantescas, esses raios chegavam até a pequena menina, como parecendo
a proteger de tudo e todos.

    A índia sabia que não deveria ficar ali por muito tempo, deveria
buscar abrigo. Animais selvagens, homens brancos gananciosos, tudo
poderia acontecer. E ela em um esforço tremendo, partiu para a busca
de um abrigo.

    Com a menina nos braços, a índia caminhou por algumas léguas, até
que na saída da floresta e entre uma linda praia, seguiu até uma gruta
nas pedras que daria para o mar. E lá ela ficou, para descansar,
alimentar-se e alimentar a pequena índia.

    Alguns dias se passaram, a índia mãe já estava bem mais forte, sua
pequena estava linda. A índia mãe passava seus dias admirando sua
filha, buscando alimento para ela e sentada nas rochas observando, de
um lado a imensidão do mar, e do outro a extraordinária beleza da
floresta. Até que certo dia, a índia se encontrava de olhos fixos no
mar, sem perceber que a seu lado havia uma linda mulher envolvida em
um manto azulado. De olhos fixos também para o mar, a mulher diz em
voz meiga e serena:

"A grandeza das águas do mar, quando junta-se com a imensidão do azul
do céu, transforma-se em um grande poder, um poder que só é comparado
ao amor de uma mãe por um filho."

    Ao ouvir isso a índia deu um sobressalto, envolvendo sua pequena
menina nos braços, em um abraço de proteção.

    A bela mulher com seu manto azulado então diz:

    "Não se assuste minha filha, não lhe farei mal. Cá estou para
pedir-lhe que se afaste daquela gruta essa noite. O mal vai nela
chegar em busca de descanso, para reabilitação e assim terem forças
para novos povos massacrarem. Contudo enquanto nesse descanso
estiverem, o mar vai julgar e dar a sentença de cada um desses
assassinos. Não queria que você e sua princesa estejam lá,
principalmente nas mãos dos homens brancos, que a ganância os fizeram
seres das profundezas, e também não desejaria que estivessem na
sentença da calunga grande. Por isso peço que se afaste essa noite
dessa gruta, levando sua criança. Criança essa que eu me sentiria
imensamente feliz que tivesse o nome de Janaína."

    A índia agradeceu a proteção, obedeceu a linda mulher e partiu.

    A noite chega, do alto de um monte a índia observava a praia e a
gruta. Seus olhos estavam cansados, seu corpo fatigado pelo extenso
tempo que andara para chegar naquele ponto. Acreditava que algo ia
acontecer. Ficava tentando se lembrar de cada palavra que a mulher
lhe teria dito.

    Mas quem seria aquela mulher?
    Porque ela queria que sua menina tivesse o nome de Janaína?

    Perguntas sem respostas.

    E no meio dessa reflexão, a índia se assusta, observando vários
homens brancos, trazendo tochas acesas nas mãos, falando alto,
gargalhando, e chegando a praia, indo direto para a gruta, gruta essa
que a algum tempo atrás ela estaria se apropriando.

    Ela agradece por não está lá, agradece aos deuses das matas, e
agradece mentalmente a bela mulher de manto azul.

    A madrugada chegou, na gruta os homens já não faziam mais
barulhos, pareciam que todos dormiam. Sem que ela percebesse do local
que estava, a maré começa a subir, e quando ela deu por si, toda a
gruta estava encoberta, numa rapidez intensa, que não foi dado a menor
chance daqueles homens saírem.

    O cansaço tomou conta da índia, que adormeceu. Quando desperta o
Sol estava intenso, o céu azul, o mar lá embaixo estava tranquilo, e a
seu lado a linda mulher de manto azul.

    Ela olha para a mulher sorrindo, que lhe retribui. A mulher diz a
ela que deverá voltar a gruta, e lá deveria ficar até a sua pequena
filha começar a dar seus primeiros passos.

    A índia teme pelo novo aumento da maré, mas a mulher a tranquiliza
dizendo que não vai mais acontecer esse fato, e que a partir daquele
dia aquela gruta seria o local onde a sua pequena menina iria se
transformar em uma guerreira, e iria usar disso para salvar seu povo
da ganância dos homens brancos.

    O tempo passou, a menina cresceu, e já ensaiava seus primeiros
passos. E foi aí que a mulher novamente vem a mãe índia e diz:

    "Já é hora de partir desse lugar, essa foi a primeira gruta que
deveríamos ficar com a sua pequena guerreira. De um total de sete
devemos passar por elas até a menina completar seus 13 anos."


    E assim foi feito, a menina Janaína passou por sete grutas,
chamadas de "grutas mágicas", desde o seu nascimento até completar
seus 13 anos. Em cada uma dessas grutas ela tinha a companhia de sua
mãe, e da mulher de manto azul, que por diversas e diversas vezes, a
ensinava a magia de trazer as energias o mar e das florestas.

    A menina acabara de completar seus 13 anos, quando a bela mulher
veio até ela e disse:

    "Jovem Janaína, você está pronta para voltar e libertar seu povo.
Agora você é uma guerreira das matas. Você tem o sangue guerreiro de
seu pai da terra e de sua mãe que era uma amazona. Ambos tinham a
proteção do Orixá Ogum e do Orixá Oxossi. Essa proteção agora está
com você, mas com um teor diferente, pois hoje você tem a proteção e
os ensinamentos de Iemanjá. Você é uma guerreira diferenciada, tem o
dom de lutar e vencer, e tem o dom de dar a força e as energias do mar
e das florestas as suas guerreiras comandadas. Você hoje não é só uma
amazona guerreira, você é o caminho e a luz que todas as amazonas
guerreiras deverão seguir."

    Ela compreende, e mesmo sendo uma menina na idade terrena, já era
uma guerreira vencedora e dominadora na vida espiritual, pois ela
tinha dentro de si todas as energias dadas pelo mar e pelas matas,
afim de comandar uma legião das mais belas e lutadoras guerreiras de
todos os tempos nas florestas de Pai Oxossi.

    E assim ela se foi, junto a sua mãe para o interior da imensidão
da floresta.

    Tempo a tempo, ela se embrenhava nas matas, indo ao encontro de
novas amazonas, de várias idades e tribos, e após algumas palavras e
gestos, as guerreiras entendiam que a Cabocla Janaína era a líder que
buscavam a tanto tempo.

    Assim sendo a Cabocla Janaína formou seu exército de amazonas
guerreiras, dando um grande orgulho a sua mãe.

    E enfim chegou o grande dia, a de libertar os povos índios das
garras malditas dos homens brancos. Tudo foi preparado pela Cabocla
guerreira, toda a sua legião de amazonas aguardavam as ordens de
ataque em vários pontos da floresta, que foram tomadas pelos homens
brancos, que escravizavam os índios de uma forma cruel e covarde.

    E foi dada a ordem de ataque, cada passo dado acima do grandioso
número de brancos era uma vitória para a Cabocla Janaína.

    Aquela guerreira de grito poderoso, de ações intensas e certeiras,
de demonstração de força, não parecia ter a pouca idade que tinha. Era
uma águia atacando suas presas, um leão que dominava todo seu bando,
sua força contagiava todo o grupo de lutadoras, fazendo assim com que
fosse quase impossível de dominá-las.

    Mas os homens brancos quando são tomados pela ganância não tem
limites, em uma junção de centenas de homens dispostos a matar ou
morrer pelas riquezas da terras indígenas, e claro continuar
escravizando os índios, se fecharam em cerco , fazendo assim com que
um grupo de amazonas que estaria um pouco distante da maioria delas
fossem cercadas. Com um sorriso sarcástico no rosto, o líder dos
homens brancos, manda seus comparsas eliminar todas que ali estavam.
Diante disso, ao observar a cena, a guerreira Janaína se coloca na
frente do grupo de guerreiras, e se utilizando dos ensinamentos de sua
protetora Iemanjá, busca um campo de energia do mar, da floresta e das
sete grutas, fazendo assim uma grande camada de energia que protege
todas as guerreiras das centenas de armas de fogo que foram usadas
contra elas.

    O líder dos homens brancos fica apavorado ao ver aquele feito, com
um grande receio, acreditando em uma possível magia vinda dos
espíritos da floresta, ele bate em retirada, junto com toda sua tropa
de assassinos e ladrões.

    As amazonas venceram, com a liderança e toda a sabedoria da
Cabocla Janaína, e todas festejaram essa grande vitória.

    Nos festejos e nas junção das tribos, diante de uma grande
fogueira, onde se encontrava a Cabocla Janaína, a sua mãe e alguns
caciques de tribos vizinhas, poderiam ser visto por todos as lindas
imagens de Pai Oxossi, senhor das matas, de Pai Ogum, senhor da guerra
e paz e da linda Iemanjá, protetora das amazonas, e claro da linda
Cabocla Janaína.


    Hoje essa linda Cabocla guerreira trabalha em prol da caridade nos
Terreiros de Umbanda, trazendo paz, justiça, vitórias, quebrando
magias e usando a energia dos mares, das florestas e das sete grutas
para proteção de seus filhos e consulentes.

Saravá a Cabocla Janaína!

Okê Cabocla linda e guerreira!

Carlos de Ogum.