domingo, 7 de fevereiro de 2021

A HIERARQUIA NA UMBANDA

 


    Como já sabemos a religião de Umbanda prega as leis da caridade, do amor, da dedicação, do auxilio ao próximo, assim como Jesus determinou, e além dessas leis, a Umbanda também prega que deve ser respeitado acima de qualquer dogma, de qualquer casa, ou de qualquer opinião de líderes religiosos, o nosso livre arbítrio.

    Sendo assim quando somos de uma casa de Umbanda devemos colocar em nossa mente que o nosso livre arbítrio é a parte mais importante para nós mesmos para seguirmos um caminho espiritualista, da mesma forma que devemos fazer em nosso dia a dia.

    Só assim temos a capacidade moral, pessoal, psicológica e principalmente espiritual de seguirmos o caminho determinado a nós mesmos, sem ter desculpas, engrandecer ou culpar nossos semelhantes por fatos que podem ser certos ou errados nessa nossa caminhada rumo a nossa evolução espiritual.

    Sendo explicado esse ponto do livre arbítrio na visão da religião umbandista, podemos ficar com algumas perguntas em nossa mente.

    Por que então que uma religião que prega respeitar o livre arbítrio tem junto a seus filhos a divisão da hierarquia?

    Por que colocarmos uma nomenclatura para demonstrar graus nessa hierarquia diferenciando um filho da casa de outro filho, sendo que todos estão ali por seu livre arbítrio, e com as mesmas intenções de caridade a seu próximo?

    Será que essa hierarquia não trará certo grau de militarismo para dentro do terreiro, onde o mais graduado inibe o livre arbítrio do menos graduado?

    As respostas podem ser várias, porém essa possível inibição do livre arbítrio de um filho de um terreiro de Umbanda feito por outro que tenha uma hierarquia maior dentro da casa, também é um livre arbítrio, o livre arbítrio da compreensão de que essa hierarquia é apenas para dividir as tarefas e as responsabilidades dos filhos dentro do terreiro, além de demonstrar o que é desejado pelo responsável, pelo Mentor e pelas as Entidades daquela casa, para o filho em questão.

    Portanto essa hierarquia deve ser conduzida por uma Entidade de Luz da casa, sendo ela Mentora ou não, para que assim os vícios de sentimentos humanos não tragam constrangimentos ao filho que tenha um grau hierárquico menor, fazendo com que um filho que não esteja preparado espiritualmente e psicologicamente, receber a função de ter um poder hierárquico maior, e abusar dessa confiança nele colocada.

    Sendo assim, quando se é dividido hierarquicamente responsabilidades do terreiro dentre os filhos da casa, as Entidades de Luz sabem exatamente quem as merece, quem está preparado para recebê-las, quem é digno, quem utilizará esse poder hierárquico para trazer luz para a casa e para os médiuns dessa casa, além de ter um desenvolvimento mediúnico e espiritual compatível com seu lugar dentro dessa hierarquia.

 

    Abaixo colocarei algumas nomenclaturas que seguem a hierarquia dentro da Umbanda, sendo que algumas dessas vem do Candomblé, e uma boa parte de médiuns de Umbanda nunca ouviram falar, porém em alguns terreiros esses termos são utilizados para diferenciar os médiuns e suas responsabilidades.

    Estaremos colocando as hierarquias de uma forma crescente, ou seja, da menor para a maior, dentro do tempo de terreiro, da responsabilidade de cada um, do grau de desenvolvimento mediúnico e espiritual de cada um e dentro das recomendações dadas pelas Entidades de Luz e os Mentores da casa.

 

- ABIÃ: Também chamado em algumas casas de Noviço ou Noviça, essas nomenclaturas são dadas para aquelas pessoas que iniciam frequentando o terreiro primeiramente como assistente, e tem na maioria das vezes o desejo de ingressar na religião de Umbanda, pode ser dado essa nomenclatura tanto para os filhos, quanto para as filhas que estão com intenção de fazerem parte da casa.

    Essas pessoas frequentam regularmente as Giras e sessões, e elas não são iniciadas dentro do terreiro ainda, normalmente vem como consulentes por algum motivo particular se interessam em demasia pela religião, se tornam fiéis e dessa maneira viram assistentes, porém sem serem iniciados na religião e nem no terreiro.

    Os filhos que levam a nomenclatura de Abiã tem como responsabilidade pequenas tarefas no terreiro

- COTA: Seria a mesma coisa que Abiã ou Noviça, porém apenas as mulheres recebem esse nome em alguns terreiros. Assim como o Abiã as suas responsabilidades são pequenas tarefas determinadas pela Yalorixá ou pelo Babalorixá da casa. Elas também não são iniciadas na religião, e são vistas como assistentes.

- CAMBONO: Apesar de estar em uma condição hierárquica menor, o Cambono ou Cambone, é um personagem muito importante dentro de qualquer terreiro de Umbanda, ele é um grande ajudante anônimo dentro de todas as Giras, tem várias responsabilidades, mesmo que essas sejam mais modestas, um trabalhador sem igual, em que as Entidades de Luz podem confiar em sua descrição junto a qualquer consulta feita. Ele pode ser tanto do sexo feminino quanto masculino, e em muitas vezes uma Entidade de Luz só permite que o mesmo Cambono trabalhe junto a ela, pois tem afinidade e confiança extrema nesse nobre personagem.

    Lembrando que a maioria dos Cambonos ao fazerem sua iniciação deixam de ser Cambonos.

 

- YAÔ: São os filhos ou filhas de santo, pessoas iniciadas na religião de Umbanda, e tem o propósito de se manter dentro do terreiro para aprendizagem, trabalhos e auxílios nas Giras da casa. Esses podem ser considerados os verdadeiros e únicos filhos e filhas de santo.

    Poderá esse filho ou filha, dentro da determinação das Entidades de Luz, dentro do livre arbítrio desse filho ou filha, dentro das regras do terreiro em questão e dentro das leis umbandistas, quem poderá tomar conta desse terreiro futuramente ou fundar o seu próprio.

- YABACÊ: Ela é responsável pela preparação das comidas ritualísticas do terreiro, conhecida também como "cozinheira de santo", porém são pouquíssimos os terreiros que tem essa função em destaque, pelo modo diferenciado de oferendas feitas na Umbanda.

- YATABEXÊ: Na maioria dos terreiros esse nome é desconhecido, pois chamam essa função de Ogã, e ele é o solista da casa, tem a responsabilidade de cantar para todas as Entidades de Luz que se apresentam no terreiro naquele Xirê (cerimônia). E essa apresentação deve ser feita juntamente com os Ogãs Alabês.

- OGÃ ALABÊ: Eles são os responsáveis pelo toque nos atabaques, auxiliam nas cantigas, e firmam a corimba para as vibrações necessárias para as incorporações nos médiuns desenvolvidos para receberem as Entidades de luz.

- DAGÃ: É a filha com maior tempo nas obrigações do terreiro, é que auxilia e ensina os filhos mais novos todas as obrigações, regras e leis do terreiro segundo as determinações das Entidades de Luz, do Babalorixá ou Yalorixá. Tem como uma das responsabilidades principais o firmamento da Tronqueira quando assim é determinada pelos responsáveis do terreiro, também pode auxiliar nas cantigas solistas, na defumação, no cruzamento da casa, além de supervisionar os trabalhos de Cambonos.

    A Dagã só receberá esse título após completar 7 anos de aprendizagem dos conceitos umbandistas e das regras gerais da casa e da Umbanda, e isso se for determinado pelas Entidades de Luz e com o aval do Babalorixá ou Yalorixá.

    Quando se tem Giras de linha de esquerda anteriores do da direita, a Dagã também tem a função de solicitar a partida dos Exús antes do próximo culto, para que assim se possa dar andamento aos trabalhos.

- EBÂMI ou EBAMÍ: É o filho com maior tempo nas obrigações do terreiro, tendo as mesmas funções e obrigações da Dagã, inclusive a solicitação da partida de Exú quando se está se findando uma Gira de Esquerda e iniciando uma de direita.

    Uma observação importante é que o Ebâmi ou Ebamí é o mesmo nível da Dagã, a diferença é que Ebâmi ou Ebamí é nomenclatura para o sexo masculino e Dagã é para o sexo feminino.

- APETEBI: Mulher que obrigatoriamente deverá ter Oxum como Mãe e regente de sua Coroa, preparada após 7 anos de terreiro para ser a única mulher que poderá jogar os Búzios. Em terreiros de Umbanda a Apetebi é uma raridade, normalmente só os homens tem a função de abrir o Ifá.

- YAKEKERÊ: Na maioria dos terreiros de Umbanda a Yakekerê é chamada de "Mãe Pequena", porém a Mãe Pequena é uma função determinada pela Yalorixá ou pelo Babalorixá, enquanto a Yakekerê vem por determinação direta das Entidades de Luz, e essa é preparada dentro da aprendizagem das leis e regras tanto do terreiro quanto os da Umbanda. Ela, a Yakekerê após 21 anos de trabalhos no terreiro pode se tornar uma Yalorixá, pois ela é a substituta direta da chefe do terreiro.

    A filha que tem por determinação de se intitular Yakekerê tem a possibilidade do aceite ou não, porém ao aceitar essa função ela deverá entender que se tornará o braço direito da Yalorixá ou mesmo do Babalorixá, caso a casa não tenha um Babakekerê.

    A Yakekerê poderá abrir trabalhos, firmar Giras, fazer assentamentos, firmamentos, e se caso necessário ficar no lugar da Yalorixá ou do Babalorixá, na chefia da Gira, dentre abertura até o fechamento.

- BABAKEKERÊ: Conhecido na maioria dos terreiros de Umbanda como "Pai Pequeno", e da mesma forma que a Mãe Pequena, ele tem essa função determinada pelo Babalorixá ou pela Yalorixá, e o Babakekerê vem por determinação das Entidades de Luz.

    Assim como a Yakekerê, o Babakekerê também poderá se tornar um Babalorixá após seus 21 anos dentro da aprendizagem no terreiro.

    Portanto tanto o Babakekerê quanto a Yakekerê tem o mesmo nível dentro do terreiro, sendo quase a mesma coisa, a diferença está que o Babakekerê é uma nomenclatura para as pessoas de gênero masculino e a Yakekerê são para as pessoas de gênero feminino, e outra diferença é que o Babakekerê tem a possibilidade de conduzir o Ifá, ou seja, o jogo de Búzios.

- YALORIXÁ: Na maioria dos terreiros é conhecida também como "Mãe de Santo", é a maior autoridade feminina dentro de um terreiro de Umbanda. Responsável pelos trabalhos espirituais, pelo desenvolvimento mediúnico e espiritual dos filhos, aberturas e fechamentos de Giras, pelos trabalhos administrativos de uma casa.

- BABALORIXÁ: Conhecido na maioria dos terreiros como "Pai de Santo", ele é a segunda maior autoridade encarnada dentro da Umbanda, exerce toda e qualquer função dentro do terreiro, deverá ser respeitado como líder da casa, grande conhecedor de trabalhos espirituais, tem todas as possibilidades de determinar níveis hierárquicos a todos os filhos do terreiro, grande conhecedor do desenvolvimento mediúnico, espiritual ou pessoal, de todos os frequentadores das Correntes e Giras, tem a sabedoria espiritual para conduzir os Ogãs, solistas, Cambonos, Ebâmis, Dagãs, entre outros.

    Está preparado para verificação de Pontos Riscados de todas as Entidades, determinar os erros e acertos desse ponto para ver a preparação do médium, fazer todo e qualquer tipo de firmamento, assentamento, descarregos, desobsessões, entre outros tipos de trabalhos especiais possíveis no terreiro.

    O Babalorixá pode fazer batizados, casamentos, extremunções, tanto dentro do terreiro quanto fora dele, além de poder abrir o um jogo de Búzios, pois ele é um grande conhecedor do Ifá.

- BABALAÔ: É o Babalorixá após 21 anos de feitura, a maior autoridade encarnada dentro da Umbanda, o grande conhecedor de todas as regras, leis, atos, ações, ensinamentos, assentamentos, firmamentos, o grande desvendador de todas as dúvidas de todos os filhos de Umbanda, o que deverá ter todas as respostas a qualquer pergunta ou questionamento espiritual.

    Grande conhecedor de todas e quaisquer funções da Umbanda, ele está preparado para qualquer situação espiritual, desde um simples passe (mesmo não estando incorporado), até uma busca de espíritos perdidos nas profundezas da Quimbanda (eterna desavença da Umbanda) caso necessário.

    Tem o Ifá como seu companheiro aliado, e dentre a busca de respostas para as questões das mais simples até as mais complexas, tem a possibilidade de ter essas respostas nas leituras de velas, na chama de fogueira, na brasa do carvão, na água, na borra da terra, entre outras diversas maneiras, cada uma dessas maneiras dentro do grau e tipo de mediunidade do Babalaô.

    O Babalaô como já dito anteriormente recebe essa nomenclatura após 21 anos de preparo como Babalorixá, e ele não tem a possibilidade do não aceite ao cargo e a função, assim como outros níveis hierárquicos dentro da Umbanda, pois essa determinação é feita exclusivamente pelas Entidades de Luz, pelos Falangeiros, por todas as linhas de trabalho umbandista e pelos Orixás, portanto quando se é determinado que um filho será Babalaô, essa determinação ultrapassa até o livre arbítrio, fato que é extremamente respeitado pela Umbanda.

    O Babalaô é o mais conhecedor de toda a religião umbandista, e após receber esse título deverá se entregar ao sacerdotismo de uma forma profunda e completa, isso porque são extremamente raros os verdadeiros Babalaôs.

    Dentro da Umbanda, quando um Babalorixá ou uma Yalorixá tiverem algum tipo de dúvida, desejarem fazer um Yaô, ou algum tipo de trabalho que esteja fora do alcance desse Babalorixá ou Yalorixá, eles recorrem ao Babalaô, mesmo sendo esse Babalaô de outro terreiro ou linha.

 

    E assim se finda as principais formas de hierarquia dentro da Umbanda, lembrando que nem todos os terreiros seguem esses preceitos, porém deveriam, para que assim as tradições umbandistas não se percam, e não fossem abertas tantas casas se dizendo umbandistas, com preceitos, atos, ações e ensinamentos fora das regras e leis da nossa sagrada Umbanda.

 

Carlos de Ogum 

 

Para quem deseja saber seus Orixás através do Ifá, entre em contato com o seguinte endereço de E-mail:

contato.umbandayorima@gmail.com

Por esse endereço de E-mail passaremos o que se faz necessário para todas as imantações e o Jogo de Búzios propriamente dito.