sábado, 30 de agosto de 2014 42 comentários

A Importância dos Cambonos na Umbanda



    A quem já acompanhou alguma Gira de Umbanda por esse imenso Brasil,
com toda certeza já observou um personagem no qual é chamado de
"Cambono" ou "Cambones".

    Esse personagem de intensa destreza e sabedoria dentro dos Terreiros
é algo que não pode faltar, aliás sem ele era quase impossível de
termos Giras tão eficientes.

    Mas, quem é esse personagem?

    Cambono ou Cambones é o auxiliar de Médiuns de Incorporação e o
Servidor dos Orixás. O cambono é o médium que teve o necessário
desenvolvimento para poder auxiliar e entender os Guias nas necessidades
das sessões.

    É uma atividade exercida nos terreiros de Umbanda e que merece uma
atenção especial dada a sua importância como auxiliar das Entidades de
Luz, dos médiuns e dos dirigentes do Terreiro.

    Sendo auxiliar das Entidades de Luz, cabe ao cambono ser o
interpretador das mensagens entre a Entidade e o consulente, além de um
defensor da Entidade e da integridade física do médium. Cabe a ele cuidar do material da Entidade, orientar o que acontece em sua volta e também ajudar o entendimento do consulente, pois a linguagem do espírito nem sempre é entendida, mas ao cambono fica claro já pela sua intimidade com o comportamento do espírito que ele serve.

    Mas nem sempre a posição do cambono é confortável, pois algumas vezes cabe a ele fiscalizar também o comportamento do Médium, que podendo não estar bem no dia, por uma razão ou outra, fugir da normalidade deve imediatamente avisar a direção do terreiro. O limite da intimidade do consulente com o espírito ou o médium deve ser fiscalizado pelo cambono para evitar mal entendidos e desajustes de informações.

    Finalmente ao cambono é dada uma oportunidade especial de conhecer mais a Umbanda e a forma das Entidades trabalharem porque seu contato é direto. Como o cambono tem como obrigação ouvir o que o espírito ouve e fala, seu conhecimento, em cada consulta, aumenta consideravelmente.

     Então resumindo, Cambonagem ou cambonar é uma das principais e mais complexas funções na Umbanda. No trabalho de cambonagem o cambono acaba por receber influências diversas de vibrações dos médiuns e consulentes, alem disso o cambono acaba por aprender a diferenciar as Entidades, o que usam como: fumo, bebidas, a própria fala, a incorporação, desincorporação, o que manipulam para auxiliar a consulta, os materiais de trabalho da Entidade de Luz.

Os Cambonos acabam aprendendo sobre a importância do sigilo, pois o que é ouvido durante uma consulta, não pode e nem deve ser passado adiante, sendo assim como se fosse um sigilo profissional, tendo que ser respeitada esse silêncio, independente do qual for o assunto tratado com a Entidade de Luz e
seu consulente, dentro dos termos da espiritualidade e as regras da casa.

    E em se tratando do lado espiritual podemos falar em sigilo espiritual. O cambono é como se fosse uma espécie de orientador, ou seja, que orienta o consulente na hora da consulta, no fato de deixá-lo à vontade para expor seus problemas e suas duvidas. Mais deixando claro que tudo tem que haver respeito, que não se pode brincar, conversar durante uma sessão, pois acaba por atrapalhar a sessão e até mesmo as próprias Entidades. Sem falar que os cambonos precisam ter respeito com os médiuns e as Entidades, cuidando de tudo quanto for necessário para o bom trabalho de caridade a ser feito.

    Uma das mais importantes coisas que está presente nas funções de um Cambono é ficar atento as mensagens ou recados para os consulentes, na qual se tem que ter atenção redobrada para ouvir, traduzir, se preciso for, e explicar, não dando opinião mais explicando o que foi passado pela Entidade de Luz. E o mais importante estar sempre atento a tudo e a todos, estar de coração e mente aberta para servir, ter respeito ao próximo, responsabilidade, comprometimento, amor pelo o que vai fazer. Em resumo cambonar é servir com amor, dedicação e humildade. Compromisso feito com Amor Humildade e Sabedoria Ato Construído com Atenção e Responsabilidade.


Abaixo vamos expor resumidamente para entendimento algumas das funções de um Cambono preparado para assumir seu trabalho dentro de um terreiro.

- Auxiliar a Entidade de Luz e ao médium dentro das normas da espiritualidade e regras da casa na qual são filhos.

- Colaborar materialmente e espiritualmente com o médium e com a Entidade de Luz, antes, durante e depois do trabalho de caridade.

- Orientar os consulentes quando não for entendido por ele o que foi determinado pela Entidade de Luz, como por exemplo algum banho, entregas, novas consultas, vibrações e o que for necessário.

- Prestar extrema atenção na consulta, para não ser infringida nenhuma regra ou regulamento da casa, e notando alguma anormalidade deve ser comunicado ao Chefe de Cambonos ou ao Pai Pequeno ou Mãe Pequena do Terreiro, e, conforme o caso, o Pai de Santo.

- Deve apresentar honestidade e sigilo absoluto, não devendo nunca contar a ninguém o teor das consultas.

- Não pode incorporar quando está atendendo a uma Entidade, exceto quando autorizado pela Entidade a quem estiver servindo, ou se essa Entidade o trouxer junto ao consulente para um provável descarrego. Mas tudo isso com a autorização prévia da Entidade incorporada no
momento.


          Funções do Cambono antes e durante os trabalhos:

- Levar todo material da Entidade para seu respectivo lugar no terreiro (Como por exemplo: pemba, velas, ponteiros, bebida, fósforo, tabua, charutos, palheiros, cigarros, ervas, e eventuais outros materiais).

- Servir a Entidade em tudo que ela precisar dentro das regras da Umbanda e da casa.

- Não deixar de ouvir, mesmo que por solicitação do consulente, as consultas feitas às Entidades e as respostas por elas dadas. Em caso de determinação da Entidade para se afastar durante uma consulta, avisar imediatamente o Pai de Santo ou a Entidade que nele estiver incorporada.

- Durante a vibração, ficar atento à Entidade e ao trabalho que ela realiza, sem contudo ser necessário ficar ao lado da Entidade, a não ser que a mesma solicite.

- Conversar com a Entidade quanto ao número de consultas e o tempo disponível.


            As Funções dos Cambonos após os atendimentos:

Sempre conversar com a Entidade, pedindo orientações quanto ao destino das sobras de materiais utilizados.

- Levantar o ponto riscado da seguinte forma: Retirar ponteiros (caso houver), assim também com as velas e outros materiais do ponto, e jogar cachaça sobre o ponto riscado, em forma de cruz, e com as mãos, apagar o ponto riscado. Depois pode retirar do local e limpar na torneira da pia com água.

- Guardar e recolher o material, deixando o local limpo.


Algumas orientações gerais:

- Ao se locomover pelo ambiente onde está sendo firmado trabalhos de corrente, dando passes magnéticos ou consultas entre Entidade e consulente, não atravessar na frente ou ficar costurando passagens entre as firmezas. Evite bater em médiuns, derrubando velas, pisando em pontos.

- Ao afastar-se da função, seja por um período ou não, auxiliar o novo Cambono, passando orientações a respeito do trabalho com as Entidades.

- Não aproveitar-se da função para fazer consultas em nome de parentes, amigos, sobrecarregando o trabalho das Entidades. Desejando falar algo particular aguarde o momento final, e peça a autorização do Pai de Santo ou da própria Entidade.

- Qualquer dificuldade em orientar os consulentes, pedir auxilio ao Pai ou Mãe Pequenos ou mesmo ao Pai de Santo, não tente resolver um problema que não faz parte da ossada de sua função.

- Não atrapalhar o encerramento dos trabalhos levantando o ponto ou guardando os materiais.

- Durante a abertura e encerramento dos trabalhos, todos devem estar na corrente.

- Não ficar com conversas fora dos trabalhos com a assistência, não se deve ´parar os trabalhos nem a concentração para cumprimentar algum consulente, mesmo que seja amigo de longas datas, quando esse chega ou se retira do terreiro, afinal estamos ali em uma missão religiosa não numa festa de confraternização.


    Muitos médiuns acham que o Cambono é algo inferior dentro de um terreiro, que seu trabalho pode ser substituído por qualquer pessoa. Pois não é, o Cambono é extremamente necessário para o bom caminhar de toda uma Gira. Basta dizermos que por muitas das vezes uma Entidade de Luz entrega toda a confiança a seu Cambono, falando-lhe e ensinando-lhe milhares de coisas, que um médium um tanto mais distante dos afazeres dentro de um terreiro nunca aprenderia se não passasse por um bom tempo como Cambono.

Portanto o trabalho do Cambono é tão importante quanto ao do médium e Entidade.

    A responsabilidade mediúnica do cambono é tão importante quanto a de qualquer outro médium.

    O médium que camboneia, não atrapalha seu desenvolvimento. A experiência como cambono lhe é importantíssima no aprendizado.


    Então que nosso Pai Oxalá, todos nossos Orixás e nossas Entidades de Luz abençoem e protejam todos nossos Cambonos, para que assim possamos seguir tranquilamente com nossas Giras para que possamos ser abençoados também.

Um Salve especial a todos os Cambonos de nossa amada Umbanda de Luz.

Carlos de Ogum

quinta-feira, 14 de agosto de 2014 150 comentários

ENTENDENDO O QUE SÃO PONTOS RISCADOS NA UMBANDA.

  Entendendo o Que São Pontos Riscados na Umbanda.


    A Umbanda tem muitas coisas que pode nos passar despercebidas, mas
que tem extrema importância para o ritual tão maravilhoso voltado a
caridade dessa religião divina.

    E uma dessas coisas são os Pontos Riscados.

    Mas o que seriam Pontos Riscados, quais os seus significados, qual
a sua representação?

    Abaixo vamos colocar resumidamente um pouco dessa demonstração de
várias coisas para todos os Umbandistas.


    Pensando da forma do ser humano, do ser físico poderemos colocar
da seguinte forma:

    Uma pessoa tem identificações no caminhar de sua vida,
identificações documentadas que representam o ser alguém.

    Como poderemos usar como exemplo, o nascimento de uma pessoa, logo
teremos a sua primeira identificação documentada, que seria a sua
certidão de nascimento, e a partir dai teremos, carteiras de
estudante, carteira de motorista, certidão de casamento, carteira de
identidade (RG), CPF entre outras identificações da pessoa, e assim
quando chegarmos em um local que não somos reconhecidos fisicamente,
apresentamos nossa documentação para que possamos ser vistos como o
ser eu, e não sermos confundidos com um outro alguém.

    Bem, isso na Umbanda, dentro de uma gira, na chegada de uma
Entidade de Luz, estando incorporada em um médium, a Entidade faz com
que ela seja reconhecida, e para isso usa-se o Ponto Riscado, que a
grosso modo é a identificação da Entidade de Luz para seus
consulentes. Para assim ser demonstrado que quem está ali é realmente
uma Entidade de Luz e não um Espirito sem luz tentando enganar o
consulente e o próprio médium.

    Esses Pontos Riscados são constituídos de riscos e símbolos
gráficos, e as Entidades de Luz se servem deles para tal
identificação.

    Eles normalmente são traçados ou riscados em tábuas ou no próprio
chão. Essas ditas tábuas podem ser de madeira ou até mesmo em
mármore, e são feitos com uma espécie de giz, que na Umbanda se da o
nome de Pemba.

    Essas pembas podem ser de várias cores, e a Entidade usa a cor
determinante a linha que trabalha e ao Orixá que a rege.

    Essas Entidades se utilizam de símbolos como: Sóis, Estrelas,
Luas, Flechas, Arcos, Lanças, Triângulos, Folhas, Raios, Ondas, Cruzes
entre outros.

    Pode não parecer, mas os Pontos Riscados são os instrumentos dos
mais poderosos dentro da Umbanda, pois uma vez sem ele, nada se
poderia ser feito com segurança, uma vez que é com a Pemba que se tem
o poder de fechar, trancar e abrir os terreiros conforme seja a
exigência determinada do trabalho que será praticado.

    É também através do Ponto Riscado que uma determinada Entidade de
Luz demonstra a sua graduação hierárquica, na qual também mostra toda
a Falange de trabalhadores, que a suas ordens trabalham em prol a
caridade e auxilio num trabalho que foi determinado ou pedido por
alguém que necessita de uma ajuda espiritual.

    Os Pontos Riscados nos demonstram, se a Entidade é um Preto Velho,
um Caboclo, um Exú ou qual for a Entidade presente, essa demonstração
nos é dada através da grafia, dos símbolos utilizados, e ainda ´por
esse meio poderemos identificar qual seria o Caboclo, ou o Preto Velho
ou qualquer Entidade de Luz manifestada no médium.

    Os Pontos Riscados são extensos códigos registrados, firmados e
sediados no plano espiritual, e cada um deles tem sua função
específica.

    Normalmente somente os Pais de Santos, realmente preparados, ou a
Entidade firmada que sabem identificar com certeza e segurança, qual a
Entidade de Luz riscou o ponto, da mesma forma em dizer com segurança
qual Falangeiro de Orixá está na incorporação no momento a trabalho da
caridade.

    Através do Ponto Riscado se pode dizer e confirmar a identificação
da Falange da Entidade, também seus poderes e suas atividades.

    Cada linha e traço tem seu significado e muita importância no
Ponto Riscado pela Entidade, portanto não se pode ser riscado por
alguém  não preparado, sem conhecimento devido, ou por alguém que não
seja a Entidade de Luz atuante. Caso não for dessa forma, o que será
feito não passará de apenas riscos e rabiscos, sem a menor
importância para as regras da Religião de Umbanda, a segurança de
suas Giras, e a demonstração de suas Entidades.

    Conforme dito acima, os Pontos Riscados são traçados pelas Pembas,
e essas Pembas são uma espécie de giz, elas são confeccionadas com
calcário, ela tem uma forma cônica arredondada e diversas cores.

    A Pemba é dita dentro da Umbanda que é um elemento puro, e ´por
essa pureza é um dos poucos elementos que pode tocar na cabeça do
médium, sendo ela utilizada para as lavagens de cabeça, assim como
também em banhos de descarrego entre outras coisas.



    Abaixo vamos deixar alguns exemplos de Pontos ou Representações
dos Orixás na Umbanda.


- OXALÁ: Tudo que representa a presença de Luz. (Sol, por exemplo).

- OGUM: A espada, a lança, a bandeira usada pelos cavaleiros, vários
instrumentos de combate.

- XANGÔ: O machado.

- OXUM: A lua, o coração, etc.

- IANSÃ: A taça e o raio.

- Ibeijada: Carrinhos, pirulitos, brinquedos em geral, bonecos e
palhaços, etc.

- IEMANJÁ: A estrela, a âncora, as ondas, etc.

- OXOSSI: A flecha e o arco.

- NANÃ: O Íbíri (um feixe de ramos de folha de palmeira com a ponta
curvada e enfeitado com búzios) ou chave.

- OBALUAIÊ/Omulú: O cruzeiro das almas.



    Também temos outros significados dos Pontos Riscados, assim como
descrevo abaixo:

- Um Ponto: o Ser Supremo, a origem.

- Uma Linha Reta: o Mundo Material.

- Duas Linhas Retas: o Princípio de tudo , o Masculino e o Feminino.

- Uma Linha Curva: a Polaridade.

- Dois Traços Curvos: as duas polaridades - positiva e negativa.

- Um Triângulo de Lados Iguais: a Força Divina - Pai, Filho e Espírito
Santo - Santíssima Trindade.

- Dois Triângulos (Hexagrama): Estrela de seis pontas - todas as
Forças do Espaço.

- Um Quadrado: os 4 elementos (Água, Terra, Fogo e Ar).

- Um Pentagrama: a Estrela de Davi e o Signo de Salomão - a Linha do
Oriente, Oxalá, a Luz de Deus.

- Três estrelas: também podem representar os Velhos e as Almas.

- Círculo: o Universo, a Perfeição.

- Um Círculo com Dois Diâmetros Entre Si: o Plano Divino, o
Quaternário Espiritual.

- Círculos Menores e Semicírculos: as fases da lua (símbolo de
Iemanjá), forças de luz, inclui Iansã.

- Círculo com Estrias Externas: o sol (símbolo de Oxalá).

- Espiral - para fora: indica chamamento de força, retirando demanda
ou irradiação de Boiadeiro.

Seta Reta ou Curva e Bodoque: - irradiação de Oxossi (caboclo).

- Balança, Machado ou Nuvem: símbolos de Xangô e do Oriente.

- Raio (condições atmosféricas): símbolo de Iansã.

- Espada Curva reta ou inclinada: símbolo de Ogum.
Também é símbolo de Ogum a Bandeira Branca com Cruz Grega Vermelha .

- Flor ou Coração: símbolos de Oxum.

- Coração com uma Cruz no Interior: símbolo de Nanã.
Também é símbolo de Nanã os Traços Pequenos na Vertical (chuva).

- Folhas ou Plantas: símbolos de Oxossi ou Pretos velhos.

- Tridentes: símbolos para Exú e Pombo Gira. Se utilizam garfos curvos
para a Calunga, e garfos retos para a Rua, (Pode haver ou não
caveira). Também se utiliza para diferenciar entre o masculino do
feminino da seguinte forma, tridentes curvos para determinação do
feminino e retos para o masculino.

- Cruz Latina Branca: Cruz de Oxalá.

- Cruz Grega Negra com pedestal: símbolo de Omulú.

- Arco-íris: símbolo de Oxumaré.

- Estrela Branca (Oriente): Luz dos espíritos.

- Estrela Guia (com cauda): símbolo da capacidade de acompanhamento
(Oriente).

- Um Oito Deitado (Lemniscata): símbolo do Infinito.

- Cordão com Nó ou um Pano: símbolo das crianças.

- Conchas do Mar: símbolo das crianças na irradiação de Iemanjá, ,
Oxum e Nanã.

- Águas Embaixo do Ponto: símbolo de Iemanjá (mar).

- Pequenos Traços de água: símbolo de Oxum.

- Traço ou Linha Curva com Círculo nas Pontas: símbolo de força, e
descarregos.

- Rosa dos Ventos: chamada de força ou descarrego.

- Palmeiras ou Coqueiros: força dos Velhos ou Baianos.

- Traço com Três Semicírculos nas Pontas: descarrego e força  a
necessitados

Traço com uma entrada e duas saídas (como uma letra Y): Símbolo de
Preto Velho, provavelmente um mentor da coroa de um médium,
demonstrando que caminhos tem opções para a evolução.


    Esses exemplos não devem ser levados a uma determinação de que
tenhamos o entendimento concreto em relação as identificações,
avisos, falangeiros, linha ou trabalho de uma determinada Entidade de
Luz, isso deve ser feito apenas por pessoas preparadas, no caso um Pai
de Santo, ou pelas próprias Entidades de Luz. Esses exemplos dados
acima foi um pequeno estudo, e nesse caso só serve apenas para
ilustrar nosso texto, não sendo assim determinante para que ninguém
que não seja qualificado e preparado fique tentando decifrar os
"códigos" dos Pontos Riscados de nossas queridas Entidades de Luz.

    A melhor coisa a se fazer quando estamos curiosos sobre um
determinado traço ou símbolo de um Ponto Riscado, não é tentar
adivinhações, e sim indagar com a Entidade em questão o significado de
que ela está querendo nos demonstrar.


    Só gostaria de deixar bem frisado para finalizar que é através do
ponto riscado que os guias contam toda sua história, sua origem e
passagem do mundo material e astral.

    Uma das grandes provas de incorporação na Umbanda é o ponto riscado,
com toda a certeza  que se um médium não estiver realmente bem
incorporado ele não saberá riscar o ponto que identificaria com
segurança a origem, o nome, a linha e tudo mais relacionado a Entidade
que esse médium estava disposto a demonstrar a seus consulentes.

    Portanto a honestidade é essencial num trabalho de caridade dentro
da Religião de Umbanda, na demonstração dos Pontos Riscados, para que
assim as pessoas que estão em busca de ajuda não sofram nas mãos de
espíritos sem luz, que possam estar tentando se passar por uma
Entidade de Luz, ou mesmo o médium não passe vergonha em meio a seus
companheiros, caso o Pai de Santo seja bem preparado, e venha anunciar
que o médium em questão está apenas fazendo riscos e rabiscos sem
noção e sem nexo, não deixando que a Entidade de Luz se aproxime e
descreva, através de seu Ponto Riscado, quem ela é, de qual linha
pertence, e todas as outras informações ´preciosas que o Ponto Riscado
possa nos fornecer.

    Então vamos ser honestos com nossas Entidades de Luz, com nossos
consulentes, com nossa Umbanda Sagrada e principalmente conosco.

    Saravá Umbanda, salve todos os Pontos Riscados.

Carlos de Ogum.













terça-feira, 5 de agosto de 2014 87 comentários

A HISTÓRIA DE PAI ANTERO.











    A História de Pai Antero.

Saravá o Pai Antero!

"Pedi licença Mamãe Oxum, pedi licença para Pai Oxalá, pedi licença ao
Senhor do Bomfim para Pai Antero vir trabalhar.

    Quem vem lá, é de lá, quem vai chegar e encontrar, é um boiadeiro
bondoso, é Pai Antero que vem saravar."

    Vamos fazer um resumo da história dessa grande Entidade de Luz
chamado de Pai Antero, frisando que estaremos falando do Pai Antero
da Encruzilhada, no qual é uma Entidade que tenho o prazer imenso de
poder trabalhar em prol da caridade.

    Pai Antero é um Preto Velho que faz sua caridade nos terreiros de
Umbanda, uma Entidade de poucas palavras, muito sensato, de fala
pausada e pensamentos rápidos.

    Ele tem uma característica diferenciada da maioria dos Pretos
Velhos, que é ficar ereto, enquanto a maioria de nossos Vovozinhos
chegam bem curvados.

    Pai Antero tem uma ligação grandiosa com o Povo da Esquerda, no
quais estão sempre a trabalho da caridade por intermédio desse grande
Preto Velho.

    Ele em sua vida terrena foi condutor de boiadas nas fazendas
pecuaristas e cafeeiras entre a região sudeste e sul do Brasil.

    Filho de negros escravizados, traficados da África, ele nasceu no
Brasil, dentro de uma senzala da fazenda na qual viveu toda sua vida.

    Na infância já demonstrando um dom especial junto aos animais,
logo foi conduzido pelos boiadeiros da fazenda a trabalhar junto a
grandes boiadas.

    O dom referido de nosso Pai Antero, era conseguir entender os
animais, fazendo assim que mesmo o mais feroz animal, ficasse dócil e
se deixasse conduzir pelo nosso incrível Antero.

    Por várias oportunidades ele teve que demonstrar esse dom, sendo
com touros indomáveis, sendo com serpentes venenosas e traiçoeiras ou
sendo com qualquer animal que por ora atacava os trabalhadores da
fazenda.

    Ele com apenas o olhar amansava o animal, e por outras vezes com o
toque de suas mãos faziam esses ferozes animais até adormecerem.

    E isso deixava todos da fazenda e arredores perplexos, fazendo
assim ser conhecido por muitas e muitas regiões, levando a muitos
fazendeiros oferecerem altos valores na compra como escravo, que não
acontecia pois o fazendeiro cafeeiro e pecuarista que se vangloriava
ser dono do negro Antero, dizia que poderia alugar seu escravo, mas
vender nunca. Fazendo assim uma grande corrida dos fazendeiros dos
arredores para a tentativa de alugar o negro por alguns dias, para que
assim pudessem, não só se utilizar dos serviços dele como boiadeiro
eficaz, mas também poderem observar o uso do seu dom.

    E numa dessas idas e vindas a uma dessas fazendas da região, foi
que aconteceu a grande e triste história de Antero.

    Um fazendeiro muito rico, com grandiosas boiadas sabendo da fama
de Antero, foi ao encontro dele e o alugou para que ele pudesse domar
alguns touros extremamente violentos.

    Ele foi para a fazenda, ficou em seu trabalho por alguns dias, e
encantou a todos com sua nobreza no que se diz domesticar animais.

    Esse fazendeiro, homem de pulso fraco, que só colocava seu nome
nos fatos da fazenda, pois quem dava todas as ordens e coordenadas
era a sua esposa, uma sinhá ainda jovem e bonita, mas extremamente
maléfica com todos que a rodeavam.

    Ela não tinha a mínima dó dos seres escravizados, dos feitores e
capatazes da fazenda, do seu marido e nem dos filhos. Por qualquer
motivo, até mesmo por um escravo a olhasse, esse escravo já ia para o
tronco, e lá levava chibatadas até que ela resolvesse que deveria
sair. E isso levava horas e horas, até dias.

    Essa sinhá, ao observar Antero em seu trabalho ficou encantada.
Achara que aquilo era mágico, um poder que nunca imaginara que pudesse
conhecer.

    E maior foi o seu encantamento pelo grande negro boiadeiro, quando
uma vez grávida, prestes a dar a luz, sentindo grandiosas dores sem
que um grupo de parteiras da fazenda conseguissem dar prosseguimento
ao nascimento da criança, teve a ajuda de Antero, após ele saber do
que estava ocorrendo dentro da casa grande, e pedir humildemente a
autorização para ajudar a sanar as dores e uma possível perda da
criança, pois as parteiras que já tinham feito de tudo para realização
do parto, já estavam a espera do pior, que seria do desencarne da
sinhá e de seu pequeno ser, que teimava em não nascer.

    A sinhá, em momentos de desespero e agonia, então autorizou a
entrada do negro Antero, pois para ela seria a ultima oportunidade,
sabendo-se que seu marido não chegaria a tempo para poder a conduzir
ao arraial mais próximo para ir ao encontro de um doutor médico, pois
estava nas andanças e negociatas de terras em outra região.

    Antero, olhava fixamente para a sinhá, como se estivesse em um
transe, colocando suas mãos sobre o ventre dela, fazendo uma oração de
apelo aos Orixás, que a luz de todos eles caíssem sobre aquele corpo,
e a fizessem ter forças para aguentar os instantes finais do parto.

    As dores foram se acalentando, uma calmaria se estabeleceu nos
olhos da sinhá, que ao se relaxar, deu a oportunidade da criança vir
ao mundo.

    Com todo esse fato, naturalmente Antero ficou muito mais visível
aos olhos da sinhá, que em todas as oportunidades o trazia para os
trabalhos com relação aos animais da fazenda.

    O tempo foi passando, e com as demonstrações do dom de Antero por
muitas e muitas ocasiões diante o domínio que tinha nos animais, desde
o mais manso até o mais indomável, a sinhá determinou a si própria que
queria dominar o poderoso negro que tinha tal poder.

    E por isso decidiu que queria o escravo nas suas mais entimas
intenções de mulher. Não pelo prazer carnal, mas pelo prazer de
conduzir um desejo sobre um ser que tinha um dom imaginável.

    E assim foi feito, ela com seu poder de senhora da fazenda, com
seu ar de prepotência e superioridade, querendo demonstrar que ela
poderia ter mais poder do que qualquer um naquela fazenda, se deitou
com o negro escravizado.

    Só que ela não esperava que poderia engravidar, mas assim
aconteceu. Nascendo uma menina mestiça, fazendo que todos descobrissem
seu deslize.

    Ela com sua prepotência, seu poder de conduzir e dominar todas as
situações, conseguiu fazer com que o marido, já um tanto adoentado,
aceitasse tal fato.

    A menina foi crescendo, e se tornando a cópia da sinhá em relação
as intenções de maltratar as pessoas, inclusive aos escravos.

    Antero após mais umas vindas na fazenda para fazer seu trabalho de
doma, acabou por saber da criança mestiça, E logo concluiu que era sua
filha com a sinhá.

    Por muitas vezes ele tentou se aproximar, sem ter a mínima chance,
pois a sinhá tinha dado ordens expressas de nunca deixarem que ele
chegasse a falar com a menina mestiça.

    E ao retorno a sua fazenda de origem, ele passava dias e noites
pensando na pequena menina, querendo ao menos uma vez poder abraçá-la,
mesmo sem nunca dizer a verdadeira origem dela.

    Em uma determinada ocasião, Antero novamente foste alugado para a
realização de trabalhos de doma dos animais da fazenda na qual sua
filha com a sinhá crescia. E nisso ficou sabendo que a menina mestiça,
já com seus 10 anos de idade, era influenciada por sua mãe, a sinhá
que gostara de mostrar sua força e seu poder mandando açoitar os
negros escravizados, a fazer exatamente igual.

    A pequena mestiça fazia da maneira ensinada pela sinhá, a
maltratar os negros, a insultar os irmãos e  deixar desnorteado o
homem que estaria no lugar de seu pai, com palavras agressivas,
sempre com o aval da sinhá.

    Antero sabendo de todos esses fatos em suas idas e vindas a
fazenda, decidiu que deveria alertar a filha, que esse caminho
ensinado pela sinhá, era algo errado, que não poderia agir da maneira
que a levaria contra as leis de Zambi (Deus), de Pai Oxalá e de todos
os Orixás.

    E assim ele tentou, chegando junto a filha mestiça, sem falar que
era seu pai, disse-lhe sobre as coisas feitas por ela, que os caminhos
eram errôneos, que deveria tentar modificar esse modo de desejar
demonstrar poder, um poder que só existia na mente da sinhá, sua mãe.

    A menina, sem compreender os ensinamentos de Antero, e induzida
pela sinhá, não aceitou que um negro lhe falasse tudo aquilo, achando
que ele a tivesse faltado com respeito, mandou que os capatazes o
levassem ao feitor da fazenda, mandando açoitálo.

    Isso aconteceu pelo restante da tarde e por toda a noite, deixando
o negro Antero deveras muito machucado fisicamente, mas nenhuma dor
física foi tão intensa e tão grandiosa quanto a dor de saber que
estava ali, no tronco sendo açoitado a mando de sua filha mestiça.

    A partir desse dia Antero não mais voltou a fazenda, ficando
voltado a seus afazeres, suas orações e seus desabafos com os amigos
Benedito, e Pai José, juntamente com a sua orientadora e madrinha, a
velha e experiente negra Joaquina, que o elevava a fazer o bem a todos
que precisavam de seu dom e de sua fé demonstrada na forma de orações
e benzeduras.

    Isso durou até Antero ficar sabendo dos acontecimentos trágicos
ocorridos na fazenda vizinha. Acontecimento esse que faria com que
nosso grande guerreiro ficasse ainda mais abalado por estar distante
da sua filha mestiça.

    Em uma certa tarde de primavera, a menina mestiça andava por entre
as flores da fazenda, quando ouve um estouro por entre a boiada, que
era tocada por um dos negros da fazenda. Sendo praticamente impossível
manter a ordem entre a boiada, coisa que Antero fazia apenas com o
olhar e usando o seu dom de domínio sobre os animais, quando ocorria
essas situações, mas como ele não estava ali toda a manada ficou
desgarrada e desorientada, partindo para cima da menina mestiça com
toda a violência.

    E assim após a poeira baixar, se pôde ver os olhos assustados  dos negros,
feitores e capatazes fintando o corpo inerte da pequena sinhá mestiça
deitado ao chão e pisoteado pela boiada desgarrada que acabara de
passar por ali sem destino.

    A sinhá, mãe da mestiça, jogando-se ao chão empoeirado da fazenda,
aos gritos de lamentação, não acreditava no ocorrido, ficando a partir
desse dia com um retardo mental nunca mais solucionado.

    Antero por sua vez, culpando-se por não estar no momento crucial
na fazenda, tinha uma dor enorme dentro do peito, a dor de saber que
poderia ter salvo a sua filha da morte, sabia que seu dom era crucial
para modificar a história final da pequena  filha mestiça.

    Com isso ele se fechou em si próprio, já não mais procurava os
amigos para seus desabafos, já não buscava forças para continuar sua
caminhada, já não mais desejaria ter seu dom.

    E foi nesse ponto de desesperança que o velho Antero, negro
escravizado e boiadeiro, teve a benção cedida por Zambi e levada pela
luz de um outro negro, que tinha como missão levar esperanças a seus
irmãos negros. E foi o Preto Velho Rei Congo, já como Entidade, que
leva ao encontro de Antero, o espírito de sua filha mestiça.

    Isso acontece em uma noite bem iluminada pela lua cheia, de céu
estrelado e brisa leve. Dentro de sua choupana, Antero pensativo e sem
motivos para sorrir, tem uma visão com a imagem do Preto Velho Rei
Congo, que lhe diz:

"Irmão Antero, sua missão não acabou. Você terá uma longa jornada de
caridade. E para que você prossiga nessa caminhada, será preciso que
você perdoe e se deixe perdoar por alguém."

    Antero se levanta indo ao encontro do protetor dos negros,
ajoelha-se e com os olhos mareados, já sabendo o que estaria por vir
naquele momento, agradece a oportunidade que estava recebendo.

    E diante de seus olhos aparece a imagem de sua filha mestiça, que
com um largo sorriso e lágrimas a escorrer pela face, estende as mãos
a ele, pedindo perdão por tê-lo feito sofrer tanto. Ela se ajoelha e
chorando se desculpa pelo dia que mandou levá-lo ao tronco, e que a
cada chibatada que ele recebera, ela deveria pagar em dobro.

    Antero então abraça a filha pela primeira vez, e diz a ela que a
perdoara por tudo, mas precisaria do perdão dela por não ter estado no
momento de seu desencarne, achando ele que com seu domínio sobre os
animais ela poderia ter maiores chances de sair ilesa do ocorrido.

    A menina sorri para ele e diz:

"Se é disso que precisa para continuar vossa caminhada rumo a luz e a
caridade. Eu perdoou o senhor, meu Pai."

    E assim ela se despediu, voltando ao caminho que deveria seguir
rumo a evolução.

    Antes de partir, Rei Congo diz a Antero:

"Meu filho, agora volte a suas orações, espalhe a caridade, trabalhe
para o bem de seu semelhante. E guarde com você esse cajado."

    E então Rei Congo ´dá um cajado de madeira a Antero, cajado esse
que foi preparado para trabalhos espirituais, nele poderia se
encontrar toda a força da caridade, da fé e do dom de Antero. Cajado
no qual ele deveria usar sempre para o bem, sempre para ajudar a quem
necessitava,, nos momentos mais difíceis que pudesse passar, nas
desobsessões e descarregos mais complexos, pois nesse cajado além de
estar toda o dom dele, estaria também toda a força dos Orixás, toda as
forças das Almas Benditas e todas as forças do povo da encruza.

    Antero viveu na fazenda até seu desencarne, ocorrido quando com
seus 70 anos, dentro dos currais de adestramentos de cavalos baios,
enquanto ensinava aos novos negros a arte de montar e dominar os
animais. Ele sentado, de olhar sério, ao lado da grande porteira,
simplesmente fecha os olhos e parte para uma nova jornada de
evolução, só que dessa vez, a evolução espiritual sendo uma Entidade
de Luz.

    Com seu olhar sério, poucos sorrisos, fala mansa, pausada ele é um
dos mais respeitados Pretos Velhos da linha da Encruzilhada. Pai
Antero da Encruza, trabalha hoje firmemente nos terreiros de Umbanda,
levando ensinamentos, luz, abrindo caminhos, encaminhando espíritos
sem luz, descarregando e desobsediando os filhos que procuram por ele.

"Pai Antero Negro Boiadeiro, Lá Do Grande Sertão, Ele É Bravo
Guerreiro, Sempre Me Estendendo A Mão."

Palavras De Pai Antero: "Seja Persistente Em Suas Metas, Não Deprima
Pela Não Realização, Tudo Tem Sua Hora E Momento."

    Saravá Meu Pai Antero da Encruza.

    A sua Benção!


Carlos de Ogum.










 
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