domingo, 23 de maio de 2021 91 comentários

CONHECENDO A LINHA E FALANGE DOS MALANDROS NA UMBANDA (PARTE 2)

 


 

    Nesse texto vamos dar continuidade falando sobre a Linha e Falange dos Malandros na Umbanda, e como já foi dito no texto anterior, essa é uma das Falanges e Linhas mais buscadas, queridas e conhecidas nos Terreiros de Umbanda, expressamos resumidamente na primeira parte desse texto, que pode ser encontrada clicando no link abaixo.

 

*Conhecendo a Linha e Falange dos Malandros (parte 1)

 

    Agora nessa segunda parte falaremos um pouco mais da origem e das características dessas Entidades de Luz tanto na vida como encarnados, quanto na trajetória espiritual.

 

    Na visão social, os Malandros simbolizaram a inclusão de negros, mulatos, mestiços, tanto homens quanto mulheres que viviam de certa forma marginalizados perante a sociedade desde o período pós-abolição, e muitos sofreram extremamente com o preconceito pela sua cultura, sua fé, seu modo de ser, pela cor de sua pele, enfim, por tudo que não estava dentro dos ditos padrões para a classe branca, classe essa que se distribui-a como fazendeiros, coronéis da época, sinhás, e todos chamados erroneamente de "grupo de elite".

 

    Esses ditos "excluídos" foram retirados das fazendas e colocados a sua própria sorte logo após a lei da abolição dos escravos, pouquíssimos senhores de engenho, fazendeiros ou produtores de café utilizaram a mão de obra dos negros e mestiços para trabalharem em suas fazendas, pois muitos acreditavam que essas pessoas só serviam enquanto eram escravizadas, e jamais aceitariam que um negro ou mestiço trabalhasse em uma fazenda em troca de uma vida digna e uma remuneração verdadeira, apenas serviam para trabalharem sem condições alguma de bem estar, escravizados e sofrendo torturas no tronco de castigos sendo açoitados pela dolorida ponta de uma chibata. E assim sendo esses negros e mestiços foram colocados para fora das fazendas, enquanto esses fazendeiros contratavam a mão de obra de colonos europeus para ocuparem as colocações de trabalho.

 

    E assim um grandioso número de homens e mulheres mestiços e negros recém-libertos ficavam perambulando pelas ruas, sem uma moradia, sem alimentação, sem dignidade e sem uma colocação de trabalho remunerado.

 

    A visão de antigos escravocratas era que os negros e mestiços só se rendiam ao trabalho em suas roças sendo forçados, através de castigos, assim como era no tempo da escravidão, e se expandindo esses pensamentos, os fazendeiros tinham a preferência de trazerem os colonos europeus a trabalharem em suas terras.

 

    E assim foi feito, e esses colonos ocupavam todas as colocações de trabalho, e assim esses antes escravizados ficavam sem uma ocupação condigna, sem acesso a educação, a moradia descente, e muitas vezes sem alimentação digna.

 

    E pouco a pouco iam se formando os primeiros grandes grupos de pessoas a serem colocadas a viverem a margem da sociedade.

 

    Após toda essas colocações podemos então imaginar como era a vida desses negros e mestiços, com toda a pressão social dos brancos elitizados, porém esses negros e mestiços não se deram por rogados e nem vencidos, e pouco a pouco iam buscando aos arredores dos arraiais e morros um modo de ter uma vida no mínimo dignamente básica. Fizeram seus casebres, pequenas plantações, criavam alguns animais para alimentar suas famílias.

 

    Mesmo se esforçando ao extremo para sobreviverem de um modo geral, os negros, mulatos e mestiços não eram bem vistos perante a sociedade branca, e assim começou para eles uma condição de vida a margem do quadro social, pois a musica, a dança, o modo de ser apreciados por aqueles em que a sociedade marginalizava não eram bem vistas, principalmente as suas atividades de recreação, como jogos, carteados, capoeira, entre outros tipos de recreação.

 

    Assim sendo, com essa visão discriminatória da sociedade, foram surgindo grupos localizados para essas atividades, e bastava frequentá-los para ser motivo de alvo da polícia, e como esses ambientes não só estavam abertos para grupos seletos, poderia sim entrar todo tipo de pessoa, e obviamente também chamava a atenção de pessoas já antes voltadas para o crime, fazendo desses lugares um tanto perigosos, perigosos o bastante para explicar que muitos desses seus frequentadores andarem armados, normalmente com facas, navalhas, punhais, ainda que não fossem criminosos, e assim vem à tradição de muitos dos Malandros terem suas armas brancas nas mãos.

 

    Quando é dito a nomenclatura "Malandro", na linguagem cotidiana, logo ocorre à ideia em nossas mentes, do boêmio, do jogador de cartas de baralho, do amante das rodas de danças, amante das noites regadas de alegria, aquele que carregava facas e navalhas, e com muito disfarçar fugia dos homens da lei.

 

    Esses negros, mulatos e mestiços, apesar de todos os acontecimentos, nunca perderam a alegria, o gosto pela música, pela dança, pelo jogo de carteado, pelas conversas com amigos durante toda a noite, e principalmente nunca perderam suas raízes religiosas e tradições de seus ancestrais, deixando assim entre eles uma felicidade intensa.

 

    Já colocando na linha espiritual, dentro da religião de Umbanda, onde esses espíritos, após se tornarem Entidades de Luz, demonstram um grande apego a seus consulentes, buscam estar sempre interligados nos relatos que estão sendo levados a eles, grandes analisadores de fatos contidos nesses relatos, muitos reflexivos, e assim buscam um melhor caminho para auxiliar aquele consulente naquele fato, e isso de uma forma extremamente simpática, com uma alegria sem igual, além da força espiritual sobre todos os pontos necessários, dentro e fora da vida pessoal do consulente.

 

    A presença dessas Entidades nos Terreiros de Umbanda é sempre uma atração a mais, pois eles são chamarizes para todos os frequentadores de terreiros, com seus jeitos despojados, sorridentes, carinhosos, brincalhões, acolhendo a todos de uma forma simpática, abraçando os mais humildes, humildes esses que se identificam com essa maneira despojada de ser dos nossos amigos fieis, os Malandros.

 

    Essas Entidades de Luz despertam a autoconfiança, fazendo assim com que possam se expressar e progredir, caminhando para um caminho de vitórias e iluminado.

 

    A melhor colocação de um Malandro é que nós devemos aprender com os nossos próprios erros, refletir bastante sobre um caminho tomado, e se esse caminho não for o melhor, devemos então nunca mais tomá-lo, e assim temos as melhores lições para uma vida repleta de felicidade.

 

    Dentro da linha dos Malandros podemos notar que a espiritualidade deseja demonstrar pela religião de Umbanda corrigir grandes equívocos e especialmente grandes injustiças sociais de alguns encarnados sobre outros encarnados, fazendo assim com que devemos refletir sobre tudo isso pelas décadas e décadas que houveram essas injustiças, e enquanto refletimos ainda somos auxiliados nos problemas do cotidiano, e assim sendo, hoje na presença da linha dos Malandros nos terreiros de Umbanda uma ótima oportunidade para refletirmos sobre várias questões, como por exemplo que nem tudo que possa parecer ruim não tem uma saída, ou que tudo que nos acontece podemos extrair coisas boas e positivas, assim como a linha dos Malandros fizeram.

 

    E assim sendo, podemos entender que a Falange dos Malandros vieram até nós através dos Orixás para nos ensinar a caminhar sobre os obstáculos, vencer todos e qualquer tipo de contratempo, tirar uma boa lição de tudo que nos acontece de bom ou ruim, nunca perder a compostura nem entrar em desespero, e saber jogar o jogo da vida, jogo esse que podemos até perder, porém nunca deixar que esse jogo destrua nossa fé.

 

    E assim os Malandros nos ensinam tudo isso de uma forma bem humorada, brincando com as palavras, com seu carisma e sua espontaneidade.

 

    Certamente a frase "no final tudo dará certo, e se não der certo é porque ainda não chegou o final", reflete muito naquilo que a Falange dos Malandros desejam nos passar, basta entendermos.

 

    E assim fechamos essa segunda parte que falamos da Linha e Falange dos Malandros na Umbanda, seguiremos com a terceira parte demonstrando um pouco mais dessa maravilhosa Linha já falando mais diretamente do lado espiritual e o modo de trabalho dessa Falange.

 

 

    Salve os Malandros !

 

    Salve a linha e a Falange da Malandragem!

 

Carlos de Ogum

 

OBS.: Para quem deseja saber seus Orixás de Coroa através dos Búzios, entrem em contato conosco através do endereço de e-mail:

 

contato.umbandayorima@gmail.com


    Passaremos todas as informações do que se faz necessário.


sábado, 1 de maio de 2021 77 comentários

CONHECENDO A LINHA E FALANGE DOS MALANDROS NA UMBANDA (PARTE 1)

 


 

    Uma das linhas e Falanges mais conhecidas e procuradas em Terreiros e Giras da Umbanda é a linha dos Malandros.

 

    Mas, o que vem a ser essa linha, qual a razão dessa nomenclatura, e por que esse grande apego a essa Falange?

 

    Antes de tudo vamos frisar que estaremos falando apenas resumidamente sobre essas Entidades caridosas, gentis, honestas e de grande poder espiritual, pois a grandeza dessas Entidades é tanta que teríamos que fazer pelo menos umas 30 postagens para assim ter uma ideia de qual e a verdadeira importância delas dentro da religião de Umbanda.

 

    Uma pergunta que muitos fazem em relação à linha dos Malandros, principalmente feita por pessoas que desconhecem a verdadeira essência dessas Entidades, é qual o beneficio dessa Entidade para nós, o que uma Entidade com a nomenclatura de "Malandro" poderia nos ensinar, qual a verdadeira contribuição dessa Entidade para a religião de Umbanda?

 

    Gostaria de esclarecer primeiramente que não estamos falando de modo pejorativo e nem do sentido vulgar da palavra "malandro", e abaixo entenderão o verdadeiro significado dentro da Umbanda.

 

    Essas Entidades de Luz que se apresentam como Malandros, frisem bem a letra M pois deve sempre estar de forma maiúscula, vem com a missão de ensinar os encarnados a se tornarem mais fortes perante os obstáculos da vida, tendo a flexibilidade necessária, a entender a vida com o bom humor, a capacidade de adaptação diante de todos os fatos bons ou ruins de nossa vivência, que se devem ser obtidas através da fé na vida, e em si mesmo, do equilíbrio das emoções, do pensar, do ser, do agir e de seus próprios sentimentos.

 

    Normalmente uma Entidade de Luz vivenciou muitas coisas assim dentro de uma de suas existências, e sendo assim podem nos auxiliar nos caminhos tortuosos, e com a linha dos Malandros não se faz diferente, pois tiveram em outras existências várias e várias experiências, e assim sendo os Malandros nos ensinam que essas experiências visa sempre nos ensinar algo de positivo, e que não há obstáculos insuperáveis, e se passarmos a pensar dessa maneira certamente não seríamos levados à destruição, destruição essa que poderíamos estar condenados caso não tivéssemos a confiança e os ensinamentos de seres divinos, assim como os Malandros.

 

    Os Malandros com a sua forma de ver e entender a vida, tanto encarnada quanto desencarnada, nos mostra que é inconcebível essa entrega de algumas pessoas a própria destruição, visando o findar de uma vida, para que um sofrimento se finde, ou um obstáculo nos vença, pois para refletirmos dessa forma a vida deveria ser finita, e para quem entende a espiritualidade, e a mensagem que os Malandros desejam passar, é que não há morte em nenhum ponto do Universo, e sim transformações através das evoluções pessoais, que promovem renovações constantes, e sendo assim devemos confiar nas leis da vida e agirmos como os Malandros mantendo a alegria, o bom humor, a caridade, a força de vontade, o afastamento do pessimismo, a autoconfiança, e assim sendo se mantém em sintonia com uma vibração positiva atraindo coisas boas, cura espiritual, física, mental e emocional.

 

    Agora falando exclusivamente sobre a linha dos Malandros na Umbanda gostaria de frisar que essa linha traz para dentro do ambiente Sagrado os irmãos que foram excluídos da sociedade, aqueles espíritos que em alguma encarnação por causa de grandes preconceitos raciais, foram considerados inferiores, sem casta, marginalizados pela sociedade, porém mantiveram sua fé e lidaram com essa adversidade, a sua identidade que lhes orgulhava, e claro com o bom humor característico, e com essa demonstração de força, certamente já apresentavam um ótimo nível de evolução, e assim ao desencarnarem, continuava certamente a caminhar pelas estradas evolutivas com mais ênfase, até alcançarem um grau muito maior perante a espiritualidade, no qual lhes permitiram retornar a terra como Guias espirituais, para assim nos ensinar e nos reconduzir aos caminhos de evolução no qual tanto necessitamos.

 

    Da mesma forma e ao mesmo tempo, essa linha maravilhosa dos Malandros simboliza a aproximação dos excluídos com a Luz Divina do Pai Maior, e da mesma forma com todas as pessoas traz a possibilidade refletirem de forma muito maior sobre o preconceito, sobre as exclusões sociais, sobre o racismo, sobre demonstrações de poderio do mais forte para o mais enfraquecido, socialmente, economicamente ou intelectualmente.

 

    A linguagem dos Malandros é bastante simbólica, em muitas vezes em suas falas nos passam mensagens como se a vida fosse um jogo de cartas ou de dados, e devemos compreender essas colocações, pois nesse jogo, uma jogada ruim seria um imprevisto, uma adversidade, mas isso não quer dizer que o significado seja a perda de uma partida, e não devemos entrar em desespero, descrença ou desistência, pois os Malandros com sua sabedoria invejável nos mostra que temos outras jogadas pela frente, e assim novas oportunidades, novos caminhos, novos passos virão, e essas novas oportunidades poderão ser extremamente melhores, e isso só dependerá de nós mesmos.

 

    Devemos compreender esses ensinamentos dos Malandros, pois nesse jogo é preciso estarmos atentos a cada detalhe, a cada passo, a cada ato, devemos ficar extremamente atentos e observarmos os adversários, os grandes desafios externos, assim também aos nossos próprios pensamentos, convicções, sentimentos e emoções, para que assim possamos enfrentar e vencer todo e qualquer obstáculo com a melhor condição e certamente caminhar para a vitória que tanto almejamos.

 

    Outra coisa que devemos entender sobre os Malandros e sobre seus ensinamentos é que a vitória não precisa ser a superação do obstáculo em si, porém a grande vitória é o verdadeiro entendimento das causas da dificuldade e aceitação de uma responsabilidade que é só nossa, de uma realidade que criamos, e assim sendo o errar nos ensina, e nos dá a possibilidade de recomeçar e acertar, e mesmo sendo derrotados por algum motivo, aprendemos com os nossos amigos Malandros, a saber esperar uma nova oportunidade e tentar sempre, sem nunca desistir, e assim virar o jogo através da persistência, da alegria, da boa vontade, e da fé no dia seguinte. E assim aprendemos a valorizar a vida, a nossa própria existência, do momento que estamos e de cada momento vivido.

 

    Para nosso entendimento vamos frisar que a demonstração da dança característica, a musicalidade, e a ginga dos Malandros dentro de um Terreiro de Umbanda não são uma simples repetição dos trejeitos dos ditos malandros na forma pejorativa do nome, essas Entidades não vieram até nós na forma de Guias espirituais apenas para demonstrarem ou fazerem apologia do que foram em alguma vida encarnada, contudo, eles vem sim para nos ensinar o que poderemos extrair das lições da vida, e a grande malandragem que nos ensinam é como devemos ser flexíveis nos desapegando daquilo que nada nos levará a uma evolução espiritual, abrindo mão daquelas ideias antigas, e assim nos renovarmos a cada dia, entendermos a vida e seus obstáculos, encararmos essa mesma vida com mais tranquilidade e leveza, retirando a mágoa do nosso peito, nos desvincular dos rancores, evitar levar todos os problemas para o campo pessoal, evitar estragar o nosso humor, e viver bem cada dia que passamos em busca dessa evolução, sem deixar sermos levados pelo desânimo, para que possamos vencer todo e qualquer tipo de obstáculo, por maior que esse obstáculo possa nos parecer, e assim aprendermos com os nossos próprios erros, para que assim esses erros não se repitam, e lembrarmos sempre um dos grandes lemas dos Malandros, que é:

 

"Aprenda com seus erros, não fique os repetindo. Quem anda atento na vida, não fica caindo nos buracos da estrada que leva para a evolução."

 

 

    E assim terminamos essa primeira postagem que falamos da Linha e Falange dos Malandros, na segunda parte falaremos um pouco mais da origem e das características dessas Entidades de Luz tanto na vida como encarnados, quanto na trajetória espiritual.

 

    Salve os Malandros !

 

    Salve a linha e a Falange da Malandragem!

 

Carlos de Ogum


OBS.: Para quem deseja saber seus Orixás de Coroa através dos Búzios, entrem em contato conosco através do endereço de e-mail:

 

contato.umbandayorima@gmail.com

 

Passaremos todas as informações do que se faz necessário.


 
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