quinta-feira, 30 de julho de 2015 45 comentários

O Uso das Flores na Umbanda

                   


    Uma das coisas mais lindas de nosso planeta azul são as flores que
nascem de nossa terra sagrada, que nos foi presenteada por Deus.

    As flores além de serem algo magnífico de se observar, pois sua
plenitude de cores vivas e brilhantes nos torna seres capazes de
demonstrar o quanto somos felizes por termos algo tão maravilhoso
assim, também nos entrega para nosso deleite um divino odor perfumado
que por muitas vezes nos embriaga numa sensação prazerosa sem igual.

    Flores é a prova viva da presença de Deus em nossas vidas, a
demonstração do quanto é espetacular a natureza, a percepção de quanto
nós dependemos dessa beleza para vivermos melhor e termos uma
felicidade extra nesse mundo moderno tão cinzento e sem vida.

    Dentro de nossa religião Umbandista fazemos o uso das flores quase
que diariamente, seja para homenagear um Orixá, seja para banhos de
limpeza espiritual, seja para enfeitar nosso Gongá, seja para ofertar
as nossas amadas Entidades de Luz.

    Cada Orixá tem as flores de sua preferência, seja para
recebimento, seja para serem aplicadas em "trabalhos", ou seja apenas
para fazer que a vida fique mais colorida.

    Abaixo colocaremos as flores de cada Orixá, e de cada linha de
Entidade de Luz e algumas utilidades delas, para que possamos entender
a sua importância.


OXALÁ



As flores de Oxalá são os lírios brancos e todas as flores que sejam
dessa cor. As rosas devem ter seus espinhos aparados.

    Os filhos de Oxalá ao serem batizados devem ser banhados com água
de cachoeira com pétalas de rosa branca e as ervas manjericão branco e
folha de laranjeira. Para que assim sua coroa seja pura para o
recebimento da vibração desse Orixá.

    Como as flores foram responsáveis por Oxalá se Tornar o Pai da
Criação?

     Iemanjá, a filha de Olokum, foi escolhida por Olorum para ser a
mãe dos orixás. como ela era muito bonita, todos a queriam para
esposa; então, o pai foi perguntar a Orumilá com quem ela deveria
casar. Orumilá mandou que ele entregasse um cajado de madeira a cada
pretendente; depois, eles deveriam passar a noite dormindo sobre uma
pedra, segurando o cajado para que ninguém pudesse pegá-lo. na manhã
seguinte, o homem cujo cajado estivesse florido seria o escolhido por
Orumilá para marido de iemanjá. os candidatos assim fizeram; no dia
seguinte, o cajado de oxalá estava coberto de flores brancas, e assim
ele se tornou pai dos orixás.

Trova:

"No jardim de flores tão belas,
chamado de reino de Orixá,
cores lindas de aquarelas,
essas flores abençoadas por Oxalá."


IEMANJÁ



As flores de Iemanjá são as rosas brancas, palmas brancas, angélicas,
orquídeas e crisântemos brancos.

    É muito comum que na virada de um ano para o outro, ou no dia 2 de
fevereiro, que é o dia de Mãe Iemanjá, fiéis joguem flores brancas no
mar pedindo proteção, saúde, paz e vitória em objetivos. Essas flores
podem ser todas as flores brancas, mas o mais comum são as palmas.

    Ao serem batizados, os filhos de Iemanjá podem tomar um banho de
pétalas de rosas brancas, pétalas de palmas brancas e alfazema. Todas
colocadas em água de mina ou cachoeira.

    O banho de pétalas  de rosa branca também pode ser feito para
mulheres que desejam proteção contra inveja em seus cabelos. E também
para serem lavados antes de cortarem. Só frisando que as filhas de
Iemanjá só devem aparar as pontas dos cabelos, jamais cortarem na
altura dos ombros.

Trova:

"Flores brancas e brilhantes,
irei jogar nas ondas do mar,
pedindo paz e felicidade constante,
rogando a Iemanjá para me abençoar."


NANÃ BURUQUÊ



    As flores de Nanã Buruquê são todas as flores na cor roxa
(lilás), entre elas se destacam o amor perfeito, as hortênsias, flor
de lis e a flor de maio.

    O significado dessas flores tem muito a ver com Nanã, pois o
simbolismo delas são a ligação com a calma, o amor e os sentimentos
bons.

    Os filhos de Nanã Buruquê em seus batizados podem tomar um banho
de limpeza de espírito com a flor de maio, hortênsias e a erva
manjericão roxo, feitos com água de poço, para fazer a vibração da
coroa se aproximar a vibração da Orixá.

Trova:

"Uma flor linda ofertei a minha Orixá,
flor perfumada lhe entrego toda a manhã,
aos seus pés dou meu axé e meu saravá,
minha doce buruquê minha amada Nanã."


OXUM



    As flores de Oxum são os lírios e as rosas amarelas.

    Os filhos de Oxum ao serem batizados podem tomar um banho de
pétalas de rosas amarelas e lírios, juntamente com as ervas manjericão
branco e jasmim, feitos em água de cachoeira, para que assim seja
feita a vibração da coroa junto com a Orixá.

    Também é utilizado muito o banho de limpeza espiritual em moças
que estão para se casar, esse banho em algumas tradições é feito um
dia antes do entrelace matrimonial para demonstrar a pureza, pois o
lírio é uma flor que simboliza a brancura, a inocência e virgindade.

    O lírio é também a flor do amor, que carrega ambiguidades e pode
ser tanto irrealizável, reprimido ou sublimado. Quando o amor é
sublimado, o lírio simboliza a glória do amor. E por ser Oxum uma
Orixá sedutora mas de ar jovial, o lírio é a principal flor que
devemos apresentar a todos os trabalhos e banhos a seus filhos.

Trova:

"Minhas flores lindas e sagradas,
que perfumam e encantam o meu ser,
mamãe Oxum Orixá tão amada,
com seus lírios brancos venha agora me valer."


IANSÃ



    Flores de Iansã são os corais, ou todas as flores amarelas
(tulipas, rosas, lírios, acácias, cravos, crisântemos, dália, etc.).

    Os filhos de Iansã, ao serem batizados, devem tomar um banho de
aproximação de coroa com a Orixá, das seguintes flores: Rosas amarelas
e corais, juntamente com uma espada de Iansã, esse banho deve ser
feito com a água recolhida da chuva, e se deve deixar as flores nessa
água por uma noite inteira ao sereno. Após isso, se pode fazer o banho
fervendo a água e deixando em infusão até a temperatura ser agradável
ao corpo.

Trova:

"As flores de minha bela mãe Iansã,
que perfumam o meu andar,
tem o brilho do Sol pela manhã,
iluminando minha vida e meu caminhar."


OGUM



    As flores de Pai Ogum são os cravos, as cristas de galo e as
palmas vermelhas.

    Os filhos de Ogum ao se batizarem devem tomar um banho com palmas
vermelhas e espada de Ogum, sendo feito em água de mina, para vibrarem
a coroa junto a esse Orixá.

    As palmas vermelhas também são muito usadas para enfeitar o Gongá
na Gira da festa de Ogum, no dia 23 de abril.

Trova:

"Vermelhas são as flores de meu Orixá,
Orixá guerreiro vencendo inimigo um a um.
na Umbanda vibra e ilumina nosso Gongá,
esse Orixá divino é meu Pai Ogum.


XANGÔ



    As flores do poderoso Orixá Xangô são os cravos vermelhos e
brancos.

    Como os cravos são conhecidos como as flores masculinas, é dito
que os Orixás de muita força, personalidade forte, justiceiro e
dominador, tem como ritual o uso dessas flores.

    Os filhos de Xangô ao serem batizados, poderão ser banhados com a
infusão de cravo branco e da erva de São João, feitos em água de
cachoeira. Fazendo assim estaria interligando a coroa do filho a
vibração do Pai.

Trova:

"A justiça predomina meu ser,
a Pai Xangô flores brancas levarei,
uma homenagem ao senhor desejo fazer,
meu Orixá poderoso Xangô divino rei."

OXOSSI



    As flores do campo são as flores de Oxossi. E como o Orixá, as
flores do campo podem nos transmitir sentimentos e sensações como:
equilíbrio, calma, energia e felicidade.

    As flores do campo também demonstra vitalidade, juventude, e tem
muita facilidade de nascerem por entre as florestas, matas,
espalhando-se espontaneamente pelo solo.

    Dentre várias espécies de flores do campo podemos demonstrar as
violetas, as margaridas, as azaleias, as hortênsias, os girassóis,
tulipas, dente de leão, entre outras.

    Os filhos de Oxossi podem fazer o seguinte banho para aproximação
do Orixá na coroa ao se batizarem: Pode escolher qualquer uma das
espécies das flores do campo dita acima, e fazer juntamente com
alecrim, guiné, erva de Oxossi e água de cachoeira ou de lagoa,
fervendo a água e deixando as flores e as ervas em infusão até a
temperatura ficar agradável ao corpo.

Trova:

"Flores lindas nasceram em meu jardim,
flores essas que busquei na mata sagrada,
flores tão belas que Pai Oxossi mandou para mim,
deixando minha vida mais feliz e perfumada."

OBALUAIÊ/OMULÚ



    As flores de Obaluaiê/Omulú é o monsenhor branco, também conhecido
com o nome de crisântemo.

    Essa flor é vista como a flor da verdade e da sinceridade. Assim
como é visto Obaluaiê/Omulú.

    Ela também é dada as pessoas adoentadas como símbolo de desejo de
cura e reabilitação.

    Tanto os filhos de Obaluaiê/Omulú quanto os que vem ao contrário,
Omulú/Obaluaiê, devem ser banhados ao se batizarem com água de poço
fervida, e tendo a infusão da flor monsenhor branco e as ervas canela
de velho e erva de passarinho, para a vibração do Orixá se aproximar
da vibração da coroa do filho.

Trova:

"Flores ao meu Pai ofertei,
que com carinho me agradeceu,
sabendo que esse Orixá é meu grande rei,
Obaluaiê/Omulú Orixá que sempre me protegeu."


IBEIJADA



    As nossas crianças amadas todas as flores dos jardins são aceitas,
mas prestemos atenção nas flores que tenham espinhos, devemos retirar
todos ao ofertarmos as Ibeijadas.

    Em especial, as crianças gostam muito das margaridas e das rosas
mariquinhas.

    Quando for desejado dar um banho de descarrego nos pequenos,
normalmente é de rosa mariquinha, alecrim, jasmim. Podendo escolher
entre eles. A preferência que seja no dia de domingo, e feito com água
de mina ou cachoeira.

    Sempre que pedimos algo as Ibeijadas, normalmente prometemos
balas, doces, guaraná, pipoca, mas também podemos prometer flores,
principalmente as meninas, que adoram se enfeitar com essas belezas da
natureza.

    A cada criança se pode dar uma flor diferente, claro que isso vai
conforme a vontade de cada uma delas. Mas só pra frisar, cada criança
vem na vibração de um Orixá, é um tanto natural, no caso das flores,
que elas desejam as flores semelhantes com a linha que segue, por
exemplo, se é de Oxum, flores de Oxum, se de Iemanjá, flores de
Iemanjá, e assim por diante.

Trova:

"Flores tão belas plantei em meu jardim,
lindas e deslumbrantes todas ficaram,
rosas, margaridas, violetas e jasmim,
flores tão belas nesse jardim as crianças pegaram."


PRETOS VELHOS



    Como todos os Pretos Velhos vem na irradiação de Omulú/Obaluaiê, a
principal flor dessa Entidade é o crisântemo branco, assim como é do
Orixá.

    Mas também são bem aceitas, e claro apreciadas pelos nossos
velhinhos e velhinhas, o lírio branco, rosa branca e a margarida.

    Muitas vezes quando pedimos um banho de descarrego a um Preto
Velho, e se nesse banho houver o pedido de flores, é normal ser
passado com pétalas de rosas brancas ou margaridas, com guiné, arruda
e folhas de lágrima de Nossa Senhora.

Trova:

"Apanhei galhos de arruda e guiné,
levei flores para meus velhos enfeitar,
sou filho de Umbanda e tenho fé,
que vovôs e vovós minhas flores vão aceitar."


CABOCLOS



    Os Caboclos vem da irradiação de Oxossi, portanto as flores dessas
Entidades de Luz podem ser as mesmas do Orixá, ou seja, as violetas,
as margaridas, as azaleias, as hortênsias, os girassóis, tulipas,
dente de leão, entre outras.

    No entanto os Caboclos podem vir de linhas de outros Orixás, mesmo
sendo da irradiação de Oxossi, sendo assim se pode ofertar flores de
acordo com o Orixá de linha do Caboclo ou Cabocla.

    Quando se é pedido algum banho de descarrego ou de aproximação de
Entidade na linha dos Caboclos, e esse banho contém flores, é feito
com cravos brancos,lírios brancos, juntamente com ervas como guiné,
alecrim, manacá, quebra-pedra, mamona, pitanga, jurubeba, coqueiro,
café (alfavaca, coco de dendê, folha do juízo, hortelã, jenipapo,
lágrimas de nossa senhora, narciso de jardim, vassourinha, verbena).
Isso dependendo de cada caso e de cada linha de Caboclo ou Cabocla.
Esses banhos devem ser feitos com água de cachoeira, ou de lagoa,
ou colhida da chuva.

Trova:

"Nas  florestas e matas tão sagradas,
lindas flores fui apanhar,
para ofertar meus Caboclos e Caboclas amadas,
que com carinho luz deram ao meu caminhar."


BOIADEIROS



    As flores dos Boiadeiros são as flores dos Cactos, os cravos
amarelos, crisântemos amarelos e tulipas amarelas.

    Para um banho de aproximação dessa Entidade a coroa do filho, se
deve usar qualquer uma das flores descritas acima, com ervas de guiné
e arruda. A preferência que seja utilizado a água colhida da chuva,
principalmente de tempestade, ou de poço profundo, ou de rio de água
corrente forte.

Trova:

"Na caminhada no meu sertão,
flores belas eu avistei,
cactos, violetas e tulipas de perfeição,
ofertei a senhor Boiadeiro que do sertão é rei."


MALANDROS



    As flores ofertadas aos Malandros são os cravos vermelhos e
também os brancos, assim como as rosas da mesma cor. Também pode ser
ofertadas outros tipos de flores sendo elas nas cores vermelhas,
brancas ou amarelas, mas a preferência que seja cravos e rosas.

    Para um banho de vibração da coroa do médium com a coroa de um
Malandro, é recomendado usar pétalas de rosas brancas e vermelhas,
com sete cravos brancos e sete vermelhos. Tudo isso feito em água de
mina ou cachoeira, juntamente com guiné, vence demanda, abre caminho e
sete pauzinhos de canela.

Trova:

"Flores brancas e vermelhas ofertei,
e na Lapa fui entregar,
de Zé Pilintra e dos Malandros me aproximei,
e meus caminhos eles fizeram iluminar."


CIGANOS



    Os Ciganos tem uma adoração e um respeito grandioso pelas flores.
Para Ciganos devemos ofertar cravos brancos ou amarelos, podendo ser
ofertados também o lírio amarelo, o girassol, ou o dinheiro em penca.

    Para as Ciganas se deve ser ofertado as rosas de todas as cores,
os lírios, dálias, violetas ou tulipas, independente de cor.

    Banho de vibração dessas Entidades de Luz para vibrarem juntamente
com a coroa dos Médiuns, deve-se fazer com cravos brancos ou amarelos,
juntamente com uma maçã cortada em sete partes, feitos em água de rio,
cachoeira ou de mina, isso para vibrarem os Ciganos. Já para as
Ciganas deve-se trocar os cravos pelas rosas. Sendo que os Ciganos
deverá ser feito esse banho a noite, enquanto para as Ciganas deverá
ser ao raiar do Sol.

Trova:

"No jardim da vida plantei flores tão belas,
nas paradas ou nas viagens, seja aqui ou ali,
de cores vivas lindas como aquarelas,
flores darei aos Ciganos ou a Santa Sara Kali."

POMBO GIRAS



    As lindas moças de Umbanda, as nossas amadas Pombo Giras, amam
receber Rosas vermelhas, mas também se fascinam com as rosas de outras
cores. Ao ofertarmos flores como agrado a essas Entidades de Luz,,
elas logo pegam essas rosas e colocam nos cabelos, ou aspiram
longamente o perfume dessas adoráveis flores, se inebriando de prazer
pelo odor maravilhoso, e desse prazer soltam gostosas gargalhadas,
demonstrando sua felicidade por terem recebido algo tão especial para
elas.

    Como as rosas vermelhas demonstram o amor e a paixão intensa,
assim é vista também as Pombo Giras, quando se enfeitam com essas
preciosidades da natureza.

    É feito um banho de aproximação da vibração dessa linda Entidade
com a coroa do Médium, de pétalas de sete rosas vermelhas, juntamente
com alfazema e jasmim, feitos em água de mina, cachoeira ou de rio.

Trova:

"Rosas vermelhas de perfume que enobrece,
as lindas moças de Umbanda vou presentear,
os brilhos das pétalas meu coração aquece,
com rosas vermelhas Pombo Giras vão me abençoar."


EXÚS



    Os nossos compadres Exús, são Entidades de Luz que reinam a noite,
por isso as flores de cores nos tons mais escuros são as preferidas.
Mas se desejarmos oferecer flores a nossos Guardiões, deem preferência
aos cravos vermelhos e os antúrios vermelhos.

    Para que a vibração espiritual dessa Entidade maravilhosa chegue
fortemente a coroa do Médium que está em desenvolvimento mediúnico
para recebê-lo poderá fazer um banho de vibração de sete cravos
vermelhos com as ervas casca de alho, folhas de pitanga e garra de
Exú, feitos em água de poço, ou de mina, ou de rio que tenha
correnteza.

Trova:

"Cravos vermelhos levei a Exú,
que nos jardins de Aruanda cresceram,
flores nos mares, matas e até na Calunga de Omulú,
essas flores todas as bençãos colheram."

    Para finalizar, gostaria de frisar que nas festas de cada Orixá,
ou nas Giras dedicadas a cada Entidade de Luz, podemos enfeitar nosso
Gongá com muitas palmas brancas, dálias brancas e com as flores de
cada Orixá ou Entidade de Luz, para que assim a nossa Gira se complete
com a beleza e o perfume dessas bençãos que nos foi presenteadas por
Deus, nosso Pai Maior.

    Que as flores do céu enfeite nossos caminhos com suas pétalas sagradas, sempre retirando todos os espinhos, para que possamos caminhar com mais suavidade até a evolução espiritual.

Saravá Umbanda!



Carlos de Ogum

segunda-feira, 20 de julho de 2015 70 comentários

A História da Cigana Rosa

                   



Dançando ela vinha sorridente,
trazendo uma rosa vermelha na mão,
seu olhar de feitiço me olha surpreendente,
Cigana linda que ilumina meu coração.

Tem na dança uma magia que encanta,
no olhar a luz do sol a brilhar,
Cigana Rosa com um jeito de criança,
Rosa Cigana que vem na Umbanda nos abençoar.


    A linda de todas as lindas Ciganas tem o nome de Rosa. Tem esse
nome pois ela tem a beleza e o perfume dessa flor divina.

    Ela trabalha na Umbanda na linha do Oriente trazendo ensinamentos,
paz, amor e caminhos abertos a quem lhe dedica uma oração com carinho
e fé.

    Conta a lenda que Rosa era uma linda menina de pele morena,
sorriso largo e olhos brilhantes, que tinha nas mãos o poder de ver o
passado, presente e futuro das pessoas que buscavam os Ciganos para
esses fins.

    Era dito que ela era muito meiga de voz aveludada, trazendo uma
condição de tranquilidade as pessoas que ficavam em sua volta. Tinha o
dom de espalhar a calmaria entre os que buscavam guerras, a saúde a
quem foi atacado pela peste, a alegria a quem era destinado a
tristeza. Essa era Rosa, a menina Cigana que admirava o brilho do Sol
e a luz de tom azulada e  sensual da Lua.

    Rosa era de um clã poderoso entre os povos Ciganos, tinha como
ponto alto o respeito que todos os povos tinham pelo monumental
trabalho de magias que eram somente ensinados e compartilhados dentro
de seu clã. e assim mesmo por poucos Ciganos, ou seja, todos que
tinham a benção de aprender as secretas magias daquele clã, eram
escolhidos minuciosamente pelos mais velhos, os donos dos segredos.

    Ao chegar certa idade, o Cigano ou Cigana que era guardião ou
guardiã de certo segredo mágico, escolheria um substituto para ser
compartilhado o grande segredo único, e cada magia tinha seu protetor,
ninguém mais saberia, mesmo sendo guardião de outras magias secretas.

    Mas essa regra foi quebrada com a Cigana Rosa. Jovem ainda, ela
demonstrava grandes dons em diversas formas de elevar muito mais
certos ensinamentos tradicionais sobre magias ciganas. E sendo assim
ela teve seu nome sugerido para ser a guardiã de sete dessas magias
secretas, ou seja, sete Ciganos desejavam que a linda Rosa fosse a
próxima guardiã de seus segredos mágicos.

    Então ficou um impasse, qual seria e de qual Cigano seria ela a
guardiã.

    Foi levado o fato ao Cigano Mor, o grande chefe do Clã, que
levaria o caso aos Ciganos conselheiros.

    E assim foi feito. Após vários dias de debates, de perguntas e
respostas, de estudos aos dons de Rosa, decidiram por unanimidade que
ela tinha a perfeição e sabedoria de poder ficar como soberana
conhecedora dos sete segredos mágicos.

    E como determinação do conselho Cigano e autorizado pelo Cigano
Mor, Rosa a partir desse dia seria a única Cigana a poder ter o
conhecimento das sete magias, que a foram reveladas um a um pelos
portadores de tais segredos.

    Rosa usava todos esses segredos para a caridade dentro e fora dos
acampamentos Ciganos, tinha no seu coração a bondade e a seriedade de
demonstrar que o poder dos segredos eram para ser usado exclusivamente
para o bem, e é o que ela fez durante toda a sua vida terrena.

    Rosa, com mais idade e maturidade, foi escolhida para ser a
guardiã das pequenas Ciganas, sendo responsável por ensinar,
demonstrar e cobrar as regras rígidas de seu clã.

    Com essa responsabilidade com as Ciganinhas e com o conhecimento
de sete segredos mágicos ciganos, ela se tornou muito procurada e
idolatrada por todo povo de seu clã, e também por vários clãs de
várias regiões.

    Mas ela não recebeu só a admiração e o respeito de todos. Recebia
ouro, joias, sedas, entre vários presentes vindos de todos os
Ciganos de todos os povos. E assim ela também conseguiu fazer nascer
sentimentos ruins por entre muitas Ciganas de outros clãs. Sentimentos
como o ódio, o rancor e principalmente a inveja.

    Uma dessas Ciganas, uma jovem ambiciosa vinda de uma região
distante, que a pedido de seu pai ficara no clã onde nasceu a Cigana
Rosa, tinha muitos sentimentos desse tipo. E como Rosa era vista
dentro do clã como diferenciada nas questões sobre magias ciganas,
essa Cigana então planejou que tiraria Rosa do clã, faria ela ser
expulsa ou mesmo morta.

    Ela tentou muitas coisas, e todas sem sucesso, e isso foi a
deixando cada vez mais rancorosa, com o ódio estampado nos olhos, a
inveja e a ambição de um dito poder, que ela imaginava que poderia ter
eliminando Rosa do convívio do clã cigano.

    Com esses sentimentos ruins, foram abertas portas para espíritos
sem luz, e esses espíritos obsediavam a jovem Cigana dia após dia,
fazendo-lhe sofrer muito com a sua própria ambição e arrogância.

    Ela tomada pela inveja e pela obsessão dos espíritos sem luz,
passou a observar cada passo, cada ação, cada gesto, cada palavra que
Rosa distribuía as Ciganas jovens e as Ciganas que estavam grávidas,
para que assim achasse algo que ela poderia utilizar contra a linda
Cigana dona dos poderes de magia.

    Dentro dos clãs, as Ciganas grávidas ficavam separadas das outras,
não falavam com os homens, não era permitido a elas se socializarem,
enfim, tinham várias regras que deviam ser respeitadas, pois as Ciganas
quando grávidas eram consideradas "Marimé", ou seja, impuras, isso por
um período da gravidez até o batismo do recém nascido.

    Como toda essa tradição era levada muito a sério, e com muita
cautela, as grávidas não deveriam dar a luz dentro das barracas do
acampamento, dentro dos transportes, tocar em coisas como utensílios e
roupas de outras pessoas, pois se caso acontecesse, tudo isso deveria
ser queimado, pois também era considerado impuro.

    E essa foi a grande chance da perversa Cigana ambiciosa, pois a
esposa do Cigano Mor, estava grávida, e próximo de dar a luz.
Logicamente todos os cuidados estavam sendo tomados para que ela não
trouxesse a "impureza" para junto do clã, e a responsável para que
isso não acontecesse era a Cigana Rosa, que como sempre fazia com
todas as Ciganas em estado de gravidez.

    O tempo passou e chegou o tão esperado dia do nascimento do
filho do Cigano Mor. E conforme a tradição, a Cigana grávida não
deveria ser vista por nenhum homem, nenhuma Cigana jovem ou as
crianças ciganas.

    Rosa sabendo desses fatos e tradições, levou a grávida até uma
pequena cabana, para que ali ela pudesse dar a luz, e ao final do
acontecimento, a cabana e tudo mais utilizado para o nascimento do
novo membro do clã seriam queimados.

    A criança nasceu sem maiores problemas, um menino forte e
saudável, que deixou a mãe e Rosa com lágrimas nos olhos pela emoção
do primeiro choro do ciganinho.

    No clã de Rosa havia também uma tradição de logo após o
nascimento, e após saber o sexo da criança, deveria então fazer um
banho de ervas colhidas após o parto e antes da sétima hora de vida do
recém nascido. Essas ervas variavam de acordo com os detalhes do parto,
como o tempo demorado do nascimento, o tamanho do cordão umbilical,
entre outras coisas, que somente as responsáveis pela hora do parto
poderiam estabelecer, e designar cada tipo de erva sagrada.

    E assim foi feito por Rosa, saindo logo após ao parto para ir em
busca das ervas, sendo obrigada a deixar a cigana que acabara de dar a
luz sozinha, pois até aquele momento era vista como impura aos olhos
do povo cigano.

    A jovem mãe, por estar um tanto cansada adormece logo após a saída
de Rosa. E essa foi a chance da ambiciosa Cigana que aguardava o
momento de se vingar da senhora dos poderes mágicos dos Ciganos.

    Com ajuda de um gadjo, no qual ela prometera algumas peças e
moedas de ouro, doparam e levaram a Cigana e seu filho para o centro
do acampamento, se aproveitando da ausência dos Ciganos, e lá a
deixaram com seu filho ao lado.

    Ao chegarem de suas tarefas, Ciganos e Ciganas se desesperaram ao
ver a criança recém nascida e sua mãe, ditos impuros, podendo trazer
mau agouro, espíritos do mal, doenças e miséria, conforme era a lenda
entre os Ciganos.

    O Cigano Mor, era o único que poderia tocar nela, por ser seu
esposo, e foi ele que a levou de volta a barraca na qual ela teria
dado a luz. Mas deveria voltar rapidamente para decidirem o que fazer
em relação aos maus espíritos, que pela tradição, estariam espalhados
por todo acampamento.

    Após se reunirem, os Ciganos mais velhos decidiram que a criança e
sua mãe deveriam ser impostas a condição de impuros por sete anos, e
que nesse período deverias ser estabelecidos locais diferenciados para
que ambos vivessem, ou deixar para sempre o acampamento. Foi
estabelecido também que todos os Ciganos jamais voltassem a acampar
naquele lugar, que se tornou impuro. E que a Cigana Rosa, que era
responsável pelo parto, deveria, ou ser expulsa do clã (na visão de
alguns dos Ciganos), ou ser simplesmente morta (aos olhos de outros).
Foi dito ainda que todos os utensílios utilizados no parto, incluindo
a barraca e tudo que nela continha, deveriam ser queimados
imediatamente, para que não fosse espalhado o mau agouro das impurezas
da pobre Cigana, que agora era uma recém mãe, e vista como um problema
espiritual a ser combatido a todo custo.

    A Cigana ambiciosa, se aproveitando de toda essas regras do mundo
nômade, caminhou até a barraca onde estaria havendo a reunião do
conselho Cigano, e lá adentrou sem pedir autorização. Aos berros,
demonstrando estar obsediada por um espírito negro, disse que era o
espírito da impureza, e que perseguiria aquele clã até o último
Cigano. E só partiria se fosse sacrificados os responsáveis por lhe
chamarem das profundezas.

    Ao ouvirem as palavras vindas da Cigana ambiciosa, o conselho
Cigano então se decide em entregar a alma de Rosa para o sacrifício,
perguntando ao falso espírito como desejaria que fosse essa entrega.

    Então foi dito:

"Hoje ao meio da noite, uma fogueira deverá ser acesa ao centro desse
acampamento. Nessa fogueira deverá estar a mulher Cigana que me trouxe
da escuridão. Ela deverá ser queimada viva."

    Com gestos teatrais, a Cigana Ambiciosa simula um desmaio, que
deixa todos em sua volta atónitos, e decididos a fazer o que foi
mandado pelo falso espírito.

    A noite chega, a fogueira e montada, Rosa é trazida para o centro
do acampamento. Ela é amarrada em um tronco no centro onde será acesa
a fogueira. Seus olhos lacrimejam, mas ela não se desespera, apenas
aguarda a decisão do conselho de acender as chamas. Ao longe a Cigana
ambiciosa observa tudo.

    As chamas deverão ser acesas pelo Chefe dos Ciganos, que se
aproxima com uma tocha nas mãos.

    No instante em que as chamas começam a ser acesas, o céu que antes
estava estrelado e com o brilho da Lua cheia, fica completamente
negro. Nuvens escuras se formam rapidamente sobre o acampamento, e nas
primeiras chamas incandescentes que brotam ao redor da Cigana Rosa, o
céu desmorona em uma tempestade imensa destruindo até a última brasa
acesa.

    O Chefe Cigano virando-se para o conselho, diz que é um aviso dos
deuses, que não é para seguir com o sacrifício da Cigana. E nesse
momento ordenou que a soltassem das amarras.

    Ao ver Rosa solta, a Cigana ambiciosa corre em sua direção com um
punhal na mão, para atacá-la. Ficando de frente a frente com Rosa, a
Cigana a olha com ódio nos olhos, dizendo-lhe que ela poderia ter
escapado da fogueira, mas não escaparia da morte, e que ela teria o
prazer de lhe matar na frente de todos.

    Dizendo isso, a Cigana ambiciosa ergueu o punhal em forma de
ataque, olhou profundamente nos olhos de Rosa, que estava serena, sem
demonstrar nenhuma reação, a não ser segurar fortemente uma medalha
com a imagem de Santa Sara Kali que ela trazia nas mãos.

    A Cigana que empunhava o punhal de aço, fez menção de atacar a
Cigana Rosa, mas nesse ataque uma força invisível levou sua mão
juntamente com o punhal ao próprio coração, lhe deferindo um golpe
certeiro, fazendo assim que ela mesmo tirasse a própria vida.

    Rosa apenas olhava. O corpo da Cigana ambiciosa foi caindo com o
punhal cravado em seu coração. Todo povo Cigano em volta de toda a
cena, ficaram atônitos com tudo, observando o corpo inerte da Cigana
que desejava estar no lugar que não era de seu merecimento, que
desejava ser a Cigana que ela jamais seria.

    Rosa voltou a ser a Cigana dona dos sete segredos ciganos. Ficou
em seu clã até seu desencarne muitos e muitos anos depois. Depois
desse acontecimento, os Ciganos desse clã entenderam que algumas
tradições ciganas deveriam virar apenas lendas, pois o maior perigo
dentro de um povo não é o medo daquilo que não se conhece, e sim a
precaução daquilo que sabemos que existe, como inveja, ambição e ódio.

    Rosa após esse fato se tornou muito mais respeitada do que já era.
E dentre muitos povos Ciganos, ela foi a única mulher a entrar em um
conselho, e todos os homes respeitavam o que era dito por ela.

    Hoje ela é uma Entidade bela trabalhadora da Umbanda. Sendo
respeitada pelas suas lições de caridade, coragem e fé.

Salve a Cigana Rosa!

Opchá Povo Cigano!



Carlos de Ogum

sexta-feira, 10 de julho de 2015 37 comentários

Poema a Pai Xangô - Por Carlos de Ogum

             

O céu clareou lindamente,
o barulho de um trovão ecoou,
da pedreira sagrada incandescente,
a imagem de um Orixá brilhou.

Nas mãos tinha seu livro sagrado,
ao seu lado um feroz leão,
entendi que era muito respeitado,
o grande Orixá vindo do Panteão.

Muitos se curvaram diante de seu poder,
pois a justiça ele dominava,
esse Orixá passei a amar e crer,
de joelhos sua proteção clamava.

Orixá que decide sobre o bem e o mal,
poderoso senhor do raio e do trovão,
Rei divino de poder sem igual,
sempre disposto a seus filhos dar proteção.

Seu machado poderoso corta dois lados,
sua justiça e aplicada em nome de Oxalá,
leva a lei a seus filhos amados,
e ilumina a Umbanda e nosso Gongá.

Senhor divino que rege a inteligência,
Pai supremo dos estudos e estudantes,
Orixá dono de uma suprema imponência,
elevando seus filhos de modo constante.

Seu nome é cravado na pedreira,
seu poder tem o respeito dos Orixás,
grande pacto com Iansã Guerreira,
força tão extrema de todos os Gongás.

Xangô é o nome desse Pai divino,
Pai respeitador e dominador das leis,
pedindo sua proteção Xangô rei do ensino,
dando sua proteção Xangô assim o fez.

De braços abertos fui na pedreira de Pai Xangô,
veio ele trazendo bençãos a meu Gongá,
para as terras de Umbanda ele me chamou,
a fazer o bem em nome de Pai Oxalá.

Xangô deus do fogo grande justiceiro,
filho de Oxalá e a linda Iemanjá,
seu nome tem a força como Ogum Guerreiro,
Xangô razão divina, grande Orixá.

Xangô tem no fogo seu elemento,
é meu Pai e dono de minha razão,
sigo sempre seu fundamento,
tenho Xangô como Orixá de coração.

Na Umbanda amo seu trabalho e poder,
ser seu filho eleva ainda mais minha fé,
tenho nesse Orixá o meu bem querer,
por isso digo: Xangô Caô Cabecile Axé.


Carlos de Ogum

 
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