Senhor Zé Pilintra, é uma das mais conhecidas Entidades dentro da
Umbanda. Muitas pessoas tem um grande afeto a ele, pelo seu jeito
"malandro" de ser e de seu imenso carisma, fazendo com que os
consulentes dessa Entidade se tornem amigos fiéis.
Guia espiritual de personalidade controvertida, personifica a
malandragem e a astúcia adquirida das adversidades da sobrevivência
nas ruas, mas suas práticas estão voltadas para a caridade, a
assistência espiritual e material.
Das manifestações de Zé Pilintra percebe-se a enorme adaptação
cultural a cada região, rompendo todas as barreiras para disseminar a
sua força espiritual em ajudar os necessitados com sua experiência
através de seus sábios conselhos.
Contam as lendas que Zé Pilintra era José Amadeu da Silva,
Pernambucano, mulato quase negro e pobre, mulherengo e festeiro,
mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se tornou um famoso boêmio no
meio da malandragem do bairro da Lapa.
Mas para entendimento vamos descrever a história de Senhor José
Pilintra da estrada da Lapa., que é a Entidade da mesma linha dos
"Malandros", vamos mostrar de onde ele veio, como virou essa Entidade
tão maravilhosa, como trabalhou tanto pela caridade em vida e porque
temos diversas Entidades que levam o nome de "Zé Pilintra", assim como
o personagem de nossa história.
A história de Zé Pilintra da Estrada da Lapa, tem diversas
passagens na Cidade do Rio de Janeiro, no início do século XX, na
época em que os negros que por décadas haviam sendo escravizados, e
agora em liberdade, na verdade uma falsa liberdade, tentavam
sobreviver ao julgo, a falta de trabalho, a má alimentação e as
doenças que tanto afligiram os ex escravos.
Mas vamos voltar um pouco ao tempo para vermos como Senhor Zé
Pilintra chegou ao Rio de Janeiro.
Seu Zé era natural do Estado de Pernambuco. Filho de uma Ex
escrava negra e um feitor de cor branca, portanto ele tinha a pele não
negra como a mãe, mas também não branca como o pai, fazendo assim dele
um mulato escuro que por vezes e vezes sofria o ódio da enorme classe
de brancos.
Batizado de José Amadeu da Silva em sua vida terrena, esse foi o
nome que usou até meados do ano de 1902, quando fez parte dos grupos
que auxiliavam a grande massa de negros nos tratamentos contra as
doenças que se lastrava intensamente dentro dos morros que foram
ocupados por eles.
Esses negros foram obrigados a se bandear para o alto desses
morros, pois com o fim do período escravocrata, no século XIX, sem
posses de terras e sem opção de trabalho nos campos, esses grupos se
deslocaram para o Rio de Janeiro em busca de uma tentativa de
sobrevivência, fazendo assim um aumento desproporcional de pessoas na
então Capital Federal. A elite e administradores da cidade desejando
apagar de suas lembranças aquele povoado de negros e aquela cidade com
vestígios da era colonial, mandaram demolir todos os cortiços fazendo
assim os negros saírem e irem morar nos morros, longe da grande elite
de brancos.
Sendo esses lugares sem a menor condição de se viver, as doenças
se alastraram, e sem auxilio da elite os negros morriam sem a chance
de cura.
Voltando agora ao nosso foco que é Senhor Zé Pilintra, um pouco
antes desses acontecimentos, ele já tomado da decisão de partir de
Pernambuco, seguiu em viagem sem destino pelo país.
E a cada parada, a cada região, ele buscava novos conhecimentos,
sendo em áreas comuns como a agricultura até em áreas específicas como
cuidar de uma pessoa com alguma moléstia.
E foi assim que aprendeu o oficio de cura em moléstias, por volta
do final do século XIX, José Amadeu, com sua conversa amigável, com
seu carisma e com sua vontade de aprender, ficou em companhia de um
velho sacristão, que tinha como missão sanar as dores das pessoas que
buscava ajuda em sua paróquia, e nesse período em companhia ao
sacristão, José Amadeu aprendeu que ele precisava ajudar a quem
necessitava, mas precisava fazer muito mais do que já fazia.
E assim ele decidiu partir.
Após dezenas de dias em viagem, ele chega ao Rio de Janeiro.
Observando a situação dos negros, que morriam sem auxilio, decidiu
que era ali que teria que ficar para cumprir sua missão.
Começou acompanhar o dia a dia dos médicos da elite, observava
tudo, onde conseguiria medicamentos, com quem conseguiria, como esses
médicos se vestiam e como falavam.
Assim ele permaneceu junto com os negros, tentando sanar as dores
de cada um, tentando salvar a vida de crianças que sofriam
intensamente com várias pestes.
Começou a perambular pela cidade, conheceu pessoas e chegou na
Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, e lá que conseguiu seu grande
feito, juntar pessoas brancas e mulatas que abraçaram as causas na
qual ele lutava.
E assim começou um grande grupo de homens e mulheres, que faziam
da luta de manter o povo do morro saudável, mesmo contra a vontade dos
poderosos da elite e dos administradores da cidade.
E foi esses poderosos que começaram a fechar as entradas para esse
morro, colocando a força policial de guarda para que ninguém pudesse
subir ou descer, fazendo assim com que os negros não tivessem o
direito de se misturarem com a tal classe de elite.
Foi também proibida a busca na parte baixa da cidade por
medicamentos e alimentos, fazendo que os negros se revoltassem, e
tentassem descer em busca dessas coisas para o povo. E ao descerem,
revoltosos, eram presos e assassinados.
Foi por esse motivo que Zé Pilintra e todo seu grupo de amigos e
amigas da boemia, se encontravam as noites nas imediações do bairro da
Lapa, com intuito de planejarem medidas de ajudarem ao povo dos
morros.
Ficando acertado que não usariam a força, mas sim a conversa e
jogos de palavras juntamente com a malícia da malandragem que
aprenderam nas ruas e o sorriso sempre aberto e cativante.
E assim era feito, no meio de conversas e sorrisos, demonstração
de amizade por parte dos rapazes com os policiais responsáveis por
tomarem conta das entradas dos morros, assim como das moças que com
grandes atuações, se fingiam de encantadas pela força e farda desses
policiais, iludindo-os com olhares e sorrisos, enquanto Zé Pilintra e
outros Malandros passavam a surdina levando todos os tipos de
materiais e alimentos para os negros no alto dos morros escuros.
Eles passaram a andar com a tradicional vestimenta branca, terno,
gravata encarnada para que assim não fossem confundidos com os
policiais, que durante as noites subiam os morros, ora para eliminar
algum negro, ora para tentarem levar as grades os "Malandros" que
tanto lutavam, sobre o comando de Zé Pilintra, para tentar auxiliar o
povo tão sofrido dos morros.
Senhor Zé Pilintra, com essa ginga de malandro boêmio, com o
carisma de amigo de todos, com a sabedoria que adquiriu pelas andanças
que fazia, com a infinita bondade de tentar ajudar a quem necessitava,
ao fazer sua passagem foi feito como Entidade pelo Pai Maior, para que
assim pudesse continuar seu lindo e maravilhoso trabalho de caridade
dentro dos terreiros e centros Umbandistas, como continua a fazer até
os dias de hoje.
Poderemos observar que dentro de vários terreiros encontraremos
médiuns incorporados com a Entidade Zé Pilintra, as vezes até mais de
um no mesmo terreiro e na mesma hora.
A explicação disso é que, sendo Zé Amadeu da Silva um grande líder
dentre todo os grupos de amigos da boemia, ele foi adorado por muitos,
que seguiram o seus passos, e como ele, José Amadeu, o Zé Pilintra,
era extremamente respeitado e até temido por muitas regiões, esses que
seguiam seus passos, se apresentavam como Zé Pilintra, para assim
conquistarem o respeito, e fazer disso a porta de entrada para a luta
em prol da caridade.
E tudo isso começou com José Amadeu da Silva, Pernambucano
arretado, boêmio sorridente, amigo dos amigos, mulato/negro que tinha
orgulho de sua cor, amava suas raízes, lutava pelos irmãos menos
favorecidos.
Hoje Na Lei De Umbanda Acredito No Senhor Pois Sou Seu Filho De Fé
Pois Tem Fama De Doutor.
Lá No Morro Era Rei, E Na Lapa Respeitado. Hoje Numa Linha De
Umbanda, Zé Pilintra É Louvado.
Salve Meu Camarada, Compadre, Amigo, Pai, Baiano, Malandro, Zé
Pilintra Da Estrada da Lapa!
Proteção meu compadre Zé.
Saravá!!!!
Carlos de Ogum