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Mariazinha da beira da praia,
como é que balança a saia?
É assim, é assim, é assim,
é assim que balança a saia.
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Mariazinha nasceu na beira do rio,
na beira do rio lá no Juremá.
Mariazinha nasceu na beira do rio,
na beira do rio lá no Juremá.
Aonde a lua brilha, clareia cambina.
Clareia mata pra Ibeijada brincar.
Aonde a lua brilha, clareia cambina.
Clareia mata pra Ibeijada brincar.
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Mariazinha da Praia é uma Entidade da linha das crianças que traz
sua meiguice e sua alegria para os Terreiros de Umbanda, e neles faz a
caridade a quem necessita de ajuda espiritual.
Como toda linha de Ibeijada ela adora brincar, balançar seu
vestidinho, sorrir, e claro comer seus docinhos e balas enquanto faz
seus trabalhinhos para a caridade.
Muitas são as Entidades de luz que usam o nome de Mariazinha da
Praia, mas hoje esse texto vai demonstrar a história de uma
específica, a história de Mariazinha da Praia, a pequena menininha
que curava os males das pessoas necessitadas com a água do mar, areia
e conchinhas. Essa linda menininha de olhar carinhoso, de sorriso
tímido, de ar um tanto envergonhado, e a nossa amada Entidade de Luz,
que busca fazer a caridade no Terreiro Pai Ogum Megê (TUPOM), e que
vamos contar um pedacinho de sua história, que nos foi revelado pelos
nossos amados Pretos Velhos da casa, além da própria Mariazinha.
Mariazinha nasceu em uma região praieira do Sudeste do Brasil, no
início do século XX. De uma família sem muitos recursos, seus pais
eram pescadores e trabalhavam sobre o domínio de grandes negociadores
de peixes e frutos do mar, com esse fato a linda menina de olhar
tímido passava a maioria do tempo de seu dia admirando a beleza
encantadora do mar, e relembrando o que sua avó, que já tinha partido
para os braços de Oxalá, dizia sobre as magias e as bençãos daquela
imensidão de águas cristalinas, e também sobre a linda rainha dos
mares, na qual a velha senhora a chamava de "princesa Janaína".
Mariazinha, ainda uma pequenina criança, ficava encantada com
tudo aquilo, seus olhos negros brilhavam de emoção ao se aproximar da
areia fina e das águas dançantes pelo poder das ondas, seu coração
palpitava quando ouvia o som das ondas e sentia o cheiro
inconfundível da maresia.
Certa tarde em que o Sol já estava se pondo, a maré baixa, os
pescadores se encaminhando a suas choupanas para uma noite de
descanso, Mariazinha sentada a beira do mar, brincando na areia, com
seus pensamentos voltados a aquele momento de paz, se surpreende ao
escutar uma voz feminina, doce, meiga e amável chamando por seu nome,
por um instante ela imaginou ser a sua mãe, mas ao levantar seus olhos
fintou uma linda imagem de mulher, de lindos cabelos longos, sorriso
encantador, vindo em sua direção, parecendo plainar sobre as águas do
mar.
A menina nem por um instante teve medo, apenas se levantou, sorriu
de volta a bela mulher, sentiu seu coração acelerar em uma emoção
indescritível.
A mulher levando as mãos até as mãos da menina, as pegou com
carinho, acariciou-as e disse com uma voz amável quase sussurrando:
"Menina Maria, sei que é uma criança especial e iluminada, sei que
apesar de sua pouca idade vai compreender muito bem o que vou lhe
dizer nesse momento. Você é uma escolhida de Deus, uma criança de
grau espiritual elevado, tem a proteção de todos os Orixás,
principalmente a minha, sua Mãe Iemanjá, ou como dizia sua amada avó,
a "princesa Janaína".
Você minha doce criança, tem uma missão em sua caminhada, com seu
gesto de amor, carinho e fé, vai auxiliar a compreensão dos seres
desse vilarejo. Com sua fé e seu amor, vai salvar centenas de vidas de
crianças inocentes, mulheres sem proteção e homens que buscam viver em
paz. Isso não vai demorar acontecer, logo deverá demonstrar seu poder
de amar e de curar. A cura deverá vir através da magia das águas dos
Oceanos, através dos alimentos que os mares oferecem, das algas que
brotam nos fundos desses mares. Com essas coisas você vai auxiliar o
combate a uma grande peste que cairá sobre todos desse vilarejo, sendo
bem afortunados ou não. Essa peste além de trazer muitas mortes em
todo povo, vai trazer discórdias entre os homens, fazendo assim que
aqueles que sobreviverem a peste, morrerão por intermédio do ódio
espalhado pelos próprios homens.
Você deverá curar a maioria dos adoentados, sejam eles do lado dos
trabalhadores ou dos negociantes, não deve se deixar enganar por
falsos profetas, ou pessoas que não veem o desespero de seus
semelhantes. E após isso, vai ter uma grande decisão a tomar, se tomar
a acertada acabará com a peste e com o ódio, fazendo assim os homens
trabalharem em conjunto para a salvação de seus semelhantes. Mas
lembre-se, ao tomar essa decisão, mesmo sendo uma criança em tenra
idade, não deverá ser tomada pelo medo, estarei sempre a seu lado, e
no momento certo você virará um Anjo iluminado a serviço da caridade
em nome de Deus, e eu estarei aqui para lhe ajudar a entender esse
caminho.
Também será concedida a alegria, de enquanto você auxilia seus
semelhantes, a presença espiritual de sua caridosa avó, senhora que
tanto lhe ama e deseja lhe dar proteção nessa caminhada. Portanto
nunca estarás só.
Aqui lhe dou a benção e a proteção, ao se sentir receosa, basta
apenas rezar com sua fé infantil."
E assim a linda Mãe Iemanjá partiu plainando sobre as águas
azuladas do grande mar, indo em direção ao horizonte até desaparecer
dos olhos da menina que estava extasiada.
Ela com lágrimas nos olhos, ainda sem saber o que viria realmente
pela frente, por um instante sentiu medo, suas lágrimas rolaram como
gotas de cristal, entrelaçou seus dedinhos das mãos uns com os outros
demonstrando a verdadeira idade infantilizada daquela menina tão
pequenina, mas que deveria ser uma grande guerreira a partir desse
momento.
Ela se vira para a direção do vilarejo e caminha, se sente um
tanto fragilizada e temerosa, acreditaria que não seria capaz de uma
missão tão grande, sendo ela apenas uma criancinha. Suspirou
profundamente, secou as lágrimas que teimavam em cair, e se sentou
novamente nas areias finas da linda praia cercada de palmeiras
verdejantes. Teve medo de retornar ao vilarejo, teve medo de estar em
delírio, teve medo de falhar.
Sentada ao chão arenoso, de pernas entrelaçadas uma a outra,
levou as mãos ao rosto meigo e angelical, como se tentasse se esconder
do mundo. Sentiu um afago em seus cabelos longos e negros, assustada
deu um sobressalto e viu a seu lado a sua doce avó que tanto amava,
que lhe disse com carinho:
"Venha meu Anjo, vamos retornar a choupana de seus pais, deverá
dormir e descansar bastante. Esses dias serão de reflexão, e dentro de
alguns dias o trabalho árduo se iniciará, você deverá ter forças para
essa jornada, até chegar o dia que estará junto a mim."
E juntas se foram para o vilarejo. Ao chegar na choupana em que
residia, olhou aos lados, viu várias crianças de todas as idades
brincando, homens e mulheres refazendo suas redes de pescas
danificadas por algum motivo durante a lida no mar, seus pais na porta
do pequeno casebre em conversas sobre a rotina do dia a dia. E nisso a
menina entendeu que era uma missão grandiosa, mas que ela deveria
fazer com a força e o amor de Deus e dos Orixás.
Ela correu ao encontro dos pais e os abraçaram, como o inicio de
uma despedida. E ali entendeu que seu destino já estaria traçado.
Os dias se passaram, e conforme esperado a peste começava a tomar
o corpo físico de várias pessoas do vilarejo, se espalhando
rapidamente entre todos, inclusive pelos senhores de grandes posses
que ali vinham negociar os pescados.
A primeira morte foi anunciada com temor entre os moradores do
vilarejo, todos buscavam soluções mas sem nenhum êxito. Os males se
espalhavam como fogo em pólvora. Homens, mulheres, crianças, idosos,
ricos, pobres, de todas as crenças e de todas as raças, ninguém
escapava da veracidade da peste maligna.
Com o domínio da peste sobre todos, os grandes negociadores, com
suas prepotências, seus desamores e suas ganâncias, determinaram que
deveriam encontrar culpados pela grandiosa desgraça que estava
acontecendo. Com isso abriram uma guerra contra os enfraquecidos
pescadores, dizendo que eles teriam trago a peste a região, e deveriam
ser expulsos dali, e os que teimassem em ficar deveriam ser mortos e
terem os corpos queimados para evitar a disseminação da doença.
Os pescadores não tendo para onde ir, e como trabalharem para
sustentarem suas famílias, decidiram ficar e guerrear contra os
grandes senhores de poder aquisitivo elevado, e assim começara uma
guerra maior que a guerra contra a peste maligna.
Com esses fatos a menina Mariazinha foi em busca das forças dos
mares para poder tentar paralisar a peste, assim como teria dito a sua
amada Mãe Iemanjá.
E assim ela o fez, no meio de mortes pela doença ingrata e pelo
ódio entre os homens, ela se ajoelhou diante do mar, pediu
ensinamentos, e o que deveria levar e fazer para auxiliar os doentes.
Do mar saíram várias Sereias, filhas de Iemanjá, e em suas mãos se
encontravam peixes, crustáceos, algas, e várias outras coisas do fundo
do mar, entre essas Sereias uma trazia um grande jarro com água, e
outra trazia nas mãos os raios do Sol e o brilho da Lua.
Chegaram bem próximas a orla, Mariazinha adentrou nas águas do
mar, recolheu os peixes e algas, por um instante não sabia muito bem o
que fazer com eles, mas ao seu lado estava a sua amada avó, que foi
lhe dando instruções de como proceder.
Com a ajuda de sua querida avó, Mariazinha ia pegando das mãos de
cada Sereia um elemento e colocando no jarro, já com as águas sagradas
do mar.
Macerou algas de diversos tipos, colocou vários peixinhos e
pequenos crustáceos no jarro, que quando eram colocados em seu
interior se transformavam em minúsculos fachos de luzes brilhantes e
coloridas, fazendo com que a linda menina sorri-se se distraindo
deixando aquele momento de ajuda ao próximo ainda mais gratificante.
Ao acabar a mistura da água, peixes, crustáceos e algas, foi
pedido a menina que ela fizesse uma oração com toda fé de seu coração
e com todo amor de sua alma, e assim ela o fez. Nesse instante as duas
Sereias que traziam nas mãos os raios do Sol e o brilho da Lua,
imantaram a doce menina com eles, e das pequenas mãozinhas da criança
saiu pequenos raios indo de encontro com o jarro sagrado. Após alguns
minutos assim, as Sereias retornaram para o fundo do mar, deixando a
menina apenas com o espírito de sua avó.
A doce senhora, em luz espiritual, instrui a neta a colocar a água
do jarro em pequenas moringas de barro e levar para o vilarejo o mais
rápido possível, afim de mostrar a todos o poder de cura existente
naquela água, e tentar buscar a paz entre os homens que guerreavam
buscando um culpado pela disseminação da peste.
A menina foi de volta ao vilarejo, distribuindo a água da moringa,
e ao beberem as pessoas adoentadas logo demonstravam melhoras, abrindo
os olhos, se levantando de seus leitos, controlando a respiração que
antes se apresentava pesada e muito difícil.
Os moradores do vilarejo entenderam que era uma água sagrada que
vinha curar a todos, e por intermédio das mãos daquela menina
abençoada pelas forças do mar, chegaram até eles para disseminar a
cura e a paz.
Muitos que já se sentiam fortalecidos, correram para junto da
menina, demonstrando a vontade em ajudá-la, com moringas nas mãos, a
seguiram até o local onde se encontrava o jarro sagrado, enchiam com a
água preparada, e corriam de volta ao vilarejo, e em toda a região em
torno dele, onde também se encontravam várias pessoas sofredoras pelos
males da peste. Pessoas essas que antes desejavam aniquilar todo o
vilarejo, alegando que era dali que se espalhava todo o mal.
Os ânimos, que antes exaltados, ficaram mais tranquilos com a
notícia de que estava acontecendo um "milagre".
A menina Mariazinha, juntamente com o espírito de sua avó, ia até
a linda praia, refazia com amor e fé toda a mistura de água, peixes e
ervas, trazidas pelas Sereias, além de imantar com os raios do Sol e
o brilho da Lua, como da primeira vez.
O trabalho foi intenso e árduo, mas o resultado foi uma vitória a
todos. As pessoas, nitidamente estavam fortalecidas, agradecidas,
felizes e com a fé e as esperanças elevadas.
Dentre todos os adoentados se encontravam a família de um grande
negociador, de muitas posses, de estrema intolerância e
prepotência. Esse negociador, com seu poder de indução, e poder maior
econômico, foi que levou o aumento do ódio das pessoas que rodeavam a
região do vilarejo, contra os seus moradores, fazendo assim com que a
guerra da intolerância e ódio crescessem. Mas tão debilitado quanto
todos, agora se arrastava em sua residência, sofrendo os males da
peste.
Ao saber das curas que estavam ocorrendo pela região, pelo
intermédio da água sagrada e pela pequena criança, ordenou a um de
seus serviçais que fosse com urgência até o vilarejo e trouxesse a
cura a ele e a sua família.
Dentre as pessoas da família desse famigerado negociador, tinha
sua filha, menina doce e meiga, com apenas 5 anos de idade, na qual a
peste atacou com toda a força e sem piedade.
A menina inerte em seu leito, demonstrava que sua vida se findaria
em poucas horas, despejando assim um grandioso desespero ao negociador
e sua esposa. Vendo o sofrimento da sua pequena filha, o homem
determina que seja trago, o mais rápido possível, o santo remédio para
aliviar suas dores.
Assim foi feito, o serviçal saindo como um relâmpago em seu baio,
foi até o vilarejo e retornou com uma moringa com a água da cura.
Todas as pessoas da família do negociador e mais alguns serviçais,
tomaram a água, e logo após sentiam a melhora de uma forma
inexplicável. Porém a menina, filha do poderoso homem, não obteve
nenhuma reação. De olhos fechados, muito debilitada, febril,
continuava inerte, para desespero do homem e sua esposa, que já se
encontravam extremamente mais fortes.
A febre da menina não cessava, e a cada instante parecia aumentar,
já causando convulsões, sua pele ressecada, pálida, trazia uma imagem
terrível aos olhos de seus pais, que choravam de desespero.
O homem negociador então sai em disparada com a menina em seus
braços, e a galopes vai em direção do vilarejo, chegando lá aos
gritos de desespero pedindo ajuda a quem pudesse salvar sua filha.
Mariazinha corre em direção ao homem, que ao vê-la se atira de
joelhos a seus pés, pedindo perdão pela intolerância com o povo do
vilarejo, pedindo que todos o perdoassem por ser ele o culpado de
iniciar uma guerra entre os ricos, contra o povo menos afortunado.
Pedia perdão a Deus, pedia a salvação da sua inocente filha, clamava
intensamente com lágrimas nos olhos pela cura da menina.
Pegou nas mãos de Mariazinha com carinho, seu jeito arrogante
agora se transformava em plena humildade, beijou as mãos da menina,
sussurrando que já tinha dado a água sagrada a sua filha, mas não teve
efeito sobre ela. E com um choro verdadeiro e de dor, perguntava a
menina, como ela poderia o ajudar.
Mariazinha se afasta do homem, se vira em direção ao mar, se
ajoelha e começa a fazer sua oração mentalmente a Mãe Iemanjá, que
logo aparece com sua face serena, bondosa, com um sorriso meigo no
rosto, dizendo a menina:
"Minha doce Mariazinha, para salvar essa menina da garras cruéis
da morte, deverá acrescentar uma nova alga, que deverá ser pega no
interior de uma caverna que fica submersa. Essa caverna vai estar a
vista com a maré baixa, mas terá pouco tempo para entrar lá, apanhar a
alga correta, que você vai reconhecer logo que a vir, e sair antes da
maré subir novamente. Nesse local só poderá ser você, com seu coração
puro e amoroso, deverá entrar. Nesse local vai entender sobre a
maldade e a injustiça dos homens sem coração. Mas não temas, estarei
aqui para te levar a um caminho no qual, sua luz e sua caridade
amorosa vai lhe entregar nas mãos de nosso amado Deus."
Com isso Mariazinha explica as pessoas presentes o que ela deverá
fazer para trazer a menina adoentada a se restabelecer. Explicando
também sobre a nova alga, a caverna, e que deveria ir só.
O negociador se levanta deixando toda aquela humildade passageira
no chão, esbravejando diz que ele próprio iria buscar a tal alga, que
não deixaria a vida de sua filha nas mãos daquela criança.
Algumas pessoas contiveram o negociador que parecia esbanjar ódio
em seu coração, mas Mariazinha, sabendo que o tempo era curto, tanto
para salvar a menina, quanto para a baixa e a subida da maré, saiu
correndo, sem dar atenção ao que o homem esbravejava.
Chegando nas pedras que levavam a caverna, ela aguardou alguns
minutos, e diante de seus olhos via as águas se abaixarem mostrando a
entrada da caverna um pouco mais abaixo de onde ela estava. Ela desceu
até lá, e entrou, começando a busca pela alga.
Enquanto isso, por um descuido dos pescadores, o negociador saindo
as escondidas, vai em direção da caverna, para que assim conseguisse,
no pensamento dele, trazer a tal alga rapidamente para salvar sua
filha.
Parecendo outra pessoa de quando de joelhos estava a pedir perdão
pelas suas atrocidades, o negociador se lembrava dos momentos de dor
que passou pela disseminação da peste, na qual ele julgava os
pescadores culpados.
Sua mente trabalhava uma vingança tão logo assim sua filha se
restabelecesse. Deveria ele expulsar toda aquela "gente suja" dali
antes que trouxessem mais males e pestes a todos da região.
Chegando nas pedras acima da entrada da caverna, ele já ia descer
quando notou que as águas começavam a subir, avistou a menina
Mariazinha, que nesse momento já estava com as algas nas mãos, na
entrada da caverna.
Ele ao vê-la gritou, para que ela se apressasse, pois estava
ansioso para levar a cura a sua filha, e claro, na mente dele, iniciar
uma nova guerra contra os pescadores.
Mariazinha ao prestar atenção no esbravejamento do homem se
distrai, pisando em uma pequena loca nas pedras da entrada da caverna,
na qual seu pé fica preso.
Tentando de todas as maneiras se soltar, ela pede ajuda ao cruel
negociador, que diz a ela para lhe entregar as algas, pois ela poderia
deixá-las cair nas águas dançantes do mar. E logo que pegasse as algas
ele iria puxá-la para cima, fazendo assim que seu pé se desprendesse
da loca.
Ela esticou os bracinhos em direção do homem, a maré já estava
alta, as águas que teimavam em encobrir a entrada da caverna já
estava perto da linha da cintura da pequena criança. Ele esticou os
braços a ela, e com uma ação rápida e covarde pegou de suas mãos as
algas, deixando a menina presa.
Ele olhou para ela com um olhar de desprezo, as águas da maré já
estava chegando ao rosto angelical da menina, ele deu as costas, e
saiu em passos largos, levando nas mãos as algas e deixando Mariazinha
entregue as forças descomunais das águas do mar, que nesse momento já
tinha encoberto toda a caverna.
O homem andando sobre as pedras, por um instante se descuida,
escorrega e deixa as algas caírem. Desesperado verifica que ficou
algumas algas presas em algumas pedras logo abaixo de si. Com um
esforço descomunal tenta pegá-las, e ao deitar sobre as pedras e
levar a mão em direção as algas, não nota uma enorme onda de tamanho
desproporcional que vem em direção das pedras, arrastando tudo e todos
a sua frente. Com isso o homem e puxado para dentro do mar, e sem a
menor chance de se salvar, tem seu desencarne de um modo trágico e
dolorido.
Com o sumiço do negociador do vilarejo, alguns pescadores foram
também em direção a caverna, quando avistaram todo o acontecido.
Retornaram desolados por acreditarem que Mariazinha tinha sido
engolida pela enorme onda também, sem saberem da crueldade feita pelo
negociador.
Ao chegarem ao vilarejo, relataram os fatos a todo povo, não
sabiam o que fazer com a menina adoentada, que nessa altura sua
respiração estava intensamente fraca. A mãe da menina, esposa do
negociador, sentada ao chão, chorava intensamente, clamava a Deus pela
sua menina, e nesse momento o céu abriu um lindo facho de luz azulada,
e desse facho apareceu a linda imagem de Mãe Iemanjá de mãos dadas com
a linda e sorridente Mariazinha, que trazia em uma das mãos algumas
algas, que foram entregues a sua mãe. E essa adicionou no grande
jarro,que brilhou como que se soltasse raios do Sol.
Deram a água sagrada a menina, que como em um passe de mágica abre
os olhos, olha para sua mãe e sorri. Seu estado febril chega ao fim,
suas dores se acalmam, ela se levanta e abraça a mãe. Como fosse por
encanto a menina se fortaleceu imediatamente, fica de pé, corre até a
luz que envolvia Mariazinha e Iemanjá, e se ajoelha em agradecimento,
fazendo uma linda oração.
De mãos dadas a Iemanjá, a menina, que agora era chamada de
Mariazinha da Praia, segue para o mar, recanto que agora seria seu
novo lar.
Todos ficam encantados com aquela imagem, até mesmo os pais de
Mariazinha, que mesmo com a tristeza de saber do desencarne da menina
na vida terrena, entenderam que ela estaria nos braços e na proteção
da Rainha do Mar, e assim teria a caminhada iluminada para o lado de
Deus, sendo ela mais um anjinho que trabalharia em prol da caridade
divina.
E realmente foi assim, hoje a doce Mariazinha da Praia tem sua
presença em terreiros de Umbanda, trazendo carinho, amor, paz,
ensinamentos, fé e caridade a seus consulentes.
Salve a Erê Mariazinha da Praia.
Oni Ibeijada.
Carlos de Ogum