A História de Vovó Benedita.
Vovó Benedita das Almas,
luz das Almas brilhou lá no céu,
luz das Almas brilhou lá no mar.
Vovó Benedita Preta Velha de fé,
vem lá da Bahia trazendo bençãos de Pai Oxalá.
Vovó Benedita das Almas,
filha protegida de Mãe Iemanjá,
tem a luz na sua caminhada,
vovó linda que abençoou nosso Gongá.
Saravá Vovó Benedita,
saravá o seu Jacutá,
saravá a nossa Umbanda,
Onde Vovó Benedita vem trabalhar.
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Vovó Benedita é uma bela negra que foi escravizada nos primórdios
de sua infância. Viveu por toda sua vida em uma fazenda na região
Sudeste do Brasil. Em sua caminhada na vida terrena teve muitos
sofrimentos, mas nenhum deles fez com que a negra Benedita perdesse o
que ela tinha de mais lindo, sua fé, sua alegria e coragem de caminhar
adiante.
Quando menina ainda ficou sem a proteção de sua mãe, que
desencarnou por um forte mal nos pulmões, e como seu pai teria sido
vendido para atuar como escravo trabalhador em roças de grãos de café
em uma distante fazenda, ela se encontrou só ainda em tenra infância.
Mas na verdade não estava só, pois Oxalá colocou no caminho da
menina uma negra que tinha o dom de amar a todos como mãe. Essa
negra, já com a idade madura, não se fez de rogada em assumir com um
grande amor maternal a pequena menina Benedita.
E com o passar do tempo a negra que protegia a menina passou a
ensinar-lhe tudo sobre as crenças, a fé e as magias dos negros
africanos, para que assim ela crescesse sem se sentir desprotegida.
O tempo foi passando a menina Benedita já era uma linda moça
sorridente, por demais brincalhona e extremamente feliz, mesmo estando
na condição de escrava.
A sua protetora, a negra Joaquina, já com uma idade bastante
elevada, tinha a jovem Benedita como uma afilhada amada, a ensinava
tudo que podia, todas as magias, todas as rezas e benzeduras. E claro
que com isso seu apego cresceu bastante.
Na fazenda já havia nascido a sinhazinha filha do coronel
cafeicultor, uma bela menina de pele branca como um copo de leite, e
foi designado a função a Benedita a ser sua mucama, que cumpriu muito
bem essa função desde a tenra infância da bela sinhazinha.
A sinhazinha tinha adoração pela mucama, onde ia a negra deveria
estar junto, caso contrário ela reclamava. E com o passar do tempo as
duas ficaram inseparáveis, principalmente que junto a elas sempre
estava um primo consanguíneo da jovem Benedita, o menino Benedito,
negrinho falante, brincalhão e esperto, que junto com sua prima mais
velha faziam tantas travessuras, fazendo assim a sinhazinha
gargalhar, em uma felicidade extrema.
Sempre observados pela velha Joaquina, os três passeavam
alegremente, sorrindo e pulando de um lado para o outro, como se
aquele mundinho deles fosse mágico.
Anos e anos se passaram, a sinhazinha, e o negro Benedito
cresceram, a negra Benedita envelheceu, mas continuavam as suas
aventuras como crianças. Uma amizade grandiosa, uma menina branca e
dois negros, juntos como uma família.
A negra Benedita era respeitada e amada dentro da fazenda, seu
sorriso, mesmo cansado era encantador, seu modo de demonstrar a
felicidade contagiava a todos em volta. O próprio coronel e sua sinhá
tinha um carinho enorme pela negra.
Certa vez, ao visitar uma fazenda de um amigo de seu pai, a jovem
sinhazinha se encontrava nos aposentos de uma amiga, filha do
fazendeiro, quando ao anoitecer tiveram a triste ideia de se
aventurarem pelas matas próximas da região, sem avisar aos pais da
amiga, ou mesmo levarem uma companhia mais experiente para essa
aventura. Saíram as escondidas com um sorriso infantil nos rostos,
como se fossem descobrir o mundo lá fora.
Mas as matas tem muitos perigos e mistérios, principalmente ao
cair da noite.
Em certo momento, as duas jovens, já adentrando pela floresta,
sentem um certo receio, e decidem voltar a segurança dos aposentos da
amiga. Contudo a jovem amiga da sinhazinha se espanta com um ruído e
diz a sinhazinha que ouviu uma criança chamando seu nome. A sinhazinha
diz não ter ouvido nada, e pede para saírem rumo a fazenda. A jovem
replica e sem dar ouvidos a sinhazinha se embrenha pelas matas
escuras, como se estivesse em transe, e nos seus ouvidos uma voz
infantil suplicando ajuda e chamando por seu nome.
A sinhazinha implorava que ela voltasse, que não tinha nada e nem
ninguém lhe chamando ou em perigo. Mas a jovem não ouvia mais nada,
saia em disparada sem olhar para trás, sem dar atenção a mais nada,
sem recear o que poderia vir pela frente.
A jovem sinhazinha sem ter o que fazer, foi atrás da amiga para
tentar detê-la, não poderia deixar que ela se perdesse nas matas
escuras.
Correndo foi adentrando pela floresta a procura da amiga, parecia
ver vultos gargalhando, mas colocou esses fatos como sua imaginação e
o grande temor de estar naquele lugar. Apavorada chamava pela amiga,
mas nenhuma resposta era obtida.
Nesse mesmo momento, na casa grande, residência da sinhazinha, a
negra Benedita estava impaciente, angustiada, extremamente nervosa,
como isso não era de seu costume, tentou se acalmar, sem entender o
que se passava.
Fechou os olhos, tentava descansar, mas a lembrança da sinhazinha
vinha em sua mente todo o tempo.
Se levantou de sua esteira, caminhou até uma pequena janela, olhou
para o céu, e rezou firmemente para Zambi, Oxalá e todos os Orixás
para que protegessem a sua sinhazinha.
Num ímpeto saiu em disparada indo ao encontro de seu primo e
grande amigo, o negro Benedito. Chegando a ele pediu-lhe ajuda para
que de alguma forma saísse da fazenda sem que fosse vista. Sem muitas
perguntas, o amigo e primo, lhe ajudou dizendo que não entendia o
porque ela desejava sair assim, mas ajudaria pela confiança que nela
tinha. A negra disse que depois explicaria, mas naquele momento
deveria seguir sua intuição e tinha que partir.
De passos apressados ela se foi, como em transe ela seguia
caminhos como que se uma força maior a levasse. Chegando até a entrada
da floresta, ela sem receio se embrenhou pelas matas escuras. A cada
passo que dava seu coração acelerava, sua boca estava seca, não tinha
muito controle de seus membros, como que realmente estivesse sendo
tomada por uma energia divina.
Em outra parte da floresta, a sinhazinha ainda buscava sua amiga,
quando sem que ela esperasse uma sombra, que parecia com a de um homem
a chama e diz: "Em busca de sua amiga minha jovem? Me siga que a
levarei até ela." E sem esperar resposta da menina sinhá, a sombra
entra cada vez mais pelas matas. A Sinhazinha como que encantada segue
aquele vulto escuro, indo parar em uma pequena clareira na qual viu
sua amiga caída. Seu desespero foi intenso ao ver essa cena, e correu
em direção da moça. Surpreendida novamente pelo vulto da escuridão,
que saiu do nada, ela se assusta e para, receosa do que poderia
acontecer.
A sombra negra vem de encontro a jovem, estende-lhe a mão e diz:
"Jovem menina, nesse momento você só tem uma maneira de salvar sua
amiga das garras sombrias da morte. E para isso basta você apenas
falar com toda sua convicção que aceita entregar seu espírito a mim.
Com esses dizeres, prometo-lhe que sairá daqui com segurança e
proteção, levando sua amiga. E só vai novamente se reencontrar a mim
quando fizer sua passagem dessa vida terrena."
Ao ouvir essas palavras, a jovem sinhazinha lembrou-se das
histórias sobre obsessores de almas, espíritos da escuridão que
tentavam induzir as pessoas encarnadas a entregarem seus espíritos a
escuridão, histórias essas que eram contadas pela negra Joaquina, pela
negra Benedita, e claro pelo seu grande amigo, o negro Benedito.
Ao perceber a intenção do obsessor, a jovem sinhá com um grito
desesperado, diz não aceitar tal acordo, e que o Deus dos negros ia
salvar a ela e sua amiga das garras daquele espírito sem luz.
Diante dessa ação da menina, o vulto negro solta uma enorme e
assustadora gargalhada, e diante dos olhos da jovem se transforma em
uma descomunal cobra, de tamanho grandioso que nunca o mais valente
caçador poderia imaginar.
Antes mesmo que a menina sinhá pudesse se defender, o obsessor em
forma da gigantesca cobra, ataca e se enrola no corpo da menina,
tentando assim fazer seu esmagamento.
Ela desesperada, sem poder gritar ou qualquer outra ação, se pôs
a chorar e mentalmente rezava, as mesmas orações que aprendera com
seus amigos negros.
Nesse instante, do meio da mata, surge a negra Benedita, que ao
ver aquela cena de desespero, se ajoelha na mãe terra, e roga a todos
Orixás pedindo que salvem sua menina branca das garras da morte.
O vento veio fortemente balançando as árvores, o céu se abriu para
a saída de uma luz de imensidão grandiosa, essa luz desceu sobre o
corpo da negra, ela se levanta com um salto, fica frente a frente com
a imensa sucuri ainda enrolada ao corpo da jovem sinhá. E de braços
abertos a negra fala palavras e palavras não entendíveis, mas que
tinha um grandioso poder sobre toda a floresta. Suas palavras como em
oração, foram arrancando toda as energias e forças daquele animal
peçonhento, deixando-o enfraquecido de tal forma que fora soltando o
corpo da jovem.
A jovem se solta, mas cai sem sentidos, ficando junto ao corpo de
sua amiga, que também se encontrava em um sono profundo.
O raio de luz que antes estava sobre o corpo de Benedita, passa a
iluminar a grande sucuri, e com tamanha intensidade que o couro do
animal passa a exalar um terrível cheiro de enxofre, e como se
estivesse sendo queimado, fumaça negra saía das rachaduras feitas pela
intensidade do calor.
Em pouco tempo o obsessor que estava em forma de animal era apenas
um pó negro espalhado pelo chão da floresta.
A negra Benedita tenta superar a fraqueza e buscar forças para se
aproximar das duas moças. E arrastando seu corpo chegou até elas,
observando que a amiga de sua sinhazinha estava apenas com um profundo
sono, mas a pobre menina sinhá estava inerte, com partes do corpo
dilacerado, ossos partidos, sangue se demonstrando através dos poros.
De um pequeno embornal que trazia em sua cintura, Benedita pegou
duas ou três ervas, macerou, fazendo sair o sumo, e dando para a amiga
da sinhá tomar, que em poucos segundos desperta do encanto do
obsessor.
Em lágrimas Benedita pede ajuda a menina, que ela trague água
fresca, pois precisaria para fazer emplastros para serem colocados
pelo corpo da sinhazinha.
A jovem obedece sem pensar, saindo em direção de um rio próximo
que vira ao passar até aquela clareira. E retorna rapidamente,
enquanto a negra buscava mais folhas e raízes da santa mãe floresta,
para que assim pudesse salvar a vida de sua sinhá menina.
Com tudo que necessitava nas mãos, com as lições que aprendera com
a velha Joaquina na mente, e com a fé que tinha em todos Orixás, a
negra Benedita se pôs a fazer suas benzeduras, emplastros, cura e
orações. Com lágrimas nos olhos se colocou de joelhos, clamando a Deus
que salvasse a jovem. E suas orações foram atendidas, pois a mesma
luz que antes dera forças a negra para chegar até a grandiosa cobra,
e após fizera desaparecer o animal como por encanto, agora estava
iluminando o corpo da jovem sinhá, aquecendo-o, introduzindo pelos
poros as forças e energias das ervas benditas que eram utilizadas para
curar as feridas e as quebraduras do frágil corpo de menina.
Na fazenda cafeeira, o negro Benedito tem um encontro incomum,
pois diante dele, no momento em que fazia uma oração, aparece a imagem
de um negro com ar sereno, de sorriso fraternal, lhe dizendo que sua
sinhazinha corria perigo, e que ele deveria interceder ao coronel da
fazenda, para junto com ele, sair para buscar a jovem.
Benedito saindo em disparada, chamando a velha Joaquina, lhe conta
rapidamente o que se passou, e ela prontamente vai até os aposentos do
coronel e de sua sinhá, que seguem a negra até Benedito.
Rapidamente o coronel reúne seus feitores e jagunços, e partem
seguindo o negro Benedito, e esse segue as orientações da imagem do
negro de olhar sereno, que os leva até a clareira onde está a negra e
as duas jovens.
Ao chegar no local, o coronel vendo sua filha ainda deitada ao
chão, busca entendimento, e fazendo perguntas deseja saber o que houve
e como as jovens foram parar nesse lugar e nessa situação, e porque a
negra Benedita, que ele acreditava que estaria na fazenda estava ali.
Mas antes de qualquer resposta explicativa, Benedita observa que
a sinhazinha abre os olhos. Lágrimas nascem e se espalham pelo rosto
daquele rosto de menina. Ela se ergue, abre os braços e abraça a
negra, agradecendo por ter salvado sua vida, as duas choram
copiosamente abraçadas.
Benedito chorando intensamente, agradece a imagem do velho negro
de olhar sereno, e esse parte dando um leve sorriso.
Após as explicações dadas ao coronel, tanto pelas jovens e pela
negra Benedita, ele se atira a seus pés agradecendo pela coragem e fé
da mucama, que salvou sua única filha das garras da morte. Mas ela
humildemente diz que nada fez, e que deveria sim agradecer a Deus e
aos Orixás que a encaminharam até as profundezas das matas. E assim o
coronel o fez.
Ao retornarem a fazenda, fizeram uma grande festa, e nessa festa
homenagearam os negros, os Orixás, as Entidades de Luz (como o velho
negro de olhar sereno), e claro, também a Benedita, ao seu primo
Benedito e a velha Joaquina, que mesmo na fazenda ficando, estava em
orações em prol da vida da sinhazinha.
Muitos e muitos anos se passaram, o coronel da fazenda, em estado
crítico de saúde física, já não podendo mais administrar suas terras,
não tendo mais como conduzir seus feitores e jagunços, passou o
comando para um afilhado seu, um homem de poucos sorrisos e sem
coração. Odiava os negros como se esses não fossem de carne e osso
como os brancos. E esse ódio foi derramado sobre o negro Benedito
quando um fato inusitado ocorreu.
Podemos entender esse acontecimento vendo a história de Vô
Benedito, no qual anexamos o link abaixo:
A História de Vovô Benedito da Calunga.
Após açoitar e torturar o negro no tronco, o jovem coronel manda
arrancar os dentes de Benedito, deixando-o praticamente sem vida.
Ao saber de toda covardia do jovem coronel com seu primo e amigo,
a velha negra Benedita não se fez de rogada, foi até o rapaz e
expressou seu descontentamento de uma forma raivosa, o jovem coronel a
empurra e diz que se ela voltasse a importunar com aquele assunto, ela
que iria ao tronco. Mas mesmo essas ameaças não intimidaram a velha
Benedita, que continuou falando sobre a covardia intensa do coronel
afilhado.
O jovem coronel enraivecido, manda seus feitores levarem a velha
negra ao tronco, dizendo que será lá que ela iria morrer. Ao saber do
fato, sua protetora, a sinhazinha, implora pela vida da negra, e sem
dar atenção ao clamor da sinhá, o coronel afilhado continua observando
seus feitores arrastar a negra para longe da casa grande sobre os
gritos de desespero da sinhazinha.
Como percebeu que nada adiantaria seus pedidos de clemência pela
vida da negra, a jovem sai ao encontro de seu pai acamado em seus
aposentos, conta-lhe todo o sucedido, inclusive o fato sobre o negro
Benedito, e pede para ele interceder e ordenar a seu afilhado a parar
imediatamente com as covardias sobre os negros.
O coronel, muito fraco, manda que tragam o seu afilhado até ele, e
que soltem imediatamente a negra Benedita do tronco. E assim foi
feito.
Com uma longa e árdua conversa, o velho e doente coronel ordena
que as coisas sejam feitas de acordo com o desejo dele, e que não ia
ser admitido mais o uso da chibata e de torturas no tronco em seus
negros.
O coronel afilhado fez menção de compreender as palavras do velho
adoentado, mas dentro de si corria um ódio descomunal, mas conforme
ordenou seu padrinho, ele obedeceu. Mandou tirar o tronco das
senzalas, não mais açoitava os negros, não perseguia mais a velha
Benedita.
Mas seu olhar era de vingança, seu coração não entendia o que
seria entender um semelhante, sua mente perversa imaginava o dia no
qual pudesse se vingar da velha negra, aquela negra que entrava e saía
da casa grande como se fosse da família. Ele odiava ver a sinhazinha
dando largos sorrisos a sua mucama, odiava a proteção dada por ela
aos negros.
Algum tempo se passou, e o coronel adoentado fez seu desencarne, e
naquele momento o afilhado viu a oportunidade de se vingar dos negros.
Pelo motivo que só existia na cabeça doentia dele, mas usou desses
motivos sem nexo, e do desencarne do seu padrinho para no dia após da
passagem do velho coronel, mandar recolocar o tronco de torturas nas
senzalas, demonstrando assim suas intenções.
Sete dias se passaram, e assim o jovem coronel da fazenda ordena a
seus feitores que tragam a velha Benedita até o tronco, e assim foi
feito. Sem que a sinhazinha soubesse do fato, levaram a negra para uma
distante senzala abandonada, e lá, com a chibata nas mãos, a negra
acorrentada ao tronco, o jovem coronel com um sorriso irônico diz a
negra, que demorou mas ele iria se vingar da vergonha que ela o fizera
passar diante da família do velho coronel.
Ele com todo ódio reprimido dentro de seu ser, açoita a velha
negra, e cada vez mais forte e mais rápido. Após várias chibatadas,
seu corpo dilacerado, sangue escorre pelas vestes, lágrimas rolam na
face.
O coronel entrega o açoite nas mãos de um dos feitores, mandando
que ele faça todo o serviço, pois ele desejaria apenas ficar olhando,
e saborear o sofrimento da negra.
A cada chibatada o coronel dizia a velha negra, que se ela
implorasse por sua vida, talvez ele a poupasse. Mas ela deveria o
convencer disso.
A negra o olha firmemente nos olhos e diz:
"Não posso implorar, pois estaria implorando não pela minha vida,
mas sim pela sua. Pois a cada chibatada que me defere no corpo, está
deferindo contra sua própria alma. E sua alma não mais tem salvação."
O coronel ao ouvir isso ficou com muito mais ódio. E gritando
ordenou ao feitor que açoitasse a negra com mais força, pois queria
ver se ela não ia implorar pela sua vida.
A cada chibatada deferida, a negra olhava mais fixamente ao
coronel. Seu semblante, antes de dor, se transformava em um olhar
sereno, tranquilo, em paz.
Novamente o coronel afilhado diz a negra:
"Implore negra maldita, implore pela sua vida."
Ela apenas sorriu. E em palavras serenas e lentas disse ao
coronel:
"A cada chibatada dada em meu corpo e a cada gota de sangue derramado
pela covardia do senhor branco, será a perda das forças do seu andar.
Implore senhor coronel, implore a Deus que eu não desencarne, pois
assim se acontecer, eu partirei para o reino de Deus, mas o senhor
ficará se arrastando como uma cobra peçonhenta pelas terras ferventes
desse mundo de branco e senhores de escravos."
E nesse instante o feitor açoita firmemente a velha negra, que
fecha os olhos e faz seu desencarne, no mesmo momento que o coronel
sente suas pernas fraquejarem, e ele desaba ao chão, sem forças para
se mover.
Nesse dia a velha negra Benedita foi para o reino de Deus, foi
abençoada em se tornar uma Entidade de Luz trabalhadora pela
espiritualidade, e o coronel afilhado nunca mais deu um passo. Passou
seus últimos anos de vida se rastejando pelos entornos da casa grande
da fazenda cafeeira.
Na mesma noite do desencarne da velha negra, ela em espírito vai
até a seu primo Benedito, a velha Joaquina e a sua amada sinhazinha,
dizendo-lhes que estaria sempre junto a eles, e que logo eles estariam
junto a ela no reino de Pai Oxalá.
Nos dias de hoje a sorridente, amável, brincalhona e caridosa
Vovó Benedita das Almas, vem trabalhar junto a espiritualidade nos
Terreiros de Umbanda, trazendo paz, caminhos abertos, saúde e muita
alegria a seus filhos, consulentes e protegidos.
Salve a linda Vovó Benedita das Almas!
Adorei as Almas!
Carlos de Ogum.
Sempre nos falam de desenvolvimento mediúnico, por muitas vezes
vamos a terreiros de Umbanda e uma Entidade de Luz, um Pai ou Mãe de
Santo nos diz que devemos nos desenvolver mediunicamente para podermos
trabalhar com nossas Entidades de Luz, para que possamos caminhar em
caminhos iluminados, para que possamos sanar alguns males que achamos
que poderia ser do corpo, enfim, é uma frase que podemos ouvir
periodicamente, que as vezes pode ser real, e em outras vezes nada tem
a ver com o fundamento de algum problema que estamos passando naquele
momento.
Mas o que vem a ser o desenvolvimento mediúnico?
Abaixo vamos tentar deixar um pouco mais claro e compreensível
essa ação tão importante para nós, médiuns de sensibilidade um pouco
mais ativa.
Para iniciar gostaria de esclarecer que todos os seres humanos são
médiuns, independente de raça, cor, opção de vida, religião, com ou
sem fé em algo, todos somos. O que diferencia um médium de outro e o
grau de mediunidade, o quanto de sensibilidade essa mediunidade
representa para o médium, e claro, o quanto de desenvolvimento
mediúnico tem esse médium no caminhar de sua vida.
Gostaria também de frisar que o desenvolvimento nunca termina,
estamos em eterno aprendizado sobre tudo relacionado a espiritualidade
e claro que a mediunidade está nesse aprendizado, portanto melhoramos
a cada dia nossa condição de aparelho receptor, seja para
incorporação, para recebimentos de mensagens, para visualização e
audição do mundo espiritual, seja em nossas intuições, enfim, todo e
qualquer tipo de mediunidade que possamos ter e desenvolver, tem uma
considerável melhora, e assim podemos administrar todas essas coisas
deslumbrantes, e assim usarmos para fazer a caridade e auxiliarmos um
irmão dentro daquilo que esteja necessitando, no que diz de teor
espiritual.
Vamos esclarecer também que devemos sempre pregar o
"Desenvolvimento Mediúnico e Espiritual", ou seja não adianta fazermos
nosso desenvolvimento mediúnico em uma casa de Umbanda, e fora dela
nosso espírito, nossa alma e nossa aura estejam totalmente indo ao
inverso daquilo que se é pregado pelos Guias, pelos Zeladores, pelos
Pais ou Mães de Santo. Assim com certeza seu desenvolvimento não
passará de algo mistificador, sem coerência, enganativo. Portanto
sempre que lermos nesse texto a palavra "desenvolvimento", podemos
considerar que é para ser entendido que estaremos falando de
"desenvolvimento mediúnico e espiritual".
Vamos iniciar esse pequeno texto dizendo que cada casa tem suas
particularidades no que é chamado desenvolvimento de seus médiuns,
dizendo também que tem algumas casas que nem fazem o trabalho de
desenvolvimento. Mas devemos ter na consciência que esse trabalho é de
grande importância, não só em relação ao entendimento e aumento de
sensibilidades do grau mediúnico do médium que está se desenvolvendo,
mas também para o bom andamento da casa e de toda caridade cedida aos
consulentes, que estão ali em busca de um auxílio das Entidades de
Luz e não para ver apresentações teatrais de médiuns despreparados e
vaidosos.
Normalmente quando o médium está preparado para seus trabalhos de
caridade, na qual fora visto um progresso na sua vibração mediúnica
pela Entidade de Luz responsável pelo desenvolvimento, é feito em
algumas casas o ritual de "coroação", e em outras casas se faz o
ritual do Amaci, que se consiste na lavagem da coroa (cabeça) com água
e ervas selecionadas para cada filho. Frisando que tanto a Coroação
quanto o Amaci, são rituais que demonstram que o filho está preparado
sim para os trabalhos mediúnicos de caridade, mas conforme dito acima,
o desenvolvimento continuará, e vai estar sempre progredindo de
acordo com o próprio progresso do médium diante dos trabalhos de
incorporação, para auxílio de seus semelhantes, portanto esses rituais
são feitos para demonstrar e justificar que o médium em questão está
apto a seguir em frente, podendo ser entregue a ele novas
responsabilidades, como por exemplo, o atendimento a consulentes
mediante incorporação.
Esses rituais também é como um troféu por um bom trabalho de
condicionamento do médium, que se preparam por meses até anos e anos,
para que possam ter a benção de uma incorporação, com uma Entidade de
Luz, para prosseguir o trabalho de caridade junto aos que necessitam.
Para chegarmos ao ponto de sermos coroados ou aptos a fazer o
Amaci, devemos participar das Giras de desenvolvimento (isso nas casas
que tem essas Giras), controlar nossa ansiedade, pois esse trabalho é
árduo e longo, em alguns médiuns pode se levar alguns meses, e em
outros levam anos a fio. Tudo dependerá do grau de mediunidade de
cada filho.
Normalmente é observado pelas Entidades de Luz, ou Mentores, ou
Pais ou mães de Santo, as incorporações, as mensagens e o teor delas
passadas pelas Entidades da Coroa do Médium, deslocam esse médium para
alguns trabalhos na casa, como correntes, descarregos, desobsessões,
até consultas a assistência. Porém, cada procedimento varia de uma
casa para outra, e de um Pai ou Mãe de Santo para outro.
Normalmente essas colocações, esses desenvolvimentos, esses
"testes", por não serem regrados, vai de acordo com a aprendizagem de
cada responsável pelo trabalho, no qual aprenderam com seus Zeladores
ou Mentores, e assim perpetuam em suas casas da mesma maneira do
aprendizado.
Muitas pessoas que buscam o desenvolvimento, acreditam que estão
ali apenas para fazer presença, aguardar o grande dia da coroação, mas
na verdade não é bem isso, pois a coroação do médium não se limita
apenas a um ritual do Amaci, ou mesmo a raspagem, ou qualquer tipo de
demonstração a assistência. Devemos considerar isso apenas um ponto do
desenvolvimento, pois a grandeza de tudo está contida nos meses ou
anos a fio de aprendizagem, de trabalhos de ascensão das ondas de
vibração da coroa de um médium, para chegar nas proximidades das ondas
vibracionais de uma Entidade de Luz, para que assim seja feita o
aceite de uma provável incorporação.
Na maioria dos casos, um grande erro de um médium, ou mesmo do
responsável por seu desenvolvimento, é deixar que a ansiedade extrema
tome conta da mente do médium, ou seja, se perde muito tempo
imaginando o dia da coroação ou da lavagem do que estabelecer um
processo de trabalho correto de desenvolvimento, independente do tempo
que isso leve.
Essa ansiedade pode demonstrar que o médium deseja muito estar ser
preparado, mas isso com certeza torna o aprendizado extremamente
deficiente, pois certamente a ansiedade, a intemperança e a
impaciência são obstáculos para um processo de aprendizagem e manuseio
de seu instrumento de trabalho em prol da caridade, que é a
mediunidade.
A corrente de Umbanda tem como forma básica de trabalho, os médiuns
em desenvolvimento (os que estão se preparando para assimilar sua
mediunidade), os médiuns desenvolvidos (que já fizeram o ritual do Amaci
ou a coroação) e as Entidades de Luz.
Temos também os médiuns escolhidos para servir como instrumento
aos Mentores Espirituais da Umbanda, e esses devem ter a compreensão
de que são partes de grande importância, pois essas etapas de escolha,
de ensinamentos, de desenvolvimento, até chegar uma possível coroação,
são importantíssimas para o bom e seguro trabalho de uma Gira
(corrente) umbandista.
Essa preparação é tão grandiosa, com tantos preceitos, englobando
tantos passos, que uma boa parte dos médiuns em desenvolvimento
desistem do serviço de sacerdote que iriam desempenhar, e isso
simplesmente porque não conseguiram controlar seus impulsos de
ansiedade, e desejam extremamente estar trabalhando com suas
Entidades, fazendo assim com que todo o desenvolvimento possa ser
perdido. Em fatos assim, normalmente acreditam que um simples
sentimento da vibração intensa da Entidade, ou um simples arrepio, ou
uma falsa intuição, já é o suficiente para se dizer incorporado,
fazer atendimento a consulentes, aplicar passes e rezas, receitar
obrigações, oferendas, banhos de descarregos, acreditando até que seja
possível a realização de trabalhos de desmanches de magias. Com isso
se inicia a mistificação, crescendo a vaidade, demonstrações de
diálogos sem noção e sem nexo, fazendo assim uma constante soma de
erros espirituais, tornando esses atos extremamente perigosos para os
consulentes, para todo andamento do terreiro, para o corpo de médiuns
trabalhadores de uma casa, e claro, principalmente para o médium
mistificador e mal desenvolvido, pois esse não tem a percepção de que
a mediunidade pode ser de extrema valia, com grande feitos e útil ao
médium desenvolvido, mas em caso contrário pode ser algo desastroso,
sendo ela um salto para um precipício infinito.
Como podemos notar, muitas pessoas brincam em demasia com a
mediunidade, mas devemos compreender que a mediunidade sem o devido
preparo, é como um homem que empunha uma espada sem o treino da
habilidade para a luta, assim, fatalmente alguém sairá ferido no
findar do combate, e muitas das vezes é o próprio homem, ou alguém que
não se encontrava destinado a fazer parte dessa luta.
Então para que um médium tenha um bom desenvolvimento, deverá
antes de qualquer coisa, cultivar a paciência e controlar seus
impulsos de ansiedade. pois a paciência deve ser prioridade a todos os
filhos e filhas que desejam servir a Deus e trabalhar com suas
Entidades de Luz de uma forma correta e acertada.
Muitas pessoas vão a uma Gira uma ou duas vezes, e imaginam estar
preparados para um trabalho de incorporação as suas Entidades de Luz,
e isso não é bem assim, não se enganem, e pior não tentem enganar as
Entidades, pois isso não vai acontecer. O desenvolvimento não tem
tempo limite para se findar, como já foi dito, enquanto ser humano
estaremos em evolução espiritual, sabendo que todos humanos são
médiuns, certamente estamos em dois caminhos, evolução espiritual e
desenvolvimento mediúnico. Portanto não adianta ter pressa, não
adianta mistificar, não adianta induzir, não adianta achar que já tem
preparo para esse lindo trabalho de caridade, sem realmente o tê-lo.
O tempo de início de um trabalho de desenvolvimento propriamente
dito, até a coroação, não pode ser marcado a esmo, vai depender
exclusivamente de cada ser, do grau, sensibilidade, de cada tipo de
mediunidade, e consideramos também, logicamente, o modo de agir e ser
durante o dia a dia. Pois o médium em desenvolvimento, para acelerar o
trabalho de desenvolvimento de sua coroa, não basta apenas fazer parte
de uma casa umbandista, se deve deixar para trás alguns conceitos e
sentimentos ruins, que fizeram parte de sua vida e nunca lhe ajudaram
a evolução e desenvolvimento, tais como a crença sem limites, o
julgamento e condenações eternas a seus semelhantes, ou o medo temor e
pregações de um Deus vingativo e cruel, que troca suas bençãos por
certas quantias em dinheiro, ou mesmo a unicidade da existência, ou
ainda a religiosa supremacia de uma única raça e a demonização de
irmãos e amigos desencarnados ou até mesmo encarnados. Conceitos que
afastam o médium de sua importância no intercâmbio espiritual e o
lança a um mundo materialista, obscuro, sem fundamentos, levando-o a
escuridão eterna.
O próximo passo nesse processo chamado de desenvolvimento é
aprender e aceitar ser guiado por seu mestre (Pai ou Mãe de Santo,
Zelador, Mentor, ou Entidade de Luz que está auxiliando no
desenvolvimento), ou seja, caminhar com as regras determinadas por
seu mestre, entender cada passo, aceitar essa caminhada, mesmo que
seja árdua, certamente não será só flores, pode se esperar que as
lições dadas, as mensagens passadas, as cobranças, por algumas vezes
vem de forma simplificada, mas em outras vezes virá de uma forma
extrema, com demonstrações que possam parecer uma cobrança sem
limites, que até achamos que não conseguiremos finalizar nossa
caminhada, mas certamente tais lições vão, além de fazer seu
desenvolvimento mediúnico florescer com maior brilhantismo, seu
desenvolvimento espiritual, sua evolução irá dar um salto grandioso, e
assim chegar ao ponto onde é desejado pelas Entidades de Luz.
É sábio que um médium em desenvolvimento necessita de um tempo
para assimilar todas essas coisas que ouvirá do Guia ou Zelador
responsável, todas as lições de comportamento, de controle de
sentimentos, do modo de agir, pensar ou falar, e todas essas
informações são levemente dosadas dia a dia, gira a gira, conversa a
conversa, ensinamento a ensinamento. Não se aprende tudo em um único
dia ou em um único mês, pois é preciso muito tempo para a assimilação
das palavras dadas, muita observação constante de tudo que estará
vivenciando ao longo dos meses e anos.
Se deve também refletir e compreender as diferentes opiniões e
modo de agir de seus irmãos de corrente, de seus semelhantes,e saber
tirar disso o principal de tudo: A paciência.
O desenvolvimento mediúnico e espiritual envolve, mesmo que seja
dificultoso para uns, ou doloroso para outros, a aceitação das
diferenças comportamentais, ideológicas, religiosas, morais e sociais,
não só de seus irmãos de corrente, dos consulentes e assistentes dos
rituais umbandistas, mas de todos seus semelhantes. Pois mesmo que se
tenha um pouco mais de conhecimento no que se diz sobre a religião,
suas regras, seus rituais e toda fascinação que envolve a
espiritualidade, não deverá se colocar acima dos demais como senhor da
verdade, apontando-lhes as falhas e tropeços da caminhada.
Devemos constantemente nos manter ligados na oração, buscar a
essência divina e o esforço por uma vida espiritual elevada e pessoal
mais regrada, devem fazer parte do trabalho de desenvolvimento para o
serviço mediúnico nos terreiros de Umbanda.
Para conseguirmos certa elevação espiritual e assim preciosas
inspirações e intuições dos Mentores de Aruanda, o médium em
desenvolvimento, deverá se colocar na posição de humildade,
demonstrando a alma necessitada que é, para assim buscar a força e
energia necessária através de horas de conexão com a força
vibracionais das Entidades de Luz e assim chegar a um plano superior.
Assim, terá experiência suficiente para discernir entre a
comunicação de um Guia Superior ou a ardilosa verborragia de uma
Entidade sem luz, como Kiumbas, Eguns ou Zombeteiros. Assim sendo a
confirmação para o trabalho mediúnico chegará no tempo certo não sem
antes a verdadeira compreensão do trabalho honesto, verdadeiro e sem
mistificação.
Após essa confirmação íntima de sua responsabilidade como médium a
serviço da Espiritualidade Maior, virá das ordens de Zambi (Deus) o
poder necessário aos responsáveis pelo desenvolvimento (Mentores,
Zeladores, Entidades de Luz) para demonstrar que esse médium está apto
a desempenhar o trabalho corretamente. É quando descem da Corrente
Astral as irradiações poderosas dos Orixás que formam as Sete Linhas
de Umbanda. A partir daí, o médium poderá ter sua coroa confirmada
pelo Guia Chefe e pelos seus próprios Mentores.
Muitas pessoas me perguntam se são médiuns ou não, como frisei
acima, todos nós somos médiuns, e a explicação é simples, pois é
extremamente natural nos comunicarmos com espíritos desencarnados, e
eles conosco, pois como é sábio nós também somos um espírito, apenas
diferenciando que ainda estamos encarnados. Sendo assim, como uma
relação entre espíritos encarnados com espíritos encarnados, temos a
mesma condição de termos esse contato de espírito encarnado com
espírito desencarnado, sem que algumas das vezes, tirando claro
algumas exceções, não o vemos, mas o ouvimos, e em outras vezes o
vemos mas não o ouvimos, ou vemos, ouvimos, sentimos, ou qualquer
outro contato espiritual de um plano para o outro, isso claro com a
dependência de grau, tipo e sensibilidade mediúnica.
Portanto todas as pessoas recebem as influências dos espíritos, a
todo dia, hora e momento, mas a maioria não percebe esse intercâmbio
oculto, pois em seu mundo íntimo, no seu dia a dia, em sua forma de
agir, no seu estado de alma, nos seus pensamentos, pressentimentos,
intuições, e toda forma de ser, não é taxado como coligação entre
espírito encarnado e desencarnado, e sim uma colocação simples de
apenas ser, como se fosse algo não coligado, portanto muitas pessoas
não entendem que essa captação diária de fatos tem a ver com a ligação
com um plano oculto, e se todos nós temos esses impulsos, podemos
afirmar que todos nós somos médiuns.
Sendo dessa forma, algumas dúvidas surgem, como por exemplo, se
somos todos médiuns, como não são todas as pessoas que se possibilitam
ao trabalho da incorporação por exemplo?
Essa resposta vem dos fatos mencionados acima, como o grau e o
tipo de mediunidade de cada um, pois existem pessoas que essa
mediunidade passa desapercebida, enquanto em outras que o intercâmbio
é ostensivo. Nelas os fenômenos são marcantes e frequentes, como ´por
exemplo a psicografia ou a psicofonia, e com o passar do tempo dentro
de um trabalho de desenvolvimento, a incorporação de Entidades de Luz.
A palavra "médium" serve para os dois gêneros, quer dizer
"medianeiro", ou seja, que está no meio. E como de fato é assim que é
visto o médium, pois ele fica entre o mundo físico e o mundo
espiritual como intermediário, podendo ele ser o intérprete ou
instrumento tanto para o espírito quanto para uma Entidade de Luz
(espírito já evoluído).
A mediunidade é algo natural, sendo algo natural manifesta-se
espontaneamente, mas pode ser exercitada e claro, desenvolvida.
E esse desenvolvimento não depende de idade, de sexo, de condição
social, filiação religiosa, ou determinadas casas, ou seja, não há uma
casa de Umbanda que seja melhor que a outra para esse trabalho, claro
levando em conta a honestidade dos responsáveis por essa casa.
A importância de um bom desenvolvimento se dá, pois normalmente
uma pessoa com um grau de mediunidade elevada, que tenha uma
sensibilidade mediúnica um tanto demonstrativa, pode por muitas vezes,
sem ter o preparo adequado, atrair espíritos sem luz, obsessores,
conhecidos como Eguns, Zombeteiros ou Kiumbas, e assim sendo esses
espíritos sem luz, trazendo grandes perturbações ao médium em questão,
em seu corpo físico, sua vida social e pessoal. E essas perturbações é
simplesmente uma falta de equilíbrio emocional e a ignorância de
entendimento do que seja a mediunidade.
E como saberemos que nosso grau de mediunidade é um tanto elevado,
de tal tamanho que devemos tomar a decisão de buscarmos um trabalho de
desenvolvimento?
Bem, para tomarmos uma decisão desse nível, devemos ficar atentos
a alguns sintomas, sintomas esses que podemos presenciar dia a dia de
nossa caminhada na vida terrena, e esses são:
Sensação de presenças invisíveis: Quando estamos em algum ambiente
qualquer, podendo estarmos sós ou não (falando de companhia encarnada,
e sentimos a presença de mais alguém, não o vemos, mas sentimos e
sabemos que está ali. E essa presença nos prende a atenção, muitas
vezes nos sentimos incomodados, um tanto sem explicação.
Sono profundo demais, síncope inexplicáveis (perda repentina da
consciência com suspensão aparente das funções vitais de circulação e
de respiração), desmaios: Tendo esses sintomas, a primeira providência
a ser tomada deve ser buscar ajuda e diagnóstico de um profissional na
área de saúde. Após esse passo, caso não tenha nenhum mal físico ou
psicológico, nenhum problema aparente em exames laboratoriais, e
sempre indicado buscar uma casa de Umbanda para o trabalho de
desenvolvimento mediúnico, com aval, claro, do responsável pelo
atendimento no Terreiro.
Sensações ou ideias estranhas, mudanças repentinas de humor, crises de
choro: Quando um espírito sem luz, um obsessor percebe em uma pessoa o
seu grau de mediunidade elevado, e a sensibilidade aflorada para tal,
esse espírito sem luz busca de todas as formas afastar esse médium de
uma casa de Umbanda e de seu desenvolvimento, pois assim ele poderá
tomar conta de seus atos, modo de agir e pensar. E essa atitude é
tomada fazendo com que o médium se torne agressivo, deprimido, com
atitudes de uma pessoa com desequilíbrio mental e até suicida. E isso
é feito para que esse médium seja desacreditado pela sociedade e por
ele mesmo, não fazendo o desenvolvimento, e assim não tendo chances de
trabalhar com uma Entidade de Luz em prol da caridade, e com esses
fatos, logicamente o bem que deveria ser feito não o será, dando
forças para o trabalho do mal desses obsessores.
Ballonement (sensação de inchar, dilatar) nas mãos, pés ou em todo o
corpo, como resultado de desdobramento perispiritual: Essa sensação é
bem incômoda, e temos realmente a sensação de estarmos com os membros
inchados de uma tal maneira que nos sentimos até com o corpo pesado.
Frisando que isso não é visto pelas pessoas em nosso convívio, e sim
apenas nós sentimos.
Adormecimento ou formigamento nos braços e pernas: Quando estamos com
a sensibilidade mediúnica em uma grandeza que nos faz captar vibrações
de outras pessoas, que também se encontram no mesmo nível de
sensibilidade que estamos, e não estamos em trabalho de
desenvolvimento, sentimos um grande formigamento e adormecimento nos
membros inferiores e superiores, e isso se dá pela força da energia de
cada médium, como se fosse um imã. Logicamente ao sentirmos esses
sintomas, deveremos em primeiro lugar buscar um profissional na área
médica, caso não tivermos nenhum problema físico partiremos para a
busca de um desenvolvimento.
Arrepios como os de frio, tremores, calor, palpitações: Esses
sintomas, não sendo males de saúde do corpo físico, é uma
característica clara que devemos buscar um desenvolvimento. Esse
sintoma se dá tanto pelo encontro vibracional de outros médiuns na
mesma situação, como um possível ataque de espíritos sem luz (Eguns,
Kiumbas e Zombeteiros), tentando destabilizar o médium para que esse
acredite estar adoentado.
E como é o básico de tudo?
Como desenvolver a mediunidade?
Algumas pessoas acham impossível, outras acham simples até demais,
mas na verdade como estamos no meio de tudo, vamos dizer que não é tão
fácil desenvolver a mediunidade, mas também não é impossível, pois
dentro do ponto de vista umbandista, o desenvolver não é apenas se
dizer estar com uma Entidade de Luz, puxar um consulente e dizer o que
vier a cabeça (isso para médiuns conscientes ou semi-conscientes),
não é apenas dizer que recebeu uma mensagem, que teve uma intuição, um
sonho de revelação, que ouviu ou viu um espírito. O desenvolvimento
se consiste em apurar e disciplinar a sensibilidade espiritual a fim
de tê-la nas melhores condições possíveis de manifestação ou
incorporação, e claro, aprender a empregá-la da melhor maneira visando
sempre o bem estar do consulente, do assistente, dos irmãos de
terreiro, das causas umbandistas, das Entidades de Luz, e de todo
trabalho de caridade de uma casa de Umbanda.
O caminho mais acertado a fazer esse desenvolvimento deve abranger
três partes importantes, que são: Doutrinária, técnica e moral.
DOUTRINÁRIA
Um médium deve conhecer e entender a doutrina espírita umbandista
para compreender o universo, a si mesmo e a todos os seres como
criaturas evolutivas que são regidas pela lei de causa e efeito, ou
seja, você recebe aquilo que você doa. Dentro da Umbanda não se pode
fazer o mal, não é aceito que um médium se prepare, se desenvolva com
intenções mesquinhas, prepotentes, injustas, que vão contra as leis
de Deus.
Toda a atenção especial será dada à compreensão do intercâmbio
mediúnico, ação do pensamento sobre os fluidos, natureza e situações
dos espíritos no Além, perispírito e suas propriedades na comunicação
mediúnica, tipos de mediunidade, em especial o respeito extremo as
Entidades de Luz.
TÉCNICA
O médium tem que se colocar em um trabalho de desenvolvimento
dentro do exercício prático, aproveitando todas as oportunidades para
desenvolver esse lado, pois será na prática intensa que esse médium
começará a reconhecer acertos e erros, deverá se empenhar na luz do
conhecimento espírita umbandista, dessa forma entenderá a diferença e
saberá distinguir os tipos de espíritos pelos seus fluídos,, podendo
assim trabalhar sem receio de entregar sua coroa a um obsessor ou a um
Zombeteiro, acreditando estar com uma Entidade de Luz, coisa que
acontece periodicamente em terreiros de Umbanda, principalmente com
médiuns vaidosos e sem preparo, e isso claro é extremamente
prejudicial aos consulentes que vem em busca de ajuda e ao próprio
médium, por estar atrasando sua evolução, tanto mediúnica, quanto
espiritual, e apenas fica alimentando e dando energia a esses
espíritos sem luz.
A técnica também é muito importante para o médium aprender a se
concentrar ou desconcentrar, entender o desdobramento, controlar-se
nas manifestações (como em um trabalho de descarrego ou desobsessão)
analisando o resultado que esse trabalho vai produzir para o bom
andamento da casa, ou do bem estar do consulente e dos próprios
médiuns.
MORAL
Muitos pensam que o desenvolvimento para ser bem feito, basta
apenas frequentar um terreiro de Umbanda, ser colocado nas vibrações
dos passes de energia de uma Entidade de Luz, tomar banhos de limpeza
de aura, fazer defumadores, auxiliar na casa em seus afazeres, enfim,
um trabalho limitado a quatro paredes. Mas não é bem assim, pois o
trabalho de desenvolvimento vai além disso, por esse motivo ele tem o
nome de "desenvolvimento mediúnico e espiritual". Temos que ter na
consciência que não só adianta a doutrina e a técnica, temos que
elevar, e elevar grandiosamente, a nossa condição moral. É
indispensável a nossa reforma íntima para elevarmos a nossa moral, e
assim nos libertemos de espíritos perturbadores e obsessores, para
que possamos assim ter condição de sintonia com os bons espíritos e
recebermos orientações de nossas amadas Entidades de Luz para que seja
algo louvável nosso trabalho mediúnico.
O respeito a nossos Guias, nossos Orixás, nosso amado Deus, a
orientação umbandista nos leva a vigilância, a oração, a boa conduta e
a caridade com nossos semelhantes, vai sempre atrair a nosso encontro
e nosso convívio a assistência espiritual superior.
Por esse motivo, devemos ter sempre em mente que a elevação de
nossa vida moral, nos eleva também nossa vida espiritual e a nossa
mediunidade.
O desenvolvimento nos traz a possibilidade de entender o nosso
tipo de mediunidade, o grau e o quanto de sensibilidade temos. Muitas
pessoas ao adentrarem a um terreiro de Umbanda acredita que vão logo
obterem uma incorporação com uma Entidade de Luz, não se apegam nas
regras do desenvolvimento bem feito, para que não haja futuras
mistificações.
Muitas pessoas me procuram com perguntas como "Qual é minha Pombo
Gira?", "Qual meu Exú?", "Quantas e quais são as Entidades que
trabalho?"
E quase sempre tenho que repetir as mesmas e velhas perguntas:
"Você é de algum terreiro de Umbanda?"
"Está em desenvolvimento mediúnico e espiritual a quanto tempo?"
E normalmente a grande maioria das pessoas respondem ou que estão
a poucos meses, ou mesmo a poucas semanas, e ainda temos os que
respondem que nunca foram a um Terreiro de Umbanda, e nem sabem o que
é um desenvolvimento.
Só desejam saber sobre os "Guias" por curiosidade.
Tem ainda algumas pessoas que me procuram desesperadas, e não são
poucas, que dizem: "Fui a um terreiro, o Pai de Santo disse que sou
médium, preciso desenvolver. Entrei para o Terreiro, já estou lá a
quase um mês e já senti arrepios, mas vejo e ouço tudo que acontece,
acho que meu desenvolvimento está sendo feito errado."
Como disse anteriormente, a ansiedade é uma palavra que não cabe
juntamente com a palavra desenvolvimento. Temos que ter muita, mas
muita paciência, pois sem ela certamente não chegaremos lugar algum. E
para esses amigos tão ansiosos, gostaria de falar um pouco sobre a
incorporação em si.
Caso um médium tenha a mediunidade de incorporação, ele não vai
entrar hoje no terreiro e já vai estar incorporado (claro que isso é
para os iniciantes, não serve para os médiuns já desenvolvidos que
por algum motivo trocou de casa). Entendendo que um arrepio, uma
vibração, não é uma incorporação, devemos ficar atentos a esse
detalhe, pois já observei médiuns sentirem arrepios ao ouvirem o som
do sagrado Atabaque, e se dizerem incorporados, isso é apenas seu
emocional vibrando com as belas melodias do som sagrado.
Agora para entendimento sobre a incorporação propriamente dita,
como sabemos ela pode ser de três tipos: Consciente, semi-consciente e
inconsciente.
CONSCIENTE:
Na mediunidade de incorporação consciente, a Entidade se aproxima
do médium fazendo ligações apenas junto a seu cérebro, enviando a ele
seus pensamentos e alguns comandos. Nesse tipo de incorporação o Guia
se valerá também de outros tipos de mediunidade do médium, como por
exemplo, a mediunidade intuitiva, auditiva e sensitiva.
A Entidade de Luz que trabalha com um médium consciente, vai
sempre se utilizar de todos os meios que tiver ao alcance para se
fazer compreendido e transmitido ao seus consulentes.
Nesse caso o médium permanecerá consciente e notará todas as
situações que ocorram no ambiente dos trabalhos, e quando desenvolvido
corretamente, e que ele esteja ciente do seu papel como médium a
atuação de seu Guia aumentará. gradativamente através da assiduidade
do médium nos trabalhos, situação em que o médium quanto mais assíduo
nos trabalhos, mais passa a perceber movimentos dos seus braços,
pernas e da boca sem o seu comando e nesse patamar caminha para
semi-consciência.
A mediunidade consciente é a mais comum, e sendo assim ela é o
tipo de mediunidade que mais faz confusão na mente de um médium no
início do desenvolvimento, fazendo assim que muitas vezes esse médium
duvide das comunicações enviadas em sua mente, imaginando estar
transmitindo, com suas próprias palavras, as comunicações que lhe
chegam a mente, e isso não corresponde a realidade de um médium
consciente quando integrado a uma corrente séria. O médium consciente
quando firme e convicto de sua missão mediúnica não dá importância ao
fator consciência de sua mediunidade e segue com naturalidade na sua
missão, adaptando-se aos meios que seu Guia usa para se comunicar e se
fazer compreendido. E isso deve ser colocado bem exposto pelo
responsável pelo desenvolvimento do médium iniciante.
SEMI-CONSCIENTE:
É chamado de mediunidade semi-consciente quando a Entidade de Luz
atua sobre o cérebro e o duplo etéreo do médium, movimentando também
com maior facilidade e naturalidade os órgãos da fala e os membros do
mesmo, mas mesmo assim o médium poderá ter grande parte da visão do
que ocorre a sua volta, percebendo também em grande escala os
acontecimentos dentro do ambiente de trabalho.
Nesta situação, o médium ao final da incorporação, terá vagas
lembranças dos fatos e pessoas que com o seu guia tiveram
contato. A manifestação da
Entidade de Luz será forte e claramente sentida pelo médium, porém, a
lembrança dos fatos desaparece rapidamente, podendo-se comparar a um
sonho, rapidamente esquecido. Esse tipo de mediunidade já é menos
comum, ou seja, a cada 100 médiuns em início de seu desenvolvimento,
15 ou 20 estarão desta forma classificados.
INCONSCIENTE:
Chamamos de incorporação inconsciente quando as Entidades de Luz
atuam de forma ampla no espírito, no cérebro e no duplo etéreo do
médium, ocasião que esse médium adormece, mas permanece ao lado de seu
corpo, ligado fortemente por um cordão magnético, conhecido como
"cordão prateado".
Em casos de incorporação inconsciente, a posse do corpo, mente e
espírito, pela Entidade de Luz, ao médium é total. E ao término da
incorporação. o médium de nada recordará dos fatos, atos ou pessoas
que com seus Guias tiveram contato. Esse tipo de mediunidade não é
comum. Na média podemos observar que a cada 500 médiuns em seu
trabalho de desenvolvimento, entre um a três médiuns podem ter a
mediunidade de incorporação inconsciente total. Esses médiuns
normalmente tem um trabalho de desenvolvimento diferenciado, em muitos
casos não tem a coligação de sua coroa com um Zelador de Santo, mas a
normalidade é que esse tipo de mediunidade seja desenvolvida pelo
próprio Mentor do Ori do médium. Só frisando que esses casos são
raros, não se deve criar uma imaginação de que se pode desenvolver
sozinho, pois como foi dito a quantidade de médiuns conscientes são
extremas.
Gostaria de frisar também que em todos os três tipos de
incorporação, ao se aproximar o Guia que deseja fazer a ligação
necessária entre ele e seu médium, é muito comum os tremores do corpo
e o aumento forte da respiração do médium, pois esse fato ocorre
devido ao deslocamento sutil do duplo etéreo do médium em questão,
portanto não devemos nos enganar tentando demonstrar uma incorporação
diferente daquela que estamos aptos, pois todas elas tem o mesmo tipo
de sintomas.
Gostaria de frisar também algo muito importante durante o trabalho
de desenvolvimento mediúnico e espiritual, demonstrando que mesmo após
a confirmação e a coroação do médium, devemos nos manter em estado de
desenvolvimento eterno, pois nas incorporações, independente dos
tipos, contribuem para um bom resultado o estado emocional do médium
nos dias dos trabalhos, pois quanto mais desequilibrado estiver o
médium, menor ou mais fraca será a atuação de suas Entidades de Luz.
Portanto é muito recomendado estarmos com a aura livre, sem
sentimentos ruins, sem rancores, com nossa alma em paz, sem vaidade,
sem desejarmos mostrar a influencia de nosso ego, para que assim
compreendamos o significado do desenvolvimento, e de nossos futuros
trabalhos de caridade.
Para finalizar resumidamente frisamos que o desenvolvimento é de
extrema necessidade, ninguém deve buscar o desenvolvimento com
ansiedade, devemos aprender cultivar a paciência, não devemos buscar
desenvolver para tentar resolver nossos próprios problemas (pessoas
que acham que assim vão conversar com Entidades de Luz e assim sanar
coisas sem nexo ou noção de nossas cabeças), devemos respeitar cada
Entidade trabalhadora, não tentar fazer do desenvolvimento um ponto
de falsa incorporação (mistificação), de demonstração de vaidade e
ego.
Somos todos médiuns, mas somos humanos, e com isso sabemos que
temos muitos erros, busquemos o desenvolvimento para sanar esses erros
e assim podermos evoluir não só como médiuns trabalhadores em prol da
caridade, mas como seres humanos em busca da luz e da paz que somente
Deus, os Orixás e todas as Entidades de Luz tem para oferecer.
Deem valor ao desenvolvimento e se afastem da vaidade e da
ansiedade.
Aos que buscarem o desenvolvimento mediúnico e espiritual
verdadeiro, que Oxalá abra seus caminhos para que possam se encontrar
nessa jornada longa, mas tão bela e tão estimulante.
Paz e um desenvolvimento de luz a todos!
Carlos de Ogum.
Nas matas verdejantes iluminada pela Lua,
uma força suprema fui encontrar,
sem destino andando por vielas e ruas,
sabia que seria na mata que essa força deveria buscar.
De olhos atentos comecei minha caminhada,
com a intenção de ser abençoado, pelo Senhor das Matas clamei,
penetrando fui sem fazer parada,
pois sabia que nas matas encontraria o Orixá rei.
A Lua de grande beleza me iluminava,
sons da noite me fizeram refletir,
por todo canto sentia olhos que me observava,
mas o medo não me fazia desistir.
Procurava o senhor da Floresta,
aquele que deveria me abençoar,
e como o som de uma celesta,
com voz suave passou a me chamar.
Respondi como por encantamento aquela voz,
deslumbrado fiquei com sua luz,
um Orixá divino que abençoa a todos nós,
um Orixá guerreiro da paz em nome de Jesus.
Sua força contagiou minha alma,
suas palavras me deram ânimo a viver,
prossegui minha caminhada com calma,
em busca de suas bençãos a meu ser.
divindade do reino de nosso querido Oxalá,
Rei das matas tenho certeza que ele é,
divino mestre que traz caboclos a nosso Gongá,
busco esse Orixá sempre com amor e fé,
Oxossi é seu nome glorioso,
protetor das matas e animais,
entrego meu caminho ao todo poderoso,
a ti Pai Oxossi que não me abandona jamais.
Senhor da caça e das florestas magistrais,
Anjo iluminado que faz brilhar meu Gongá,
associado a Ossãe e suas folhas medicinais,
lutando e caçando trazendo nas mãos seu Ofá.
Caçador valente irmão de Ogum Guerreiro,
Orixá que não deixa seus filhos para trás,
dentro e fora das matas será sempre grande companheiro,
esse é Oxossi o Pai que sempre luta pela paz.
Seu santo nome será mantra em minha caminhada,
sua força será a energia que me faz reinar,
seu grito que ecoa por toda minha jornada,
trazendo sempre paz e luz no meu caminhar.
Esse é Oxossi o grande senhor das Florestas de luz,
que nas horas de desespero sempre estende a mão,
nos abraçando e levando ao bom caminho que me conduz,
nos acariciando e nos guardando no coração.
Oxossi Pai supremo de nossos Caboclos guerreiros,
que os trazem para os males vencer no Gongá,
Caboclos belos nossos índios companheiros,
que se juntam e lutam em nome de Pai Oxalá.
O verde brilha como cor que predomina minha aura,
entrego a Oxossi o meu andar e o meu viver,
recebo forças e energias que me acalma,
tomando conta de meu corpo e de todo meu ser.
Sei que toda essa força meu caminho conduz,
assim como Pai Ogum, Mãe Oxum e meu justiceiro Xangô,
todos Orixás me abençoam em nome de Jesus,
em especial Pai Oxossi no qual saúdo: Okê Arô, Oxossi eterno caçador.
Saravá Pai Oxossi!
Okê Arô!
Carlos de Ogum.
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