domingo, 30 de agosto de 2015 78 comentários

A História do Erê Cosmezinho de Oxum

             




    Cosmezinho chegou na Umbanda,
ele veio pra trabalhar,
traz a alegria pra nossa banda,
traz a luz a nosso Gongá.

    De sorriso aberto ele vem,
pulando aqui pulando pra lá,
com a benção de Oxum ele tem,
a luz de nosso Pai Oxalá.

    Cosmezinho de Oxum é uma Entidade de Luz da nossa Umbanda, que vem
na linha das Ibeijadas (crianças), para alegrar as Giras, trazendo
bençãos, ajudando na caminhada rumo a nossa evolução.

    Ele tem a predominância da Orixá Oxum, e por esse motivo tem uma
afeição pela cor azul.

    Está sempre pulando e se mexendo, cantando e dançando, brincando e
sorrindo como uma boa criança muito levada. Mas quando tem que fazer os
trabalhinhos espirituais, o faz com imenso carinho e muita dedicação.

    A história encarnada desse menino de Oxum teve seu acontecimento
pelo final do século XIX, na região Sul do Brasil.

    Ele nasceu em uma família de colonos imigrantes italianos, que
vieram para o Brasil em busca de trabalho a muitas décadas antes do
nascimento do menino, que teria o nome de Fabrizio.

     Fabrizio já estava com seus 5 anos quando um dia andando pelas
terras de um grande fazendeiro que tinha enormes vinheiras e grandiosa
quantidade de gado, observou o coronel expulsando de suas terras uma
família de negros, que ali passava em busca de trabalho e de comida.

    Esse dito coronel vinheiro, tinha ainda na mente a essência da
escravatura que tinha sido abolida a pouco tempo. E no seu sangue e na
sua mente corria as maldades que tanto fez durante toda sua vida
contra os negros escravizados.

    Ao observar isso o menino Fabrizio, foi até o coronel e na
simplicidade da infância perguntou o que aquelas pessoas tinham feito
para serem tratadas de um modo tão hostil.

    O fazendeiro olha o menino com os olhos enraivecidos, e num tom
áspero lhe pergunta: "VoCê não viu que são apenas negros?"

    E com isso o fazendeiro sai esbravejando, deixando o pequeno
Fabrizio sem nada entender o porque daquele acontecimento.

    O menino corre para a choupana onde residia com seus familiares,
chega a seu pai e conta a história tentando  buscar uma resposta pelo
acontecimento. Mas o pai apenas disse: "Se afaste dessas pessoas, o
coronel não gosta delas, então é melhor ficarmos distantes."

    Os dias foram passando, mas  o acontecimento com a família de
negros não deixava o menino em paz. Quando menos se esperava, lá
estava ele pensando no fato.

    Certa manhã, Fabrizio andando pela fazenda com um grande
recipiente de leite que fora buscar no curral, a mando de seu pai, vê
um menino negro ao longe, tentando se esconder por entre as árvores.
Ele corre ao encontro do menino e tenta um diálogo, mas em vão, pois o
menino se assusta e corre por entre as matas.

    Fabrizio não se faz de rogado e corre também, tanto que alcança o
menino. Chegando até ele, após uns minutos de conversa o menino diz
que estava tentando encontrar um pouco de comida, pois ele estava
escondido em uma caverna junto com sua família e outros vários negros,
e nessa caverna se encontrava muitas pessoas doentes e famintas,
dentre essas pessoas estaria o pai dele que, por estar muito fraco
não conseguiu nada para ele, seus irmãos e sua mãe comerem.

    Fabrizio pede que o menino negro o leve até a caverna, mas antes
ele iria buscar o recipiente de leite que ele tinha deixado ao sair
correndo.

    E assim fizeram. Ao chegarem na caverna, muitos negros ficaram
assustados ao verem ali um menino branco, mas logo se acalmaram quando
o menino ofereceu-lhes o leite para beberem.

    Fabrizio sentou-se em uma pedra, olhou com seu olhar de criança
aquelas pessoas famintas, doentes e machucadas. Seus olhos
lacrimejaram, e ele entendeu enfim, o que era o fato acontecido entre
o coronel fazendeiro e os negros, que hoje tinham uma falsa
liberdade, tudo aquilo não passava de crueldade dos brancos.

    Ele se levantou, saiu da caverna, andou por alguns minutos dentro
da mata, até chegar nas margens de um rio, no qual se encontrava uma
linda cachoeira de águas límpidas. Sentou-se bem próximo a ela,
colocou suas mãos no rosto e chorou copiosamente, fazendo com que suas
lágrimas de criança se misturassem com as gotas de água vindo da
cachoeira.

    Sem entender muito bem o porque daquela dor, sem saber o porque
daquele sofrimento todo. Ele apenas chorava, até que em um momento se
lembrou de sua avó, uma velha de sotaque forte italiano, que lhe
dizia que quando as coisas estavam sem resposta, a melhor resposta é
falar com Deus através de uma oração vinda do coração. E foi isso que
o menino fez. Se pôs de joelhos de frente a cachoeira e conversou com
Deus.

    Em meio de suas orações, ele percebe uma linda imagem de mulher
que saía como de dentro da linda cachoeira. Essa imagem foi tomando
uma forma monumental, um lindo manto azul, uma mulher de sorriso largo
e de olhos meigos. A mulher chegou até o menino e disse para que ele
não tivesse medo, pois ela era um Anjo de Deus, e veio ali por causa
de sua oração.

    O menino, encantado ficou, e sem o menor receio começou a falar, a
falar e a falar sem parar. Tropeçava nas próprias palavras, saltitava,
pulava, se mexia, fazia sinais com as mãos, enfim, ficou muito
eufórico com a resposta de suas orações.

    A linda mulher se apresentou com o nome de Oxum, ela dizia ser a
deusa da cachoeira, e estava ali para ajudá-lo a ajudar aquelas
pessoas que tanto sofriam.

    Ele com os olhos brilhando de felicidade por um instante teve
receio, pois sabia que era apenas uma criança e não sabia como fazer
para ajudar seus novos amigos.

    Ele cerra os olhos grandes e azuis e pergunta a Oxum o que fazer.
Como poderia fazer algo para ajudar sendo ele tão pequenino.

    Mas Oxum com seu jeito maternal lhe disse:

"Sua fé me trouxe até aqui, sua fé vai lhe mostrar o que fazer, como
ajudar. Você é um pequeno menino, mas tem dentro de si um grande
coração amoroso e uma coragem de gigante. Não se aflija que estarei
sempre com você, mesmo na hora que você achar que não estarei. Você
em pouco tempo vai se encontrar comigo, em outro lugar, em outro
plano. Cumpra sua missão aqui, resta só ela. E após isso sua missão
será de uma forma diferente, em outro lugar e sempre elevado a Zambi,
que você conhece como Deus.

    Só não esqueça de fazer tudo com amor, sem medo, mesmo que você
não entenda os acontecimentos momentâneos, pois assim como você passou
a entender o ódio de um homem branco sobre os negros, você vai
entender tudo que poderá acontecer a partir de agora, até seu encontro
novamente comigo."

    O pequeno Fabrizio naquele momento se sentiu mais forte, mais
feliz, e cheio de planos para ajudar seus amigos negros. Saiu
saltitando como se em uma festa se encontrasse, balançava seus cabelos
loiros encaracolados como se inventasse um novo modo de dançar. Seu
sorriso estava  grandioso, sua mente não parava um só instante, sabia
que ele poderia ajudar. Ele confiava nele, confiava na sua nova
protetora, a linda Oxum, e confiava em Deus acima de tudo.

    Era apenas uma pequena criança, que agora tinha uma grande
responsabilidade adulta, salvar a vida de pessoas inocentes.

    Correndo por entre a mata ele chegou até a caverna, foi direto ao
negrinho de olhos esbugalhados que com ele estivera antes. O negrinho
ao vê-lo sorriu, um sorriso largo de dentes muito claros e olhos
brilhantes como as estrelas.

    Fabrizio lhe da um abraço e diz que agora ele tem como ajudar a
todos ali. Os dois sorriam e saem pulando e correndo atrás das
borboletas e pássaros numa brincadeira infantil.

    O plano de Fabrizio começa a ser executado, todos os dias ele ao
buscar o leite, pegava não só para a sua família, mas também pegava,
de uma forma escondida, para os negros que estavam na caverna. E não
só o leite o menino levava, passou a levar milho, café, ovos, peixes,
carnes e tudo mais o que podia levar sem que ninguém percebesse.

    Se demonstrou interessado em ajudar na casa grande onde residia o
coronel e a família, e de lá levava algumas roupas, e agasalhos,
também levava alguns xaropes que uma negra velha que ainda residia na
casa fazia para curar o peito cansado dos mais fracos.

    E assim fez por algum tempo, dia após dia, era aquela rotina de
ir em busca de comida, remédios e tudo mais que pudesse conseguir para
auxiliar seus amigos.

    Um dos jagunços do coronel percebeu a ação do menino, e logo
passou a vigiá-lo. Quando teve certeza dos atos do pequeno Fabrizio,
ele, o jagunço mesquinho, falou tudo que descobriu ao coronel.

    O coronel não teve dúvidas, sabia que o menino estava ajudando os
negros que ele tanto odiava. E com isso mandou então o jagunço com
mais outros homens começarem uma caçada implacável em busca do local
onde se encontravam os refugiados, aqueles que na visão do coronel não
mereciam viver sobre a mesma terra que ele habitava.

    As matas eram fechadas e perigosas, a caverna onde se encontravam
os negros era distante e bem escondida, fazendo assim com que os
jagunços não a encontrassem. E isso deixou o coronel ainda mais
irritado e tomado pelo ódio, pois mesmo que os jagunços tentassem
seguir o pequeno menino, ele, mesmo sem saber que estava sendo
seguido, tomava caminhos diferentes, corria por entre os grandiosos
troncos como se estivesse brincando, com uma grande agilidade se
colocava em cima das árvores, subia e descia como os esquilos que ele
por muitas vezes acompanhava. E mesmo correndo em zigue-zague, por um
caminho ou por outro, de uma forma milagrosa ele chegava a caverna.
Coisa que os jagunços não conseguiam, pois sempre perdiam o pequeno
Fabrizio por entre as sombras da grande floresta.

    O coronel, após o relato de seus capangas, fica irritadíssimo, e
manda expulsarem a familia de Fabrizio de suas terras, que são
obrigados a sair sem poder levar nada.

    Fabrizio ao entender o que se passou, foi até seu pai e contou
toda a história. Disse a ele sobre a caverna e os negros que lá
viviam, e fez questão de levar o pai e a família até a caverna.
Chegando lá, vendo a situação que muitos negros se encontravam, soube
do bem que o filho fez, vendo que sem aquela ajuda do menino muitos
dos negros teriam desencarnado, o pai de Fabrizio o abraçou e chorou,
se orgulhando de seu filho.

     A família de Fabrizio permaneceu na caverna, buscavam abrigo
enquanto o pai tentava buscar outra fazenda para trabalhar. E Fabrizio
não descansou, continuou indo a fazenda as escondidas para pegar
alimentos juntamente com outras crianças negras.

    Certo dia em uma dessas idas e vindas da caverna para a fazenda,
Fabrizio para e observa uma jovem a beira do rio trazendo pela mão uma
menina que aparentava a sua idade ou pouco menos. Ele se senta próximo
de uma árvore, onde também estaria seu amigo, o negrinho de olhos
esbugalhados. Os dois atônitos com olhos parados, observavam a menina
brincando com a água junto a sua cuidadora. Fabrizio sabia que a
menina era filha do coronel, já tinha a visto algumas vezes nos
arredores da fazenda. Seu espanto foi ver ela ali tão distante de sua
casa, longe dos olhos do coronel ou de sua esposa.

    A cuidadora da menina era uma jovem ainda, que parecia estar a
procura de alguém ou alguma coisa pelos arredores. Ficava olhando para
todos os lados, sem prestar muita atenção ao que a menina fazia.

    Em dado momento aparece um dos jagunços do coronel, que ao longe
observa os meninos nos galhos das árvores. De imediato ele retorna do
caminho de onde viera para ao encontro com o coronel ao modo de
chamar-lhe atenção sobre a presença dos meninos em suas terras.

    O coronel tomado por um ódio descomunal cavalga em direção ao rio
onde se encontrava os meninos, sem saber que sua filha por lá também
se encontrava.


    Nesse mesmo momento a cuidadora displicente segui para um lado do
rio onde se encontrava alguns lírios brancos que chamaram sua atenção
deixando a menina só.

    Fabrizio e seu amiguinho descem dos galhos das árvores indo ao
encontro da menina, que aos vê-los sorri, com um sorriso amigável e
meigo. Se aproximam e conversam, brincam, fazendo assim uma nova
amizade. Uma amizade infantil, verdadeira e pura.

    Mas toda essa alegria duraria pouco. Aos galopes o coronel chega
em seu cavalo, desce do animal já com o açoite na mão deferindo contra
o pequeno menino negro, que cai. O coronel continua a bater na criança
com uma violência descomunal. A menina grita, chora. Fabrizio corre
tentando fazer o coronel parar, ele empurra e derruba o menino, e
volta a atacar o menino negro, que já tem o corpo sangrando e inerte.

    A menina desesperada corre em direção contrária de seu pai, chega
a beira do rio, escorrega e cai na água, e é tomada pela força da
natureza que a leva arrastada.

    O coronel se desespera ao ver a menina ser sugada pelos
redemoinhos de águas bravas do rio, da mesma forma o menino Fabrizio,
que corre pelo leito tentando salvá-la.

    Em dado momento o menino em um gesto de desespero mas ao mesmo
tempo de nervosismo se atira nas águas do rio, e com uma força
descomunal consegue alcançar a mão da pequena menina a puxando para
si.

    Como em um milagre a traz para uma parte mais branda da margem,
onde o coronel estendia as mãos para salvar sua filha. Fabrizio a
empurra com toda sua força, o coronel a alcança, retira a menina
puxando-a para fora das águas revoltosas.
    O menino Fabrizio pede ajuda esticando suas pequenas mãos para o
coronel e para o jagunço que está a seu lado. O fazendeiro olha com
olhar de desdém para o menino, se virando com sua filha nos braços. O
jagunço entende o recado do coronel, e com os pés empurra o menino
para o fundo do rio, que novamente foi pego pelo poderoso redemoinho.

    O menino desaparece por entre as águas de Oxum, enquanto a menina
recupera a consciência, e ainda atordoada não entende muito bem o
acontecido.

    Ela firma os olhos, vê seu pai, começa a vir as cenas do fato em
sua mente, ela chama pelo garoto, no mesmo instante que vê o corpo,
já sem vida, do menino negro ser atirado nas águas do rio pelo
jagunço do coronel fazendeiro.

    Ela chora copiosamente, enquanto o pequeno corpo do menino afunda
no rio. Nesse instante aparece sobre as águas uma luz forte e
ofuscante, dessa luz se nota a imagem de uma linda mulher, a mesma
imagem que Fabrizio viu na cachoeira. No centro dessa luz, ao lado da
mulher, a imagem do pequeno Fabrizio, sorridente, pulando e
balançando seus cachos dourados como sempre. Ele estende as mãos como
se pegasse algo, e do centro do rio, a imagem do pequeno menino negro
de olhos grandes e arredondados aparece indo ao encontro de seu
amigo, e sendo abraçado carinhosamente pela linda Oxum, como
demonstração de proteção eterna.

    A menina ao ver isso saiu correndo de encontro ao trio, se jogando
nas águas revoltosas do rio. E novamente fora levada pelos grandes
redemoinhos assassinos que ali reinavam.

    A menina nunca mais fora vista, seu corpo tomado pelas forças das
águas desapareceu como por encanto. O coronel em desespero profundo,
após muitas buscas, desistiu da própria vida, e diante do rio se matou
para tentar acabar com seu sofrimento.

    Sete dias após a morte do coronel, a sua esposa tem uma visão da
sua filha, que de mãos dadas com Fabrizio e Juca, o menino negro, lhe
diz para abrir as porteiras da fazenda, trazendo não só os negros que
estavam na caverna, mas também a família de Fabrizio para ajudá-la no
plantio das vinheiras e nos cuidados com o gado, para que assim  não
só ela desfrutasse das dádivas da natureza, mas todos aqueles que
necessitavam de matar a fome. E assim foi feito, a fazenda foi
transformada em um grande local para auxiliar a quem necessitava, com
auxilio de colonos e negros trabalhando junto em prol da caridade,
sobre o comando da esposa do falecido coronel.

    As crianças felizes ficaram por saberem e entenderem que fizeram o
bem a muitos que necessitavam.

    A menina filha do coronel, ainda reencarna em busca de maiores
evoluções para chegar a seu objetivo que é ter a benção de Deus e um
dia ser uma Entidade de Luz trabalhadora para a espiritualidade.

    Juca, que hoje é conhecido como "Juquinha das Almas", está no
caminho da evolução final para a espiritualidade. Se encontra em
terreiros de Umbanda, ainda não em incorporação em médiuns, mas com
grande vontade de trabalhar para a caridade.

    Hoje Fabrizio é conhecido como Cosmezinho de Oxum nos terreiros de
Umbanda. Ele com o mesmo jeitinho de criança levada, faz a caridade,
espalha alegria, ensina o amor, demonstra a paz, dançando,
pulando e sorrindo, sempre de um modo infantil e carinhoso. Porém
muito  travesso e brincalhão.


    Salve as Crianças de Umbanda!

    Salve Cosmezinho de Oxum!

    Salve toda a Ibeijada!

Carlos de Ogum

quinta-feira, 20 de agosto de 2015 43 comentários

AS ORAÇÕES E A UMBANDA.

  As Orações e a Umbanda.

    A todo momento da vida de um umbandista, seja nas horas de
alegria, de tristeza, de dor, de desânimo, de saudação, de ligação com
seu Anjo da Guarda, com a ligação com os Orixás ou com as Entidades de
Luz, ou qualquer seja o momento que o umbandista precise se
restabelecer, dividir a euforia, agradecer aquela graça concedida ou
fazer seus pedidos, a oração estará junto a ele.

    E essa oração pode ser aquela que todos nós já conhecemos, assim
como um "Pai Nosso" ou uma "Prece de Cáritas", ou então aquela
inédita, que acabamos de criar, através de palavras soltas vinda do
coração.

    Dentro da Umbanda as ditas orações são extremamente importantes,
pois quando vamos a uma "Gira", desde o momento que colocamos os pés
na entrada de nosso terreiro, até o momento que saímos dele, fazemos
orações, como dito acima, seja de pedidos de licença, saudações,
agradecimentos, etc.

    Para os umbandistas, e para muitas pessoas que amam nossa
religião, a oração mais frequente é a que pedimos luz e proteção em
nosso caminhar, e esses pedidos são feitos a nossos Anjos de Guarda, e
dentro da fé de cada um essa oração pode ser assim:

*******************************************************************
ORAÇÃO AO ANJO DA GUARDA.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Senhor Deus, Todo-poderoso, criador do céu e da terra. Louvores Vos
sejam dados por todos os séculos dos séculos. Assim seja.

Senhor Deus, que por vossa imensa bondade e infinita misericórdia,
confiaste cada alma humana a cada um dos anjos de vossa corte celeste,
graças vos dou por essa imensurável graça. Assim confiante em vós e em
meu santo anjo da guarda , a ele me dirijo, suplicando-lhe velar por
mim, nesta passagem de minha alma, pelo exílio da Terra.

Meu santo anjo da guarda , modelo de pureza e de amor a Deus, sede
atento ao pedido que vos faço. Deus, meu criador, o Soberano Senhor a
quem servis com inflamado amor, confiou à vossa guarda e vigilância a
minha alma e meu corpo; a minha alma, a fim de não cometer ofensas a
Deus, o meu corpo, a fim de que seja sadio, capaz de desempenhar as
tarefas que a sabedoria divina me destinou, para cumprir minha missão
na terra.

Meu santo anjo da guarda , velai por mim, abri-me os olhos, dai-me
prudência em meus caminhos pela existência. Livrai-me dos males
físicos e morais, das doenças e dos vícios, das más companhias, dos
perigos, e nos momentos de aflição, nas ocasiões perigosas, sede meu
guia, meu protetor e minha guarda , contra tudo quanto me cause dano
físico ou espiritual. Livrai-me dos ataques dos inimigos invisíveis,
dos espíritos tentadores.

Meu santo anjo da guarda , protegei-me.

Que assim seja!
*******************************************************************


    Muitas pessoas pregam coisas um tanto mirabolantes, como dezenas
de velas, despachos grandiosos e caríssimos, novenas sádicas, jejuns
doloridos ao corpo físico, para conseguir ou agradecer uma graça.
Contudo, nada disso tem a grandiosidade da fé de cada um. Ou seja, se
a pessoa não achar que sua fé seja o suficiente ao entregar ao seu
agradecimento ou a seu pedido apenas uma oração feita com carinho,
crendo naquilo que você deseja demonstrar, se achar que a fé só pode
ser demonstrada com algo material em excesso, ou com dias de rezas a
fio, que muitas vezes se tornam mecanizadas, sem a menor atenção,
faladas continuamente como um disco agarrado, ou mesmo fazer algo que
poderá enfraquecer seu corpo, como ficar horas de joelhos ou dias de
jejum, se acha que sua fé só pode ser fortalecida, e que você só pode
crer nela assim, é livre arbítrio, mas a Umbanda acredita fielmente
que uma oração bem feita e feita com fervor, amor e fé, é muito mais
bem aceita que grandiosos rosários rezados mecanicamente sem prestar a
devida atenção. E ao acontecer isso não é falta de fé, não é porque o
filho e displicente. É apenas porque somos seres humanos, e nos
cansamos, e o cansaço nos tira a atenção.

    Todos Os Orixás e todas as Entidades de Luz, não estão cobrando
nada grandioso de seus filhos. Desejam apenas sua fé, seu carinho, seu
amor, e não o excesso de algo, não a dor de alguém. Quem tem essa
visão é o ser humano, muitos líderes religiosos, que para prender um
fiel em sua doutrina, faz parecer que Deus é terrível e cobra as
coisas de uma forma monumental. Sendo que Deus é humildade, assim
como uma simples oração.

    Em algum momento lendo uma de nossas correspondências, uma amiga
me mandou a seguinte frase, que realmente não sei quem é o autor.

"A oração é a energia da vida, permeando todo o universo e tornando-se
força motriz para a mudança."

    Exatamente isso, se desejarmos mudar nossos atos, nossos erros,
nossos defeitos, nossas lamúrias, entre tantas coisas defeituosas que
giram em nosso planeta, nada melhor que rezarmos. Que entregarmos a
Deus, a Oxalá, aos Orixás e as Entidades de Luz, a nossa oração, mas
que seja a nossa oração de amor, de carinho de fé. Pois só assim  as
"engrenagens" que giram a vida e a nossa evolução  espiritual poderá
agir e trabalhar a nosso favor e em favor de nossos semelhantes.


    Voltando aos trabalhos de caridade de nossa Umbanda, retornando
falando de nossas "giras", podemos ver a grandiosidade da oração, ao
vermos uma Entidade de Luz rezando, a entrega dentro da oração, o
extremo amor que faz isso. Como exemplo poderemos citar quando estamos
desanimados, tristes, sem vontade de nada, amargurados, e entramos em
um trabalho de Umbanda, no qual um Preto Velho, ou um Caboclo por
exemplo, nos reza, seja com o seu "tercinho", seja com um galhinho de
arruda ou guiné, ou mesmo com as mãos puras. Você sai dali renovado,
leve, parecendo outra pessoa. Sai com novas esperanças, com força
para caminhar.

    Essa é a força da oração feita com fé.

    Abaixo descrevemos a linda Oração do Umbandista.

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Senhor,
fazei de mim um instrumento da vossa comunicação.
Onde tantos mistificam,
Que eu leve a palavra da verdade!
Onde tantos procuram ser servidos,
Que eu leve a alegria de servir!
Onde tantos fecham os olhos para a prática do bem,
Que eu abra meu coração para acolher!
Onde tantos usam a Umbanda como comércio,
Que eu seja usado pela Umbanda para o amor !
Onde tantos espalham a ignorância e o preconceito,
Que eu saiba agir pela luz do conhecimento e da razão!
Onde a vida perdeu o sentido,
Que através da Umbanda eu leve o sentido de viver!
Onde tantos me pedem um "despacho",
Que eu saiba ensinar a benção do trabalho interno!
Onde haja doença,
que eu leve a vibração de saúde do Sr. Oxossi.
Onde haja desespero,
que eu leve a concórdia e a placidez das Águas.
Onde houver desânimo,
que eu leve a determinação e tenacidade do Senhor Ogum.
Onde houver injustiça,
que eu leve o discernimento e a justiça do Senhor Xangô.
Onde tantos me pedem um milagre,
que eu seja a humildade do preto velho!
Onde tantos estão sempre distantes,
que eu possa fazer a Umbanda sempre presente!
Onde tantos sofrem de solidão que faz morrer,
que eu seja a pureza de Ibeijada, espalhando a alegria!
Onde tantos morrem na matéria que passa,
que o Senhor Omulú me abençoe com a vibração da terra, geradora
permanente de vida.
Onde tantos olham para a terra,
que eu seja um espelho de Aruanda, a refletir sua luz na terra!

Saravá Umbanda!!
*******************************************************************

    Uma linda oração realmente. Esperamos que possamos não só a
rezá-la, mas praticá-la, com o mesmo amor e fé.

    Agora para terminarmos nosso texto, vou anexar abaixo um diálogo
entre Deus e um Umbandista, que reza mecanicamente antes de dormir, e
que Deus, nosso Pai Maior, demonstra que rezar sem refletir é algo que
podemos fazer sem perceber. Portanto vamos ler com bastante atenção, e
refletir muito nos ensinamentos de Deus. Só frisando que recebi esse
texto de um amigo de fé, e infelizmente não tinha o autor. Gostaria
muito de ter dado os créditos, pois achei maravilhosa a colocação
desse diálogo.

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Diálogo entre Deus e um umbandista que reza o "Pai Nosso Meditado".

UMBANDISTA: Pai nosso que estais no céu...

DEUS: Sim? Estou aqui...

UMBANDISTA: Por favor, não me interrompa, estou rezando!

DEUS: Mas você me chamou!

UMBANDISTA: Chamei? Eu não chamei ninguém. Estou rezando. "Pai nosso
que estais no céu..."

DEUS: Aí, você fez de novo.

UMBANDISTA: Fiz o que?

DEUS: Me chamou! Você disse: Pai nosso que estais no céu. Estou aqui.
Como é que posso ajudá-lo?

UMBANDISTA: Mas eu não quis dizer isso. É que estou rezando. Rezo o
Pai Nosso todas as noites antes de dormir, me sinto bem rezando assim.
É como se fosse um dever. E não me sinto bem até cumpri-lo.

DEUS: Mas como podes dizer Pai Nosso, sem lembrar que todos são seus
irmãos, como podes dizer que estais no céu, se você não sabe que o céu
é a paz, que o céu é amor a todos?

UMBANDISTA: É, realmente ainda não havia pensado nisso.

DEUS: Mas prossiga sua oração.

UMBANDISTA: "Santificado seja o Vosso nome..."

DEUS: Espera ai! O que você quer dizer com isso?

UMBANDISTA: Quero dizer... quer dizer, é... sei lá o que significa.
Como é que vou saber? Faz parte da oração, só isso. Eu hein!

DEUS: Santificado significa digno de respeito, Santo, Sagrado.

UMBANDISTA: Agora entendi. Mas nunca havia pensado no sentido dessa
palavra. Bem vamos lá, deixa eu continuar. Tenho que dormir.
"Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra
como no céu..."

DEUS: Está falando sério?

UMBANDISTA: Claro! Por que não?

DEUS: E o que você faz para que isso aconteça?

UMBANDISTA: O que faço? Nada! É que faz parte da oração, além disso
seria bom que o Senhor tivesse um controle de tudo o que acontecesse
no céu e na terra também.

DEUS: Hum! Eu tenho controle sobre você?

UMBANDISTA: Bem, eu frequento o Centro Espírita!

DEUS: Não foi isso que Eu perguntei! Que tal o jeito que você trata os
seus irmãos, a maneira com que você gasta o seu dinheiro, o muito
tempo que você dá a televisão, as propagandas que você corre atrás e o
pouco tempo que você dedica a Mim? Será que só ir ao Centro Espírita e
rezar de forma mecânica antes de dormir é o bastante?

UMBANDISTA: Por favor. Pare de criticar!

DEUS: Desculpe. Pensei que você estava pedindo para que fosse feita a
minha vontade. Se isso for acontecer tem que ser com aqueles que rezam,
mas que aceitam a minha vontade, o frio, o Sol, a chuva, a natureza, a
comunidade, fazer a caridade sem querer nada em troca.

UMBANDISTA: Está certo, tens razão. Acho que nunca aceito a sua
vontade, pois reclamo de tudo: Se manda chuva, peço Sol, se manda o
Sol reclamo do calor, se manda frio, continuo reclamando, se estou
doente, peço saúde, mas não cuido dela, deixo de me alimentar ou como
muito...

DEUS: Ótimo reconhecer tudo isso. Vamos trabalhar junto, Eu e você,
mas olha, vamos ter vitórias e derrotas. Eu estou gostando dessa nova
atitude sua.

UMBANDISTA: Olha Senhor, preciso terminar agora. Esta oração está
demorando muito mais do que costuma ser. Tenho sono. Vou continuar: "o
pão nosso de cada dia nos dai hoje..."

DEUS: Opa! Pare aí! Você está me pedindo pão material? Não só de pão
vive o homem, mas também da minha palavra. Quando me pedires o pão,
lembre-se daqueles que nem conhecem pão. Pode pedir-me o que quiser,
desde que me veja como um Pai amoroso! Eu estou interessado na próxima
parte de sua oração. Continue, antes que durma!
UMBANDISTA: "Perdoai as nossas ofensas, assim como nos perdoamos a
quem nos tem ofendido..."

DEUS: E o seu irmão desprezado?

UMBANDISTA: Está vendo Deus? Olhe só Senhor, ele já criticou várias
vezes e não era verdade o que dizia. Agora não consigo perdoar.
Preciso me vingar, não é? Só assim vou poder dormir em paz... Eu acho.

DEUS: Mas, e a sua oração? O que quer dizer sua oração? Você me
chamou, e eu estou aqui, quero que saias daqui transfigurado, estou
gostando de você ser honesto. Mas não é bom carregar o peso da ira
dentro de você, não acha? Quem sabe assim você consiga finalmente
dormir. Aliás você anda com muitas olheiras, não deve estar dormindo
muito bem.

UMBANDISTA: Hum! Acho que iria me sentir melhor se me vingasse!

DEUS: Não vai não! Vai se sentir pior. A vingança não é tão doce
quanto parece. Pense na tristeza que me causaria, pense na sua
tristeza agora. Eu posso mudar tudo para você. Basta você querer.

UMBANDISTA: Pode? Mas como? E falando nas olheiras... Realmente elas
estão enormes. Pois é, acho que não ando dormindo muito bem.

DEUS: Sim, elas estão horríveis. Mas, perdoe seu irmão, Eu perdoarei
você e te aliviarei.

UMBANDISTA: Mas Senhor, eu não posso perdoá-lo.

DEUS: Então não me peças perdão também!

UMBANDISTA: Mais uma vez está certo! Mais de querer vingar-me, prefiro
a paz com o Senhor. Está bem, está bem. Eu perdoo a todos, mas
ajude-me Senhor. Mostre-me o caminho certo para mim e meus inimigos.

DEUS: Isto que você pede é maravilhoso, estou muito feliz com você.
E você, como está se sentindo?

UMBANDISTA: Bem, muito bem mesmo! Para falar a verdade, nunca havia me
sentido assim! É tão bom falar com Deus.

DEUS: Ainda não terminamos a oração. Prossiga.

UMBANDISTA: "E não deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal..."

DEUS: Ótimo, vou fazer justamente isso, mas não se ponha em situações
onde possa ser tentado.

UMBANDISTA: O que quer dizer com isso?

DEUS: Deixe de andar na companhia de pessoas que o levam a participar
de coisas sujas, intriga, inveja, maledicência. Abandone a maldade, o
ódio. Isso tudo vai levá-lo para o caminho errado. Não use tudo isso
como saída de emergência!

UMBANDISTA: Não estou entendendo!

DEUS: Claro que entende! Você já fez isso comigo varias vezes. Entra no
erro, depois corre a me pedir socorro. Se lembra não?

UMBANDISTA: Me lembro sim. E estou com muita vergonha, perdoe-me
Senhor!

DEUS: Claro que perdoo! Sempre perdoo a quem está disposto a perdoar
também. Mas não esqueça, quando me chamar, lembre-se de nossa
conversa, medite cada palavra que fala! Agora termine sua oração,
vamos. Ainda está com sono não é?

UMBANDISTA: Terminar? Ah, sim. "AMÉM!"

DEUS: O que quer dizer AMÉM?

UMBANDISTA: Não sei. É o final da oração. Ora bolas.

DEUS: Você só deve dizer AMÉM quando aceita dizer tudo o que eu quero,
quando concorda com minha vontade, quando segue os meus ensinamentos.
Porque AMÉM, quer dizer: ASSIM SEJA, concordo com tudo que rezei.

UMBANDISTA: Senhor, obrigado por ensinar-me esta oração. E agora,
obrigado por fazer-me entendê-la.

DEUS: Eu amo cada um dos meus filhos. Amo mais ainda aqueles que
querem sair do erro, aqueles que querem ser livres do pecado.
Abençoo-te e fica com minha paz!

UMBANDISTA: Obrigado Senhor! Estou muito feliz em saber que és meu
amigo. Será que já posso dormir?

DEUS: Bons sonhos meu filho, bons sonhos. Vá, acabe com essas
olheiras.
******************************************************************

    Façamos como nosso amigo "umbandista", aprendamos a valorizar cada
palavra da oração, seja ela enorme, seja ela pequenina, mas sempre
elevando a nossa fé, o nosso carinho, o nosso amor e a nossa
aprendizagem naquilo que ela nos deseja passar naquele momento.

    E frisando uma frase que meu Mentor, vovô Rei Congo, me disse a alguns anos atrás:

"A oração pode ser a mesma sempre, mas ela vai te mostrar caminhos
diferentes para diferentes momentos de dificuldade que esteja
passando. Então meu filho, saiba entender cada palavra da oração, para
cada momento passado." Vovô Rei Congo.

A oração de amor é força na direção à bússola da fé viva, recompondo a
paisagem em que vivemos e traçando rumos novos para a vida superior.
Ore, reze, converse com Deus. Mas com fervor sempre.

A Oração e a mentalização devem ser sentidas e entendidas. É preciso
se concentrar e se envolver de corpo e alma. Nada de rezar de forma
mecânica e sem sentimentos.

A Oração neutraliza qualquer força negativa. Cultive a prece.

Salve as nossas Orações!

Salve as forças divinas que aceitam as nossas Orações!


Carlos de Ogum.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015 62 comentários

A HISTÓRIA DE PAI ISIDORO DO CONGO.





   A História de Pai Isidoro do Congo.

"Preto na senzala era forte e de coragem,
que rezava com fé a Pai Oxalá.
Preto na senzala era forte e de coragem,
de joelhos ficava para nos abençoar.

Pai Isidoro era o nome desse preto,
que com fé e amor no coração,
salvava as crianças do desespero,
e no perigo sempre estendia a mão.

Saravá Pai Isidoro,
saravá sua cachimba e seu Gongá,
saravá Pai Isidoro,
ele veio de Aruanda em nome de Oxalá."



    Pai Isidoro do Congo é um Preto Velho de porte jovial, apesar de
ter desencarnado com mais de 80 anos. Tem um jeito peculiar de rezar
seus filhos, que vem na Umbanda em busca da caridade desse poderoso
Preto Velho. Ele reza segurando firmemente nas mãos das pessoas, com
um olhar penetrante, com o cachimbo na boca e falando com os
espíritos sem luz, caso haja algum com o consulente, de uma forma
firme e bem dialogada, com palavras soltas, parecendo que esteja
conversando com o consulente, mas na verdade está em diálogo direto
com o obsessor, o Egum, o Kiumba ou Zombeteiro.

    Para quem já trabalha como Cambono desse Preto Velho a algum
tempo, só de ouvir o modo como ele leva o diálogo já entende que tipo
de espírito que está atrapalhando a caminhada do consulente, pois ele
fala de uma forma mais branda com um, de uma forma mais ríspida com
outro, e assim fica, para o Cambono, esse entendimento.

    Pai Isidoro do Congo também tem uma conversa dessa forma, sendo
apenas de um modo tranquilo e sereno, com as Entidades de Luz, que
estejam vibrando na coroa de um filho no qual sua mediunidade esteja
aflorando de uma forma mais intensa, ou seja, caso uma Entidade de Luz
esteja próxima da coroa de um filho, e esse filho vai até Pai Isidoro
para tomar um passe, para ser rezado, Pai Isidoro não fala diretamente
com o médium a princípio, ele vai logo falando com a Entidade de Luz
que esteja próxima ao Ori do filho, e por muitas vezes deixando a
pessoa muito curiosa, e isso deixa nosso Pai Isidoro dando alguns
sorrisos, coisa que pouco faz.

    Pai Isidoro se utiliza de 3 sementes chamadas de "Olho de boi"
para serem jogadas de dentro de um "coité" (casca de coco cortada ao
meio, na qual os Pretos Velhos tomam suas bebidas), para verificar a
sorte, os caminhos, os erros, os acertos, o passado, o futuro e a fé
de cada consulente. Portanto se você tem algo a esconder, não peça a
Pai Isidoro do Congo para jogar suas sementes, pois se ele ver algo,
com toda certeza vai ser falado.


    Pai Isidoro era negro escravizado da terceira senzala de uma
fazenda de café e tantas outras formas de roça que fazia o dono da
fazenda, um coronel cafeicultor, ficar cada vez mais rico e poderoso,
e assim comprar mais e mais escravos. E nessa ganância extrema desse
coronel, ele determinou que traria grandes lotes de negros, seja de
outras fazendas ou seja da terra natal dos negros.

    E com essa volúpia extrema em adquirir bens e escravos, esse
coronel passou a observar alguns negros que eram comprados como
animais, e verificou que muitos deles traziam consigo seus filhos.

    Essas crianças eram avaliadas, e se fossem rentáveis a fazenda,
poderiam ficar. Mas caso ele determinasse que uma dessas crianças não
servissem para o objetivo dele, como trabalhar nas roças de sol a sol,
ou cuidar com muito zelo de seus animais, como vacas leiteiras,
cavalos marchadores, grandes touros de raça, entre outros. Ele
simplesmente mandava que os feitores sumissem com essas crianças.

    Normalmente eram meninas com menos de dez anos de idade, pois
ainda não estavam aptas a gerar novos escravos para o coronel, e como
eram muito frágeis para o trabalho pesado da roça, na visão do coronel
era um prejuízo para a fazenda, assim como também os meninos com idade
abaixo dos cinco anos de idade, ou toda a criança que poderia precisar
de cuidados especiais, como por exemplo, alguma deformidade física, ou
alguma que adoeceu com as doenças ditas "males dos brancos", e que
demoravam se restabelecer, por causa dos maus tratos e a falta de
cuidados especiais.

    Portanto o destino de todas essas crianças estavam limitados a uma
ordem do coronel, que com prazer as determinava, e logo a criança em
questão era levada pelas mãos dos feitores, sem que nenhum negro
soubesse o destino, que possivelmente era a morte e tendo seu corpo
atirado no grande lago, ou enterrado na floresta sem a menor piedade.

    As mães desesperadas clamavam por piedade pelas suas crianças,
choravam copiosamente, mas sem resultado, pois os feitores arrastavam
as crianças maiores, e levavam as menores sem se importarem com o
choro delas.

    Os negros ficavam nervosos presos na senzala, gritavam agarrados
nas grades, e logo eram contidos por uma legião de feitores e
jagunços, que com chibatas nas mãos atacavam e torturavam os negros
mais agitados, que sem ter o que fazer se amontoavam nos cantos da
senzala para não serem agredidos.

    Pai Isidoro chorava ao ver seu povo assim, se desesperava ao saber
o destino daquelas crianças excluídas. Ele clamava a Ogum que as almas
dos pequenos fossem recebidas pelos Orixás e Anjos de Zambi, e que o
desencarne delas não fosse dolorido.

    Mas só isso não estava sendo o bastante para o nosso querido
Isidoro. A noite alta chegava, e ele de olhos marejados refletia sobre
o acontecido. Se lembrava que umas três dezenas de meninos e meninas,
foram arrastados pelo chão de terra pelas mãos dos feitores. Ficava
imaginando se já havia sido mortos, imaginava a dor de cada um
daqueles pequenos anjos, imaginava a crueldade de cada feitor ao jogar
as crianças nas águas da morte, olhava as mães e pais dos pequenos,
sentia em seu coração a dor de cada um deles. E chorava baixinho.

    A madrugada chegou, o cansaço tomou conta de seu corpo, e Isidoro
adormeceu.

    Num ímpeto repentino, ele sobressaltado se levanta de sua esteira
de palha olhando para seus irmãos de senzala, que adormecidos sobre a
luz forte do luar descansavam o corpo exausto, não só pelo trabalho
extremo e forçado, mas também pelas dores das torturas físicas.

    Isidoro esfrega seus olhos que ardiam intensamente, e num giro de
olhar pela senzala vê um vulto de pé, por entre os negros adormecidos.

    Ele firma os olhos, mas não reconhece o dono daquele vulto alto e
forte.

    A sombra do homem vem de encontro a ele, que ao se aproximar mais,
Isidoro verifica que não é um dos negros da senzala.

    Ao ser refletido pela luz do luar, Isidoro se depara com um negro
de olhar intenso, penetrante, sereno. E o olhar do negro lhe traz paz.

    Ele se levanta e vai de encontro ao negro, dizendo-lhe:
"Quem é você? Como entrou aqui?"

    O negro apenas lhe fez um sinal para ficar em silêncio com o dedo
indicador em riste e diante dos lábios.

    E após alguns segundos ele disse:

    "Você negro guerreiro descendente de congo. Tem a força de Ogum,
tem a luz dos Orixás. Seu caminho está aberto para salvar a vida das
crianças excluídas pela ganância dos homens. Você sairá dessa prisão,
caminhará até a mata de Oxossi, encontrará nessa mata uma onça
pintada, ela estará te aguardando. Não tenha medo, e apenas a siga por
entre a floresta. Ao chegar em uma grande clareira, eleve sua fé
diante da cachoeira de Oxum, escute os ventos de Iansã, e siga
conforme seu livre arbítrio. Se sua fé for grande, você chegará até um
pequeno pântano de Nanã Buruquê, e verá a terra sagrada de Obaluaiê e
Omulú. Cuidado com as serpentes do mal, você deverá caminhar por entre
elas sem que elas o ataque. Por entre essas serpentes estará 3 conchas
de cor branca, ao encontrá-las peça licença a Iemanjá antes de
pegá-las por entre as serpentes. E não esqueça que tudo vai depender
de sua fé.
Ao ter as três conchas nas mãos, deve caminhar ao caminho do Sol
nascente, e lá avistará uma grande pedreira. Suba sempre em oração a
Xangô, que vai lhe levar a três sementes grandes, que você vai
reconhecer através de sua fé. Troque suas conchas por essas três
sementes. Após tê-las nas mãos, faça a pergunta que desejar que lhe
será respondida. E conforme sua pergunta, a resposta para salvar as
crianças virá."."

    Ao passar todas as informações a Isidoro, o negro alto e forte
abre uma passagem pelas grades da senzala, na qual Isidoro sai,
enquanto o negro se transforma novamente em sombra, dai a um vulto e
desaparece diante dos olhos de nosso guerreiro.

    Pai Isidoro caminha pela luz do luar, tentando elevar sua fé e daí
conseguir completar sua missão. Após andar alguns quilometros, avista
as matas de Oxossi, e nelas penetrou.

    Andando e observando atentamente, Isidoro vê nas sombras da
floresta um grande vulto, ele abaixa a cabeça e roga proteção ao Pai
das Matas. Ao abrir os olhos se depara com um grande felino diante
dele. Era a onça pintada que já o esperava. Com os olhos penetrantes,
o animal fixa nos olhos do negro, dá meia volta e sai em disparada,
fazendo com que Isidoro tivesse que correr muito para tentar não a
perder de vista.

    Após uma jornada por entre as matas, o negro exausto,  já tendo
pouca visão do animal, entra por uma clareira, e avista a Onça parada,
apenas fintando a sua chegada. Quando Isidoro deu por si, ele estava
diante de uma enorme cachoeira, que o deixou deslumbrado. E ao olhar
para trás, viu a onça se embrenhando na mata novamente, sumindo de
seus olhos.

    O negro, chegando até a cachoeira, se ajoelha e reza. Enquanto de
olhos fechados estava, seus ouvidos captavam o som do vento, como que
num tom musical, o chamava para seguir adiante a sua jornada. Ele,
com sua fé em alta, resolve seguir o caminho no qual vinha a brisa
mais forte.

    Ele caminhou por algumas horas, até que se deparou com uma região
pantanosa, na qual a terra em volta era diferenciada em cores mais
escuras, num tom arroxeado misturado com um marrom puxado para o
acinzentado. Cores de terra que nosso Isidoro nunca tinha visto antes.

    Ele seguiu o caminho dessa terra sagrada. E após alguns metros vê
uma camada estranha sobre a terra, que ao se aproximar mais descobre
que são milhares de serpentes, umas adormecidas, outras em posição de
bote, prontas para atacar a quem ousasse passar por ali.

    Por um instante Isidoro respira fundo, se lembra que nunca deverá
perder sua fé, e segue em frente.

    Começa a caminhar por entre as serpentes pedindo aos Orixás que o
proteja de um ataque, dos venenos mortíferos daqueles répteis nocivos.

    E ele foi, passo a passo por entre as cobras, que o fintavam, se
preparando para o ataque. Mas todas estavam estagnadas, apenas
observando a caminhada do negro naquele reino extremamente perigoso

    Ele andou por alguns minutos, e rezando pede para ser mostrado o
local onde estaria as três conchas. O Sol já estava raiando, e um raio
de Sol sai por entre as nuvens, iluminando um ponto entre as cobras.

    Ele observa, e num ímpeto, vai até o ponto de luz, retira
cuidadosamente algumas serpentes, e avista as três conchas brancas.
Isidoro sorri. Fecha seus olhos, eleva seu pensamento a Mãe Iemanjá,
pedindo licença para pegar as lindas conchas, que nesse momento se
tornam azuis da cor do céu.

    Ele as pegam, e devagar recoloca ao chão a última serpente que
ainda se encontrava em sua mão, respirando fundo e seguindo seu
caminho.

    Vendo o Sol nascer, ele caminha em sua direção, andando por mais
algumas horas. Ao longe avista uma grande pedreira, e ao chegar ao pé
dessa pedreira, se ajoelha, faz suas orações a Pai Xangô pedindo
forças para conseguir, para que seu corpo aguente a longa subida por
entre as lacunas das pedras.

    E ele se pôs a subir. Com suas mãos machucadas pela força feita
nas quinas das pedras para puxar seu corpo exausto, as dores
aumentavam a cada centímetro subido. Seus olhos pesavam pelo sono que
teimava a atacar. Mas ele não desistiu. Subiu até o cume da pedreira,
e lá teve uma visão linda da natureza de Deus. Abaixo conseguia ver a
a cachoeira de Oxum, com seu rio de águas límpidas brilhantes,
iluminado pelo Sol de Oxalá, que também fazia brilhar as águas turvas
do pântano de Nanã Buruquê, e as terras sagradas de Obaluaiê e Omulú,
as deixando com as cores mais vivas e deslumbrantes. Mais ao fundo se
via a linda floresta de Pai Oxossi. Acima o céu azulado, como as cores
da linda Iemanjá. Sentia no rosto os ventos de Iansã de uma forma que
parecia retirar suas dores.

    Se tranquilizou, e sentou-se na pedreira, quando observou três
sementes, que por certo seriam as sementes que deveriam ser trocadas
pelas conchas. Essas sementes eram grandes, como uma pedra de rio,
tinha uma cor amarronzada e um risco negro no centro, atravessando a
semente de um lado para o outro na linha do comprimento.

    Sem ter dúvidas ele apanhou as sementes e colocou as conchas no
lugar delas.

    Já com as semente nas mãos, Isidoro agradece a Zambi, a Oxalá, a
seu Pai Ogum e a todos os Orixás, pela força de conseguir chegar até
ali.

    Segurando firme nas sementes, de olhos fechados, ele implora por
uma resposta de como seria possível poder ajudar as crianças
excluídas, como poderia fazer já que achava que essas crianças tinham
sido mortas pelos feitores.

    Após uma breve oração, Isidoro abre os olhos e vê diante dele o
mesmo negro que esteve na senzala lhe passando as instruções. O negro
sorria, e com uma voz forte e segura lhe disse olhando fixamente nos
olhos.

"Meu filho, você cumpriu sua missão de conseguir as sementes. Agora
elas serão suas, e deverá usá-las para fazer a caridade. Essas
sementes vão abrir seus olhos, ouvidos e seus pensamentos, para lhe
mostrar caminhos para o futuro, ver os erros do passado e lhe dar
forças para o presente.

    Tome aqui também essa proteção em forma de uma guia, nela estão
firmados todos seus caminhos, deverá ser usada de uma forma
respeitosa, e deverá ser um fechamento de corpo tanto para você,
quanto para quem você determinar. Nessa guia está a cor azulada das
conchas que representará Iemanjá e toda sua missão, e a cor vermelha
que é de seu pai Ogum.

    Sobre as crianças excluídas, você deverá seguir de volta o mesmo
caminho que fez até aqui. Ao chegar no ponto inicial, onde encontrou o
grande felino, lá estará as crianças. Um dos feitores de seu coronel,
não tendo a maldade extrema em seu peito, as deixou lá sem que fossem
seguidas as ordens maquiavélicas do coronel. O grande animal felino
estará nesse lugar lhe aguardando novamente, ao se deparar com ele, o
siga, levando as crianças, que vão ficar em lugar seguro. A partir
daí, você será responsável por todas as crianças que lá estiverem e
as que estão para vir. Não se preocupe que todos os Orixás estarão ao
seu lado."

    Ao dizer isso o negro desaparece como por magia, deixando Isidoro
com seus pensamentos.

    Ele parte então de volta, fazendo o caminho contrário do que já
havia feito.

    Depois de algum tempo ele chega ao ponto inicial, e se depara com
a onça pintada e mais a frente três dezenas de meninos e meninas.

    Ele junta as crianças e parte acompanhando a onça, que dessa vez
vai em passos pequenos, e sempre olhando para trás, como se fosse
domesticada a fazer isso.

    Após um bom tempo de andança,o animal adentra a uma caverna, ela
para e se deita, olhando fixamente para o negro. E ele entende que
será ali a nova moradia das crianças excluídas.

    Após um tempo de adaptação, Isidoro, aproveitando a escuridão da
noite, volta novamente a fazenda, e diz aos pais das crianças que os
pequenos estão vivos e em segurança. E de pouco a pouco ele levaria
todos os pais para viverem junto a seus filhos.

    E assim foi feito, sempre na calada da noite Isidoro buscava um
grupo de negros, os levava para a caverna deixando o coronel em
desespero, pois os negros sumiam, sem deixar vestígios

    E quanto mais crianças o coronel ordenava a seus feitores a levar,
mais negros sumiam nas senzalas. Enquanto pai Isidoro continuava seus
afazeres na fazenda, sem demonstrar que era ele o salvador de tantas
vidas inocentes.

    Com o passar do tempo o cruel coronel já não sabia mais o que
fazer, deixou de procurar os negros fujões, e a caverna das crianças
excluídas se tornou um grande quilombo, onde foram abertas clareiras
para as plantações dos negros, e novos espaços, além da caverna para
que todos vivessem em paz, com liberdade e junto de seus filhos.

    Certa noite, sentado a luz do luar, Isidoro se depara novamente
com o grande negro que lhe deu todos os caminhos para a liberdade de
seus irmãos. E numa conversa serena, Isidoro diz que desejaria lhe
fazer uma pergunta, que a algum tempo lhe deixava um tanto sem
entender sobre sua fé.

    E ele diz:

"Caro amigo iluminado dos Orixás, você me mostrou os caminhos a serem
tomados por mim para chegar a liberdade de meus irmãos e a salvação de
seus filhos. Me disse que eu deveria sempre elevar minha fé, que devia
clamar, rezar e crer. Pois bem, eu assim o fiz.

    Em determinado tempo de caminhada no início de minha missão me
foi demonstrado a força de cada Orixá. Me foi dito que a elevação da
fé em Oxalá, Oxossi, Obaluaiê/Omulú, Xangô, Oxum, Iansã, Iemanjá e
Nanã Buruquê, me levaria ao meu objetivo. E realmente foi através da
fé nesses Orixás que cheguei com êxito ao final de minha caminhada.
Sei que a fé é a minha base para a vitória, e sei que tenho muita fé
em todos esses Orixás. Só não entendo meu amigo, que sempre em toda
minha vida tive extrema fé em meu Pai Ogum, de joelhos fiquei
centenas de vezes clamando pela sua proteção, e nesse momento de que
minha fé me levaria a caridade aos meus irmãos, não se foi falado de
meu Pai Ogum. Será que minha fé não foi tão intensa para clamar a meu
querido pai?"

    O negro olha a Isidoro, com um leve sorriso e diz:

    "Sua fé é mais grandiosa do que pensas meu filho. Foi lhe pedido a
elevação em todos os Orixás, e você assim o fez. O porque não foi
pedido que essa fé fosse determinada em nome de seu Pai Ogum,
simplesmente porque essa fé você já tinha. A cada vez que se ajoelhou
clamando pela proteção de Ogum em sua caminhada, suas orações foram
ouvidas e aceitas. É por isso meu filho, que aqui estou, é por isso
que fui a senzala que o tirava a liberdade, é por isso que lhe
acompanhei por todo caminho rumo as sementes da caridade, é por isso
que dentro da linha dos Orixás sou conhecido como Ogum, o seu Pai
Ogum."

    Isidoro nesse instante entende que diante dele por todo esse tempo
era Ogum, o Orixá guerreiro e protetor que lhe acompanhava. E que
ele, Isidoro, deveria elevar sua grandiosa fé em todos Orixás, assim
como era grandiosa e divina a fé que tinha em seu Pai Ogum.

    Ao ver que Isidoro entendeu a lição, Ogum da um sorriso e
desaparece diante dos olhos mareados de Pai Isidoro do Congo.

Saravá Vovô amado!

Saravá Ogum!

Adorei as Almas!

Saravá Pai Isidoro do Congo!

Carlos de Ogum.



 
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